Título: Separate Ways
Autora: -Aria-
Beta: Eri-Chan
Fandom: FullMetal Alchemist
Casal: Hughes/Roy
Classificação: PG-13
Gênero: Yaoi/Slash, Shonen-Ai, Romance, Angst, Lime (?), OOC (??)
Status: 5/5
Direitos Autorais: História sem fins lucrativos. Por mais que eu goste da idéia de ganhar algum com isso, o que jamais vai acontecer, tem como único intuito entreter os leitores.
FullMetal Alchemist, ou Hagarane no Rekinjutsushi, pertence a Hiromu Arakawa. Mas ela que me aguarde, pois ainda roubarei o Hughes pra mim!!! (*.*) *sonhando*
Fanfiction especialmente desenvolvida para o Concurso de Fics do LJ Secrets Place sob o tema 'Namoro-Amizade'.
Separate Ways
I – A dor que ainda nos machuca
As labaredas altas cegavam sua visão. Chamas, fumaça, destroços. Não havia mais nada ao seu redor. Não havia mais nada ali. Ruínas do que até algumas horas atrás formavam uma cidade o cercavam e não havia mais nenhum sinal de vida. Sua missão estava cumprida afinal.
Andando em meio à destruição o militar procurava por seus colegas, porém não havia vestígios deles também. Depois de alguns minutos vagando pelo local, em frente de uma das casas, encontrou uma das vestimentas do exército completamente ensangüentada. Aproximando-se, percebeu que a porta entreaberta escondia um rastro de sangue.
Preocupado com o que poderia ter acontecido a algum dos outros, não pensou duas vezes antes de seguir o rastro casa adentro. A trilha o levou direto a um quarto com um altar em homenagem ao Deus daquele povo, Ishbala, onde a mesma dava a impressão de encará-lo. Por mais que quisesse negar, aquilo lhe causava calafrios...
Como alquimista, havia deixado de acreditar em Deus, religião ou qualquer coisa do tipo. Além de que a situação em que se via não colaborava muito com o mínimo de crença que poderia lhe restar. Afinal, se esse Deus realmente existisse, por que aquele povo que lhe era tão devotado estava sendo massacrado pelos "cães do exército"?
Ainda sob pensamentos descrentes e acusatórios a entidades superiores o alquimista dava meia-volta, disposto a sair dali de uma vez e encontrar os outros. Por mais doloroso que fosse, seus "serviços" não eram mais necessários ali. Já haviam dizimado tudo e todos.
Alguns passos depois e o som de algo caindo lhe chamou a atenção. Ao virar-se novamente, no lugar onde jurava estar o altar, viu um garotinho com uma arma apontada diretamente para sua cabeça. Os olhos de cor avermelhada o encaravam com medo e ódio, insistentes lágrimas corriam por sua face. As pequenas mãos tremiam.
O alquimista também tremia. Ele ergueu a mão direita e ainda vacilante apontou-a na direção do menino. Seus dedos estavam a ponto de se friccionarem, porém não conseguia mover um músculo sequer. Seu olhar estava preso ao do garoto e a cada segundo que permanecia o encarando sua coragem se esvaia.
Mesmo para alguém que olhasse aquela cena de fora, sem dúvida, seria impossível dizer quem estava mais apavorado.
Aquela era uma guerra sem sentido... Aquelas eram mortes sem sentido... Simples e unicamente um massacre. Era isso que os alquimistas estavam fazendo ali. Queria poder sair correndo daquele lugar e esquecer...
O garoto havia se movido, fazendo menção de atirar. Foi apenas uma questão de segundos. Involuntariamente seus dedos se friccionaram e... E então o corpo dele era só mais uma das inúmeras chamas que o envolviam...
Quando o alquimista despertou tudo que pôde constatar era que, mais uma vez, as lembranças estavam atordoando seu sono. Não era mais capaz de lembrar-se da última vez que havia tido uma noite tranqüila, mas podia garantir, com certeza, que fora antes daquele dia...
Suado e levemente ofegante ele sentou-se a cama. Seu peito parecia comprimir-se, e isso apenas piorou ao ver seu uniforme jogado sobre a poltrona. Baixou seu olhar, este recaindo sobre suas mãos. Não conseguia evitar pensar em toda a destruição que elas já haviam causado.
Dor. Mortes. Vestígios de um passado do qual não se orgulhava, mas que carregaria consigo por toda sua existência.
Tentava seguir em frente. Tentava desesperadamente não olhar para trás. Porém tudo que via era uma vida repleta de escolhas que não o confortavam. Havia errado tantas vezes que já não era mais capaz de contá-las. E fora exatamente desse desejo de "fazer algo certo", de "consertar o que estivesse ao seu alcance" que começara a almejar o topo.
Mas era fraco, e sabia muito bem disso. "Líder"... Um líder não podia ser assim, precisava ser o exemplo a ser seguido e o alquimista tinha plena consciência de que não era a pessoa certa para isso. Porém alguém acreditava nele. E fora esse alguém que se tornara sua motivação, sua força...
Sim, pois ele era sua força. Era ele quem o mantinha em pé. E era exatamente dele que precisava em momentos como esse... Mas essa havia sido mais uma de suas péssimas escolhas. Estava só agora. Sabia que ele jamais o abandonaria de fato, mas não podia tê-lo como queria. Como precisava...
Ainda tinha o 'amigo', e não poderia exigir dele mais do que isso. Ele ainda estava ao seu lado, assim como sempre estivera, e isso por si só deveria lhe bastar.
"Poderia ter sido diferente... Muito diferente..."
Refugiado em sua solidão, Roy Mustang chorou.
... ... ... ...
No outro dia, logo ao acordar, o 'Flame Alchemist' soube que seu dia seria longo e exaustivo, afinal já estava começando muito bem. Estava atrasado. Muito atrasado.
Mal havia adentrado o prédio do escritório e já se questionava se ficar em casa não teria sido uma escolha melhor. Seus passos eram lentos e despreocupados, assim como todos os dias, mas a cada nova passada os olhares curiosos de quase todos os presentes o acompanhavam.
Talvez fosse pelo fato de que, além de atrasado, Roy exibia olheiras mais do que visíveis. Bom, não era para menos. Passara a noite sem dormir e chorando... Porém ele não seria Roy Mustang se demonstrasse fraqueza, não é mesmo?
Antes de sair de casa muniu-se com seu melhor, e mais cafajeste, sorriso. Somado a fama que possuía, todos que o vissem acreditariam apenas que "a noitada do Coronel havia sido realmente boa". Eles mal imaginavam a verdade...
– Está atrasado, Coronel. – Quase ao mesmo tempo em que abriu a porta de seu escritório ouviu a voz de Riza Hawkeye.
– Eu sei, Primeiro-Tenente.
Sua voz demonstrava em leve cansaço, algo totalmente perceptível para a oficial que o conhecia tão bem, mas era nessas horas que agradecia aos céus pela forma de agir dela. Ela havia percebido que algo estava diferente logo que o viu, porém não comentou nada. Hawkeye sabia bem o quanto ele era orgulhoso.
– O Tenente-Coronel está a sua procura.
– Hughes? – Roy não conseguiu disfarçar sua surpresa – Ele ligou da Central?
– Não, ele está na cidade.
Sem dizer nenhuma palavra, porém ainda surpreso, o alquimista seguiu para sua sala. Sentou-se a mesa e deu uma rápida verificada na enorme pilha de papel sobre a mesma. Relatórios do exército, relatórios do 'FullMetal' e mais incontáveis outros casos...
Suas mãos instintivamente se moveram até sua testa, começando então a massagear sua têmpora. Sua concentração estava quase nula e aquele monte de serviço não o ajudava em nada. Pela segunda vez naquele dia Roy se perguntou se realmente havia feito uma boa escolha quando optou por sair de casa...
... ... ... ...
Roy já havia perdido a noção do tempo que estava enfiado naquela sala, mas, pelo menos, conseguira eliminar metade do serviço. No exato momento ele se encontrava recostado em sua cadeira, "tentando" continuar suas tarefas. Algo quase impossível para alguém que sentia sua cabeça doer, seus olhos arderem, além do maldito sono que turvava sua vista. Havia perdido a conta de quantas vezes se viu "olhando para o nada"...
– Yo, Coronel! – A voz familiar o fez levantar a vista quase automaticamente. Parado à porta da sua sala, seu visitante exibia um largo e debochado sorriso – Matando serviço?
– Tenente-Coronel Hughes...
– Você não muda mesmo, hein... – O rapaz ainda sorria quando se moveu, sentando-se a frente de Roy – Olha só como a minha Elysia-chan cresceu!!!
Em questão de segundos um Hughes sorridente e com cara de bobo praticamente colava uma foto da filha na cara de Roy. O alquimista rolava os olhos, inconformado. Desde que a menina nascera, ou mesmo antes, era sempre assim que ele ficava quando falava dela.
– Hughes! – Falava de maneira repreensiva.
Mesmo que não admitisse para ninguém, o que jamais faria, o jovem Coronel achava essa adoração que ele tinha pela garotinha bonita. Sem dúvida 'exagerada', mas ainda assim bonita. Admirava esse lado de "amor incondicional" dele.
– Desculpe. Força do hábito... – Em segundos sua feição tornara-se séria – Então, o que aconteceu para você ter se atrasado?
– A noite foi um pouco longa, mal consegui dormir... – Roy sorria malicioso, porém foi por pouco tempo.
– Os pesadelos outra vez.
Quando a frase terminou de ser dita, o Coronel não sorria mais. Não era uma pergunta, pois Hughes sabia bem a resposta. Sua amizade com Roy já durava tempo suficiente para conhecê-lo melhor do que ele próprio se conhecia.
O Tenente-Coronel suspirou. Sabia, melhor do que ninguém, que todos aqueles acontecimentos tinham causado, e ainda causavam, um efeito irremediável no amigo.
– Você sabe, só estava seguindo ordens.
– Eu matei pessoas inocentes.
– Sabia que, mais cedo ou mais tarde, isso aconteceria. Se não queria, devia ter feito como eu e ficado bem longe dos campos de batalha.
Roy não respondeu. Remexeu-se na cadeira, quase deitando na mesma, fechando seus olhos em seguida. Levou os braços para trás da cabeça, apoiando-a neles. Não estava disposto para discutir sobre aquele assunto, e além do mais havia outro que estava lhe atiçando a curiosidade...
– O que é tão importante que o fez vir da Central até aqui?
– Usei algumas "pendências" como desculpa...
– Mas na realidade...
– Pude sentir sua depressão de lá. – Hughes retirou os óculos e enquanto limpava as lentes voltou a falar – Você não pode me enganar, Roy. Não a mim...
– Nós vivemos nos enganando, Hughes. Já se esqueceu?
– Não. Eu infelizmente não esqueci...
Ao ouvir o modo como ele havia pronunciado aquelas palavras, Roy abriu um dos olhos e o analisou. O semblante de Hughes parecia cansado, como se carregasse um fardo muito grande, e há muito tempo, nas costas.
De certa forma ele realmente carregava. Mas não só ele...
– Como está sua esposa?
Por mais que tentasse, não conseguia. Sempre que o assunto se voltava para ela, sua voz se tornava fria, impessoal.
Hughes percebeu a tristeza implícita naquelas palavras. Os últimos anos estavam sendo complicados para os dois, mas para Roy, especialmente, a situação era ainda mais complicada. Entendia isso perfeitamente, mas suas antigas feridas não estavam cicatrizadas por completo. Feridas que ele, Roy, havia causado...
Recolocando então seus óculos, o Tenente-Coronel encarou o rapaz a sua frente, retribuindo o olhar fixo que lhe era lançado. Roy ainda estava na mesma posição. O corpo dele esparramado sobre a cadeira transmitia uma sensação de distância que fazia seu peito se comprimir.
Dor... Tristeza... Remorso... Culpa... Mas acima de tudo, saudades...
– Ela está bem...
O outro murmurou algo que Hughes não conseguiu compreender. Sua mente estava perdida, distante. Seus pensamentos estavam se voltando a um único ponto. Amava e idolatrava sua família, pois era graças a elas que ele ainda tinha forças para continuar, mas no fundo, bem no fundo de seu coração, sabia que elas não o completavam e sentia-se culpado por isso.
Amava Gracia e Elysia, mas mais do que gostaria, mais até mesmo do que poderia imaginar, amava o homem sentado a sua frente. Seu melhor amigo. E o pior nisso tudo era saber que Roy correspondia esse amor...
Continua...
