~Armazém desativado – West Virginia – 04:30 am~

Aquele era um típico armazém frio e de iluminação fraca, que por si próprio já causava arrepios, dando a sensação de que a qualquer momento você iria se deparar com algo sobrenatural em meio as enormes caixas de madeira empilhadas uma ao lado da outra, formando verdadeiros corredores num labirinto improvisado. Era como se a cada passo, flashs dos antigos filmes de terror que temos registrados na memória viessem à tona, um a um. E, Annie continuava procurando... Num gesto calculado, salta do alto de uma caixa a outra, disposta a cerca de um metro a sua frente, caindo de pé em total segurança, assim como os felinos, como se fizesse isso a vida toda. E pensar que há apenas um ano se tornara uma agente da CIA, talvez a mais nova e mais brilhante que seus superiores já conheceram, a qual acreditavam "jamais" ser capaz de decepcioná-los. Pelo menos, até agora...

-Acabo de vasculhar a área duas vezes, senhor. O local está limpo – afirma Annie de costas, pressionando o imperceptível aparelho de escuta que trazia no ouvido para ouvir o que seu contato ia dizer.

-"Nenhuma pista, blackbird?" - pergunta uma voz masculina do outro lado. - "Um indício qualquer de que experiências científicas não autorizadas pelo governo vem sendo realizadas nesse armazém?"

Ainda de pé, parada no mesmo lugar sobre a caixa, Annie estava prestes a dizer "não", quando uma interferência sonora fez com que perdesse o contato por completo.

-Ótimo! - pensa alto. - Qual será a próxima surpresa?

TUM!

De repente, o som pesado de alguém saltando alguns metros atrás de si, sobre uma das caixas, fez com que Annie automaticamente se voltasse para o desconhecido percebendo que não estava tão sozinha quanto pensava. Ou pior: estava diante de um homem alto e bonito, com os olhos azuis mais estonteantes que já vira, usando casaco e calça preta, assim como ela. Sem dizer nada, tentou buscar nos olhos dele algo que indicasse se tratar de uma testemunha, vítima, ou inimigo, mas preferiu não arriscar, deixando que ele mesmo se pronunciasse:

-Annie Mack? É a agente Annie Mack? - pergunta ele num tom baixo e grave. - De codinome Backbird?

-Nos conhecemos?

Ele começa a se aproximar, enquanto vai falando:

-Não pessoalmente. Assim como você, eu trabalho para o serviço secreto, mais do lado dos bandidos do que dos mocinhos.

Desconfiada, Annie desliza a mão sutilmente pela calça, até alcançar o cobre com a arma por baixo da camisa branca que aparecia sob o curto casaco preto. Mas, por mais discreta que tenha sido, ele acaba notando e, parando há dois metros dela, avisa:

-Você não atiraria em um homem desarmado, atiraria?

Ela devolve a arma ao cobre e cruza os braços dando um crédito de confiança a ele:

-Por que está aqui? Tem alguma informação pra me dar a respeito de experiências secretas?

-Muita. Eu sou um experimento ultrasecreto do governo – pausa. - Mas, quero que me ajude a deixar de ser. Não havia outra forma de contatá-la, então, forjei esse encontro.

Annie balança a cabeça descrente por um instante. Experimento? Ele? Só podia estar brincando! Percebendo o que acontecia, ela reclama:

-Em outras palavras, quer dizer que me tirou da cama atrás de uma denúncia falsa? Quer saber? Vá pro inferno!

Annie vira de costas disposta a ir embora, até ouvir um nome que a faz voltar atrás:

-PROJETO GC-165. Isso lhe diz alguma coisa?

Ela torna a virar e olhando em seus olhos, responde:

-Terei de corrigi-lo, o nome é GC-161, um composto químico altamente perigoso para humanos, pouco explorado e que... Não existe mais. Anos atrás, o laboratório que produzia tal substância explodiu, não sobrou nada.

-Hum! - ele franze a sobrancelha. - Acho que também terei de corrigi-la. Antes da explosão, uma amostra do composto foi roubada e com o passar dos anos aperfeiçoada, transformando-se em 165. Depois disso, testada em humanos; como eu.

-Prove.

Ele sorri por um instante e revela:

-A interferência na escuta... Achei que fosse mais inteligente.

Annie se irrita:

-Acha que vou acreditar nisso? É o melhor que pode fazer? - pausa. - Tenho más notícias. O local está cercado, em segundos um grupo de agentes invadirá o armazém e...

-E eu vou sair do mesmo modo que entrei , como uma poça d'água. Posso me transformar numa quando quiser... -ele insiste. - Entenda. A única pessoa que criou um antídoto capaz de me ajudar não está mais viva. Falo de George Mack.

-Meu pai – ela admite.

-Sei que chegou bem perto disso, Annie Mack. Não foi fácil conseguir sua localização, muito menos pedir por socorro. Mas, estou aqui e meu tempo está esgotando.

Annie dá um passo a frente ficando sob um suave feixe de luz azulado onde era possível visualizar melhor seu rosto redondo, que combinava bem com seus olhos cor de avelã e os cabelos castanhos. Ela usava uma maquiagem leve, quase natural. Por hora, seu plano era investigá-lo, antes de tomar qualquer decisão:

-Para quem trabalha?

Silêncio. Sem obter resposta, Annie continua:

-"Supondo" que esteja dizendo a verdade; por que eu ajudaria um completo desconhecido que pode estar me conduzindo a uma armadilha?

-É uma cientista. Não dispensaria a chance de ter uma cobaia.

Annie se aproxima mais um pouco dele.

-Como é mesmo seu nome?

-Richard.

-Richard? A cientista sugere que procure outro cientista... Não conte comigo.

Nisso, os agentes da CIA invadem o armazém e antes que se aproximassem dos dois, o corpo de Richard começa a virar líquido, até derramar todo no chão transformando-se numa poça d'água diante dos olhos arregalados de Annie. Ágil, ele desliza pela caixa, indo embora sem ser notado... Voltando a forma humana do lado de fora do armazém, bem longe de todos...