Amanhã eu acordarei com o cintilar do sol sobrepondo toda a sala. Alguém terá abrido a cortina e a janela, permitido o vento de entrar. Não seja bem-vindo, tempos bons.

Vou ouvir meu nome sendo pronunciado por uma voz carinhosa de uma pessoa gentil que vai me levantar no ar e me postar na cadeira.

Ainda que possa ver, certa tarefa será difícil para mim, a de se despir para vestir outro vestido.

Serei guiada até a sala e lá direi que gostaria de ajudar no preparo do desjejum. Imagino se não terminam tudo antes de propósito. Como se fosse uma recompensa pelos acontecimentos recentes, mas eu saberei que é só afeto se manifestando tímido e singelo.

Vou conversar sobre qualquer assunto corriqueiro e vou sorrir.

Mesmo com a volta do meu sobrenome e a vinda de novos afazeres, aqueles mais rotineiros onde também tinha quando mentia quem era são os que mais gosto, pois ainda sinto você neles. E és tão odiado, sei que por isso os acordos e as negociações são concluídos. Ainda assim dói.

Eu ouviria sua voz em qualquer lugar, indiferente para com distâncias, mas não escuto nada.

Se esse mundo foi para mim, porque você não está mais nele? Volte para os momentos banais comigo e me abrace.

Quando fecho os olhos me lembro da sua sensação, porque era tudo que eu tinha. Sem imagens, com voz, com pele, com cabelos. Quando abro só tenho as imagens, as vozes são zumbidos irritantes, as peles são ásperas, os cabelos são serpentes venenosas.

Fecho os olhos só para dormir e sonho todos os sonhos com você presente neles. Os que são felizes, você é uma miniatura de Lelouch, bem menor que o meu tamanho atual. E uma vez sonhei que media nossas alturas. Nessa hora você foi crescendo.

- Pare, onii-sama! Se ficar continuar desse jeito não vai mais caber no mundo!

Tão medonho. Sem você. Tão medonho. Sem você. Tão medonho. Sem você.

Caístes. Um tremor balançou o mundo, já tão pequeno comparado a ti e eu desperto toda vez desse pesadelo para acordar em tormenta mundana, realidade em que não posso despertar.

Os pequenos prazeres da vida são tão sem razão, tão sem você. Ou então tornam o viver só mais insuportável, pois percebo agora que olhos pregam peças, sua presença imaginária diante do meu olhar. Alto, odiado e morto.

Não vejo mais o amanhã, pois amanhã serei levantada no ar gentilmente por alguém que não é você e ouvirei uma voz que não é sua.