Capítulo 1

Halloween em Vegas. Os cassinos apresentavam decoração a caráter. Nas ruas, pessoas fantasiadas se dirigiam em grupos para locais barulhentos onde aconteciam grandes festas à fantasia. Uma dessas festas estava acontecendo no Departamento de Polícia de Las Vegas. Todos os funcionários do lab haviam sido convidados e a maioria deles já havia chegado. No bar, com uma gota de sangue feita a tinta no canto esquerdo da boca, maquiagem extremamente branca e presas postiças, Nick vestido de drácula conversava com Warrick, que usava uma fantasia de pirata com direito a tapa-olho e cinto para espada. De repente Nick fixou o olhar para a porta do salão, ficando ligeiramente boquiaberto.

Warrick olhou na mesma direção que o amigo e descobriu o por que. Salto alto, vestido tomara-que-caia num tom creme, bem rodado e na altura dos joelhos, lábios incrivelmente vermelhos e uma peruca de cachinhos louro-platinados inconfundível. A fantasia de Marylin Monroe caíra como uma luva. Olhando com mais atenção Nick percebeu quem realmente era. Quando a garota se aproximou, abrindo um sorriso que revelava a pequena falha entre os dentes da frente não houve mais dúvidas de quem era.

_Oi, gente!

_Sara? – Nick estava completamente surpreso e espantado. – Uau! Você está tão... uh...diferente.

_Vou tomar isso como um elogio! – Ela sorriu.

_Você está linda mesmo. E bem diferente do estilo de sempre. Já pensou em ir trabalhar assim? – completou Warrick.

_Tá, agora podem parar que estão me deixando sem graça. Ta bem movimentado por aqui. O resto do pessoal vem?

_O Grissom está por aí com o Brass, o Greg acabou de ligar avisando que vai se atrasar e a Cath eu não sei.

_E o Grissom veio fantasiado de quê?

_Barata voadora gigante dos morros andinos. – Warrick respondeu na maior naturalidade fazendo a colega expressar uma careta sutil e tirando uma grande gargalhada de Nick.

_Ele está brincando, Sara! Olha ele ali.

Olhando para a direção apontada pelo amigo, Sara não pode deixar de soltar uma risada. Grissom usava uma espécie de armadura metalizada dourada, bem ao estilo romano, mas não era dele que Sara estava rindo. Ao lado dele, com uma peruca brilhando de tanto gel e uma camisa branca que devia ter mais pedraria que uma joalheria, Brass estava vestido de Elvis. As costeletas ficaram exageradas e os óculos escuros muito pequenos, deixando-o com uma expressão engraçada no rosto.

Segurando o riso Sara acenou para eles, que resolveram se aproximar dos colegas.

_Sara? É você mesmo? – Grissom perguntou.

_Claro que sou eu! Você ta muito bem de guerreiro medieval.

_Gladiador. – ele corrigiu sutilmente.

Ainda segurando o riso, Sara se virou para a figura ao lado de Grissom.

_E, Jim, você é o Elvis mais... uh...interessante que eu já vi.

_Reparou nas botas? – ele mostrou, afastando a barra da calça. - Couro legítimo!

Sara sorriu. Brass estava muito engraçado naquela fantasia de Elvis. A peruca de topete enorme, a roupa branca cheia de detalhes e as costeletas postiças que chegavam quase até o queixo.

Olhando mais adiante, na pista de dança, Sara viu um bobo-da-corte dançando animadamente ao som de "I Like to Move it move it".

_O que é aquilo? – Sara perguntou, apontando para a pessoa que dançava dando pulos e fazendo estripulias.

Os outros olharam para a direção que ela indicava.

_Ah, "aquele" é o Hodges. – explicou Warrick.

Os colegas ainda ficaram algum tempo olhando as pessoas que passavam. Avistaram Mandy vestida de chapeuzinho vermelho, Archie usando uma fantasia de ninja, a recepcionista usava uma fantasia de bruxa. Aos poucos foram reconhecendo os outros colegas. Conrad estava de drácula, David de Frankstein, Doc estava inteiramente vestido em roupas de couro pretas com detalhes em metal e um capacete daqueles pequenos, com óculos estilo nadador . Para um legítmo motoqueiro só faltava a motocicleta.

Greg havia acabado de chegar, inteiramente de preto, com uma capa, chapéu e a máscara inconfundível de Zorro. Logo em seguida chegou Catherine, de botas pretas, roupa de couro e uma tiara de orelhinhas de gato. A fantasia de gata-de-botas não era lá muito original, mas ficara bem nela.

Trocaram cumprimentos, conversaram um pouco sobre o trabalho e assuntos triviais. A música agitada foi trocada por uma um pouco mais romântica e Nick chamou Sara para dançar. Catherine segurou a mão de Grissom e o puxou até a pista de dança.

_Vem, Gil, vamos dançar. E não adianta dizer que não sabe!

_Essa eu não perco por nada! – disse Warrick – Ver o Grissom dançando deve ser no mínimo... Interessante! – ele riu.

Grissom ficou surpreso e, sem reação, se deixou levar pela amiga. Ele estava todo desajeitado, parecendo um robô, sem saber o que fazer consigo mesmo. Catherine pegou as mãos dele e colocou em volta de sua cintura, colocando os braços em volta do pescoço dele. Ele se sentia estranho e desconfortável. Catherine era uma mulher bonita e estar tão próximo assim dela o deixava nervoso. Ele sabia que eram apenas amigos, mas o que as outras pessoas poderiam pensar? Nem ele mesmo sabia por que, mas não conseguia se entregar inteiramente àquela dança. As velhas barreiras que criara em seu convívio com as pessoas tornava isso uma tarefa exaustiva e pesada.

_Grissom, você está estranho! Nunca dançou com uma mulher antes?

Ele não respondeu. Ela sorriu. Eram amigos há muito tempo e ela seria capaz de confiar a própria vida a ele. Mas Grissom era desajeitado demais para chegar ao fim da música e eles voltaram logo para junto dos colegas. Sara e Nick, por sua vez, dançaram não só aquela, mas várias músicas. Todos estavam muito animados e contentes por ninguém ter decidido se matar ou matar alguém ou se envolver em qualquer tipo de crime aquela noite. Beberam alguns drinks, conversaram sobre coisas triviais e também sobre o trabalho, fizeram piadinhas quando uma garota vestida de fada agarrou Greg e o fez dançar com ela. Um pouco mais tarde o celular de Catherine tocou.

_Willows. – ela parou para ouvir – Não, tudo bem. Já estou indo para casa. Tem o telefone do médico pregado na geladeira, se precisar. – nova pausa, mais curta dessa vez – Ok, mamãe, já estou indo.

Ela desligou e olhou para os colegas. Sara e Nick haviam acabado de voltar para o bar.

_Bem, pessoal, vou ter que abandona-los mais cedo. Lindsey está com febre, acho que deve estar ficando gripada.

Ela digitou um número no celular e aguardou ser atendida.

_Diga que desejamos melhoras. – disse Sara.

_Droga, ninguém atende na agência de Táxis. – ela murmurou. – Belo dia pra deixar o carro na oficina.

_Quer que eu tente arrumar um pra você? – ofereceu Warrick.

_Ah, não precisa, obrigada. – ela agradeceu – Eu continuarei tentando do caminho. Divirtam-se!

_Mande lembranças à Lindsey. – pediu Grissom

_Darei o recado. Boa noite!

Ela se afastou em direção à porta, onde pegou seu casaco e saiu em seguida para o vento frio da noite. Olhou em seu relógio de pulso. Quase três da manhã. Não era de admirar que os taxistas não quisessem atender as ligações.

A rua estava deserta, a não ser por alguns casais que passavam por ela vez ou outra. Ainda tentando ser atendida, ela andou por vários minutos, até que, passando por um beco viu quando três rapazes usando roupas largas e escuras e jaquetas de gangue saíram da escuridão e começaram a andar próximo a ela. O rapaz do meio era o mais alto, tinha cabelos escuros e olhos castanhos, mas uma aparência sombria. Os outros dois vinham pouco atrás dele, mas eram visivelmente mais fortes. Catherine apressou o passo em quanto os três andavam em sua direção.

_E aí, gatinha! Pra que tanta pressa? – disse o rapaz mais alto, aproximando-se dela com um sorriso malicioso. – O que faz sozinha pelas ruas de Vegas à uma hora dessas? Quer companhia?

Catherine ficou assustada com a presença daqueles homens, mas tentou continuar na dando sem dar atenção a eles. O rapaz mais alto ficou frente a frente com ela e tirou-lhe o celular da mão atirando-o longe, enquanto os outros dois a cercavam, um de cada lado. Ela não disse nada, não sabia o que dizer, nem o que fazer e nem teve tempo para pensar em nada. Assim que tirou o aparelho de suas mãos o rapaz a empurrou contra a parede. Ela deixou escapar um gemido de dor quando suas costas bateram nos tijolos frios. O rosto dele ficou tão próximo dela que ela podia sentir a respiração dele.

_Qual é, loirinha, não vai falar comigo, não? – ele riu - É melhor assim, para o que quero você não vai precisar falar.

Ele começou a apalpá-la e beijar-lhe o pescoço. Ela se debatia contra ele, sem muito sucesso. Automaticamente levou a mão ao quadril procurando pela pistola automática. Então se lembrou: havia deixado a arma em casa. Desesperada começou a se debater com mais força, acertando um chute na virilha do homem. Enquanto ele urrava de dor ela corria pela calçada, mas não chegou a se afastar dez passos e os outros dois a seguraram, jogando-a contra a parede de novo, com mais força dessa vez. Ela sentiu seus ossos estralarem com o impacto. A dor dominou suas costas, deixando-a imóvel. O rapaz mais alto se aproximou novamente dela. Por mais que tentasse não conseguiria escapar dos três. Fechou os olhos e implorou em silêncio por um milagre. Ainda de olhos fechados sentiu os botões de sua blusa voarem. Totalmente desesperada deixou uma lágrima escapar e, no momento seguinte, sentiu o seu agressor ser arremessado longe. Assustada, ela abriu os olhos e o viu caído no chão, os braços em volta do corpo, na altura das costelas, e com um filete de sangue escorrendo pelo lábio. À sua frente estava um homem alto, de terno escuro feito sob medida. Meio confusa, os sentidos lhe fugindo, ela pôde perceber que o homem de terno disse alguma coisa aos seus agressores. Alguma coisa que ela não conseguiu entender... Parecia ser outra língua... Ou talvez fosse só uma confusão de sua mente. No instante seguinte, os dois brutamontes soltaram seus braços e fugiram com o líder do grupinho. Um pouco tonta, a CSI escorregou pela parede, ficando sentada no chão frio.

_Você está bem? – o homem de terno perguntou, aproximando-se dela.

Como saber se ele seria alguém confiável? Como saber qual a melhor decisão a tomar naquele momento? Ela não tinha como saber. Sua mente estava em turbilhão, mas ela não se dava conta do que passava por seus pensamentos.

_Só me leva embora daqui... – foi a única coisa que ela conseguiu murmurar, quase num sussurro, antes de desmaiar.

Continua...