Nome do autor: Honey G
Título:
The Truth
Ship (personagens principais):
Regulus/Voldemort
Gênero:
Angst
Classificação:
T
Formato:
Long-fic

Capítulo UM


"If I gave you the truth, would it keep you alive?

Though I'm closer to wrong, I'm no further from right"

– Truth, Seether


Desde pequeno, Regulus sabia que Sirius era uma personagem à parte daquela família. Via as tentativas inúteis do irmão tentando se adaptar aos costumes familiares, mas ele era sempre o estranho. Sirius fora uma criança muito mais divertida do que teriam sido Bella e Cissy, na opinião de Regulus, e ainda mais carismática do que Andromeda. Esse comportamento incutido explodiu no outono de 1971, quando Sirius tornou-se o primeiro grifinório dos Black. Regulus não entendia o desapontamento da mãe, afinal, a Grifinória era a casa dos destemidos, dos cavalheiros, e isso não era defeito algum. Porém, para Walburga Black aquela era uma ofensa, a primeira das que viriam a seguir.

Orion tentou apaziguar até certo ponto, buscando trazer o primogênito à que chamavam de "conduta familiar", afinal, ele ainda era Black, sangue-puro, e a Casa tinha sua honra. Ele sabia que o mais velho tinha carisma e inteligência insuperáveis, mas que seriam perigosos se usados para outros propósitos, que não ser um Black. Mas mesmo cansado de ouvir essa frase, Regulus ainda não sabia o que era ser um Black.

Foi quando o irmão arrumou as malas e se mudou para a casa dos Potter que ele percebeu que, sabendo ou não, aquela responsabilidade agora era dele. O menino que sempre ficara ofuscado pelo brilho – benigno ou nocivo – do irmão mais velho tinha agora a chance, a obrigação de ser tudo o que gerações construíram.

"Case-se, tenha filhos, continue o nome da família", disse-lhe seu pai, desesperado ao ver que Regulus era a última chama a perpetuar o sobrenome Black. Apresentou-lhe várias garotas, algumas bonitas, poucas inteligentes, mas todas ricas. Não media esforços para arranjar encontros forjados em festas da alta sociedade bruxa.

"Junte-se à Bellatrix e ao Rodolphus e torne-se Comensal da Morte, elimine os trouxas do mundo e honre o nome da família" - mandou sua mãe, também desesperada e inconformada com as escolhas do primogênito. Começou a exaltar Regulus, parabenizando-o pelas notas altas e bom desempenho no quadribol, "embora isso não seja carreira que preste".

Regulus não ficou dividido por muito tempo. Entre continuar e honrar a família, ele escolheu a segunda opção por um motivo óbvio: quando Sirius tivesse seus filhos, por mais grifinórios e traidores do sangue que fossem, teriam o sobrenome Black. Mas essas crianças, que não entrariam na tapeçaria da Mansão, e que não seriam consideradas, também não seriam capazes de honrar a mui nobre família Black, sempre pura.

Escreveu então uma carta sucinta à prima Bellatrix, dizendo que gostaria de se alistar o mais rápido possível e que daria seu melhor à causa do Lord das Trevas. Imaginou que a resposta seria dada no verso do mesmo pergaminho, com uma letra trêmula como de quem ri, com poucas palavras:

"Cresça, Reg".

Mas para sua surpresa, sua coruja voltou cansada, trazendo um rolo grosso de pergaminho como resposta. Nela, Bellatrix não poupou elogios ao primo, enaltecendo a escolha astuta – ela não disse corajosa, veja bem – de tornar-se seguidor do Lord das Trevas, uma grande honra e responsabilidade. Descreveu detalhadamente o que ele teria que fazer e passar para se tornar um candidato eficiente e valoroso aos olhos do mestre.

E Regulus Black aceitou, no final de seus dezesseis anos, se tornar Comensal da Morte. Aceitou marcar a fogo, para sempre, o braço com a Marca Negra. Aceitou que mataria, torturaria, seqüestraria, entre outras atitudes extremas, para o bem maior de livrar o mundo dos trouxas e aliados.

Encontrou-se com o Lord apenas em sua iniciação, não era digno de confiança o suficiente para participar de grandes reuniões. Apertou sua mão, e ficou assustado ao perceber que a pele de seu novo mestre era gelada, como um réptil. Aquele era um gesto educado de dizer, "agora faço o que o senhor mandar".

Após um ano em serviço, Regulus foi chamado à presença de Lord Voldemort. Não estava tão nervoso por reencontrar o mestre, estava mais preocupado com o motivo da convocação. Coisa boa não seria.

"Regulus Black...", começou Voldemort, usando o tom de voz suave e letal dedicado à ironia. "sua família já foi de grande prestígio..."

"Ainda é, senhor", retrucou Regulus.

"Agora anda sofrendo grandes baixas...", continuou o Lord como se nada tivesse ouvido, "mas é chegada a sua hora de mudar isso, Regulus". Então abriu um sorriso assustador e tornou a falar, dessa vez com o típico tom autoritário.

"Mate Sirius Black".

Matar Sirius. Seu irmão. Aquilo estava fora de qualquer possibilidade.

"Lord..."

"Vai me negar isso, Regulus? Vai se juntar às maçãs podres da sua árvore?"

"Mais isso é..."

"Difícil demais? Impossível? Devo delegar essa função a outro?"

As perguntas incessantes do Lord das Trevas estavam entorpecendo o cérebro do jovem Comensal. Não era difícil ou impossível, era hediondo.

"NÃO. Prefiro eu mesmo me encarregar de Sirius", disse Regulus, forçadamente. Só assim o irmão poderia salvá-lo. Fugiriam os dois, cada um para seu canto, de seu modo, condenados para sempre, mas vivos.

"Que bom, meu jovem... por um momento duvidei do seu interesse", disse Voldemort, ainda assustadoramente pacífico.


Deitado sob a colcha verde de sua cama, Regulus sentia vontade de vomitar. Seu pai tinha acabado de morrer, e com ele a esperança de continuidade do sobrenome. O que diria Orion se Regulus perguntasse o que fazer? O que Walburga diria?

"Sr. Black, o jantar será servido", chegou Kreatcher com sua voz arrastada. Aquele elfo tinha sido testemunha de todas as humilhações e sofrimento que ele tinha passado na Mansão.

"Não estou com fome, Kreatcher. Na verdade, estou enjoado"

"Devo trazer uma poção ou chamar sua mãe?"

"Nenhum dos dois", e, ao ver o elfo indo embora, completou, "Kreatcher, você me acha um bom Black?".

Ao ouvir suas próprias palavras sentiu-se deprimente por perguntar tal coisa a um elfo doméstico.

"O senhor é um dos melhores Blacks de todos, senhor Regulus", então Kreatcher fez uma reverência.

"Então por que eu me sinto assim... deslocado... como Sirius?"

"Por favor, senhor, não toque no nome dele, Sirius era um garoto mau e decepcionou muito sua mãe..."

"Eu sinto que vou fazer a mesma coisa, Kreatcher".

De repente, Regulus começou a chorar. Era apenas um rapaz de 18 anos, inseguro e sufocado de responsabilidades, incumbido de fazer uma tarefa que jamais conseguiria cumprir. Não, ele não estava pronto pra matar, torturar já era demais para ele, e Sirius... Como mataria o próprio irmão?

Queria poder tirar aqual tatuagem do braço, anular aquele contrato maligno com Lord Voldemort. Estava arrependido de ter tomado aquele caminho. Talvez teria sido bem mais feliz dedicando sua vida a ter filhos Black. Ora, sua mãe, que tanto incentivava a cometer aquela barbaridade, não tivera a coragem de se tornar Comensal da Morte, então por que ele deveria?

Mas já era tarde demais. Regulus era um Comensal, sozinho, perdido.

"Jure que vai me ajudar Kreatcher"

"Claro, meu senhor, sempre!"

"Não sei quando, nem como, mas precisarei da sua ajuda, Kreatcher, do seu silêncio e sua discrição... acho que mereço após tantos anos de bons tratos"

"O senhor merece tudo o que Kreatcher puder oferecer, senhor Regulus".

E a tarefa que daria a Kreatcher veio mais rápido do que imaginava.


E aí, pessoal? Mais um capítulo, hein! :D