Para Sempre Seu

- Nem tudo é da forma que queremos, Duo!

- Eu...eu não volto pra lá! – Dei as costas, me privando de olhar para aquele rosto que eu conhecia tão bem.

- Vai sim! É o futuro que eu escolhi pra você! – Senti meu braço ser puxado e me desvencilhei rapidamente.

- Você não se importa com o que eu contei? – O olhei de forma chocada, sentindo meu peito se apertar.

- Duo, meu querido, você sempre foi inocente demais, provavelmente foram seus amigos que colocaram essas idéias absurdas na sua cabeça!

- Eu não vou voltar para aquele antro de pervertidos! – Gritei a pleno pulmões.

- Cale-se! – Virei meu rosto quando a mão pesada acertou minha face, deixando-a imediatamente vermelha.

Cambaleei, me recostando em uma parede. Por que meu pai não acreditava em minhas palavras? Por que tinha que insistir para que eu voltasse para aquele lugar?

- Nunca mais...eu volto a pisar nessa cidade. Adeus, papai.– Assumi uma postura séria e me virei, caminhando em direção a porta.

Quando já estava prestes a sair uma mulher se pôs em minha frente, chorando.

- Mãe... – Murmurei, tocando o rosto dela. – Você...acredita em mim, não é? – Perguntei baixinho.

- Duo, seu pai...ele acha que isso tudo é coisa da sua cabeça... – O tom dolorido não passou despercebido e meu coração se apertou.

- Então...eu vou embora...sinto muito. – E sem mais uma palavra saí daquele lugar, deixando minha família para trás.

(¯·..·¯·..·¯)

Merda! Aquele desgraçado havia fugido! Eu o estava perseguindo há algumas horas e ele simplesmente havia evaporado!

Avistei a pequena aldeia e franzi as sobrancelhas. Como nunca tinha visto aquele lugar antes? Aumentei minha velocidade, correndo até o pequeno vilarejo, tendo quase certeza que encontraria o homem que eu procurava.

Mas não foi quem eu encontrei.

Quando cheguei nos arredores da cidade, notei uma pequena nascente e me encaminhei para lá, com a intenção de deixar o cavalo descansar, enquanto eu me ocupava com minha busca. Mas eu não pude fazer isso. Havia um garoto, de aparentemente uns 16 anos caído na relva, desmaiado.

Me aproximei com cuidado, depois de amarrar o cavalo perto da nascente. Me abaixando, toquei seu pulso, verificando que estava estável. Merda! Mais essa agora! Eu não podia simplesmente deixá-lo ali enquanto perseguia o maldito bandido!

- Dia de merda! – Murmurei entredentes enquanto afastava a franja da testa daquele belo rapaz.

Sim, belo, porque definitivamente ele era o homem mais bonito que eu já havia visto. A pele pálida fazia um conjunto perfeito com os traços delicados. Os lábios eram uma atração à parte, bem como aquela enorme trança.

Que tipo de homem usava um cabelo naquele comprimento?

Desistindo de divagar sobre aqueles fios castanhos – lindos, diga-se de passagem. – percebi o traje daquele belo rapaz. Então ele era...

Antes que eu pudesse completar meu raciocínio me assustei quando aqueles enormes olhos violetas se abriram. Cristo! Como podia existir um olhar como aquele?

- Eu... – A voz atingiu meus ouvidos na mesma hora que meus próprios olhos se arregalaram quando ele pegou uma pedra de tamanho razoável e a ergueu.

"Puta que pariu, ele vai me acertar!"

Sabe quando você pode prever uma ação, mas não pode impedi-la? Foi exatamente o que aconteceu comigo. Eu o vi erguer a mão, segurando a pedra, o vi arremessá-la, mas simplesmente não conseguiria impedi-lo e bem, alguns segundos depois eu percebi que não iria querer fazer isso.

Aquele lindo rapaz de olhos violetas havia acertado um homem atrás de mim. Aquele homem.

Fui rapidamente até onde o corpo semi-desmaiado estava e constatei que a pedra havia acertado bem o meio de sua testa. Aquele garoto tinha uma ótima mira.

- Seu desgraçado! – Me virei vendo o rapaz se erguer, com os olhos brilhando de fúria. Mal pude impedi-lo quando ele se ergueu e caminhou até o homem no chão, chutando-o.

- Hey, chega, rapazinho! – Agarrei sua cintura, tentando puxá-lo para trás, mas estava realmente difícil.

- Chega nada! – Ele se debateu mais, conseguindo acertar mais um chute na cara do homem. – Esse desgraçado tentou...tentou... – Desisti de segurá-lo e o deixei extravasar sua raiva. – Por...que...todos querem...fazer isso comigo?

Ele chutou o quanto pode o homem caído. Não que os golpes fossem fortes, mas mesmo assim aquele desgraçado parecia estar sentindo muita dor.

- Chega! – O puxei, fazendo-o cair sentado no chão.

Notei que o homem havia apagado e me abaixei na frente daquele belo rapaz.

- Você está bem? – Perguntei, fazendo-o me olhar. E ele estava chorando.

Merda! Como eu conseguiria lidar com aquilo? Ele não parecia machucado ou algo parecido...ele parecia...magoado.

- Es...estou sim. – Ouvi mais uma vez aquela voz doce e um arrepio involuntário passou pelas minhas costas.

- Ele machucou você?

- Não...não da forma que você está pensando. – Ergui a sobrancelha e ele enxugou as lágrimas. – Ele tentou...me tocar. – Todo o sangue fugiu das minhas veias.

- Ele conseguiu? – Murmurei.

- Não...ele ouviu o barulho do seu cavalo e...e desistiu, só me acertou uma pancada na cabeça. – Ele afundou o rosto nos joelhos, soluçando.

Soltei um suspiro aliviado, mas em seguida tive que prender o ar novamente. Ele estava me abraçando.

Nem tive muito tempo pra pensar, pois logo estava sentado na relva, com aquele lindo rapaz em meus braços.

Merda! Merda! Merda! Desde quando meus impulsos me dominavam?

O afastei, mas quando fitei aqueles olhos violetas desisti de tudo.

Pro inferno!

(¯·..·¯·..·¯)

Por que eu estava abraçando aquele estranho?

- Me...me perdoe. – Me afastei, fitando o chão, constrangido demais para fazer outra coisa.

- Tudo bem, rapazinho.

- Rapazinho? – Perguntei com raiva.

- Sim, rapazinho! – Notei o tom de deboche e espalmei as mãos em seu peito. – Quantos anos você tem, pirralho? 15, 16?

- Eu tenho 17 pra sua informação, tá? E logo logo faço 18! – Mostrei minha língua, cruzando os braços sobre o peito.

- Muito adulto que você é! – Mordi os lábios para não respondê-lo.

- Olha aqui, senhor...senhor...senhor... – Cocei a cabeça, mas continuei. – Seja lá que inferno for seu nome, eu só não te respondo a altura porque se você não aparecesse aquele homem iria...iria... – Um bolo se formou na minha garganta e eu me afastei, abraçando meus joelhos.

- Bem...então estamos quites, porque você me salvou. – Ergui meus olhos e ele esboçou um sorriso. – Heero Yuy. – Ele estendeu uma mão e eu a apertei, hesitante.

- Eu não fiz nada demais, senhor Yuy. – Sorri. – Duo Maxwell, muito prazer!

- Ok...hum...Duo, já que você está bem, eu vou levar esse... – Ele se levantou e se virou, mas acho que não gostou muito do que viu.

Ou do que não viu.

(¯·..·¯·..·¯)

Oh, merda! Por que eu era tão estúpido a ponto de deixar aquele homem simplesmente escapar nos minhas costas?

- Duo Maxwell. – Me virei novamente para ele, vendo-o se encolher, provavelmente adivinhando meus pensamentos. – Você...me distraiu de propósito!

- Me perdoe por...por... – Agora eu também era um insensível? Droga! Estava na cara que ele não tinha nada a ver com o sumiço quase mágico daquele bandido!

- Você não teve culpa, Duo, eu quem não deveria me distrair. – Soltei um suspiro cansado e andei até onde meu cavalo estava.

Desamarrei o animal e parei perto do americano. Ele ergueu os olhos, me fitando de uma forma estranha. Franzi uma sobrancelha, em claro sinal de confusão.

- Obrigado, senhor Yuy. – Ele voltou a abaixar a cabeça, enquanto brincava com a grama. Droga! Por que ele me parecia tão sensível?

- Estamos quites, Duo. – Fiz menção de montar o cavalo, mas parei, me virando novamente para aquele belo rapaz. – Você deveria voltar para casa, até eu capturá-lo pode não ser seguro para você.

- Eu...eu não tenho casa. – Arregalei meus olhos, em choque.

- Como assim? – Perguntei, estendendo minha mão para ele, que aceitou prontamente.

- Eu...tive que fugir e agora não posso voltar. – Ele limpou a roupa, olhando para todos os lados, menos para mim.

- Por que?

- Apenas...fugi. – Ele começou a brincar com a ponta da trança, tentando ignorar meu olhar.

- E agora?

- Pare de fazer perguntas! Droga! Eu não tenho pra onde ir, não sei pra onde vou e estou com uma enorme vontade de amarrar uma corda em um galho e me enforcar! – Vi que seus olhos estavam úmidos e me impedi de olhar novamente.

- Estou indo para a próxima cidade, onde sou o xerife, se você quiser...

- E o que eu vou fazer por lá, senhor Yuy? Eu não tenho futuro nenhum! – Eu senti uma enorme vontade de chacoalhá-lo e gritar que ele era jovem demais para desistir.

Merda! Desde quando eu me metia na vida alheia?

- Você deveria ao menos tentar. – Montei no cavalo. – É a minha forma de te retribuir o que você fez por mim. Te levo até a cidade, mas te deixo de sobreaviso que a viagem pode ser perigosa, aquele homem pode nos perseguir.

- Eu...acho que...eu só te atrapalharia de novo. – Ele virou as costas. – Muito obrigado por tudo, senhor Yuy e...boa viagem.

- E o que você vai fazer? – Droga! Por que eu me importava tanto? Eu tinha que virar minhas costas e ir embora buscar reforços para caçar aquele bandido.

- A idéia da corda ainda me parece tentadora. – Notei o tom melancólico e puxei sua mão.

- Vamos logo de uma vez! – O fiz sentar na minha frente. – E não fique se mexendo muito! – Senti vontade de bater minha cabeça contra o tronco de alguma árvore por ser tão impulsivo.

- Você não tem medo que eu seja algum bandido? Ou que tente te matar? Ou que...

- Apenas cale a boca. – Sussurrei em seu ouvido, antes de começar a galopar. – E...eu confio em você.

(¯·..·¯·..·¯)

Ele confiava em mim? Mas...por que?

Bem...eu tinha que admitir que também confiava nele. Era uma daquelas coisas que aconteciam sem que nós pudéssemos controlar. Confiávamos um no outro e ponto final. Não necessitava explicação.

Cavalgamos pelo que me pareceu horas em silêncio, embora eu detestasse aquela situação. O fazia parecer ainda mais...severo.

Heero Yuy...ele me parecia tão calado...tão frio e...tão sozinho. Será que era apenas uma impressão ou aquela cara séria era apenas uma máscara?

- Senhor Yuy? – Gritei tentando me faze ouvir, mas o vento não permitia. – Senhor Yuy! – Nada. – Heero!

- Sim? – Senti o hálito quente em meu pescoço e estremeci.

- A cidade fica muito longe? – Ele diminuiu a velocidade para tentar me ouvir.

- Mas umas três horas a esse passo, por que? – Me remexi, notando que seu braço passou a envolver minha cintura.

- Porque já está escurecendo e...

- Oh, merda! Você está certo! É impossível cavalgar por essa estrada a noite, mas...teremos que tentar.

- Não é...perigoso? – Perguntei.

- Sim e também... – Tremi com o vento gelado. – É frio.

- Eu estou percebendo. – Aconcheguei mais meu corpo ao dele. – Mas se o senhor diz que podemos conseguir... – Dei de ombros.

- Acho que se eu estivesse sozinho até conseguiria. – Me retrai. – Mas não posso colocar sua vida em risco, há bandoleiros demais por essas bandas.

- Então...por que não me deixa aqui? – Perguntei timidamente.

- Porque eu não quero. – Estremeci com tom firme. – Podemos parar em alguma clareira, mas seria realmente muito frio, sem falar que aquele desgraçado pode estar nos seguindo. – Ele desceu do cavalo. – Bem...é nossa única opção.

- Mas... – Ele apenas negou com a cabeça, e se pôs a caminhar, puxando o cavalo pelas rédeas.

Eu me deixei embalar por aquele balanço, enquanto observava atentamente meu "protetor". Muito belo, diga-se passagem.

Corei com o pensamento, mas era realmente impossível não reparar nele. Os cabelos eram deliciosamente bagunçados, a pele bronzeada fazia um conjunto lindo com os olhos naquele tom azulado tão peculiar. E claro havia aquela boca.

Merda! Balancei a cabeça me impedindo de pensar naquilo. Não era certo achar outro homem bonito, Padre Maxwell havia me ensinado isso. "Desejos corrompem as pessoas" Ele vivia dizendo.

E além do mais porque eu ficava tendo aqueles pensamentos por um estranho?

(¯·..·¯·..·¯)

Aquele americano estava muito calado. Caminhamos por vários minutos e ele não disse sequer uma palavra. Será que eu havia sido duro em alguma hora com ele?

- Duo. – Chamei ao parar em uma pequena clareira.

- Hum?

- Vou apagar o rastro do cavalo, fique aqui, certo? Não vou demorar.

Ele assentiu e eu me pus a limpar nosso vestígio. E aquilo me deu tempo para pensar, e bem, não foi algo realmente muito bom de se fazer.

Eu não o tirava da cabeça e isso era, definitivamente, errado. Não que eu fosse preconceituoso ou algo do tipo, mas Duo era um...seminarista. Quantos pecados eu estaria cometendo caso o desejasse como estava desejando naquele momento?

Ainda bem que nunca acreditei em Deus.

Bem...eu tinha que me manter concentrado em algo para não pensar besteiras. E foi o que eu fiz, mas infelizmente Duo não saiu dos meus pensamentos.

Voltei a clareira e constatei que ele permanecia no mesmo lugar, em cima do cavalo. Me aproximando, toquei sua coxa.

- Você poderia ter descido daí. – Comentei, enquanto o ajudava a descer.

Segurei em sua cintura e no momento que ele desceu, seu corpo roçou no meu, me fazendo sentir inúmeros arrepios por toda a extensão da minha coluna.

- Você disse para que eu ficasse aqui, eu obedeci! – Ele sorriu e se afastou. Cristo! Como ele podia ser tão...doce. – E eu também tenho medo desses bichinhos que vivem nesses matos.

- Hn. – Voltei minha atenção para uma parte desprovida de plantas altas, bem embaixo de uma grande árvore. Parecia um bom lugar para ficar. Não era o ideal, mas teria que servir.

Enquanto escurecia Duo e eu nos ocupamos em limpar aquele lugarzinho. Quando o sol se pôs completamente eu acendi uma pequena fogueira, apenas para espantar alguns animais, já que não podíamos chamar atenção.

Notei que ele olhava assustado para todos os lados, como se esperasse que algum animal pulasse de dentro do mato para atacá-lo. Não era uma hipótese totalmente descartada, mas eu gostaria de pensar que aquela noite não teria imprevistos nenhum.

- Fome? – Perguntei e ele deu um pulo, assustado.

- Um pouco, mas eu posso agüentar! No Seminário às vezes nos deixavam três dias sem comer. – Ele sorriu abertamente e foi para mais perto do fogo.

Fui até onde tinha amarrado meu cavalo e tirei algumas frutas de uma bolsa de provisão que havia. Não era muito, mas era o bastante para que nossos estômagos não soltassem ruídos constrangedores.

Ele pegou uma maçã e agradeceu silenciosamente, enquanto eu comia a minha.

Definitivamente aquele dia não estava nem um pouco normal.

Eu havia saído da cidade atrás de um estuprador, não o havia pego e ainda por cima iria voltar para casa com um americano de brinde. E claro, estava naquele momento no meio de uma floresta com esse mesmo americano, que – não posso deixar de atestar – estava lindo sob aquela luz.

Definitivamente ele parecia um pequeno anjo.

- Senta aqui. – Me sentei, encostando minhas costas no tronco da árvore, enquanto batia na grama fofa ao meu lado. – Que foi? – Perguntei quando percebi que ele estava tremendo.

- Frio e...medo. – Ele se encolheu, abraçando os joelhos.

- Medo?

- Sim...do escuro. – Ele pareceu envergonhado e eu quase sorri.

- Não precisa ter medo, eu vou ficar acordado vigiando. – Ele assentiu e se aproximou mais de mim.

- Eu...será que eu...posso... – Ele pareceu indeciso com as palavras e sem dizer mais nada, se acomodou entre minhas pernas, afundando o rosto em meu pescoço.

Eu enrijeci completamente com toda aquela proximidade. Como ele...

- Obrigado novamente, senhor Yuy. – O ouvi murmurar. Relaxei e deixei meus braços circularem seu corpo.

- Heero apenas, Duo. – Encontrei a ponta de sua trança e tirei a fita que prendia, libertando aos poucos os fios castanhos.

Ele tinha um cheiro tão bom...tão doce. Há tanto tempo eu não me sentia daquele jeito...quente. Suas mãos descansavam em meu peito, enquanto sua respiração alcançava a pele sensível de meu pescoço. Quantos anos haviam se passado desde que alguém se aproximara tanto de mim sem que fosse morto ou ferido?

Sete malditos anos.

Grunhi algo incompreensível enquanto o abraçava mais forte. Eu não queria lembrar de tudo aquilo. Era algo que eu tentava esquecer a cada dia.

- Você está bem, Heero? – Ouvi a voz preocupada e abaixei o rosto, encontrando aquelas duas jóias me fitando.

- Estou. – Respondi o mais normal que pude. – E você, tudo bem?

- Sim. – Ele apoiou a cabeça novamente na curva do meu pescoço. – Você é tão quentinho. – Senti meu rosto ficar quente e apoiei a cabeça no tronco da árvore.

O que estava acontecendo comigo afinal?

(¯·..·¯·..·¯)

Era tão bom ficar ali, apenas sentindo o calor que emanava dele. Heero me fazia lembrar da palavra que eu nunca mais teria.

Sufoquei um soluço quando todos os acontecimentos daquele dia caíram como uma bomba na minha cabeça. Droga! Eu havia fugido de casa e estava abraçado a um desconhecido no meio de uma floresta. Se não era a situação mais estranha que eu já vivera, eu não sei o que seria.

- Hey. – Senti os dedos dele em meu queixo e ergui o rosto. – Você está realmente bem? Está tremendo. – Em um movimento rápido ele desencostou da árvore e tirou o sobre-tudo, colocando-o em minhas costas.

- Não é nada. – Sorri. – Você vai ficar com frio.

- É só você ficar do jeito que está, que eu vou ficar bem. – Senti meus cabelos serem completamente libertos e abri a boca para protestar, mas um carinho em minha nuca me fez voltar a apoiar a cabeça na curva de seu pescoço, colando meu corpo no dele.

Heero era realmente muito quentinho.

(¯·..·¯·..·¯)

- Obrigado pelo que você está fazendo por mim. – Depois de vários minutos naquela posição o sono já começava a me invadir, junto com uma desagradável dor nas costas.

- Você me salvou, Duo, só estou retribuindo. – Sufoquei um bocejo e ele riu.

- Acho que você não vai agüentar ficar acordado a noite toda, sem contar as dores que você vai sentir nas costas. – Ele se afastou, me deixando com uma sensação terrível de abandono. – Deita.

- Hum? – O mirei confuso.

- Deita logo aí! – Duo apontou para a raiz da árvore e eu deitei com a cabeça apoiada ali. – Eu fico acordado. – Pensei em protestar, mas ele negou com a cabeça.

O observei tirar o sobre-tudo das costas e colocar sobre meu corpo, me cobrindo como se eu fosse uma criança. Naquele momento eu me lembrei da última pessoa que eu permiti tanta aproximação. "Mãe"

- Deita aqui também. É injusto só um de nós ficar acordado. – Argumentei e ele ergueu uma sobrancelha. – Não se preocupe eu tenho sono leve. – Ele pareceu indeciso por alguns instantes, mas um vento frio pareceu convencê-lo.

Ele se deitou o meu lado, se acomodando contra meu corpo, com a cabeça apoiada em meu peito. Eu me permiti sorrir com toda aquela doce inocência. Eu poderia atacá-lo, mas Duo parecia confiar tanto em mim quanto eu confiava nele.

Estranho...eu nunca fora uma pessoa que confiava sem um motivo. Na verdade mesmo quando eu tinha motivos não confiava. E sem mais nem menos aquele americano chegava de repente derrubando as diversas barreiras que eu havia construído naqueles sete anos.

Esquecendo de todas aqueles pensamentos, coloquei o sobre-tudo sobre o corpo delicado do americano, ouvindo-o murmurar baixinho. Eu não precisava daquilo. Meu corpo estava realmente quente com toda aquela proximidade.

- Duo? – Chamei suavemente, enquanto afundava uma das mãos em seus cabelos soltos.

- Sim? – Ele cruzou os braços sobre meu peito, apoiando o queixo em cima, deixando uma distância quase inexistente entre nossos lábios.

- Você... – Joguei a cabeça para trás, tentando ignorar o calor que me percorreu, despertando uma parte específica do meu corpo. – É seminarista há muito tempo?

- Uns cinco anos. Por quê? – Ele me olhou de forma curiosa.

- Hum...e por que você não está no Seminário agora? – Senti seu corpo enrijecer e tive certeza que havia tocado em um assunto delicado.

- Eu...apenas fugi. – Não sei se foi impressão, mas seus olhos me pareceram encherem-se d'água. – Mas...e você? Como conseguiu ser xerife? Quer dizer...você me parece bem jovem! – Um belo sorriso se desenhou em seu rosto e eu quase esqueci sua expressão dolorosa de segundos antes.

- Tenho 24 anos, Duo. – Ele arregalou os olhos. – Sou xerife por merecimento! – O vi dar um sorriso desdenhoso e puxei seus cabelos. – Está duvidando?

- Não, não, não! – Ele gemeu de dor e eu sorri quase imperceptivelmente. – Estou apenas surpreso! – Eu soltei seus cabelos e ele suspirou aliviado. – você conseguiu, sabe? Como essas coisas funcionam? – Vi seus olhos brilharem mais intensamente e senti saudades da minha própria época de inocência.

- Tive treinamento militar, fui designado para o posto e... – Hesitei por um instante, mas o brilho em seus olhos me fez continuar. – Houve também uma influência por causa do nome da minha família.

- Influência? – Ele se remexeu, colocando uma coxa bem perto de minha virilha. – Sua família é muito importante?

- Sim...uma longa linhagem militar. – Respondi de forma sufocada.

- Nossa! Isso deve ser um máximo! – Quase me alegrei com seu entusiasmo, mas essa sensação passou rápido. – E onde está sua família agora? Pra onde estamos indo? Ou moram na capital?

- Respire, Duo! – Suas bochechas ganharam um lindo tom rosado. – Eles estão...mortos. Todos eles. – Vi seus olhos se arregalarem e quando ele ameaçou murmurar um pedido de desculpas eu o calei. – Só restavam eu, meu pai e minha mãe, mas eles morreram há sete anos.

- Heero...eu... – Pousei os dedos sobre seus lábios.

- Está tudo bem. – Afirmei. – E a sua família?

- Somos apenas eu, meu pai e minha mãe também. – Notei o tom melancólico. – Quer dizer...agora são só os dois e eu...eu estou sozinho. – O fiz apoiar a cabeça em meu peito novamente.

- Você não está sozinho. – Murmurei, sentindo-o se agarrar mais a mim.

Merda! Qual era o problema das minhas emoções naquele maldito dia?

Continua...
Acho que não tenho muitos comentários a fazer não...só que eu achei que vcs me aprovaram e resolvi arriscar mais essa fic...não sei se ta boa, mas tou me esforçando!

E também acho que tenho alguma tara por Duos inocentes e Heeros superprotetores...

Espero que tenham gostado desse primeiro cap!

E reviews...claro!!!!!!!! Por favoooooor!!!!!!!

Bjinhos!

Arsinoe