Nada poderia ser mais aconchegante que uma noite de véspera de Natal. Na Toca, muito mais. As famílias Weasley e Potter estavam reunidas ali. Havia pouquíssimo espaço, por isso a matriarca e proprietária Molly, a contragosto, concordou com o marido, Arthur Weasley, que uma barraca aquecida seria montada.

Parte dos convidados que estavam ali pra ceia natalina partiria mais tarde, Gui e Fleur iriam para o Chalé das Conchas com seus filhos, Angelina e George iriam para Itália, enquanto os filhos do casal ficariam aos cuidados dos avós, Percy e a esposa Audrey já estavam na Suécia, Hermione e Rony (e junto com eles, Rosa e Hugo) passariam até o ano-novo na casa dos pais trouxas dela. Só quem ficaria eram Carlinhos e sua família, e os Potter.

Ainda assim era gente demais.

Uma grande árvore de natal piscava e ao seu pé estava um rapazinho moreno, de 10 anos de idade, de olhar e jeito quase autista. Albus Severus não fazia o tipo bem-humorado dos dois clãs, era extremamente calado e cauteloso. Sua irmãzinha Lilian era a única dos menores que não o incomodava. Seu irmão James e seus primos sempre estranhavam o jeito quieto. Quando a "primarada" se reunia, era uma festa. Até os pequenos Lilian e Hugo costumavam entrar. Só Albus que não era chegado nessa oba-oba.

Observou os presentes que estavam com seu nome, e guardou bem os tamanhos deles em sua memória para abri-los na manhã seguinte. Pegou um exemplar em francês (sim, desde novo ele treinava) de As artes de Beuxbattons , que ganhara de Gabrielle Delacour e outro de Hogwarts, uma História, de sua tia Hermione. Fitou os dois. Optou pelo segundo, tendo em vista que seria mais útil.

Começou pelas histórias dos fundadores. Godric, Salazar, Rowena e Helga. Das quatro Casas, era apaixonado pela Grifinória, onde toda sua família de ambos os lados havia passado, gostava da Corvinal, pois sua inteligência era acima da média dos garotos de sua idade, tal qual Mione fora no passado, o faria cair bem lá. Mas de todas, sentia uma afeição especial (ainda que menor que Grifinória) pela Lufa-Lufa. Nem passava por sua cabeça a Sonserina, além de ser a origem de quase todos os inimigos da família, era há 19 anos a vergonha do mundo bruxo, por se abster da batalha que derrotara Você-sabe-quem e que pusera seu pai como o maior ícone do mundo bruxo. Ir para lá seria um pesadelo, e se ele já se sentia um estranho dentro de casa, com isso se completaria.

Harry Potter, o pai, sempre dissera que a Sonserina não faz as pessoas ficarem más, e que um dos homens que mais admirou e agradece por estar vivo provinha de lá. Tanto que seu nome do meio (e que secretamente Al adorava) foi uma homenagem a ele. Severus Snape. Não que isso impedisse James e Fred de caçoarem e frequentemente o ameaçarem de parar lá.

Fechou o livro e observou o teto. Seus olhos verdes eram refletidos pelo espelho que foi colocado pela avó. Eles eram a única herança deixada pela outra avó, Lilian. Albus se sentia especial, já que só ele e seu pai dispunham. Não era ruivo como a maioria da família, nem tinha olhos castanhos tão comuns. Isso o agradava.

Cerrou a visão.

Muita neblina atrapalhava a observação dele. Mas notou que um menino mais ou menos da mesma idade olhava pra ele. Só que ele era muito loiro, daqueles bem prateado-platinados. O estranho piscou e acenou. Albus sabia que o já tinha visto em algum lugar. A neblina subiu e um breu cobriu seu campo de visão...

-Acorde Al. – disse uma voz doce.

Ele abriu os olhos. Era Gina, sua mãe.

-Feliz natal querido.

Abraçou-a e retribuiu o desejo. Foi procurar todos da casa. Vovó Molly e seu irmão de criação, Teddy, cortavam o resto de peru que milagrosamente sobrara da ceia (na verdade, foram precisos três perus, para a gigante família) e punham no pão para o café.

-Oh, meu neto, feliz natal, fiz suco de abóbora pra você. – sorriu a generosa Sra. Weasley. – Vamos não perca tempo, seu avô e seu pai vão caçar uns bichos aí.

Ele não tinha tanta pressa. Comeu moderadamente e se arrumou. Pegou o casaco mais quente que encontrou e foi ao encontro da trupe: Harry, Arthur, James, Teddy e Fred.

Os mais velhos conseguiram estuporar umas perdizes, enquanto James e Fred cuidavam de pegá-las. Albus tinha a companhia de Canina, neta do cachorro de Hagrid, que fora dada de presente por ele por julgar que o pobre Al se sentia muito sozinho.

Canina farejava as aves e balançava o rabo freneticamente. Parecia estar muito feliz.

Teddy interceptou um javali que corria por perto.

A caçada corria maravilhosamente bem, quando Canina disparou loucamente campo adentro. Todos riram quando Al corria desesperado para pegar a coleira, porém a cadela era mais forte e o arrastou.

No pequeno riacho congelado, ela latia e observava algo. Era outro cachorro. Um belíssimo collie que parecia desprezar a colega canis familiaris.

Um homem surgiu por detrás do cão. Era loiro platinado e tinha um olhar fechado. Este se encontrara com as duas esmeraldas reluzentes de Albus Severus Potter. Um misto de medo e admiração pela elegância do estranho cercava o menino.

Reconhecera aquele senhor, seus pais e tios sempre o citavam. Era Draco Malfoy.

Quando pensou em correr, seu avô o alcançara.

-Ora, ora, se não é Draco Malfoy ? – O que faz aqui em Othery St. Catchpole?

- Estou caçando com minha família por Devon.—ele deu uma rápida olhada no rosto do garoto – Então este é o filho do meio do Potter e sua filha, Sr. Arthur Weasley?

- Sim, este é Albus Severus Potter. – e aproveitou para alfinetar -Nomes bem familiares a você, não é mesmo Malfoy?

Mesmo sentindo o ar de ironia, o loiro pareceu não se importar e respondeu a altura:

- Sim é verdade. O melhor diretor de Hogwarts, tenho que admitir, e o homem que lutou para proteger a mim e ao seu genro. – sorriu de maneira assustadora – Presumo que deva ter seus... 10 anos?

Al fez sinal com a cabeça positivamente.

-Então, não temos muito que fazer por aqui não é Albus...? Vamos voltar pra Toca. – Sugeriu (ordenou) o avô.

Caminhando pela neve, viu as pegadas que ele e Canina haviam deixado. Achava, ou melhor, tinha certeza que enfrentaria um falatório ou zoações de seu irmão e primos se o avô ousasse contar sobre Malfoy, mesmo não sendo culpa sua.

Ao chegar à cozinha da Toca, os rapazes estavam com as três perdizes e o javali abatidos sobre a mesa. Teddy estava encantado, pois Victoire havia chegado de surpresa dizendo que queria ele passando o Reveillon com ela no Chalé das Conchas, como já era maior, não havia quem impedisse. James e os primos o olhavam com faces acusadoras, e isso o deixava rubro. Lilian ria a cara que ele fazia.

Antes que qualquer um abrisse o bico para repreensão, Molly Weasley deu um recado:

-Sabem, tirando Harry, e Jika (namorada romena de Carlinhos) todos aqui tem o DEVER de me escutar e obedecer. Apesar dos laços maritais familiares, eles dois infelizmente não possuem o sangue dessa velha bruxa rabugenta. Se preparem, pois eu vou mandar um berrador e um lembrol a cada um desses meus adorados e sapecas netinhos, do jeito que eu fazia com meus filhos... ALBUS NÃO FEZ NADA DEMAIS, VOCÊS É QUEM DEIXARAM O MENINO SER ARRASTADO POR CANINA, JÁ PENSOU SE AO INVÉS DE MALFOY FOSSE UM CENTAURO? OU UM GIGANTE?

Al aliviou-se por dentro. A avó cuidaria de protegê-lo de chateações. Pelo menos por enquanto.

Tornou a lembrar-se do sonho. O menino era tão loiro quanto Malfoy, e de uma elegância parecidíssima... Sim, realmente o vira em algum lugar...