Há um tanto tempo atrás, não tanto tempo assim, contudo
mais tempo do que a duração de uma única vida aqui na Terra, nasceu uma
pessoa.
No século XIX, quando as grandes potências européias
procuravam novos territórios para ocupar, nasceu um menino. Seu pai, um inglês
em visita à uma das colônias de seu país. Sua mãe, uma chinesa pertencente
à uma família muito tradicional e de grande importância.
Da união dos dois, nasceu Clow Reed, aquele que viria ser um
de seus maiores magos de todos os tempos. Seus pais conheciam as artes antigas e
secretas da Magia, e ensinaram ao filho tudo o que sabiam.
Clow permaneceu na China até completar 10 anos de idade.
Nesse tempo, aprendeu as técnicas da Magia Oriental com a família de sua mãe,
de sobrenome Li. Depois disso, seus pais mudaram-se para a Inglaterra e lá ele
aprendeu os segredos da Magia Ocidental em uma das maiores Escolas de Magia do
mundo.
Com 20 anos, mudou-se para o Japão. E é lá que começa
essa história...
Vila de Tomoeda, um pequeno lugar próxima a Tóquio. Clow
morava em uma grande casa, construída em estilo ocidental e que contrastava
muito com as pequenas e tradicionais casas de um andar japonesas. Desde pequeno,
ele tinha um sonho. Queria tornar sua magia em algo concreto. Em algo vivo. Em
sua casa, ele trabalhou nisso por vários anos. Estudou exaustivamente todos
tipos de magias existentes. A simplicidade, mas o grande poder da Magia dos 4
Elementos; a grande diversidade da Magia Não-Elementar; e os segredos ocultos
da Magia da Luz e das Trevas. Mas a magia mais forte é a força de vontade, e
por causa disso, Clow conseguiu o que queria.
Uma pequena criatura alada com corpo de leão, com pêlos
laranja, e com olhos dourados. Abençoado pelo Sol, regido pelo Fogo e a Terra
na Magia dos 4 Elementos, pela Luz na Magia da Luz e das Trevas, e por todas as
ações ativas, de força a agressividade, na Magia Não-Elementar. Clow deu à
ele o nome de Kerberos, nome vindo da mitologia grega.
Uma pequena criança de cabelos prateados com um par de asas.
Abençoado pela Lua, regido pela Água e o Vento na Magia dos 4 Elementos, pelas
Trevas na Magia da Luz e das Trevas, e por todas as ações passivas, de
resistência e defesa, na Magia Não-Elementar. Yue foi o nome dado à ele, que
significa "lua" em chinês.
Clow os educou como se fossem seus próprios filhos.
Ensinou-os a usar magia. E assim eles cresceram, e em alguns anos, já eram
"adultos". Kerberos adquiriu a forma de um imponente leão, e Yue, a de
um homem.
Mas ainda não estava terminado. Como ele explicou
a Kerberos e Yue desde suas "infâncias", com a ajuda deles iria dar vida a mais criaturas, cinqüenta e
três para ser mais exato. Seriam as Cartas Clow.
E o momento para o nascimento delas estava chegando....
~ Capítulo 1: O Início das Cartas Clow ~
Era uma tarde de sol na vila de Tomoeda. Kerberos e Yue
estavam dormindo embaixo de um árvore, uma grande cerejeira, que ficava no
centro de um templo, o Templo Tsukimine. Os dois podiam andar livremente pela
cidade, porque Tomoeda era uma vila especial, uma "vila de magia".
Nessa vilas, só podiam entrar pessoas que conhecessem magia. Pessoas normais
nunca as encontrariam, pois eram protegidas por uma série de encantamentos.
Apesar de tudo, ainda assim Kerberos e Yue causavam espanto para os recém
chegados em Tomoeda, pois criaturas como eles não eram comuns mesmo no mundo da
magia.
Clow estava embaixo da árvore também, lendo um livro.
Aquele era o lugar favorito deles, se alguém quisesse falar com eles, era
só ir até a Árvore Sagrada do Templo, pois provavelmente estariam lá. O
sacerdote do Templo chamava-se Yuji Mizuki, e era um grande amigo de Clow desde
que este chegara em Tomoeda, vindo da Inglaterra. Ele conseguia lembrar-se muito
bem daquele época. Os habitantes da vila ficaram desconfiados, geralmente não
confiavam em estrangeiros, quanto mais um vindo do outro lado do mundo, de
terras das quais conheciam apenas seus artefatos, como os trens a vapor. Mas com
o tempo todos aprenderam a respeitar e admirar Clow.
Porém, a sua fama de um mago com grande poder acabou se
espalhando pelas vilas de magia de todo o Japão. E a admiração pode
facilmente transformar-se em inveja, e a inveja pode acabar virando ódio.
Alguns quiseram desafiar Clow, não aceitavam que um mero estrangeiro tivesse
poder superior ao deles. E sempre perdiam.
Mas desta vez não seria tão simples...
Yuji entrou no seu Templo, e ao passar pelo torii, logo viu o
mago lendo na sobra da árvore com seus dois Guardiões, como todo mundo os
chamava. (torii: arco na entrada de templos xintoístas, podem ser vários)
– Clow! Chegou esta carta para você. – ele entregou um papel um tanto velho,
enrolado como um pergaminho.
– Deixe-me ver... – o mago ajeitou os óculos e começou a ler.
– Creio que já sei o que deve ser – disse Yuji. – Já está todo mundo comentando! Dizem que
ele... Ai Qing... quer desafiar você. Que ele vem vindo para cá... e que não
hesitará em... matá-lo....
– Meu bom Yuji – Clow terminou de ler a carta. – Se eu precisar enfrentá-lo,
então não há saída. Sim, você acertou. Esta carta é de um primo meu da
China, ele está me avisando que Ai Qing está querendo realmente me desafiar. E a
essa altura, já está chegando...
Yuji parecia muito preocupado.
– Tome cuidado. Você sabe que ele é um mago muito poderoso.
E a família dele é uma grande rival da família de sua mãe. Provavelmente os
pais dele pediram para ele fazer isso, para ter certeza que a família deles
seria sempre a mais poderosa.
– Não é e não vai ser, disso você pode ter certeza – Clow não estava
com raiva, na verdade estava sorrindo. Não era um sorriso maldoso, nem
malicioso, mas um sorriso inocente. Muitos não entendiam como ele conseguia
ficar o tempo todo assim. Dizia-se que ele lutava sorrindo.
– Tome cuidado, Clow. Você acha que este é o momento... –
Yuji hesitou um pouco. – De começar a criar as Cartas?
Yuji era o único que sabia dos planos de Clow, tirando os
Guardiões.
– Temo que sim, meu amigo. Mas confesso que estava ansioso
por esse momento, e estaria mais feliz se não fossem as circunstâncias.
Nesse momento, Kerberos acordou. Após se espreguiçar,
virou-se para o sacerdote.
– Ah! Boa tarde, Yuji!
– Boa tarde, Kerberos – ele sorriu para o leão.
– Puxa... estou com tanta fome... será que...
Yuji riu.
– Como sempre, Kerberos. Pois acho que você ficará feliz,
Ayumi preparou vários doces hoje – Ayumi era a sua esposa.
– É verdade?! – Kerberos fez uma cara muito feliz. – Bem,
então, com licença...
Ele foi correndo na direção da casa onde vivam Yuji e
Ayumi, dentro do Templo. Kerberos vivia praticamente de doces. Na verdade, não
precisava se alimentar, mas ao contrário do outro Guardião, não dispensava
comida. Principalmente os doces de Ayumi.
Clow olhou para Yue, dormindo sentado em baixo da árvore.
– Vou deixá-lo dormindo mais um pouco. Estou indo para casa,
preciso preparar tudo. Qualquer coisa me chame.
– Tudo bem. Até mais!
– Clow?
– Sim, Yue? – Clow estava em uma sala de sua casa, onde ele
geralmente praticava suas magias, encantamentos, poções e coisas do tipo. O
chão era de pedra, e desenhado nele com pequenos sulcos, havia uma insígnia.
Era um círculo, com um sol no centro e uma lua no canto. Inscritos nele haviam
3 quadrados, formando 12 ângulos. Em cima dessa insígnia estava um grande
caldeirão, usado para preparar poções, típicas da magia Ocidental.
– Yuji contou-me sobre Ai Qing.
Clow virou-se para Yue.
– Por isso mesmo, estou preparando tudo aqui.
– Você vai começar a fazer as Cartas?
– Sim – o mago sorriu, e voltou-se para o caldeirão, jogando
estranhas folhas nele.
Yue ficou um tempo observando. Então disse:
– Você não pode lutar com ele.
– É claro que posso – Clow estava jogando mais coisas no
líquido borbulhante.
– Você não pode! É arriscado demais!!
Clow virou-se novamente.
– Posso, meu caro Yue. Já está decidido.
Yue, vários já sabiam, preocupava-se muito com Clow. Embora,
é claro, ele nunca fosse admitir isso. Yue era impessoal e passivo, características
herdadas da magia com o qual foi criado. Mas possuía sentimentos tanto quanto
Kerberos, ou qualquer pessoa do mundo.
Clow disse a ele:
– Por favor, avise Kerberos de que já está quase pronto.
Precisarei da ajuda de vocês dois.
– Tudo bem. Irei chamá-lo – Yue retirou-se.
Após uns momentos, Clow dirigiu-se até uma escrivaninha na
sala. Em cima dela, havia um livro de capa preta. Ele pegou uma pena, molhou-a
num tinteiro e começou a escrever.
"Hoje começo a criação das Cartas Clow. Metade
delas será criada com a ajuda dos poderes de Kerberos, portanto tendo, de uma
forma geral, poderes de ataque, de transformação, de ação. A outra metade
nascerá com os poderes de Yue, tendo como características gerais, a defesa, a
proteção. Todas as Cartas serão alimentadas pela minha própria magia, e
somente por ela.
Cada Carta terá, basicamente, três formas. A sua forma de
carta, onde permanecerá em dormência. Neste estado elas não poderão agir,
mas poderão existir exceções. O seu segundo estado é sua forma real. Cada
Carta terá uma e somente uma forma real, e nesse estado geralmente não
manifestam seus poderes. A última forma é a forma de ação, que a Carta
adquirirá quando estiver agindo. Embora, é claro, possam existir várias
exceções.
Cada Carta tem sua personalidade própria, sendo cada uma,
uma Carta única em todos os seus aspectos."
– Já chegamos, Clow – disse Yue, entrando com Kero.
– Ótimo – Clow guardou a pena e levantou-se sorrindo para
eles – Vamos começar?
Kerberos e Yue estavam em lados opostos da sala. Clow
estava em pé em cima da insígnia do chão, em frente ao caldeirão, que
continha um líquido borbulhante. O mago fez um gesto com a mão, e o sulcos que
formavam a insígnia no chão encheram-se de luz dourada.
– Muito bem. Eu, Clow Reed, crio a primeira das Cartas Clow.
Com um brilho de luz, uma carta apareceu na frente de Clow.
Nela havia o desenho de um retângulo com cantos rebuscados, o desenho de um Sol
em cima e de uma Lua em baixo, junto com o desenho de uma pequena faixa. As
bordas eram laranjas e o interior, roxo.
– Como vocês sabem, caros Kerberos e Yue, tudo neste mundo
é baseado no equilíbrio. Nada pode ser adicionado, sem algo ser tirado antes.
Por isso, as Cartas Clow que criarei terão uma equivalência em energia
negativa, oposta à elas. Por isso, nasce agora a Carta Clow de nome The Void,
o vácuo.
Na carta, surgiu o desenho de uma menina de longos cabelos
cacheados, com um par de asas na cabeça. Um instante depois, após um intenso
brilho, a menina surgiu diante deles.
– Meu mestre – ela fez uma reverência a Clow. – É uma honra
servi-lo.
– Bem-vinda ao mundo, minha querida – Clow sorria para ela.
Estendeu a mão, e Void voltou a sua forma de carta. – No momento, ela não tem
poderes, já que não foi criada nenhuma outra carta. Mas irá crescendo
conforme forem. Quando todas as cartas forem criadas, Void terá um poder muito
grande, e por isso deverá permanecer selada.
A carta foi tomada por uma aura amarela, que permaneceu em
torno dela, como se a trancasse. Depois, desapareceu.
– Ficará escondida, por enquanto – Clow parecia levemente
triste.
Clow fez um gesto com a mão, e outra carta vazia apareceu.
– Kerberos, agora preciso de sua ajuda.
O leão fechou os olhos, e uma aura dourada apareceu em torno
da carta. Clow continuou:
– Com o atributo do Sol, com a magia do elemento Fogo. Fogo
que causa destruição, mas que alimenta a vida, que faz renascer. Abençoe esta
Carta Clow que crio agora, sob o nome The Firey.
Na carta surgiu um desenho de uma menina de orelhas compridas
e grandes asas. No lugar de suas pernas e de seus cabelos, havia fogo. Logo
depois ela surgiu, abrindo suas imponentes asas, de braços cruzados. Olhando
fixamente para seu criador, fez um grande reverência e voltou para a forma de
carta.
Clow parecia muito contente agora. Fez outra carta vazia
surgir.
– Agora você, Yue, por favor.
– É claro – Yue fechou os olhos, e uma aura prateada
apareceu em torno da carta.
– Com o atributo da Lua, com a magia do elemento Água. Água
que tem um grande poder, mas que é plácida e calma, fonte da vida. Abençoe
esta Carta Clow que crio agora, sob o nome The Watery.
Agora a carta apresentava o desenho de uma menina da cabelos
compridos e lisos, com corpo de sereia. Surgiu logo após, e como as outras, fez
uma reverência e voltou à forma de carta.
Clow repetiu os procedimentos. Com outra carta e ajuda de
Kerberos, deu vida ao terceiro dos 4 elementos.
– Com o atributo do Sol, com a magia do elemento Terra. Terra
que nos abriga, Terra que nos alimenta. Abençoe esta Carta Clow que crio agora,
sob o nome de The Earthy.
Earthy tinha a forma de uma imponente mulher. Depois de
voltar à carta, Clow criou a Carta do último elemento.
– Com o atributo da Lua, com a magia do Vento. Vento que pode
ir a qualquer lugar, cuja força é sutil, mas perseverante. Abençoe esta Carta
Clow que crio agora, sob o nome de The Windy.
Windy era uma mulher de face plácida, que com um doce
sorriso voltou à forma de carta.
Clow segurou as 4 cartas com um grande sorriso no rosto.
– Vou parar por aqui... ah, já ia me esquecendo.
Com um gesto, fez surgir um livro bem grosso. Na capa, havia
o desenho de um Sol e a cara de Kerberos, e um título: "The Clow". Na
contra capa, havia um desenho de uma lua e um par de asas. Por dentro era oco, e
ali colocou as cartas.
– Já usei poder demais por hoje. Mas já está bom, não
acham?
Os dois Guardiões concordaram com a cabeça, sorrindo.
– Vamos, vamos dormir que já está ficando tarde.
Kerberos e Yue saíram da sala. Clow sentou-se na
escrivaninha e voltou a escrever.
"Firey tem o poder de comandar o fogo, podendo invocá-lo e controlá-lo. Tem personalidade agressiva, mas tão agressiva são seu poder e seu desejo de vitória. Watery é muito parecida com Firey, com a óbvia diferença de controlar a água. Surpreende-me tanta agressividade vir de Yue. Eles não sabem, mas as cartas sempre têm um pouco deles. Com certeza a força de Watery veio do forte senso de justiça e lealdade de Yue. Earthy pode controlar a terra, podendo alterar até seu relevo e causar terremotos. Windy controla as correntes de vento, é a mais fraca das quatro, porém a força não a característica principal de nada neste mundo. Sua versatilidade a torna tão capaz quanto as outras. Essas são as cartas criadas com a Magia dos 4 Elementos"
Clow pareceu satisfeito. Guardou a pena e foi finalmente dormir, com a felicidade de um pai após o nascimento de seu filho. E foram quatro filhos...
~ Continua... ~
NdA: Olá!! Desculpem o capitulo pequeno, o próximo vai ser maiorzinho. Peloamordosdeuses, digam o que acharam! E dêem sugestões! Para os esquecidos, meu e-mail é jinn@netbank.com.br
