SO RESTA O COMEÇO

==================================================================================

Resumo ««O mundo mágico é completamente destruído na guerra entre Luz e Trevas. Muitas vidas preciosas foram perdidas. O mal fora dissipado, mas não restou muita coisa depois disso e tudo que os sobreviventes poderiam fazer é recomeçar a vida. SS/HG. Resposta ao desafio do site "SnapeMione".»»

==================================================================================

»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»

S" RESTA O COMEÇO

Primeiro Ato – O FIM

««««««««««««««««««««««

=================================

Em fundo de tristeza e de agonia

O teu perfil passa-me noite e dia.

Aflito, aflito, amargamente aflito,

Num gesto estranho que parece um grito.

E ondula e ondula e palpitando vaga,

Como profunda, como velha chaga.

E paira sobre ergástulos e abismos

Que abrem as bocas cheias de exorcismos.

Com os olhos vesgos, a flutuar de esguelha,

Segue-te atrás uma visão vermelha.

Uma visão gerada do teu sangue

Quando no Horror te debateste exangue,

Uma visão que é tua sombra pura

Rodando na mais trágica tortura.

A sombra dos supremos sofrimentos

Que te abalaram como negros ventos.

E a sombra as tuas voltas acompanha

Sangrenta, horrível, assombrosa, estranha.

E o teu perfil no vácuo perpassando

Vê rubros caracteres flamejando.

Vê rubros caracteres singulares

De todos os festins de Baltazares.

Por toda a parte escrito em fogo eterno:

Inferno! Inferno! Inferno! Inferno! Inferno!

(fragmentos de 'Pandemonium' - Cruz e Souza)

=======================================

O céu parecia querer desabar com a tempestade violenta. Raios cortavam por entre densas nuvens quase negras enquanto trovões ensurdecedores brandiam como metais pesados se chocando. Gotas grossas e pesadas caiam na terra como bombas em miniatura. O inferno da Terra parecia se refletir no Céu.

O temporal lavava um corpo jogado na Terra, formando uma poça de lama e sangue. Embora ainda fosse fim de tarde, as nuvens baixas tampavam toda luminosidade, fazendo parecer altas horas da noite.

O corpo inerte ainda apresentava um suspiro de vida. Nem o Inferno na Terra, nem a fúria dos Céus tirariam a felicidade ensandecida daquele homem quase afogado na lama de seu próprio sangue.

Numa risada engasgada, o homem em trapos reúne toda a força que ainda lhe resta, virando-se de costas sobre a lama, caindo num baque surdo, encarando o céu violento.

Graves ferimentos espalhados pelo corpo continuam a jorrar seu sangue. A chuva forte machucava ainda mais suas chagas, mas isso já não importava. Pela primeira vez na vida estava livre. E poderia até morrer, pois experimentaria a morte em liberdade. Uma dádiva. Enfim, havia sido perdoado por todos seus erros e seus crimes. Os Céus lhes davam a benevolência de morrer livre... a liberdade que jamais tivera em vida. Mas isso já não importa.

Com um último suspiro de suas forças exauridas, rasga com gosto a manga esquerda de sua veste, deixando a mostra um braço branco e frio como cadáver, recortado em vários ferimentos, mais nada além disso. A marca negra, a tatuagem em seu corpo que escravizou sua alma, desaparecera completamente sem deixar qualquer sombra de vestígio. Desaparecera, como se jamais tivesse existido.

—ACABOU!! HAHAHAH!! ACABOU!!!

O último rastro de violência vinha do céu que desabava numa furiosa tempestade, lavando a Terra do sangue e da maldade de uma batalha encerrada, onde todos saíram perdendo. Enfim, toda a guerra é vã... só resta aos céus chorarem pela ignorância de seus filhos, a terra devorar os restos de um festim diabólico e o tempo apagar todas a marcas deixadas pela estupidez de muitos.

¤

—HARRY!! HARRY!! Por favor, acorda! ACORDA!!!

—Acabou, filha... ele não vai voltar...

—Não, professor!! Isso não pode ser!! Ele tem que voltar! Agora, mais do que nunca, ele precisa viver! Acorda, Harry!!

—Hermione, acabou, filha... acabou...

—Isso não, professor! Isso não é justo! Harry não pode ter existido só para destruir aquele maldito! Isso não, isso não!!

Ajoelhado em farrapos, Alvo Dumbledore apertava contra seu peito numa proteção paternal uma Hermione Granger totalmente inidentificável, derramando toda a dor e angústia em soluços descontrolados. Roupas esfarrapadas. Corpo ferido. Alma dilacerada.

Harry Potter jazia inerte a sua frente. Seus olhos esmeraldas jamais foram tão opacos. O corpo ferido, ensangüentado. A alguns passos à frente, um cadáver esquelético, carbonizado, desfazia-se em pó pelo vento que corria por entre ruínas e destroços.

"Do pó ao pó. Das cinzas às cinzas. Do pó viemos, ao pó retornaremos..."

E é o pó, a única lembrança física daquele que causou todo o holocausto que tirou as vidas de milhares que lutaram nessa guerra tola. Perda de ambos os lados. Mortos os prós. Mortos os contras. Mil anos de história e conquistas destroçados, arruinados. Acabou. O fim para os dois pólos. A liberdade recém-nascida encontraria poucos corações para habitar.

Muitos corpos espalhados por entre os destroços daquele que fora um magnífico castelo, um verdadeiro templo de sabedoria e conhecimento. Corpos mortos. Corpos vivos. O fim havia chegado. Agora só resta recomeçar.

==================================

E os emissários espectrais das mortes

Abrindo as grandes asas flamifortes...

E o teu perfil oscila, treme, ondula,

Pelos abismos eternais circula...

Circula e vai gemendo e vai gemendo

E suspirando outro suspiro horrendo.

E a sombra rubra que te vai seguindo

Também parece ir soluçando e rindo.

Ir soluçando, de um soluço cavo

Que dos venenos traz o torvo travo.

Ir soluçando e rindo entre vorazes

Satanismos diabólicos, mordazes.

E eu já nem sei se é realidade ou sonho

Do teu perfil o divagar medonho.

Não sei se é sonho ou realidade todo

Esse acordar de chamas e de lodo.

Tal é a poeira extrema confundida

Da morte a raios de ouro de outra Vida.

Tais são as convulsões do último arranco

Presas a um sonho celestial e branco.

Tais são os vagos círculos inquietos

Dos teus giros de lágrimas secretos.

Mas, de repente, eis que te reconheço,

Sinto da tua vida o amargo preço.

Eis que te reconheço escravizada,

Divina Mãe, na Dor acorrentada.

Que reconheço a tua boca presa

Pela mordaça de uma sede acesa

Presa, fechada pela atroz mordaça

Dos fundos desesperos da Desgraça.

Eis que lembro os teus olhos visionários

Cheios do fel de bárbaros Calvários.

E o teu perfil asas abrir parece

Para outra Luz onde ninguém padece...

Com doçuras feéricas e meigas

De Satãs juvenis, ao luar, nas veigas.

E o teu perfil forma um saudoso vulto

Como de Santa sem altar, sem culto.

Forma um vulto saudoso e peregrino

De força que voltou ao seu destino.

De ser humano que sofrendo tanto

Purificou-se nos Azuis do Encanto.

Subiu, subiu e mergulhou sozinho,

Desamparado, no fetal caminho.

Que lá chegou transfigurado e aéreo,

Com os aromas das flores do Mistério.

Que lá chegou e as mortas portas mudas

Fez abalar de imprecações agudas...

E vai e vai o teu perfil ansioso,

De ondulações fantásticas, brumoso.

E vai perdido e vai perdido, errante,

Trêmulo, triste, vaporoso, ondeante.

Vai suspirando, num suspiro vivo

Que palpita nas sombras incisivo...

Um suspiro profundo, tão profundo

Que arrasta em si toda a paixão do mundo.

Suspiro de martírio, de ansiedade,

De alívio, de mistério, de saudade.

Suspiro imenso, aterrador e que erra

Por tudo e tudo eternamente aterra...

O pandemonium de suspiros soltos

Dos condenados corações revoltos.

Suspiro dos suspiros ansiados

Que rasgam peitos de dilacerados.

E mudo e pasmo e compungido e absorto,

Vendo o teu lento e doloroso giro,

Fico a cismar qual é o rio morto

Onde vai divagar esse suspiro.

(últimos fragmentos de 'Pandemonium' - Cruz e Souza)

»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»

Fim do Primeiro Ato – continua...

By Snake Eye's, 2004.

«««««««««««««««««««««««««««

N/A: Essa fic é uma resposta ao desafio proposto pela mentora Sarah Snape em seu site "Snape Mione Fanfics" - www.sarahsnape.cjb.net – totalmente dedicado ao shipper SS/HG.