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NOIR
Miss BlueBird
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"A luz acredita viajar mais rápido do que qualquer coisa,
mas se engana.
Não o importa o quão rápido a luz viaja,
ela sempre descobre que a escuridão chegou primeiro,
e está à sua espera."
(Terry Pratchett)
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Seus olhos eram tão negros quanto sua alma.
... e ela se entregou à própria escuridão, era mais fácil do que ignorá-la.
Eu matei Sirius Black!
Eu matei Sirius Black!
Eu matei Sirius Black!
Três vezes. Como um mantra maldito.
"Vocês têm fantasmas? Eu tenho demônios!", gritou, para o silêncio dentro das paredes.
Azkaban era um lugar muito frio. Bellatrix sempre gostara do frio, gostava dos pelos arrepiados no braço, dos lábios roxos, da sensação de insensibilidade. Mas às vezes o frio entrava dentro da pele dentro da carne dentro da alma dentro. E ela se entregava ao frio, era mais fácil do que tentar não senti-lo. E o frio trazia memórias secas. Memórias de tempos mais ternos, mas ela não sentia remorso, porque não sabia como, e porque Blacks não se arrependem de nada.
As lembranças de Sirius eram frescas dentro do seu cérebro.
Gravadas em névoa.
Como se o tempo não tivesse passado.
Como se ele não estivesse morto.
Como se.
[...]
Embolaram-se num emaranhado de capas, socos e neve. Sirius dominou a prima com facilidade, muito embora contasse oito anos a menos – era um menino robusto e forte, contra a magreza quase cadavérica de Bellatrix, que agora se debatia debaixo do corpo do primo. Ele exibia um sorriso de vitória, um filete de sangue escorrendo de seus lábios, enquanto a prendia pelos pulsos. "SOLTE-ME, VERME!", ela gritava, mas ele ria e ria e ria enquanto sentia ela se debatendo. "Peça desculpas, Bella.", sussurrou, num tom doce e ameaçador, depois que as risadas evaporaram. Sobraram os olhos dela o encarando com ódio, e seus olhos eram um abismo do qual ele perigosamente se aproximava cada vez mais.
"Vá se foder."
Se ele apertasse com força, pensou Sirius, poderia quebrá-la.
Mas ela já estava quebrada, concluiu, olhando dentro dos olhos da prima. E Walburga já se aproximava, com a varinha na mão e o rosto pálido de raiva, gritando qualquer coisa sobre manchar a honra da família.
[...]
Mas Bellatrix conhecia a extensão da covardia de Sirius – ele não merecia ser um Black. Entregou-se ao ódio, era mais fácil do que tentar domá-lo.
"O quê? Você vai embora?"
"Essa escola idiota não ensina o que quero aprender."
"Bella, não faça isso. Você não precisa fazer isso. Não faça isso."
"Não, não preciso fazer isso."
"Então por quê...?"
"Porque eu quero, Sirius."
Eu matei Sirius Black.
Quando foi embora, não olhou para trás. Concentrou-se no ruído rítmico do salto na madeira seca quando andava. Sirius chamou seu nome três vezes. Como um mantra maldito.
Mas ela não respondeu,
não se virou,
não mudou de ideia,
não voltou atrás.
Entregou-se à maldade latente que corria dentro das suas veias junto com seu sangue, mas Sirius ainda estava ali. Em algum recanto esquecido, ali. Ele a tornava fraca. E Bellatrix não suportava fraquezas – ele precisava morrer.
Ela o faria, sem remorsos, sem hesitar.
Por que ela era Bellatrix Black.
Blacks não hesitam.
Eu matei Sirius Black.
Ela se entregou à dor, era mais fácil do que tentar não senti-la.
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