O céu estava tempestuoso aquela noite e tudo o que se podia ouvir na casa era os trovões e o choro de uma criança, Katherine, que teimava em não ficar quieta em seu berço. Laura Foster, mãe dela, já não sabia mais o que fazer para a menina parar de chorar e a sensação de que algo estava errado foi tomando conta de seu corpo.

— O que será que está acontecendo Samuel? — choramingou Laura ao seu marido enquanto pegava Katherine no colo.

Samuel Foster, padrasto de Katherine, um homem que aparentava ter no máximo trinta anos também estava atordoado, os dois já fizeram de tudo e nada de Kathe parar de chorar. Laura andava de um lado para o outro tentando, em vão, acalmar a criança e nada, deram comida, brincaram, passearam e nada. O que estava acontecendo? Por que ela estava daquela maneira? Estaria ela doente ou algo assim?, pensou Laura enquanto Samuel tentava inutilmente ligar para um médico. O som da companhia a despertou de seus devaneios, o marido foi atender a porta e ela apenas esperou a resposta, que demorou a chegar.

— Querido. Quem é? — questionou ela e nada.

— Samuel — chamou ela mais alto.

Sem respostas, ela foi até a porta e encontrou o marido pasmo e sem palavras fitando um homem que aparentava ter a mesma idade que a dele, possuía cabelos e olhos pretos e a pele branca, trajava uma longa capa preta de seda que poderia servir para protege-lo da chuva, diante do casal estava: Hades, o Deus do Mundo Inferior.

— Hades — guinchou Laura arregalando os olhos.

— Boa noite Laura — saudou Hades sério — Posso entrar?

— C-Claro... Samuel, deixo-o entrar — concordou ela.

Samuel acordou do transe e deu um passo para o lado para deixar o caminho livre. Ele não via Hades desde do dia em que Katherine nasceu, e sinceramente esperava nunca mais vê-lo.

— O que veio fazer aqui? — perguntou Laura soando, inconscientemente, ríspida.

— Você era mais educada antigamente — replicou o deus sarcástico.

— Desculpe, mas é que você não nos visita desde o nascimento de Katherine, então suponho que seja algo importante para essa visita inesperada — previu ela.

— E supôs certo — concordou o deus — Posso carrega-la um pouco? Tenho esse direito não?

Hesitante, Laura entregou Katherine a Hades que sorriu ao encara-la dizendo:

— Ela herdou muitas coisas de mim não?

— Então? O que você quer? — apressou Samuel impaciente.

— Boa noite pra você também Foster — reclamou Hades frio e fitando Kathe que parara de chorar, continuou — Há um problema no Olimpo, um novo inimigo foi descoberto e oferece perigo.

— Pensei que não ligasse para o Olimpo — interviu Samuel.

— O próximo da lista dele é o Mundo Inferior — respondeu Hades sem encara-lo.

— E quem é ele? — quis saber Laura preocupada.

— Cronos está agindo de vários modos agora.

Cronos!

— Shii. Tente não ficar pronunciando o nome dele!

— Ele voltou! O que ele está fazendo contra o Olimpo?

— Está tentando acabar com a única pessoa que pode "destruí-lo" de verdade!

— Percy Jackson?

— Não, Perceu pode salvar o Olimpo, mas mesmo assim ele já está em segurança, estou falando de uma pessoa que pode destruir o próprio Senhor Titã!

— E o que temos haver com isso?

— Essa pessoa é a Katherine!

— O QUÊ! — exclamaram Laura e Samuel assustando à Kathe que recomeçou a chorar.

Laura a pegou no colo e tentava acalma-la enquanto questionava desesperadamente:

— Como assim essa pessoa é a Katherine! Ela só tem nove meses, como sabe se ela é a pessoa certa?

— Uma profecia foi feita Laura! Uma nova "Grande Profecia" e não podemos ignora-la!

— Então o que faremos? Tem um titã do tempo solto por ai atrás da nossa filha e eu não posso fazer nada!

— Mas eu posso!

— Então me diga: o que você fará? — interrompeu Samuel.

Hades ficou em silêncio por alguns minutos e em seguida respondeu:

— Pedi ajuda ao Olimpo, eles têm o dever de proteger essa criança, depois de uma breve reunião decidimos que você devem se mudar, se esconderem em outro lugar. Alguns guardas de Zeus estão ai fora para acompanha-los até o local, então sejam rápido e façam as malas.

— Hey espere! Você disse que havia um novo inimigo e o Titã não é nem de longe novo para o Olimpo — repreendeu Laura.

— O Senhor Titã está agindo por outra pessoa, que tem seu poder próprio?

— E quem seria?

— O deus da Guerra.

Atordoada, Laura apressadamente seguiu para o seu quarto acompanhada por Samuel, a fim de arrumar as malas. Cerca de dez minutos depois eles voltaram, Samuel carregando algumas malas e Laura com Katherine e sua mala.

— Podemos ir — disse Samuel quase a porta.

Tentando não ligar para a forte tempestade, e protegendo Katherine da mesma, Laura avistou uma espécie de carruagem coberta dourada, guiada por Pégasos brancos doados, provavelmente, por Zeus. Quando todos entraram, Hades ficou olhando da porta e alertou:

— Tome conta dela Laura, a vida dela e o futuro do Olimpo está em suas mãos, confio em você, não me decepcione — dizendo isso fechou a porta.

O caminho foi longo, tenso e silencioso, ninguém se atrevia a dizer uma palavra sobre o assunto, temendo não trazer sorte no futuro. Quando a carruagem finalmente parou, deixando Laura apreensiva, um guarda abriu a porta e os mandou segui-lo. A casa era simples, no limite do possível, tinha dois andares e um jardim confortável em volta, a tempestade ainda continuava na mesma intensidade. Rapidamente eles entraram e se acomodaram.

Dois anos depois...

— Kathe! Não pegue nisso! — repreendeu Laura pegando a faca da mão da filha — Você pode se cortar!

— Foi mal mãe — choramingou Kathe sentando no chão.

— Vai brincar na sala querida — mandou Laura dando uma boneca para a filha.

Kathe pegou a boneca e rumou para a sala para ficar na companhia de seu pai que lia o jornal com muito interesse.

— Querido! Fique de olho na Kathe, ela está muito revoltada hoje — pediu Laura da cozinha rindo.

— Certo, querida — concordou Samuel também rindo.

A tarde foi passando lentamente e agora o horizonte se tornava belo e majestoso. O dia estava calmo, ATÉ um estrondo despertar os moradores da casa.

— QUEM ESTÁ AI? — gritou Samuel do andar de cima.

Laura, que estava com Kathe em um quarto no andar de baixo, agarrou a menina e em desespero se junto ao marido dizendo:

— São eles Samuel... Eu sinto que são eles!

— Como eles nos encontraram!

— Não sei e isso não importa agora, temos que sair daqui!

— Vá e leve Kathe, eu vou atrasa-los!

— Não vou te deixar sozinho!

— Vai sim. Você precisa proteger a Katherine lembra? Não posso arriscar a vida de vocês duas e você não pode arriscar a vida dela! Agora vá!

Relutante, Laura saiu correndo em direção ao jardim, mas antes de chegar até a porta algo a impediu.

— Onde pensa que vai humana? — o homem de armadura a segurou e a jogou contra a parede, mais ela não soltou Katherine.

— Me entregue a criança!

— NUNCA!

— Isso não foi um pedido!

No Olimpo...

O lugar estava agitado e os deuses estavam inquietos observando os três Grandes conversarem.

— Estamos perdendo tempo nessa conversa inútil! Temos que ir para lá agora! — reclamou Hades impaciente.

— Eu concordo Zeus, se não agirmos rápido a criança irá morrer e é adeus Olimpo — concordou Poseidon.

— Não podemos ir sem ter um plano formado! — retrucou Zeus.

— E quem precisa de plano! É só entrar lá, pegar a criança e a mulher e matar quem tentar nos impedir! — replicou Poseidon.

— Sem querer ser intrometida, mas estão perdendo tempo nessa conversa — interrompeu Athena levantando-se de seu trono — Isso não é uma batalha pai, e muito menos uma guerra, é um ataque à única esperança do Olimpo! Não há tempo para formar um plano, apenas pegue as duas e saia de lá! Se a menina morrer todos nós teremos motivos para nos sentirmos culpados, principalmente vocês três, sabem muito bem do que estou falando. Ouça a voz da razão pai e vá o mais rápido possível!

— Mas isso vai contra as regras do Olimpo! È interferência direto por parte dos Três Grandes — repreendeu Dionísio.

— Danem-se as regras — todos escararam Athena, incapazes de acreditar que foi que disse isso, mas ela não ligou — Uma vez na vida ignorem as leis e ajude uma inocente, uma inocente que por acaso está nesta situação por nossa causa! Vá logo e ajude as duas, confiem em mim!

O silencio pairou sobre o Olimpo... Athena, como sempre, estava certa e nenhum dos deuses presentes poderia negar nada do que ela havia dito, então Zeus decidiu:

— Vamos antes que seja tarde demais.

Os Três Grandes juntamente com Athena e Ártemis se dissiparam no ar e reapareceram na casa dos Foster onde o caos praticamente reinava. Laura gritava desesperadamente de dentro da casa e como o local era deserto de vizinhos, ninguém mais ouvia. Os deuses entraram desembestados na casa e encontram Laura quase inconsciente no canto da sala, mas ela fazia de tudo para ficar acordada e jogar tudo o que fosse possível nos homens a sua frente e proteger Katherine que estava inconsciente ao seu lado. Um grande alivio tomou conta de seu corpo ao ver que alguns deuses estavam ali. Eles não ficaram parados observando e logo partiram para a ação.

Minutos mais tarde, depois de varias ordens dadas pelos deuses, os homens de Cronos jaziam inertes no chão, já Laura e Kathe estavam inconscientes no chão, com muitas feridas profundas e hematomas em varias partes do corpo.

Laura foi levada para o Hospital mais próximo e Katherine foi levada ao Olimpo para receber os devidos cuidados, mas os deuses não obtinha sucesso em sua cura.

— Ela está muito ferida — informou Apolo, aos deuses, ao lado da maca da menina — Ela é apenas um criança de dois anos e foi muito maltratada.

— O que você já tentou? — perguntou Hera.

— De tudo, já tentei de tudo e nada dá certo.

— O que vai acontecer com ela? — questionou Hades.

— Se não for curada irá morrer — entregou Apolo preocupado.

Os deuses se entreolharam também preocupados, estavam sem escolhas, e a vida menina iria embora se não dessem um jeito. Mas havia uma deusa em particular que sabia de uma saída, mais tinha medo de comenta-la, os outros poderiam não concordar. Mas é a vida de uma inocente! E uma vida importante para o Olimpo! Eu tenho que tentar!, pensou Athena.

— Acho que sei como salva-la — pronunciou-se a deusa dando um passo a frente.

— O que tem em mente Athena? — questionou Afrodite esperançosa.

— Uma união...

— Como! Do que está falando? — quis saber Zeus.

— Uma união de nossos poderes: a benção dos deuses — respondeu Athena séria.

— Explique — pediu Apolo criando esperanças.

— Devido o estado dela de saúde e como ela é apenas uma criança, reuniremos todos os deuses possíveis do Olimpo e faremos dela a herdeira de nossos poderes — explicou a deusa.

— Podemos fazer isso? — perguntou Afrodite arqueando uma sobrancelha.

— Com um pequeno esforço sim e somente uma vez na vida.

— E como faremos isso?

— Primeiro temos que chamar todos os deuses possíveis.

Dentro de alguns minutos a maioria dos deuses estavam ali, em grande maioria estavam os deuses olímpicos e os primordiais, em exceção apenas de Ares.

— Agora ergam as mãos e as apontei para Katherine — ordenou Athena.

Todos obedeceram a ordem e esperaram.

— Agora repitam: Ego autem mea illi virtutes et potestates ad te inclinat animus Olympus. Nec quid dicat aut quid facturus, si vires sint.*

Todos repetiram, varias e varias vezes, até que seus olhos ficaram verde vivo e um brilho perolado tomou conta do corpo deles e o mesmo brilho tomou conta do corpo da pequena Katherine enquanto eles ainda repetiam o encanto.

A luz se tornou mais intensa e de repente os olhos da menina se abriram e suas íris mudou de cor repetidas vezes e logo depois fecharam-se novamente, o brilho se tornou mais forte na região do peito e aos poucos o mesmo brilho que tomava o local foi sumindo, revelando um cordão em Katherine. Todos pararam de falar e fitaram a garota. O colar tinha o pingente médio, era preto com detalhes em dourado, na frente havia escrito em grego:"Ευλογείται από τους Θεούς".

— Abençoada pelos deuses — leu Poseidon do colar, ele virou o colar e leu novamente — Katherine Foster.

— Ela recebeu a Benção dos Deuses — informou Athena — Nossos poderes.