Pra Marcella, por ter feito aniversário há 2 anos.


Eu não queria abrir os olhos, mas os números vermelhos do rádio-relógio piscavam irritantemente. Eles piscavam 12:00, mas piscavam isso há 3 dias já... Acho que estava na hora de acertar o relógio... Mas não agora.

Me arrastei para fora da cama, minha cabeça latejando terrivelmente, só consegui chegar na cozinha e encher uma caneca de café fervente. No primeiro gole que queimou minha língua comecei a voltar à vida, tanto que quando o telefone tocou, eu só gemi irritada ao invés de atira-lo pela janela.

- Quem incomoda? – perguntei emburrada, sentando no sofá e puxando as pernas para cima, assoprando meu café.

- Bom dia, raio de sol! – a voz cantarolou.

- Oi, Alice... – sorri, apesar do mau humor.

- Já está pronta?

- Para o que? – eu só queria morrer com aquela ressaca.

- O Sarau na casa do Mike!

Girei os olhos, Mike foi um grande erro, que agora me seguia pela cidade como um golden retriever tamanho família.

- Não gire os olhos, Isabella. – ela reclamou, rindo. Odiava quando ela tinha esses insights sobre o que eu estava fazendo. Especialmente quando usava meu nome inteiro. Era coisa da minha mãe...

- Eu não girei os olhos, Mary Alice!

- Girou sim! Estou do outro lado da cidade e enxerguei isso!

- Do outro lado cidade, é? Pare de falar tão alto então, vai acordar o Jasper!

- Ele já está acordado... – ela comentou em um tom distraído – Bella... Que horas pensa que são?

- Não sei... Meu relógio está piscando meio dia a uma semana! – tomei outro gole do café

- Coloque o café na mesa e vá se trocar imediatamente. – ela disse no tom de negociadora de reféns que adotava quando o assunto entrava entre mim e meu café.

- Mas por que? – gemi.

- Me ouça, e não reclame! – ela riu – A roupa está pendurada na porta do seu guarda-roupa! – o que? Mas ela nem sabia que eu ia aceitar!

- Mas como... Quando você... Espera. – ela começou a gargalhar.

- Eu sei das coisas, Bella... Agora largue o café e vá se trocar agora, sim? – comecei a beber de uma vez para não desperdiçar e ela continuou – Se beber tão rápido vai queimar a língua... – como é que ela sabia?

- Tchau, Alice... – falei meio fofo, com a ponta da língua ardendo.

Desliguei o telefone e abanei minha boca, indo em direção ao meu quarto. Realmente, pendurado na porta do guarda-roupa estava um presentinho de Alice, um vestido simples, terminava na metade das minhas coxas, azul marinho, tomara que caia, de mangas compridas, um casaco vermelho longo o bastante para cobrir a barra do vestido, com botões grandes e uma faixa na cintura. Com ele por cima pareceria que eu estava nua por baixo. Claro que eu gostei...

Sorri quando percebi que ela me deixou escolher os acessórios, mas em seguida tive uma sensação de que isso teria algum tipo de conseqüência terrível mais tarde.

Tomei banho, escovei os dentes e coloquei o vestido, meia fina preta, sapatilhas também pretas.

Não conseguia domar o cabelo, então coloquei uma faixa vermelha grossa amarrada em volta da cabeça, o casaco acabou combinando com o conjunto.

Eu não era de me arrumar, mas hoje estava sentindo que alguma inspiração finalmente viria.

Peguei minha bolsa, que na opinião de Alice era pequena demais, e disquei o número dela no meu celular.

- Estou indo para o café! – avisei enquanto descia os 7 lances de escada que havia entre meu apartamento e a rua, o elevador estava em eterna manutenção.

- Já estou aqui! E não vou te pedir mais café, desista.

- Eu não ia pedir... – resmunguei.

- Ia sim! – ela riu.

- Tchau! – desliguei.

Corri pela rua e quando entrava pela porta do café, trombei com um homem, arrancando gargalhadas de Alice, que estava em pé ao lado dele.

- Oi, Bella! – Jasper, o homem que eu trombei, sorriu.

- Oi, Jazz... – murmurei de volta, contrariada por ser motivo de piada. De novo.

- Eu não acredito! – Alice exclamou ao me analisar.

- O que? – olhei para baixo, com medo de ter esquecido as calças. Mas eu estava de vestido!

- Você combinou os acessórios!

- O que? – franzi a testa cruzando os braços enquanto Jasper sacudia a cabeça, divertido.

- Você está linda!

- Por que está tão surpresa? – perguntei, começando a andar, o tempo estava delicioso e eu podia enxergar a Torre Eiffel completamente numa bela pintura com o céu azul ao fundo, sem nuvens para atrapalhar.

- Porque você normalmente se veste como... Como uma... – ela não encontrava a palavra.

- Mendiga? – Jasper sugeriu.

- Não... – Alice ainda estava pensativa.

- Louca? – ele tentou mais uma vez.

- Quase isso... Mas é pior! – arregalei os olhos na direção dela, que não notou. Jasper riu.

- Americana?

- Isso! – Alice pulou com a conclusão e lhe deu um beijo no rosto – Eu sabia que mantinha você por perto por algum motivo!

Ignorei tanto o que ela dizia como a demonstração nojenta de afeto dos dois... É, eu definitivamente ainda estava de mau humor.

Enfiei as mãos nos bolsos do casaco, olhando para cima enquanto caminhava. Não era uma idéia muito esperta, mas o dia estava delicioso, mesmo com meu mau humor, eu podia ver que as ruas estavam com as core brilhantes, vibrantes. Quase me inspirava.

Faz tempo demais que nada me inspira, tudo parece insosso, sem graça, morto. Eu não conseguia pintar, compor, nem tocar! Eu não era uma artista convencional... Não tinha um estilo específico, tentava tudo, esculpia, atuava, cantava... Qualquer forma de arte me interessava! Mesmo quando eu não era particularmente boa...

Estávamos quase chegando ao suposto sarau. Até onde eu sabia Mike pensava que sarau era um drink com vodka, ameixas e club soda. Acho que ele estava fazendo isso apenas para me atrair de volta ao seu apartamento...

Já tentei explicar que foi um erro, havíamos feito uma pequena excursão para Amsterdã, comi um bolo de origem suspeita, bebi absinto e... Bem, digamos que as mulheres das vitrines vermelhas não eram as únicas sem roupas na rua aquela noite.

Foi tudo um grande erro... Divertidíssimo, até a manhã seguinte quando eu acordei na cama de Mike. Típico americano loiro de olhos azuis, corpo de atleta, ganhou uma viagem para a França do papai, por ter entrado na faculdade com uma bolsa de estudos, graças ao futebol. Patético. Sem qualquer inspiração!

Veio para Paris para se apaixonar... Ah... Lindo, não é? Um segundo a mais de clichê nesse garoto e eu vomitaria...

Mesmo com o sol, começou a garoar e meu humor melhorou. Não há nada como um dia de garoa em Paris!

Alice riu me fazendo virar para encara-la.

- É a garoa, não é? – perguntou, me fazendo sorrir.

- Sempre!

Rápido demais chegamos o loft alugado do golden retriever, só espero que realmente tenha algo relacionado a arte lá em cima... Pelo menos aqui o elevador funcionava.

Quando saímos no andar de Mike, roubei um cigarro de Alice e o acendi. Eu não gostava realmente de fumar, mas qualquer coisa para deixar o americaninho afastado dos meus lábios.

Traguei lentamente e senti um cheiro diferente.

- Cereja? – perguntei olhando para o cigarro.

- Gostoso, né? – Alice sorriu, divertida.

- Parece que estou fumando um incenso! – falei rindo, soltando a fumaça para cima.

Entramos em meio a gargalhadas no loft imenso, havia quadros em todas as paredes, painéis espalhados pelo ambiente com poesias penduradas e um pequeno palco havia sido montado onde deveria ser o quarto, onde uma banda de rapazes de rostos simpáticos cantavam Le Vent Nous Portera. A música que eu cantei enquanto dançava pelas ruas de Amsterdã... Pelo menos a primeira delas.

Eu deveria dar algum crédito ao garoto, ele prestava atenção nos detalhes!

Alice começou a cantar baixinho movendo os quadris de modo que sempre me empurrava, criaturinha irritante.

Começamos a rir mais uma vez, enquanto tirávamos os casacos, os atirando num enorme sofá de couro ao lado da porta e pegávamos taças de vinho de um garçon que passava. Realmente Mike estava se esforçando para impressionar.

Tomei o primeiro gole quando avistei nosso anfitrião e imediatamente mudei o caminho, indo diretamente para uma das paredes que estava convenientemente escondida por um dos painéis. Fingi examinar um quadro com a melhor cara de interesse que consegui, tentando me misturar com os outros admiradores.

Sabia que não conseguiria fugir por muito tempo, mas faria com que esse tempo se esticasse ao máximo.

Bebia do meu vinho quando notei que ainda não tinha realmente prestado atenção no quadro a minha frente, o que pareceu uma grande idiotice já que era perfeito. Não sei explicar, mas cada pincelada parecia demonstrar os sentimentos do pintor, sua tristeza, angústia, a decadência da cena retratada. Era incrível.

Cruzei apenas um dos braços, o que segurava a taça, frente ao peito, mantendo o outro esticado, o cigarro de cereja ainda entre os dedos, e apoiei o peso do corpo em uma das pernas, me acomodando para admirar melhor.

A imagem me fazia viajar, como se eu pudesse toca-la e ser transportada para outro plano, talvez até mesmo a mente do artista, e senti inveja por ter certeza de que não seria capaz de retratar uma emoção tão profunda nem se vivesse um trilhão de anos.

Suspirei, sem dar atenção a pessoa que parou ao meu lado.

- Gosta? – a voz masculina, aveludada, estrangeira, me assustou, mas me recompus rapidamente, sem nunca tirar os olhos da pintura.

- Muito... – respondi em inglês, a língua em que ele me fez a pergunta.

- Conhece o pintor? – ele continuou, e pelo jeito que enrolava o R, definitivamente não era daqui, mas pelo menos não era dos Estados Unidos. Se fosse outro americano prepotente eu sairia correndo.

- Não... mas gostaria! – sorri, quase para mim mesma.

- É mesmo? Por que? – ele parecia realmente interessado, e sua voz era tão agradável que resolvi ver até onde aquela conversa iria.

- Ele deve ser uma pessoa fascinante!

- Como chegou a essa conclusão?

- Somente alguém com uma mente incrível poderia pintar algo com tanto sentimento... – soei um tanto sonhadora, mas não me importei. Era o que eu realmente achava.

- Ah... Então você é uma romântica... – o estranho comentou, rindo, muito cínico pro meu gosto.

- Na verdade, senhor... – voltei somente o rosto para ele e quase perdi a linha de pensamento.

Continuei com a boca aberta, tentando absorver a aparência do turista petulante, mas parecia que eu perderia detalhes demais somente com um olhar.

Beirava a perfeição, um Davi de Michelangelo, com seu cabelo avermelhado despontando em todas as direções, até mesmo caindo sobre seus olhos verdes, profundos, me encarando diretamente parecendo extremamente divertido.

Seus traços retos, firmes, lhe davam ainda mais um ar de escultura, e sua pele levemente bronzeada...

- Sim? – ele interrompeu meu devaneio, me dando um sorriso torto, que discordava completamente do resto de seu rosto completamente simétrico, mas que fez com que ele parecesse ainda melhor.

Às vezes simetria era chata, tediosa, tudo o que aquele sorriso não era.

- O que? – perguntei franzindo a testa de leve.

- Na verdade... – ele repetiu minhas palavras, me incentivando a continuar.

Pisquei algumas vezes e sacudi a cabeça tentando me livrar da névoa que me encobriu a mente.

- Na verdade, – recomecei – gostei dessa peça por ser completamente desoladora, triste, agoniante de certa forma. – ele arregalou os olhos levemente, os lábios cheios entreabertos em surpresa – Não há nada romântico aqui... Só decadência.

- E conseguiu ver tudo isso nos poucos minutos em que olhou para ele? – foi a minha vez de sorrir.

- Só não enxerga isso quem não quer... Como o senhor, aparentemente!

- O que quer dizer? – suas sobrancelhas se juntaram, mas ele sorriu, cruzando os braços.

- Me julgou uma romântica por eu ter gostado do quadro, não viu toda a tristeza por trás dele, se não teria me chamado de... Depressiva talvez? Emo? – disse acidamente. Ele riu levemente, baixando a cabeça.

Seus cabelos bagunçados caíram ainda mais sobre seus olhos, quando ele voltou a me encarar, com certeza armado com uma resposta, Rosalie surgiu e segurou meu braço.

- Bella, amore! – ela exclamou, mais italiana impossível – Ho bisogno di parlare con te! – nem esperou que eu respondesse e saiu me arrastando.

- O que? – perguntei, confusa, me deixando arrastar.

Ela sempre esquecia que ela falava francês e eu não entendia nem uma palavra em italiano.

- Desculpe, chéri – ela caçoou – Eu já estava me irritando com aquele cara que não te largava nunca mais! Disse que precisava falar com você... – ela sorriu matreira.

Rosalie Hale, apesar do nome, era uma modelo italiana, alta, loira de olhos azuis e provavelmente a mulher mais bonita a andar pela Terra, com um rebolado sutil, digno de Marilyn Monroe, que provavelmente deveria freqüentar a alta roda parisiense, mas preferia montar motores de carros, beber cerveja barata e conversar com prostitutas e travestis em Les Tuileries de madrugada.

Nos dávamos incrivelmente bem.

Ela conheceu Alice na semana da moda há alguns anos, quando estava desesperadamente procurando um cigarro e encontrou minha baixinha brigando com um segurança. Até hoje não temos certeza qual o motivo da briga, as teorias variam de uso de drogas até assédio sexual, mas também não temos certeza sobre quem estaria assediando quem.

Rose resgatou Alice e ainda conseguiu com que ela ficasse nos bastidores, e ganhou em troca sua amizade eterna.

- Rose... – Alice chamou, com sacudindo a cabeça com um olhar falsamente bravo e tom reprovador – Pare de monopolizar a Bella! Ela precisa falar com homens também, sabia? Ainda mais um tão bem vestido como aquele! – Alice que me perdoasse, mas roupas foram a última coisa na minha mente enquanto eu olhava aquele imbecil deslumbrante.

Ali é designer. Deve ser esse o motivo por ter notado nas roupas do estrangeiro quando poderia estar olhando o rosto... Ou talvez Jasper fosse o motivo. De qualquer forma, isso não começou há muito tempo, na verdade, antes ela escolhia os dias ensolarados nas temporadas em que a cidade se enchia de turistas para sentar-se próxima a fila quilométrica do Louvre e desenhar retratos das pessoas. Às vezes os vendia, às vezes não.

Ninguém reclamava por causa do jeito dela. A baixinha era realmente muito charmosa quando queria, e ficava parecendo uma boneca quando colocava uma boina em cima daqueles cabelos pretos espetados e amarrava um lenço no pescoço. Parecia a Barbie francesa, e tinha o mesmo tamanho de uma.

Foi assim que ela conheceu Jasper, se negando a lhe vender seu desenho por causa de seu sotaque. Sim, Alice é meio xenofóbica. Ela viu que ele era um turista, mas ficou encantada com seu rosto fino, cabelos loiros e olhos acinzentados e o desenhou quando pensou que ele não estava vendo. Mas ele viu. Começaram uma enorme briga para ver quem ficaria com o desenho, e terminaram bebendo vinho frisante direto do gargalo enquanto passeavam pela Champs-Elysées as quatro da manhã.

- Homens são chatos! – Rose replicou, fazendo uma careta e passando o braço pelos meus ombros.

Rose não é lésbica, nem odeia os homens, ela só... Gosta de meninos e meninas? E tem uma vontade imensa de me seduzir, só pelo desafio. E eu admito, não reclamo por que é uma delícia ter alguém tão maravilhosa correndo atrás de você.

- É verdade, Rose! – sorri para ela – Homens são chatos!

- Ai... Mais uma... – Jasper bufou atrás de Alice e nós todas começamos a gargalhar.

Rosalie puxou minha mão e tragou do meu cigarro, e Jasper tirou uma foto da cena. Com certeza estaria em alguma galeria daqui uma semana, ele era um fotógrafo fantástico. Se mudou da Alemanha para cá há alguns anos, então quando conheceu Alice, ao contrário do que ela havia pensado, ele não era um turista. O sotaque dele é terrível, mas eu sei que Ali se derrete completamente quando ele sussurra palavras em alemão com a boca colada em seu pescoço.

Ela passou a aceitar bem mais turistas e estrangeiros.

- Isabella! – ouvi uma voz familiar demais me chamou com um sotaque familiar demais.

- Rose, distrai ele! – implorei, enquanto pensava para onde poderia fugir.

Mas a idéia de distração de Rosalie não era exatamente o que eu havia imaginado. Ela virou meu rosto com as duas mãos e me deu um longo beijo na boca. Quando se afastou, sorriu e mordeu o lábio inferior e eu juro que vi um homem enfartando do outro lado do salão.

- Meu batom fica muito bem em você! – ela sorriu.

Eu ainda estava em choque, então abri a boca tentando processar o que ela havia acabado de fazer, mas desisti.

- Obrigada? – disse meio incerta, fazendo soar como uma pergunta.

Alice caiu na gargalhada e quando olhei em sua direção, Jasper estava sorrindo, muito sacana enquanto olhava o visor de sua câmera. Merda. Isso também estaria numa galeria daqui uma semana...

- Uau! – Mike exclamou se aproximando.

Girei os olhos e o cumprimentei com um beijo em cada bochecha.

- Eu precisava de batom... – expliquei como se não fosse nada demais, dando a última tragada no cigarro antes de passa-lo para Rose.

Ela aceitou de bom grado, apesar de ser só uma pequena ponta, tragou e jogou a bituca dentro do copo de Mike.

Olhei para ela com os olhos arregalados, tentando controlar o riso.

- O que foi? – ela deu de ombros – Não tinha cinzeiro por aqui! – me rendi ao sorriso enquanto um Mike muito desconcertado tentava chamar minha atenção novamente.

- Já viu os quadros? – ele perguntou apontando as paredes.

- Não todos... – suspirei, tomando vinho.

- Algum que goste?

Imediatamente lembrei do quadro perfeitamente triste que me rendeu a discussão com o Davi idiota.

- Aquele! – apontei.

- Aquele? – ele fez uma careta – Mas é tão... – enquanto ele procurava a palavra eu completei.

- Perfeito.

- Você o quer? – arqueei uma sobrancelha em sua direção – O pintor está aqui, se gosta tanto eu o compro pra você! – sorriu.

- Está tentando me impressionar, Mike? – sorri docemente, ouvindo Alice cochichar um "vadia interesseira" para Jasper antes dos dois caírem na risada.

- Um pouco, sim... – ele sorriu, baixando a cabeça na mesma atitude do estranho, mas infinitamente menos charmoso.

- Quem é o artista? – perguntei, tão simpática que Rose bufou atrás de mim, fazendo meu sorriso aumentar.

- Um grego... Cullen... Ou alguma coisa assim. – comentou sem interesse, um segundo mais tarde uma lâmpada se acendeu sobre sua cabeça – Quer conhece-lo?

Garoto esperto... Se não consegue me fazer gostar dele por ele, me apresenta a seus contatos! Fantástico.

- Adoraria! – bati os cílios para ele e levei um tapa na bunda, obra de Rosalie.

Quando ele virou de costas procurando o tal grego, espiei por cima do ombro, fiz uma careta animada e comecei a rir silenciosamente.

Jasper tirou outra foto, dessa vez da minha cara de louca, e Rose me deu uma taça cheia, tomando a antiga da minha mão.

- Bebe... Você vai precisar! – sorriu e me deu outro tapa na bunda.

Comecei a seguir o Mike, mas ainda tive tempo de ouvir Alice repetir.

- Vadia interesseira...

Caminhei distraidamente ao lado dele, sem dar atenção ao que ele dizia, bebendo calmamente meu vinho e espiando os quadros e lendo algumas palavras da poesia pendurada nos painéis.

- Isabella... – ele chamou e eu me virei, preocupada, ele deve ter notado que eu estava dormindo de olhos abertos – Esse é o pintor de quem eu estava te falando.

O tal pintor ainda estava de costas, acho que dava ainda menos atenção a Mike do que eu dava. Ele era alto, seus ombros largos, e estava impecável com sua blusa cashmere preta de gola rolê, que marcava suas costas me permitindo ver os movimentos de seus músculos, e sua calça jeans preta surrada, com um rasgo na parte de trás de sua coxa.

Percebi que Mike me olhava estranhamente, muito provavelmente porque eu ainda não havia tirado os olhos da bunda do Callan, ou seja lá qual for o nome. Mais uma analisada antes de desviar o olhar e eu tive certeza: grego, definitivamente.

- Desculpe a demora – o objeto de minhas analises falou, enquanto se virava e eu gelei. Conhecia aquela voz.

Perdi tanto tempo com o corpo que nem passou por minha cabeça tentar olhar o rosto! Quando me viu, completamente constrangida, o sorriso enviesado voltou a decorar seu rosto.

- Ora, ora... – ele cruzou os braços frente ao peito – A senhorita crítica de arte!

- Já se conhecem? – Mike perguntou, olhando confuso de mim para ele.

- Na verdade não... Edward Cullen. – ele estendeu a mão para mim.

- Isabella Swan... – apertei sua mão e Edward não deixou que eu a soltasse, mantendo firme o aperto em minha mão, se divertindo com minha vergonha.

- Isabella estava me dizendo o quanto apreciou seu quadro, Edward! – Mike comentou, completamente alheio a nossa troca de olhares.

- Ah, é mesmo? – ele perguntou, seu sorriso aumentando, finalmente soltando minha mão, mas sem nunca parar de olhar para mim.

Eu tentava fingir indiferença, mas estava me contorcendo, querendo fugir. Desviei o olhar e esfreguei o pescoço.

- Sim! – Mike continuou, sorrindo para mim, nem me importei em fingir um sorriso de volta – Gostaria de saber o quanto quer por ele.

- Nada... Não está a venda. – isso me fez voltar o olhar para ele, que agora encarava Mike seriamente.

- Ora, vamos... – Mike sorriu – Quero agradar a moça, o que não é muito fácil de fazer... – Edward me espiou arqueando as sobrancelhas e eu concordei com a cabeça, fazendo com que ele sorrisse – Me dê uma força!

- Sem acordos, Newton... – Edward riu, batendo no ombro de Mike.

Por um instante tive a impressão que ele poderia desmontar.

Mike me lançou um olhar sem graça, como se me pedisse desculpas. Dei-lhe um leve sorriso de volta, era óbvio que estava desapontada, mas pelo menos não teria mais que fingir ser gentil com ele.

- Oh, bem... É a vida, não é? – sorri rapidamente – Tenho que voltar... – apontei para onde Rosalie me vigiava como um falcão e Alice se balançava no lugar, desesperada por detalhes – Italianas não são famosas pela paciência... Merci, au revoir et bonne chance!

Já comemorava a vitória de ter escapado sem maiores constrangimentos quando uma mão segurou meu braço.

- Então gostou de meu quadro, não é? – Edward murmurou, próximo demais. Seu sotaque, a maneira com que ele pronunciava as palavras fazia seu hálito acariciar minha pele. Tentei controlar o arrepio.

- Sua obra é impressionante... – assumi.

- Mas?

- Você... – suspirei, intransigente – Deixa a desejar.

- Eu? – ele sorriu, divertido. Tudo que eu dizia parecia uma enorme piada para ele.

- É... Mas sua obra ainda é impressionante! – sorri.

- E podemos ter o prazer de ver algo feito por você por aqui? – ele indicou as paredes com um gesto.

- Eu não deixo Mike tocar em nada que é meu – pelo menos não mais.

- Uma decisão muito sábia... – ele abriu aquele sorriso enviesado e eu suspirei.

- Agora me diga... – comecei a andar lentamente pelo salão, tentando fingir que ele não estava me deslumbrando com sua aparência. Deus grego tomou toda uma nova perspectiva – Se não pretende vender seus quadros, por que expor?

- Quem disse que não quero vender meus quadros? – ele me acompanhava, suas pernas longas davam um passo quando eu tinha que dar dois.

- Acabou de negar uma venda! – olhei para ele meio confusa – E poderia ter pedido qualquer coisa que Mike pagaria!

- Você é realmente tão difícil de se agradar assim? – sorriu, sacana.

- Mais ainda... – devolvi o sorriso virando de costas para ele, jogando o cabelo por cima do ombro e voltando o olhar para uma pintura tosca que me fez rir.

- Qual é a graça? – ele perguntou divertido, parando exatamente atrás de mim, dava pra sentir o calor do corpo dele.

- Isso! – apontei o quadro.

- Não gosta?

- É medonho!

- Ah... É meu. – ele murmurou me fazendo gelar.

- Ahm... Mas... Na verdade não é tão ruim quando a gente olha mais de perto... E... Ahm... – ele começou a gargalhar.

- Não sei o que é mais bonitinho... Você ter acreditado que esse monte de lixo retorcido havia sido feito por mim, ou você tentando mentir... – não sei se foi porque ele estava me sacaneando, mas o sotaque dele ficou ainda mais marcado, logo ainda mais sensual. Fiquei ainda com mais ódio dele quando meu coração acelerou.

Não respondi, só tomei um longo gole do vinho e encarei a droga do quadro, travando meu maxilar.

- E para a parisiense de coração gelado que não se importa com os sentimentos alheios... Até que você se esforçou para fingir que gostou da atrocidade... – ele se aproximou ainda mais, seu peito quase colado nas minhas costas – Quer tanto assim me agradar? – ele murmurou, baixando a boca para perto do meu rosto.

- Na verdade, senhor... – disse entredentes e ele riu.

- De novo com isso de "senhor"?

- Eu não quero te agradar... – continuei, o ignorando – Ou melhor, eu quero! – virei de frente para ele, o que o pegou de surpresa já que estávamos praticamente colados – Mas só o bastante para colocar minhas mãos em seu quadro! – sorri, de um jeito que Jasper sempre chamou de "Reizt Lächeln aus der Hölle", mas eu nunca tive coragem de perguntar o que era... Esperava que tudo isso significasse algo simples como "cretino".

Edward sorriu de um jeito tão malicioso e eu senti o rosto esquentando. Torci para isso não significar que eu estava corando enquanto me virei e recomecei a andar.

- Então... Só o que quer de mim é meu quadro? – seu corpo também não seria má idéia, grego idiota e prepotente.

- É. – ele envolveu minha mão com as suas, deslizando os dedos pela minha pele, como se estivesse memorizando os detalhes, olhando para o que estava fazendo com uma atenção hipnotizadora.

- Mas eu quero mais de você... – ele subiu apenas o olhar, continuando ainda com o rosto meio baixo, um leve sorriso torcendo o canto de sua boca.

Virei o resto do vinho que ainda havia na taça, descobrindo tarde demais que ainda tinha muito. Desceu rasgando minha garganta e eu lutei para não fazer uma careta.

E ainda não sabia o que responder àquilo.

- O q-que quer? – gaguejei de leve, enquanto ele voltou a desenhar padrões preguiçosos nas costas da minha mão.

- Quero que vá ao meu ateliê. Preciso de você... – meus olhos se arregalaram.

- P-precisa? De mim?

O que é isso? Eu não fico corada... Eu não tenho vergonha! Em situações normais, claro... Quando acordei na cama de Mike, fiquei extremamente envergonhada de mim mesma! Um americano, Bella? Que nojo.

Mas esse Edward estava me deixando completamente maluca! Era eu quem dava as respostas que deixavam os outros constrangidos! E daí que ele quer me levar no ateliê? Quem se importa que ele precisa de mim?

- Preciso... E muito. – fiquei completamente arrepiada.

Aparentemente meu corpo traidor se importa.

- O que quer que eu faça? – perguntei com o olhar meio perdido, mergulhado no dois lagos verdes a minha frente.

Que tipo de pergunta idiota foi essa? Isabella Marie, tome vergonha nessa sua cara! Parece uma oferecida que transaria com qualquer um no banheiro! Bom... Qualquer um não, mas com esse grego estonteante... Pára! Se controla.

- Quero que pose pra mim. – o que?

- O que? – arqueei as sobrancelhas, completamente surpresa, puxando minha mão das dele em um reflexo.

Toda essa sedução toda para eu posar para ele?

Não sei se isso me deixa feliz ou decepcionada. Mas ainda assim era estranho, quero dizer... Ele olhou realmente para mim? Com Alice e Rosalie no mesmo salão isso realmente parecia impossível.

Eu não tenho baixa auto-estima, não me acho realmente feia, mas tenho o mínimo de bom senso!

Alice é perfeita, eu diria que ela poderia ter fugido de uma pintura, se não parecesse movida a pilha, sempre pulando no lugar, se remexendo o tempo todo, até quando está desenhando.

E Rose... Meu Deus, ela é o sonho de toda a população masculina! E de uma grande porcentagem da feminina... Mesmo agindo ocasionalmente como uma caminhoneira.

- Quero pintar você... – ele disse com um sorriso que me pareceu muito enigmático – Para minha próxima exposição. Seria o meu quadro mais goiteftikos... – a palavra mais que estranha no final da frase me fez piscar algumas vezes, confusa.

- Mais o que? – ele me encarou sem entender – Você falou uma palavra estranha! Goe... tico...? – fui gesticulando com a mão enquanto inventava sílabas.

Edward sorriu, em compreensão.

- Goiteftikos? – repetiu.

- Isso! – apontei seu rosto, sorrindo, animada demais com a constatação. Me senti idiota imediatamente – O que é?

Ele deslizou os dedos pelo cabelo já desarrumado, o afastando do rosto, enquanto passava a língua lentamente pelos lábios, absorto em pensamento. Então quer dizer que tudo que ele fazia precisava ser tão estupidamente sexy? Estava ficando difícil me concentrar.

- Charmoso... – disse por fim, sorrindo, sem me olhar, como se ainda pensasse – Fascinante...

Um quadro meu seria fascinante? Senti as pernas fraquejarem e não era por causa do vinho. Ou pelo menos não por causa dele...

Mesmo sem saber o que responder, eu abri a boca, mas antes que dissesse qualquer coisa idiota, senti duas mãos sobre meus ombros e Rosalie apoiou o queixo em cima de uma das mãos.

- Mi scusi, ma io vado a rubare i suoi per un minuto! Grazie! – a voz doce dela cantou, enquanto ela sorria.

Edward franziu a testa, com certeza também não entendeu grande coisa do que ela disse antes de envolver minha cintura com um dos braços e me puxar para longe dele. Sem parar de olhar aquele rosto perfeito, dei de ombros e sorri presunçosa, por conseguir deixa-lo logo após ter recebido um elogio tão incrível. Era mais fácil ser engraçadinha com a distância entre nós aumentando. Acenei com as pontas dos dedos e ele riu, desviando o olhar por um instante, quando voltou a me encarar, falou alto o bastante para que todos do salão ouvissem.

- Mais tarde! Agapi mou... – não tenho idéia do que aquilo significava, mas meus joelhos viraram geléia e eu dei graças a Deus por Rose ainda estar me segurando.

- Fala. Agora! – Alice mandou, me fazendo sacudir a cabeça, um pouco confusa com a troca constante de idioma.

Francês, italiano, grego, inglês... ARGH!

- Ahm... – francês, Bella, língua natal – Ele me quer! – um sorriso enorme quase me rasgou o rosto e dei uma reboladinha, empurrando Rose com o quadril.

- O que? – as duas quase gritaram.

- Können Sie zwei Stop schreien? – Jasper esbravejou silenciosamente. Ótimo, agora tenho alemão para encaixar na lista de línguas que estão me deixando maluca.

- O que você disse? – Alice perguntou com um certo brilho no olhar. De xenofóbica a piranha por causa de uma única frase...

Olhando bem... Rosalie estava com o mesmo brilho no olhar enquanto encarava Jasper bobamente. Resolvi olhar para ele no mesmo instante em que ele passou a mão pelo cabelo, sacudindo a cabeça de leve.

- Frauen... – ele disse num suspiro e eu entendi quase tudo. Até a Alice. Menos o que ele disse. Quem diria que alemão seria tão sensual? Ou será que era culpa do Jasper? – O pintor não pára de olhar para cá! Se vocês fazem questão de falar tão alto é mais fácil chamar o cara pra participar da conversa! – ele apoiou as costas na parede, e colocou um cigarro entre os lábios.

Recolhi meu queixo do chão o mais rápido que pude, mas vi que não precisava ter ficado envergonhada já que Alice estava praticamente babando e até Rose parecia querer ser aquele cigarro.

Quando é que os homens importados começaram a ficar tão interessantes mesmo? Desviei o olhar lentamente e encontrei Mike. Ok... Talvez não tão interessantes assim.

Ainda tive tempo de dar mais uma olhada pelo salão e encontrei Edward sentado num dos sofás, bebendo uma taça de vinho branco, parecendo completamente entediado, mas quando seu olhar encontrou o meu, seus lábios se abriram no seu incrível sorriso torto e ele ergueu a taça, brindando comigo a distância.

Rose virou meu rosto com as duas mãos, mas dessa vez não me beijou, só estava fazendo um beicinho charmoso.

- Não vai contar o que aconteceu?

- Ele me quer! – repeti com um sorriso bobo no rosto.

- Como assim te quer? Te quer nua na cama do Mike nesse instante? – Alice perguntou, faminta por detalhes. A cama do Mike nunca pareceu tão interessante.

- Na verdade... Ele quer me pintar... – franzi a testa de leve, ainda indecisa, sem saber se deveria ficar empolgada ou não.

Jasper soltou uma risadinha baixa.

- Com certeza! Te pintar deitada num sofá, nua, usando apenas um colar...

Bufei exasperada enquanto as meninas caiam no riso com a piadinha. Titanic... Era só o que me faltava.

- Claro que não é isso! – disse meio irritada enquanto ele tragava.

- Tem razão! – ele continuou, soltando a fumaça – Deve ser pintura corporal... A dedo.

Dessa vez nem eu agüentei e todas ríamos enquanto Jasper parava um garçom e pegava taças para todas. Ele sempre ficava sério após as piadas, o que deixava tudo incrivelmente mais engraçado.

Começamos a beber, dessa vez champanhe, o que provavelmente significava que agora era hora de esquecermos as artes e passar para a parte da festa.

- E o que vai fazer? – Alice perguntou, sorrindo sacana.

- Ainda não sei... Ele quer que eu vá a seu ateliê!

- E você quer ir? – foi a vez de Rose perguntar.

- Acho que... quero?

- Não se entusiasme tanto... – Jasper comentou, me dando um sorriso de tirar qualquer um do sério.

- É que ele é tão... Sedutor! – desabafei – Eu não sei como agir perto dele, um minuto ele parece me devorar com os olhos, no seguinte me diz uma coisa completamente broxante! – tudo bem... Completamente broxante era exagero, mas ele realmente quebrava o clima!

- Mas você não vai lá pra ele te pintar? – Alice levantou um bom ponto.

Era eu que estava louca, achando que ele estava tentando me seduzir... Ele queria fazer um quadro meu, e só isso.

Não era culpa dele que até o ato de respirar, quando feito por ele, exalava sensualidade...

Enquanto eu ponderava sobre aquele grego que me fez perder o rumo de casa, alguém deslizou os dedos pelo meu cabelo.

- Tenho que ir, oraios... – a voz aveludada murmurou, me fazendo virar imediatamente.

- Donc, bientôt? Pourquoi? – ele franziu a testa e abriu um sorriso. Inglês agora, Bella... Inglês... – Tão cedo? Por que? – repeti, sorrindo sem graça.

- Inspiração... Eu nunca posso nega-la! – seu sorriso aumentou – Ainda mais agora com minha nova musa... – seus olhos chegaram a brilhar, enquanto ele me encarava, mexendo numa mecha do meu cabelo – Quer ir comigo?

Abri a boca, mais uma vez sem saber o que responder.

- Vai, sua burra! – Alice resmungou em francês.

- Estou atrapalhando alguma coisa? – ele perguntou franzindo a testa.

Só então reparei que tanto Alice como Jasper e Rosalie nos assistiam com tanto interesse que não pareceram ligar quando nós paramos de conversar só para encara-los de volta.

- Ahmm... – tentei começar, me voltando para ele, com a boca meio torcida, sem saber se aquilo era engraçado ou não.

- Não precisa dizer nada... – ele sorriu, mas parecia meio desapontado – Se mudar de idéia... – meteu a mão no bolso e puxou um cartão entre o dedo indicador e o médio, estendendo-o para mim – Estarei aqui!

Peguei o cartão e percorri as letras em alto relevo com as pontas dos dedos, sem realmente ler.

- Tudo bem... – murmurei. Que estúpida...

- Antio, rembazo mou... – ele sussurrou, seu hálito tinha um cheiro doce, de daiquiri de morango. Então ele beijou minha bochecha longamente, seus lábios eram tão macios...

E tudo que eu consegui fazer foi segui-lo com o olhar enquanto ele desfilava para a porta, sem olhar para trás nem uma vez.

Mordi o lábio observando cada um de seus movimentos. Antes de fechar a porta, ele piscou um olho para mim e sorriu.

- Uau. – Alice disse uma vez que ele havia sumido.

- É... Eu sei... – eu suspirei.

- O que é que ele disse antes de sair? – Rose, a obtusa, perguntou, nos fazendo encara-la, incrédulas – O que? Vai dizer que vocês entenderam?

- Eu sei que eu não entendi nada! – Jasper deu de ombros – Gregos... – ele bufou, cheio de escárnio.

Alemães... Nunca souberam dividir as atenções.

- E agora o que eu faço? – me virei para eles.

- Vai!

- Não vai!

- Não ligo...

Os três falaram ao mesmo tempo e depois se entreolharam.

- Vai, Bella! O pior que pode acontecer é você ter um quadro feio numa exposição de um novo artista! – Alice incentivou, me dando um empurrão no ombro.

- Não vai... – Rose discordou – O pior que pode acontecer é você descobrir que o grego é louco e que vai te matar!

- Não ouve essa maluca, Bells! Ela só está assim porque com ele você quer ir para a cama!

- Claro que não é por isso! – Rosalie disse, indignada – Eu me preocupo com você, mia cara... – ela afagou meu cabelo.

- Tudo bem... Se preocupa com ela. Então, está me dizendo que se o pintor tivesse te chamado... – Ali apontou Rose – Você não iria por que tem medo de ele ser um psicopata?

Rose ponderou por um instante, tamborilando os dedos finos no queixo.

- Vai, Bella... – disse por fim.

Sorri. Jasper soltou um longo suspiro, parecendo profundamente entediado.

- O que há, Jazz? – perguntei numa voz fina, afetada, empurrando seu ombro, como Alice havia feito comigo segundos atrás.

- Gregos! Sempre querem ser o centro das atenções... – ele resmungou, nos fazendo cair na gargalhada.

- Está com ciúmes, meine Liebe? – Alice perguntou, manhosa, eu achava tão fofo quando ela falava em alemão com ele...

- Das ist langweilig... – ele bufou as palavras, correndo os dedos pelo cabelo – Vou dar uma volta!

Alice o puxou para um longo beijo antes que ele pudesse dar o primeiro passo.

- Disgustoso... – Rose fez uma careta ao meu lado. Então riu da minha cara de confusão – Nojento. – explicou.

Jasper passou a língua pelos lábios lentamente, em seguida abrindo um sorriso incrível.

- Delizioso... – Rosalie murmurou tão baixo que só eu ouvi, então nos entreolhamos e sorrimos.

Dessa vez eu não precisava de qualquer explicação.

- Se acalmou, Jazz? – perguntei e ele me puxou, passando o braço pelo meu ombro.

- Mein kleine Bella... – ele disse num suspiro, exercendo todo o poder de seu sorriso a curta distância – Apesar de eu realmente acha isso muito, muito chato... E não me importar nem um pouco, acho que você deveria ir pro ateliê do dumm griechischen... Divirta-se, volte, beba muito com a italiana... E a gente vê o que acontece a partir daí... – ele mal terminou de falar e Alice socou seu ombro com força.

- Do que você o chamou? – perguntei enquanto ele mandava um beijo para a baixinha, que se fazia de emburrada. Ela sabia que ele estava brincando.

- Grego estúpido... – ele murmurou contrariado.

Respirei fundo e virei o resto do champanhe.

- Me desejem sorte! – sorri.

- Viel Glück! – Jasper sorriu, parecendo mais conformado com o fato de que havia outro homem tão gostoso quanto ele no mundo.

- Buona fortuna! – Rose disse, me dando um selinho.

- Bonne chance... – Alice me empurrou dando uma palmada na minha bunda – Break a leg! – gritou quando eu já havia me afastado

Todas as línguas que me atormentam... Como será "boa sorte" em grego? Como será "me beije agora" em grego?

Vesti meu casaco e peguei minha bolsa. A porta já estava a um braço de distância.

- Isabella!

Por que meu braço não é mais longo?

Suspirei antes de virar.

- Diga, Mike! – falei rápido demais, tentando controlar o impulso de soca-lo.

- Já vai? – não, Capitão Óbvio... Impressão sua...

- Tenho que ir... Um compromisso importante que eu havia esquecido completamente! – sorri meu melhor sorriso falso e torci para ele ir procurar outra pessoa para assediar.

- Um compromisso importante a uma da manhã? – ele perguntou e por mais que me irritasse que ele não me deixava em paz, levei um susto. Que horas eu acordei pra já ser outro dia tão rápido?

- Na verdade começava as 10! Então como pode ver... Estou muito atrasada! – abri a porta e já estava com meio corpo para fora quando ele voltou a falar.

- E quando eu vou te ver de novo? – seus olhos estavam até brilhando... Pobrezinho.

- Eu te ligo! – sorri, fechando a porta.

- Você não tem meu número! – ele gritou pelo último vão entre a porta e o batente.

- Ah... Bem... Merda acontece! – bati a porta e saltei para dentro do elevador.

Eu não deveria ter sido tão má... Deveria? Ele não tem culpa de ter nascido americano...

Meus olhos foram automaticamente para o cartão que eu ainda segurava.

Ele sobreviveria.

Edward Cullen, diziam as letras pretas em alto relevo no centro do cartão, logo abaixo em letras menores e mais discretas seu endereço.

O pintor era tão deliciosamente prepotente que não especificava o que fazia, nada! Só seu nome, endereço e telefone, escrito no verso.


N/A.:. E aí, o que acham? Bella francesa viciada em café, Edward grego viciado em pintura, Jasper alemão viciado na Alice, Rosalie italiana viciada em TU-DO! Vidaloka, muleke piranha!

Eu escrevi isso faz um tempo e nunca corrigi, então me perdoem se houver algum erro grotesco.

Fics novas no pedaço, não se esqueçam de passar no perfil pra dar uma olhadinha (inclusive meu nome mudou)! Pra quem quiser fazer perguntas, dar sugestões, reclamar da demora (coisa que eu nem vou responder, já aviso), ou só falar que eu sou um máximo, meu twitter é *arroba*b_andthejetts! Lá eu também demoro pra responder, mas respondo, juro!

Eu falo muito de Supernatural e Sexo Frágil, é um defeito meu.