Para Lela, que betou. E que criou a Salinha, me fazendo o grande favor de fazer meus dias mais felizes.
SB(L)
Um verso banal
Fala em você
Canta você
É sempre igual
Acordar, trabalhar, dormir, chamar.
Ao acordar, escovar os dentes, arrumar a cama pentear o cabelo. Procurá-lo no espelho, nas suas próprias sardas, na luz que incendiava seus cabelos. Na outra escova de dentes, que continuava ali. "Fred". Uma sombra atrás de si, uma meia volta: Percy. Voltava a pentear os cabelos. "Bom dia, querido", dizia Molly, e ele sentia falta de um plural naquela frase. Procurava Fred novamente na cadeira a seu lado.
No trabalho, procurava-o atrás da porta da loja. Nunca conseguia encontrar o bom motivo que fazia o outro ruivo se esconder. Colocava cada uma das mercadorias no lugar, sozinho, e sorria quando a sineta da entrada soava. Os cabelos ruivos, as sardas: Ron. George aceitava a ajuda e entrava no seu escritório dentro da loja, apoiando a cabeça nas mãos, deixando-se lembrar que não iria mais encontrá-lo quando procurasse entre as meninas que andavam no Beco Diagonal. Perguntava-se se Fred fazia tanta falta para elas quanto fazia para si. Sempre deduzia que não.
Durante a noite, o que passou a chamar de "dormir" resumia-se a olhar para a foto ao lado da cama. A escuridão não permitiria a ninguém enxergar os traços dos gêmeos que jogavam quadribol, mas George preferia assim. Desse modo, nem ele saberia quem era quem, e ele e Fred seriam um só como foram nos últimos vinte anos. Não saberia dizer qual mão era sua, qual braço era dele. Achava justo, pois ele não saberia dizer se o coração que batia agora dentro de si pertencia a ele ou ao irmão. Procurava mais uma vez na cama vazia. Chamava o nome dele, baixo, para ninguém acordar. "Fred".
Chamava de novo, ainda mais baixo, para não atrapalhar o próprio sono. E sua voz diminuía pois não era necessário gritar. O irmão se aproximava, ria dele, dizia que ele era um idiota por achar que meia dúzia de Comensais poderia derrubá-lo. "Fred".
Procurá-lo no espelho, nas suas próprias sardas, na luz que incendiava seus cabelos. Não encontrar. Não encontrar a si mesmo.
Sobrou desse nosso desencontro
Um conto de amor
Sem ponto final
Retrato sem cor
N/A: musiquinha do Chico Buarque, se chama "Desencontro" e eu amo! Tanto quanto eu amo os gêmeos. Essa fic foi originalmente escrita prum chall, mas depois de pronta eu vi que não tinha nada a ver com o tema! Hehe, básico!
Beijoos!
