Escrito para o projeto United State of Multifandom do fórum Ledo Engano. Prompt: Quote favorito


Contradições
Por Verwelktes Gedicht

As pessoas são cheias de contradições.

Martha Jones sempre se achou uma pessoa determinada, alguém que corria atrás de seus objetivos e não desviava do caminho que havia escolhido. Alguém que não abria mão e se esforçava pelo que queria. Mas tudo mudou quando ela conheceu aquele homem – que não era homem ou sequer humano – que lhe beijou na lua. Bastou isso, um beijo e a promessa de ver o universo, de viver algo emocionante. Ela se viu indo contra a tudo que acreditava, desistindo de todos os seus planos e metas, quando entrou naquela cabine azul pela primeira vez. Mas quem poderia lhe culpar?

Elas são solitárias,

Ela já não se lembrava como era sua vida antes do Doctor entrar nela. Lembrava-se vagamente da correria do hospital, dos pacientes, dos livros e mais livros para estudar e das poucas horas de sono – afinal, ser médica não era fácil –, mas isso tudo nem podia se comparar com o que ela vivia agora. O universo era um lugar lindo, grande e cheio de coisas novas para se ver. Ela tinha o melhor companheiro de viagens de todo tempo e espaço e as mais emocionantes aventuras. Mas, às vezes, quando percebia o olhar nostálgico que ele lhe dava, comparando-a com alguém que ela nem havia chegado a conhecer, se sentia solitária. Como se ninguém realmente a visse ali, como se fosse invisível.

E então não são.

"Eu só não posso" Pronunciar essa frase foi a coisa mais difícil que Martha fez na vida e assim que as palavras saíram de sua boca ela percebeu: foi a primeira vez que ele realmente a viu. A primeira vez que ela não foi ofuscada pela memória de outra pessoa. Ela gostou da sensação, da liberdade que aquilo proporcionou. Porque apesar da dor – e doeu como o inferno –, finalmente estava fazendo algo por ela, e enquanto tivesse a si mesma não estaria mais sozinha.

Elas fazem falta.

Os primeiros meses foram os mais difíceis. Ela perdeu a conta da quantidade de vezes em que parou o que quer que estivesse fazendo e encarou a vasta imensidão azul que era o céu, quase como se procurasse alguma coisa – uma cabine azul –, relembrando todos os planetas que visitou e tudo o que conheceu mas, principalmente, pensando no Doctor. Perguntava-se o que ele estaria fazendo, se tinha arranjado outra pessoa ou se viajava sozinho. Esperava que ele tivesse achado alguém, porque ele parecia tão, tão solitário e ele não deveria ser assim. Várias dessas vezes a saudade ficou tão grande que ela quase chegou a se arrepender de sua decisão.

E então... não fazem.

Eventualmente ela conseguiu superar. Criou uma vida só dela que era tão interessante quanto os dias passados dentro da TARDIS. Ela nunca esqueceria o Doctor, afinal, era impossível esquecê-lo quando tudo o que ela tinha e o que havia se tornado era por causa dele. A Martha que se apaixonou pelo homem da caixa azul e a Martha que havia salvado o mundo eram pessoas diferentes. Ele, mesmo que indiretamente, a transformou em uma pessoa melhor e ela seria eternamente grata. Mas agora ela havia aceitado deixar o passado para trás e seguir em frente, sem culpa ou arrependimentos.