Disclaimer: O anime/mangá "Naruto" não me pertence, ele é de propriedade exclusiva do Masashi Kishimoto.

Warning: Descreve a relação entre duas pessoas do mesmo sexo (MaleXMale).


(Reestruturação dedicada à fran_silva)


Atração – Parte 1/9


Deslumbramento (derivação masc. de deslumbrar; substantivo masculino):

1. Cegueira momentânea causada por muita luz;

2. Vertigem, perturbação da vista;

3. [Figurado] Sedução, encanto, fascinação.


Um som irritante apitou pelo cômodo sombreado pelas cortinas fechadas...

O homem deitado sobre a cama de casal no quarto espaçoso apertou os olhos como se assim pudesse abafar o ruído estúpido; sem sucesso. Ele agarrou o travesseiro e o colocou em cima da cabeça para minimizar a música irritante, mas o barulho parou repentinamente, assim como começou. Suspirando de alívio, o corpo seminu se remexeu em relaxamento com a perspectiva de voltar a dormir, mas para sua infelicidade, o toque que ele reconheceu como sendo do seu aparelho celular sobre a mesinha de cabeceira, iniciou-se novamente.

Bufando em aborrecimento, ele agarrou o telefone e atendeu sem se dar ao trabalho de verificar o identificador de chamadas, pois já imaginava quem poderia ser do outro lado da linha.

- O que é? – sua voz impaciente soou ainda mais rouca que o normal, devido à falta de uso.

- E aí, filho da puta! Se eu estivesse na sua frente agora, te daria um soco pela falta de educação! Quando eu encontrar a Kushina, vou pedir a ela para te lembrar de como são as boas maneiras! – a pessoa do outro lado da linha gritou em divertimento.

- Kiba... – o loiro deu um suspiro resignado e esfregou os olhos para aliviar o princípio de uma dor de cabeça. – Eu não estou com humor hoje...

- É por isso mesmo que eu estou te ligando... Eu sei que você ainda está chateado pelo o que aconteceu, mas é hora de seguir em frente, entende? – pausa. – Estava conversando com a Ino e o Shikamaru ontem e eles me disseram que terá um festival de música em Sasagawanagare. Então, vamos? – antes que ele pudesse recusar, o rapaz acrescentou. – Para se distrair um pouco e tirar essa nuvem negra que está pairando sobre a sua cabeça desde quarta-feira... Naruto, eu não aceito "não" como resposta!

Abrindo os olhos e revelando incríveis orbes cerúleos, o rapaz se sentou na cama, tentando reprimir o sorriso e um bocejo, enquanto balançava a cabeça negativamente.

- Bom... Já que eu não tenho direito de escolha, o que posso fazer? – diversão e aceitação escorreram pela sua voz.

Kiba Inuzuka, com seu jeito afobado tão parecido com o seu próprio, conseguia destruir qualquer sentimento negativo ao seu redor. Principalmente o dele. Seu melhor amigo e irmão de consideração desde o primário, sempre estava do seu lado, sem se importar com as circunstâncias (e as consequências, se Naruto levasse em conta todos os problemas que já se meteram juntos). Mesmo cursando a faculdade em instituições e cidades diferentes, eles arrumavam um jeito de estarem na companhia um do outro.

- A festa vai ser legal, eu prometo! Leva o seu carro, porque vai a galera inteira, inclusive a sua prima!

- A Karin vai? – ergueu a sobrancelha, incrédulo; afinal, a mulher sempre fez questão de frisar que seu grupo de amigos era um bando de idiotas.

- Vai... E vai levar alguns camaradas também! Acho que ela não quis admitir, mas deve ter ficado preocupada com você. Ela também disse que um amigo estava precisando do mesmo remédio que o seu: uma boa dose de diversão para se esquecer de pessoas idiotas! – riu. – E, então, a gente se encontra na casa do Lee às 13h?

- Claro. – se obrigou a confirmar. – Até daqui a pouco... – Naruto desligou o celular e voltou a se deitar na cama.

Encarando o teto, ele suspirou mais uma vez e desviou o olhar para o relógio digital em cima da mesinha de cabeceira. Sua atenção atraída para um porta-retratos em particular ao lado do aparelho, ao invés de se prender no tempo. O loiro tentou desconhecer as memórias que aquela fotografia trazia, mas não conseguiu. "Como simplesmente jogar três anos de namoro no lixo? Como ela conseguiu?", ele se inquiria constantemente desde que os dois romperam.

Seus olhos focaram na imagem em que o mostrava abraçado com uma garota de cabelos cor-de-rosa – o tom incomum que tanto lembrava a flor a qual seu nome se referia – e expressivos olhos verdes. Ambos tinham expressões radiantes no rosto: os sorrisos largos e olhares felizes. "O que foi que deu errado?", não cansava de se perguntar, completando a linha de dúvidas que rondavam sua cabeça. Todos diziam que os dois eram feitos um para o outro, perfeitos juntos e o tipo de casal modelo que se viam nos doramas e filmes. Aparentemente, eles não eram o que pareciam.

Na quarta-feira, sua (ex) namorada ligou para pedir que a encontrasse em um restaurante chamado Ichiraku, próximo ao campus onde ficava a turma de medicina em Niigata University¹. Ele saiu de sua aula de Cálculo Avançado com os alunos do curso de engenharia e correu para o lugar combinado. Logo ao chegar, ele avistou a mulher sentada no canto que costumavam se sentar; a expressão nervosa na face feminina rapidamente lhe dizendo que havia algo errado.


- Hey! – ele se sentou numa cadeira em frente à Sakura.

- Hey... – ela deu um sorriso ansioso.

- O que aconteceu? Algo de errado na aula de hoje? – segurou a mão delicada, que possuía unhas cuidadosamente feitas, espalmada em cima da mesa.

- Não... – pausa hesitante. – Na realidade, eu queria conversar com você... – respirou fundo e se remexeu desconfortavelmente no banco duro. Sua postura anormalmente cautelosa, deixando-o desconfiado.

- O que é?

Ela não respondeu com palavras. Ao invés disso, retirou a mão que estava abaixo da dele e puxou o anel prateado do dedo anelar, colocando-o em cima da mesa. Naruto ergueu uma sobrancelha, questionando silenciosamente o ato. Os lábios rosados e cheios da mulher tremeram, enquanto os olhos verdes marejaram.

- Eu sinto muito. – disse com a voz embargada.

Naruto não precisava ser gênio para entender o que estava acontecendo, ele só não conseguiu captar o motivo por trás dele.

- Eu não entendo... – olhou em volta procurando uma explicação visual para a situação toda. – Sakura, ao menos você pode me explicar o que aconteceu para tomar uma decisão dessas? O que eu fiz? – seu tom de voz alterado deve tê-la assustado, pois ela se encolheu visivelmente sobre a cadeira que estava sentada.

Sakura abaixou a cabeça e conteve um soluço baixo, os ombros curvados miseravelmente quase tocou o coração do Uzumaki. Quase, porque ele estava nervoso demais para se deixar levar.

- Você merece alguém melhor, Naru... – foi interrompida.

- Ah, Sério?! Você está insinuando que eu não sei o que é bom pra mim? – ele respirou fundo, tentando conter o seu temperamento. – Que critérios você usou para chegar a essa conclusão? Me fala! Eu acho que você é boa o suficiente pra mim, Sakura, porque eu te amo, baby... – ele estava tentando não levantar a voz com o desespero de salvar seu relacionamento, mas mesmo o seu tom baixo dava a entender que queria estar gritando.

- Mas eu não! – ela se alterou e depois respirou fundo para se acalmar. – Eu não te amo, Naruto. – sussurrou duramente para se fazer entender.

Os clientes próximos ao casal olharam descaradamente surpreendidos com o berro. Alguns, mais ousados e curiosos, continuavam a encarar para tentar entender o motivo da discussão acalorada, mas nenhum dos dois se importou de fato, absortos demais em tentar ler o olhar do outro. Naruto ficou confuso e chocado por um momento, antes de compreender o significado das palavras. Ele abriu a boca para responder algo, mas não sabia exatamente o quê, e mesmo se tivesse uma vaga ideia, o som de sua voz não teria saído.

Ele olhou para a aliança e depois para a garota que, por três anos, esteve ao seu lado como amante, amiga e companheira. Os olhos verdes mapeavam o seu rosto, desesperados por alguma reação. O rapaz só balançou a cabeça negativamente e mordeu o lábio inferior, enquanto pensava nos momentos especiais que passaram como um casal.

Quando a pediu em namoro, ele sabia que Sakura não o amava, mas acreditou que o tempo mudasse os sentimentos da garota. Agora, ele não tinha certeza.

- Você... – engoliu em seco e molhou a boca seca com a língua, antes de continuar. – Nunca chegou a me amar?

- Naruto... – ela suspirou, enquanto pensava em como responder, sem machucá-lo mais do que estava fazendo. – Houve um momento em que eu acreditei que te amava, mas na realidade eu confundi o tipo de amor que sentia e ainda sinto por você. Eu não te amo da forma que você espera; minha afeição por você é a mesma que uma irmã sente pelo irmão, entende? Eu... – ela foi interrompida novamente.

- Você transaria com o seu irmão? Desculpe, Sakura, mas essa desculpa não rola! – ele rosnou, não entendendo a justificativa da mulher.

- Pare de agir como uma criança! – ela bateu a mão na mesa com força, lançando um brilho ameaçador pelo olhar. O barulho atraiu ainda mais a atenção para a mesa deles. – Você entendeu o que eu quis dizer! Eu sempre te admirei, nutro um carinho imenso por ti, mas não é suficiente! Não para mim e, um dia, não será para você também. Não há paixão, nosso relacionamento é morno e mesmo o sexo não tem graça, falta fogo e entusiasmo, se você parar para avaliar, vai perceber o mesmo!

- Você está dizendo que o sexo é ruim? – ele a encarou horrorizado, tendo a certeza que esse era o rompimento mais traumatizante que já tivera.

- NÃO! Naruto, me escute e pare de me interromper e atuar como um idiota! – ela levantou a voz para se fazer ouvir. – Seu sexo é muito bom, mas pela falta de sentimentos, não tem tempero. Consegue entender?

O loiro não respondeu, seus olhos por si só já diziam o que ele pensava. Encarou-a com descrença indisfarçada, recusando-se a acreditar nas palavras que ouvia da, agora, ex-namorada. Sakura, vendo a expressão dele, decidiu continuar, pra ver se conseguia colocar algum senso na cabeça dura.

- Um dia você vai entender o que eu digo. O sexo é bom, mas só ele não basta... Às vezes... – as últimas palavras, ela disse como se divagasse.

Ao acordar do pequeno devaneio, delicadas mãos acariciaram as bochechas com cicatrizes em forma de bigodes de raposa.

- Você vai encontrar alguém que te faça verdadeiramente feliz, Naru-chan²! – ela sorriu com a careta que o loiro fez ao ouvir o apelido infantil. – Você é um homem maravilhoso, eu que sou boba por não conseguir me apaixonar. Mas, logo haverá alguém querendo te agarrar, porque bons partidos hoje em dia são muito difíceis de encontrar e as mulheres não ignoram homens bonitos.


Ele jogou o braço direito sobre os olhos, repassando essa conversa mais uma vez em sua mente. Era só nisso que conseguia pensar desde o fatídico dia. Cansado, ele olhou pra fotografia mais uma vez, refletindo sobre o que deveria fazer a partir de agora. Tomando uma decisão, ele se levantou da cama, pegou o porta-retratos de cima da mesa e retirou a imagem do seu compartimento. O objeto, ele guardou na gaveta, e a foto, apertou-a com força entre os dedos, amassando-a para jogar a bola de papel no lixo.

Não que Naruto quisesse esquecer completamente o que a garota significou, mas a lembrança do término era dolorosa naquele momento, então, acabaria com tudo o que o fizesse lembrar. Ele foi até a janela e abriu as cortinas e os vidros, deixando o sol iluminar o quarto e o vento arejar o ar velho. Olhando em volta, não havia mais nada facilmente visível que o fizesse recordar a menina de cabelos cor-de-rosa. Todos os presentes que Sakura lhe dera estavam guardados, porque considerava errado devolver algo que foi entregue com tanto carinho, mas estavam todos fora da sua linha de visão. Ele deu um sorriso hesitante e satisfeito, antes de ir até o closet separar uma roupa para o festival de hoje.

A porta do seu quarto se abriu e por ela passou uma mulher pequena com longos cabelos vermelhos, olhos cinzentos e um grande sorriso adornando o rosto arredondado. Sua mãe carregava uma bandeja grande com uma tigela fumegante, um copo de suco, que ele supôs ser laranja, e uma maçã. O loiro olhou com curiosidade e ela simplesmente lhe deu de ombros, aumentando o sorriso, tão parecido com o seu próprio, antes de depositar a comida em cima da mesa e abraçá-lo pela cintura.

- Achei que ainda estivesse dormindo, Naruto. Queria te fazer uma surpresa...

- Acabei de acordar. O que você trouxe? – caminhou até a mesa no canto do quarto. – Isso é Lamén³? Sério? Achei que estivesse proibido de comer... – fez uma pausa, enquanto fingia refletir. – Como você chama mesmo? "Essa porcaria não nutritiva que nada acrescentam na saúde de um ser humano"! – ele riu, fazendo aspas com os dedos.

- Se você não quiser, eu jogo fora! – ela exclamou indignada, mas depois deu um sorriso cauteloso. – Achei que meu bebê estava precisando de um mimo... – ela enrolou uma mecha dos cabelos vermelhos na ponta dos dedos, quase parecendo uma garotinha tímida, fazendo o filho rir novamente.

- Obrigado, você é a melhor mãe do mundo! – disse, abraçando-a apertado e beijando o topo de sua cabeça.

- Eu sei! – ela deu um grande sorriso e se afastou.

- E modesta também... – continuou, ignorando o brilho mortal que recebeu.

Quando ele era pequeno, costumava morrer de medo do temperamento da mãe. Hoje, ele já conseguia discernir a gravidade de seus humores sem se sentir muito ameaçado. Infelizmente, seu pai não tinha o mesmo conhecimento. Ele quase gargalhou sozinho com a memória da mãe, tão pequena, intimidar um cara tão grande quanto Minato Namikaze.

Na realidade, ele já estava habituado a lidar com mulheres de personalidade difícil. Kushina, sua avó Tsunade, sua ex-namorada Sakura, sua prima Karin e suas amigas Ino e Temari – estava rodeado delas. Sendo uma peste desde quando era pequeno, o loiro acabou se acostumando com os gritos, os socos e as ameaças. Naruto deu um sorriso divertido, antes de começar a comer sua refeição a fim de se arrumar para sair.

(***)

- Ittekimasu⁴! – o loiro gritou, pegando a chave do carro em um balcão perto da porta de entrada. Ele mal esperou pela resposta da mãe e do pai para sair. Caminhou em direção ao seu Mustang 68⁵ da cor vermelha, jogou a mochila que carregava com seus objetos pessoais no banco do passageiro, dobrou a capota e entrou, partindo para a casa do seu amigo, Rock Lee.

O cabelo rebelde se agitava com a força do vento. Apreciando a sensação de liberdade que a alta velocidade do automóvel lhe proporcionava, Naruto quase se esqueceu de tudo que o atormentava. Passados 40 minutos, ele estacionou em frente à casa grande pintada de verde que era a residência da família Lee. A rua cheia de carros parados ao redor, indicava que só o esperavam para que pudessem sair. Ele não tinha visto essa cena já tinha alguns meses.

Com uma animação repentina reverberando em seu peito, ele buzinou.

Um rapaz de cabelo preto em corte tigela escancarou a porta com um sorriso de partir o rosto ao meio e as sobrancelhas grossas erguidas em expectativa. Ele vestia uma calça justa verde musgo, uma camiseta listrada preta e cinza e tênis cor vinho com cadarço branco.

- Hey, Lee! – o loiro saiu do carro.

- Como vai, meu grande amigo? – o moreno lhe deu um tapa nas costas que quase o fez cair para frente. O rapaz era magricela, mas possuía uma força gigantesca. – Fiquei sabendo o que...

- Hey, idiota! – gritou outro homem, que vinha correndo em sua direção. Ele empurrou Lee para longe, antes que este dissesse algo que não devia.

- Kiba... – o loiro soltou um "oof" com o abraço bruto que o seu amigo lhe deu.

O rapaz de cabelos e olhos castanhos rebeldes vestia uma camisa marrom-avermelhada de mangas compridas dobradas até o cotovelo, uma calça jeans azul de lavagem escura e um par de botas casuais. Em suas bochechas tinham marcas de presas tatuadas na cor vermelha.

- Que bom que você veio, cara! Estava começando a achar que você não iria aparecer... – se afastou, fazendo um sinal para entrar, mesmo que a casa fosse de outra pessoa.

- Não vamos sair ainda?

- Não, estávamos te esperando para distribuir as comidas, bebidas e bagagens nos carros... – respondeu Lee.

- Quantos dias pensam em ficar em Sasagawanagare, punk? Como achei que íamos embora amanhã de manhã, não trouxe quase nada... – perguntou com preocupação e já ficando irritado com Kiba por não explicar nada direito. Ele deu um soco forte no braço esquerdo do moreno como forma de vingança.

- Relaxa, fox⁶! – gritou, massageando o membro maltratado. – Vamos apenas levar alguns cobertores e travesseiros, caso alguém não aguente e queira passar a noite em um dos carros, duas barracas pequenas de camping, caso os automóveis não sejam suficientes e a mochila pessoal que cada um trouxe. Nós vamos pegar a estrada pra voltar no domingo de madrugada, assim o pessoal vai ter chance de descansar antes de sairmos de lá. – Kiba explicou.

- Você vai comigo?

- Sim. Lee e Tenten vão no carro do Hyuuga; o Shika e a Ino, no carro do Chouji; a Hinata vai com o Shino e Kankurou vai com a Temari e o Gaara.

O loiro concordou com a cabeça. Eles começaram a organizar o que precisavam e, quase meia hora depois, com tudo devidamente arrumado, eles partiram rumo às praias de Sasagawanagare. Kiba nem ao menos esperou Naruto ligar o carro para abrir um engradado com garrafas de cerveja para desfrutar a viagem. O Inuzuka ligou o rádio e colocou um CD do Red Hot Chili Peppers, que estava em um estojo no porta-luvas, para tocar no último volume. Seu melhor amigo agia como se fosse verdadeiramente o dono do espaço, mas ele não se importou, porque preferia a atitude franca à formalidade forçada.

(***)

Seus olhos azuis estavam atentos à estrada, ao mesmo tempo em que curtia o sentimento de união e leveza que o envolvia – Naruto se sentia tão bem, que começou a se perguntar a quanto tempo não se sentia daquele jeito. Fazia mais de um ano que não saia apenas para se divertir dessa forma. No caminho ele riu, brigou, sorriu, cantou e brincou, apreciando a onda nostálgica que esses momentos trouxeram e matando a saudade que não sabia que tinha.

Naquela altura, Kiba já estava meio bêbado. Ele se remexia constantemente, abrindo os braços como se fosse receber o vento e cantando "Scar Tissue" a plenos pulmões. Os ocupantes dos outros carros riam do teatro, enquanto Naruto apenas sorria e cantava um refrão ou outro, frequentemente batendo os dedos no volante para acompanhar o ritmo, sem se desfocar do tráfego. Neji encostou, tentando aproximar o afobado Lee, que do banco traseiro, colocou a parte superior do corpo para fora com o intuito de cantar junto com o Inuzuka, de mãos dadas – até a face estoica do Hyuuga se dissolveu em uma expressão descontraída com as peripécias dos rapazes.

Ino fez beicinho, olhando com inveja para aqueles que estavam se divertindo burlando as leis de direção. Seus longos cabelos loiros esvoaçavam por causa da corrente de ar que entrava pela janela escancarada, formando uma cortina platinada ao seu redor. Pelo retrovisor, o Uzumaki conseguia ver Chouji gargalhando e Shikamaru esfregando os cantos dos olhos com o polegar e o indicador, murmurando um "problemático" e ostentando um leve sorriso no rosto. Ele aumentou ainda mais o volume da canção, fazendo o melhor amigo gritar satisfeito ao seu lado, antes de continuar a cantar, praticamente aos berros.

Ele definitivamente tinha sentido falta daquilo.

Kankurou também cantava batendo os dedos no volante. Gaara, seu irmão de consideração junto com Kiba, aparentava certa distância emocional para a cena, mas carregava um brilho bem-humorado no olhar, e Temari gritava alguma coisa no banco do passageiro, completamente indignada. Naruto deduziu que fosse algo relacionado às normas de segurança, mas ele podia esperar até chegarem ao festival para levar a bronca.

O carro de Shino era o único com ocupantes tranquilos, o dono do automóvel era sério demais para se deixar levar pelas brincadeiras dos colegas, e Hinata era muito tímida e retraída para se permitir tamanha empolgação, mas ela dava pequenos risinhos enquanto observava os colegas baderneiros.

Naruto se sentiu tão sintonizado com seus companheiros, que não pôde deixar de admirar o laço de união que tinham uns com os outros. Ele agradeceu mentalmente Kiba por chamá-lo para a viagem, visto que era mesmo o que ele precisava para melhorar o humor.

Sakura fazia parte de seu grupo de amigos também, mas não estava com eles no momento. Conhecendo-a tão bem como conhecia, deduziu que ela tinha recusado o convite para o festival, mesmo sob a insistência de Ino. A Haruno sabia que o tinha magoado, e como forma de desculpas e compensação, preferiu manter certa distância, uma vez que ele precisava desse tempo muito mais que ela. A ex-namorada não era uma pessoa ruim e ele não deixaria a mágoa nublar sua opinião. Ela ainda se importava muito com ele, assim como ele o fez com ela.

(***)

Horas de viagem depois, eles finalmente chegaram onde ocorria a festa. Era final de tarde e o sol ainda brilhava fraco, dando ao mar tranquilo um tom anil com pequenos reflexos dourados. A praia era cercada por grandes rochas e pequenas montanhas, o palco grande estava montado na areia e uma multidão de pessoas se divertia. Luzes ligadas pela costa, mantinha a visibilidade do público, enquanto caminhavam e dançavam pela beira. O evento tinha começado ao meio-dia e, como consequência, o local já estava apinhado de gente.

Eles estacionaram os carros, junto com outros tantos veículos. Naruto tirou a jaqueta de futebol americano azul, branca e laranja que vestia e jogou de qualquer jeito para debaixo do banco do motorista, ficando apenas com a calça jeans desbotada que caia baixo em seu quadril, mostrando o elástico da cueca boxer branca, e uma camiseta simples com a gola desgastada, mostrando muito mais dos ombros e clavícula. O visual desleixado lhe dava um ar descontraído e sexy. O loiro não era muito vaidoso, sua única preocupação na hora de se arrumar é encontrar algo bom com a cor laranja e, por mais extravagante que parecesse, o tom lhe convinha.

Seus amigos se reuniram em volta do Porsche Cayenne⁷ branco de Shino, esperando que ele abrisse o bagageiro para que pudessem ter acesso às bebidas; no porta-malas espaçoso havia um grande isopor lacrado com as cervejas e gelo – cada um se serviu de uma garrafa. As meninas desataram as fivelas das sandálias e começaram a pular e dançar, rindo e brincando o tempo todo. Já os rapazes ficaram encostados nos carros, fazendo movimentos mais leves ao ritmo da música e conversando sobre assuntos leves.

Cutucando Kiba com o cotovelo, Naruto perguntou:

- E a Karin?

- Ela disse que nos encontraria aqui. Vai te dar um toque no celular quando chegar.

- Hm... – ele deu de ombros, tirando a tampa de metal da garrafa com as mãos, sabendo que eles não tinham abridor disponível, e tomando um gole do líquido amargo.

- E aí, Naruto! Agora que você está solteiro de novo, nós podemos curtir a primavera da juventude novamente! – Lee bateu a própria garrafa na do loiro para fazer um brinde ao novo estado civil do amigo.

- O que você quis dizer com isso, Lee? – perguntou Tenten, sentindo uma veia saltar na testa. Ela e Temari eram as únicas que estavam em volta dos garotos, porque Ino tinha arrastado Hinata para algum lugar qualquer com o pretexto de se adaptarem com os ares, embora todos sabiam bem com o que ela precisava se adaptar.

- Que o Naruto-kun⁸ pode aproveitar que está solteiro para... – foi interrompido com um soco na parte de trás da cabeça dado pela morena.

- Eu pensei que você disse "nós", Lee! – provocou o loiro.

- Sim... Eu pensei em ter ouvido "nós" também! – Kiba riu, vendo o rapaz entrar em uma enrascada com a namorada.

- Eu também entendi o mesmo, algum trabalho para se explicar? – Neji sorriu afetadamente, nunca perdendo a oportunidade de provocar o eterno amigo e rival.

Lee gaguejava e olhava em volta, tentando se explicar sem se complicar ainda mais com a namorada.

- Minha guerreira... – pegou uma das mãos delicadas que podiam dar socos bem potentes. – Você sabe que eu jamais olharia para outra mulher que não fosse você, não é?! – ele balbuciava nervosamente. – Quis dizer que agora o Naruto vai voltar a sair mais com a gente, entendeu? – franziu os lábios, se sentindo acuado.

- Acho bom... – a morena rebateu, cruzando os braços e tentando segurar o riso. Ela o conhecia melhor que ninguém e sabia que ele podia ser muitas coisas, menos infiel. Tenten só gostava de provocá-lo para vê-lo atrapalhado.

- É verdade, Lee! Depois que o Naruto começou a namorar, quase não saiu mais com a turma, parecia fazer parte daqueles tipos de casais de primeira viagem, totalmente dependentes... Não é como você ou o Shikamaru que mesmo namorando estão sempre presentes. – afirmou Kankurou.

- Me desculpem, caras. Eu nunca tinha percebido que havia me afastado tanto, juro que não foi por mal... – ele apertou a garrafa entre os dedos, começando a se sentir culpado.

- Relaxa, fox, já passou! Agora você está de volta e é isso que importa... – Kiba lhe deu uns tapinhas amigáveis nas costas antes de se desencostar do carro – Que tal dar uma volta? Encontrar algumas garotas bonitas a fim de trocar uns beijos... – ele balançou as sobrancelhas sugestivamente, fazendo o loiro gargalhar com vontade.

- Você não toma jeito! – Naruto se afastou do veículo em que estava se apoiando e passou os braços por cima dos ombros do homem, antes de puxá-lo para o meio da multidão.


Niigata University¹ - criada em 1949, composta por nove cursos de graduação, sendo que a principal especialidade é Medicina.

Chan² - emprega-se para demonstrar informalidade, confiança, afinidade ou segurança para com uma pessoa, não obrigatoriamente do sexo feminino.

Lámen³ - prato preparado com macarrão, mergulhado em caldo de verduras, legumes, carcaça suína, bovina, de aves ou frutos do mar, que pode ser temperado com molho de soja, pasta de soja ou sal.

Ittekimasu - estou saindo.

Mustang 68 - automóvel esportivo produzido pela Ford e, apesar de ter sofrido grandes alterações ao longo dos anos, é a mais antiga linha de automóvel da marca. O nome "Mustang" é inspirado no avião de caça estadunidense P-51 Mustang, cujo nome se inspira na única raça de cavalo selvagem do país.

Foz- raposa

Porsche Cayenne- utilitário esportivo produzido pela Porsche desde 2002. É o segundo modelo mais vendido da marca.

Kun- utilizado quando existe algum nível de intimidade, obrigatoriamente usado para nomes masculinos.