Supernatural© Eric Kripke.
Vespas e luzes
by Mello Evans
A luz bruxelante da lâmpada piscava incerta naquele cubículo antigo e barato, mas o inseto teimava em continuar incutido ali, indo e vindo repetidas vezes, queimando na claridade quente, ferindo-se apenas por estar atraída por aquele piscar inquieto – incendiando em um fanatismo ilusório, ofuscando-se em uma luz falsa.
Os seres humanos também são assim, se apegam ao que é errado, teimam em fazer aquilo que é proibido – porque os atrai ou simplesmente porque é cômodo – e não são apenas os pagãos. Eles cometem seus pecados, pedem perdão e voltam fervorosamente ao mesmo erro, entregam corpo, alma e vontades a seus prazeres. Sempre achei isso errado, até repulsivo, embora eu ainda justificasse seus erros com os fatos da vida, assim como Deus nos ensinou. Ouvi conversas uma vez, meados depois da guerra, de Lúcifer com um dos seus. Ele falava de como era injusto o Pai amar seres tão imperfeitos como aqueles e nós, que possuíamos todo o poder, sermos apenas servos.
Mas você só pode falar algo a partir do momento em que vive isso.
E eu vivi, entendi, e vivo.
E eu, um anjo, me corrompi e sei que é errado – não nego –, mas isso não vai mudar. Eu sou como aquela vespa que se queima na luz, que sabe que isso a mata, no entanto a sanidade se sucumbiu ao maior dos anseios. Olho para você, dormindo todo esparramado na cama, um braço por cima do meu corpo nu, os lábios levemente abertos, a pele coberta apenas pela camada fina e esbranquiçada do lençol e talvez um pouco de suor.
A luz pisca mais uma vez, voltando mais intensa do que antes, o inseto gruda-se no vidro fino e transparente, tenta buscar a máxima proximidade entre ele e aquela claridade dourada.
Ela é tão bonita... E o pequeno artrópode se ilude.
Aconchego meu corpo ainda mais próximo dos de Dean, passo o braço por cima de sua cintura e aproximo nossos lábios, meu beijo não é sôfrego e muito menos tímido, mas o bastante para lhe acordar. E ele olha pra mim, me sorri aquele seu sorriso inerente e corresponde, puxa meu corpo para ficar sobre o dele – o canto onde sempre devo estar –, enlaça suas pernas em mim. Ele não tem, ou simplesmente não quer ter, noção do que acabamos de fazer e que faríamos naquele exato minuto, mas eu me queimaria de novo. Quem sabe um dia aquilo me levasse à perdição, mas por hora ficaríamos ali.
Só pude ouvir com meus ouvidos celestes o baque do corpo sem vida da pobre vespa.
Ela morrera feliz.
Fim.
Todo ficwriter/Autor tem uma marca, algum tipo de fic que o caracteriza. Seja por angust, porn, humor, etc. Mas infelizmente minha marca são todas (ou talvez a falta de uma), então, um dia você pode chegar aqui e ler uma Dark lemon e no dia seguinte ver um fluffy, ou depois um conto mystery. Então, entendam esses meus acessos =) Quando reli lembrei-me da minha outra Dastiel "Amores imperfeitos", mas isso é random.
Review.
