A mansão e as flores
Fazia sol lá fora, era possível sentir a caloria penetrando as paredes de madeira, toscamente acabadas. O calor e a claridade nunca foram algo que me agradecem, preferia ficar ali, deitada e imóvel. Eu gosto do som dos pássaros, é verdade. Gosto também das grandes árvores e dos tons azuis e cinzas do riacho, mas o calor era realmente insuportável àquela tarde. Era melhor só esperar ali, tentar preencher o enorme vazio de minha mente planejando as atividades que eu viria a fazer com meus futuros hóspedes.
Nem ler soava interessante aquele dia, e se existia algo que eu amava nessa vida, esse algo eram os livros. Mas não, estava preocupada demais. Não queria aquelas pessoas em minha casa, sempre adorei a solidão, sempre soube lidar com ela a sua maneira, e a última coisa que eu precisava agora era de velhos 'amigos' para perturbar meu silêncio, minha paz.
Vivi tão bem nos primeiros anos! Sozinha. Depois, bom, depois veio o Shawn, meu labrador de pelo escuro e brilhante, um parceiro fiel e igualmente reservado. Tenho algumas plantas também, lindas orquídeas brancas, vários vasinhos de violetas e algumas trepadeiras se entranhando pelas dobras e falhas da madeira no hall, que ocasionalmente davam origem a pequenas e charmosas flores esverdeadas. Tenho um lindo vaso de margaridas rasteiras também, no beiral de uma das enormes janelas da sala de estar.
As gigantescas rosas perfumadas já estavam ali quando eu cheguei, e como nunca fui muito de perturbar o meio a qual sou imposta, as deixei por lá, e também porque eram lindíssimas, as rosas, alaranjadas e às vezes de um vermelho poderosíssimo. Repousavam tranquilamente ao lado da casa. Mas já existiam muitas coisas naquela casa quando me instalei. O grande carvalho, os gigantescos quadros de e as cortinas claras da sala e dos quartos.
Já completei três anos morando ali, sozinha, e depois com o Shawn. Os primeiros meses e os mais frios, foram os melhores, é claro. Todo meu tempo livre era dedicado na melhoria da casa, arrumação, pintura, detalhes. Tudo, eu havia deixado tudo do meu jeito com o tempo. Era uma casa colonial, muito maior do que o necessário para uma pessoa e um cachorro. Era provavelmente muito antiga, a casa. Tinha janelas gigantescas nos três andares amplos, as escadas eram brancas de pedra polida e todo resto era feito de vigas largas e bem conservadas de madeira. Em uma outra era, provavelmente havia sido uma mansão de estilo; hoje em dia, era só um casarão antigo e bem conservado, que eu tornei arrumada e luminosa.
