Título da fic: Coffee & Tea

Casal: ShakaxMu

Sinopse: Dois amigos e um sonho em comum, tocar em uma banda famosa, fazer sucesso. A oportunidade apareceu, mas para isso teriam que se fingir namorados. Será que valeria a pena?

Autora:
Áries Sin e Athenas de Áries


Coffee & Tea

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Capítulo 1

O barulho da chaves na porta, um vulto entrando na habitação. Os ténis eram jogados para o lado sem grande paciência. As pernas arrastavam até à kitchnet; a idéia de fazer algo que o acordasse do estado de moleza que se encontrava constantemente em dias enevoados... em que não chovia nem deixava chover... péssimo!

Dose de cafeína... era tudo o que o seu cérebro clamava... o seu 'ouro negro'.

Remexeu os potes a procura do tão precioso pó... Revira o primeiro, nada, o segundo, nada... Acabara. Não!!!! Isso era demais! Onde arrumaria sua preciosidade a estas horas para restaurar a sua vida? Lembrou-se da padaria. Abriu a carteira e míseras moedas caíram de lá.

Óptimo... como uma desgraça nunca vinha só... o mais sensato seria enfiar-se na cama e não sair de lá até ao dia seguinte. Mas a casmurrice era tanta que o fazia pôr de lado essa ideia tão... tentadora! Ele iria ter a sua dose de cafeína, custasse o que custasse! Voltou a calçar os ténis, abrindo a porta da rua de novo... última solução pode ser por vezes a melhor.

Atravessou o corredor do edifício que morava com uma ideia fixa na cabeça. Olhou para os números marcados na porta mais por hábito do que por realmente precisar consultá-los. Sabia onde deveria ir. Alguns metros mais a frente, no mesmo corredor, chegou onde queria. Levantou a mão e com o punho fechado deu duas pancadinhas na porta.

- Vamos Shaka, atenda logo esta porcaria de porta!

Os passos eram ouvidos no interior do apartamento, a porta abriu-se diante dos seus olhos. Shaka o olhava surpreso.

- Mu? O que...

Mas antes que algo mais pudesse ser perguntado, Mu entrava no cômodo como se fosse o dono de tudo. Aos anos que se conheciam... nunca tinham sido de cerimônias. Apenas uma condição: não mexer em nada que pertencesse a Shaka!

- Shaka, café!

Mú não deu bom dia, não fez nenhuma frase concreta e com sentido. Shaka sorriu dirigindo-se a cozinha. Conhecia Mu há muito tempo, tempo suficiente para não se aborrecer com a aparente falta de educação. Mu não acordava, não raciocinava antes do seu ouro negro. Encheu uma xícara com o café, bem forte, sem açúcar, como sabia que seu amigo gostava. Voltou à sala e estendeu a xícara com o líquido fumegante. Esperou alguns instantes.

- Bom dia Mu, tudo bom com você?

Um suspiro de alívio saiu dos seus lábios ao acabar de beber o líquido. Agora sim... estava 'operante'...

- Tudo mal... mal mal...

Pousou a xícara na mesinha perto, jogou os sapatos para o chão deitando-se no sofá de três lugares. Algo chamou a sua atenção em cima da cômoda.

- Shaka... - olhou espantado o objecto - você mudou o tio Buda de lugar?

- Está com saudades do Tio Buda ou de mim? - Shaka faz-se de ofendido mas acaba rindo do amigo. Tinha que reconhecer que a estátua de Buda a qual ele se referia era horrível e destoava completamente do ambiente. Trocara-a por uma peça mais bonita, delicada, de Jade, harmonizava mais com sua casa não deixando de ter a simbologia.

- O Tio Buda se aposentou sendo substituído por seu sobrinho mais novo e bonito. - Shaka fala apresentando a nova peça.

Mu levantou-se calmamente, dirigindo-se a nova peça, observando-a atentamente. Era realmente muito bonita... e decididamente ficava muito melhor que a estátua anterior.

- Nem para se despedir!

Não se conteve mais, caindo na gargalhada sendo acompanhado por Shaka. Só mesmo ele para o fazer rir em dia tão degradante...

- Não imagina o dia que tive... - soltou um suspiro, sentando-se de novo no sofá

- Conte-me. Para chegar aqui nesse estado...

- Para começar estou sem café em casa, isso por si só já é uma tragédia... Mas preciso de dinheiro desesperadamente... A loja de instrumentos musicais onde trabalhava fechou, ontem foi meu último dia... minha carteira está mais vazia e seca do que o deserto.

- Não está em boa época mesmo meu amigo, mas isso não é um privilégio seu.

Shaka senta-se ao lado de Mu desanimadamente. Pega o jornal que estava jogado em um canto e começa a folhear sem real interesse, entretanto Shaka arregala os olhos diante de um anúncio.

- Mu...

Mu espantou-se com o estado em que o amigo se encontrava, olhando fixamente uma folha do jornal.

- Shaka? Está bem? - inclinou-se sobre o jornal, descobrindo o que o loiro via com tanto interesse.

Ele próprio arregalou os olhos com o anuncio que ocupava 1/4 da página...

Uma famosa banda de pop-rock, conhecida como 'Nightmary Sex', estava fazendo concurso para a substituição de dois de seus componentes. Seria uma chance para que Shaka e Mu mostrassem seu talento e, quem sabe, fama, sucesso e dinheiro viessem junto. Perfeito. O sonho de ambos ali, estampado em letras garrafais no jornal. Mas para todo sonho perfeito, existe sempre um pequeno detalhe, a banda era gay e exigia candidatos gays.

Ambos olharam um para o outro espantados com o presente envenenado que lhes caíra do céu... candidatos...GAYS?

- Bom... era bom demais para ser verdade...

O loiro ameaçava virar a página continuando com a sua não-leitura, quando a sua mão foi travada pela de Mu.

-Shaka! É uma oportunidade única!

Shaka olhou espantado para o amigo... ele... estava a pensar em... não era possível...

- Pense comigo: é a nossa oportunidade para alcançar a nossa estrela da sorte e lhe dar um enxerto de porrada por não ter feito o seu trabalho direito!

- Perfeito, Mu... Seu plano é óptimo. Mas será que você se lembra de um pequeno detalhe.. NÓS NÃO SOMOS GAYS!

- Ora, mas podemos perfeitamente fingir que somos.

- E ser alisado, apalpado, cantado quiçá até beijado por outro homem... Desculpe, mas prefiro morrer de fome, pobre, em anonimato, jogado na sarjeta.

- Nem por mim? - Mu solta uma risada marota - Shaka, se nos fingirmos namorados podemos nos proteger mutuamente deste tipo de situação desagradável e ainda assim participar da banda. Não lhe parece um bom plano?

- Claro Mu! Perfeito! Assim seríamos conhecidos, faríamos o que gostamos fazer, ganharíamos muito dinheiro... o paraíso! - o loiro falou rápido imitando o ar sonhador do companheiro. - Mu... francamente... assente os pés na terra! Essa ideia é completamente absurda! Inconsciente! Ridícula...

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- Eu não acredito que estou fazendo isto...

O loiro largado no assento ao lado do condutor ainda não acreditava que se tinha deixado levar por algo tão… inconsciente…

Nem mesmo acreditara quando se olhara no espelho após ser aprontado por Mú. Os longos cabelos loiros escovados e milimetricamente desarrumados, os olhos azuis límpidos destacados por uma quantidade, na sua humilde opinião, demasiado exagerada de Kajal preto, brilho nos lábios, calça de couro marrom, parecendo uma segunda pele, de tão apertada, botas e uma camiseta totalmente desfiada por Mu.

Por seus olhos, ridículo seria o mínimo, mas ao sair a rua percebera diversos olhares cobiçosos sobre si. As pessoas decididamente tem gostos muito estranhos. Mu não estava muito diferente de si, mas pela primeira vez em tantos anos de convivência percebera como o amigo era belo.

"Shaka, você deve estar incorporando demasiadamente este personagem, desde quando acha homem 'belo'?" - ralhou consigo próprio em pensamento.

- Não seja tão rabugento Shaka! - Mu retrucou, concentrado na condução. Estava achando graça ao comportamento de Shaka... não podia negar... - Sabia que fica irresistivelmente tentador quando esta nervosinho, 'amor'?

Gargalhou alto ao sentir o olhar mortal do loiro sobre si. Era tão fácil brincar com ele... Shaka sempre fora seu lado 'racional'... e ele... bem... ele era a parte 'saíam da frente que chegou a fera!'

- Mu, você deve estar achando muita graça nesta situação, e sinceramente não sei como! Mas quanto a mim…

- Relaxa Shaka… vai ver que passa rapidinho, não dói, e se doer eu prometo soprar!

Shaka, cruzou os braços emburrado soprando a franja.

- Mu, quem vai acreditar que somos um casal?

- Qualquer um desde que você colabore!

- Colaborar como?

O carro pára em um semáforo, Mu aproveita o momento e se debruça sobre Shaka. - Que tal me dando um beijinho.

Shaka olhava para Mu espantado, não percebendo como ele poderia ficar tão descontraído numa hora daquelas.

-Mu, se eu não o conhecesse desde criança, chegaria a pensar que está agindo com conhecimento de causa...

O sinal abriu, dando passagem de novo. Mu não conseguia parar de sorrir e zoar do companheiro... ele decididamente estava se divertindo...

- Shaka, relaxa... Mas acho que já cansei de dizer isso. Se alguém perguntar o porquê dessa sua cara de poucos amigos, vou ser obrigado a explicar que eu estava tão cansado dos ensaios que não pude atender a seus desejos mais secretos...

- Você não seria capaz de falar uma coisa dessas!

- Duvida mesmo?

- Não. Você falaria... - Shaka suspira resignado. Olha-se no espelho instalado no quebra-sol do carro. Agora, olhando melhor, até que não estava tão ruim. Já que estava mesmo na chuva, de que adiantaria resmungar. Ensaiou um sorriso.

Mu assistia a cena de rabo de olho, Shaka estava começando a ceder. Ele ficava bem melhor sorrindo, mas não falaria mais nada, já o cutucara suficientemente por três vidas. Teria muita sorte se saísse vivo desta empreitada.

Finalmente chegaram ao local indicado. O carro estacionado, ambos ficaram a olhar a multidão que se juntava à porta do pavilhão. Pela primeira vez, Mu duvidara que realmente seria uma boa idéia fazerem-se passar por gays... Desde frufrus, travestis, machos mans... uma verdadeira torre de babel onde se juntavam todo o tipo de homens... outros nem tão homens assim.

- Que Buda nos proteja, mas vamos logo antes que eu mude de ideia definitivamente.

Shaka puxa Mu pela mão se embrenhando no meio daquela multidão arco-íris. Nunca, em toda sua vida, vira tanta frescura reunida em um único lugar. O preconceito era uma palavra que pensava não existir em seu dicionário, mas decididamente não conseguia entender aquelas pessoas. Ser homossexual não era necessariamente um problema, mas precisavam ser tão grotescamente caricatos assim?

Um mão… não… duas, três… oh céus de onde vinha aquilo! Mu estava achando demais aquelas mãos atrevidas todas tentando alcançar onde podiam. Finalmente conseguiram chegar perto do local das inscrições...

- Nome, Morada, celular...

O pobre rapaz que atendia os clientes com a maior cara enfastiada ao cimo da terra era sem qualquer sobra de dúvida: hétero.

Shaka sentiu pena do rapaz, sabia exactamente como ele estava a se sentir no meio de toda aquela turba tresloucada. Preencheu como pôde o formulário e o passou para Mu. Neste momento viu um atrevido tentar apalpar Mu. Encarou de cara feia. Sentiu um ódio mortal daquela... daquela... desclassificada. Segurou a mão atrevida com uma força além da necessária. O que estava sentindo? Ciúme de Mu?

Claro que não! Estava preservando a integridade física e moral de seu amigo!

Olhou indignado a criatura lhe lançar um beijo e piscar o olho. Era no mínimo... ridículo... mas algo ainda mais bizarro se seguiu: dois braços lhe rodearam a cintura e faziam-no avançar pela multidão.

Virou-se com intenções de espancar o desgraçado que tivesse tido tal ousadia, mas para sua surpresa eram duas orbes verdes que o olhavam estranhamente.

- Não acha que esta a levar o seu papel demasiado a sério? Dá para parar de me apalpar no meio dessa gente toda?

A gargalhada cristalina de Mu fê-lo estremecer. Tão doce... tão perfeita... mais uma vez acabou por se xingar mentalmente pelas divagações.

- Ora, Shaka, não estou a levar o papel demasiado a sério e sim tentado afastá-lo desta confusão. As fichas já estão preenchidas, nossos nomes serão chamados pelo altifalante, não é necessário que fiquemos aqui, no meio deles, a não ser que queira...

- Mu!!!!! - Shaka estava indignado pela insinuação de que estava gostando de toda aquela balbúrdia.

Novamente Mu riu. E mais uma vez Shaka se pegou achando o som da risada de Mu especial. Sua mente começou a compor uma melodia nova a partir deste som tão agradável. Quem sabe estaria a nascer ali seu grande sucesso?

- Acho que ficamos bem aqui... agora é só esperar nossos nomes serem chamados...

Viu Mu sentar-se no chão encostado à parede.

- Vai ficar sentado aí? O chão pode estar sujo!

- Vê alguma cadeira por perto por acaso?

Shaka olhou em volta procurando por algo que pudesse servir de assento... nada... suspirou

- Em último caso pode sentar no meu colo.

Os olhos azuis encararam rapidamente o companheiro. Mu levava aquilo tão levianamente... talvez não devesse dar tanta importância àqueles pormenores... e tentar relaxar um pouco. Afinal, ele conhecia Mu deste criança... não conhecia?

Sentou-se no colo de Mu, afinal sua calça era clara e a última coisa que queria era vê-la completamente suja. Apoiou sua cabeça no ombro do amigo. Era tão confortável... Não se importaria caso a demora fosse longa.

- Mu, como andam as coisas com a Pequena?

- Estão indo... mas ela anda reclamando um pouco por não podermos sair tanto quanto antes. Não sei se vai durar muito mais.

- Mas vocês parecem tão apaixonados.

- Ela é apaixonada por nós dois... Eu ainda não encontrei a pessoa certa. Tenho plena convicção disto.

Ao mesmo tempo que Shaka se sentia penalizado pelo iminente fim do relacionamento de Mu, bem no fundinho dava vivas. Ela não era a pessoa adequada para o amigo. E quem seria? perguntou-se. Infelizmente a pergunta não tinha resposta. Não conseguia pensar em menina alguma que fosse boa o suficiente para Mu.

- E do seu lado Shaka?

Sorriu... já esperava pela mesma pergunta...

- Hum... vão... indo.

- Que entusiasmo Shaka! - sentiu o peito de Mu estremecer com o riso. - Ainda bem que nenhuma delas está aqui, ou teríamos direito a uma crise de nervos de ambas.

Shaka suspirou fundo, esboçando um pequeno sorriso.

- Ela mexe e remexe em tudo o que é meu, apodera-se do banheiro... não imagina a quantidade de coisas mais estranhas que eu já tenho visto daquele lugar... Mu, são verdadeiros instrumentos de tortura...

Mais uma vez tinha originado o riso do amigo. Era tão reconfortante ouvir aquela voz...

- Mu... estive pensando...

- Por Buda... lá vem encrenca...

- Ei, não sou eu que, quando penso, nos coloco em situações como esta! - Shaka estende a mão sinalizando toda a situação em volta deles. - Apenas ouça... - começa a cantarolar a melodia que viera em sua cabeça a partir do som cristalino da risada de Mu. Poderia ser torturado, mas nunca contaria qual foi a sua fonte de inspiração. - O que acha?

Mu fechara os olhos ao ouvir o timbre de voz do amigo tão... angelical. Perfeito... o ritmo... a melodia... a escala em lá bemol... lindo!

- Você de loiro só tem o cabelo...

- Mu!

O tom de reprovação de Shaka divertia-o.

- Amei Shaka... ficou lindo... se soubesse que ficar a tarde inteira fechado num salão com purpurinas e confetes originaria tamanha inspiração sua!

Desta vez, ambos caíram na risada. Sem se aperceberem, começavam a criar laços de afecto... que nunca julgariam um dia vir a ter.

- Mu Shakti Vajra e Shaka Indra Devas!

- Mu, nossa vez... e um detalhe de ordem técnica... não decidimos o que tocar!

- Ops... toque sua melodia Shaka, ela é linda.

- Mas não ensaiamos!!!! Eu nem mesmo a toquei em algum lugar além de minha cabeça!!!!!!!

- Quer lugar melhor???? Faça e deixe o resto comigo!

- Arianos loucos! Mas como tudo aqui é louco, que seja feita a vossa vontade! - Shaka vai andando em direcção a entrada do estúdio assoviando a melodia e visualizando as notas em sua cabeça.

Agora sim, os nervos começavam a aflorar... Mu sentia o estômago borbulhar em todos os sentidos. Logo os mandaram entrar para a sala de gravação... seria aí que seriam testados. A sala acusticamente isolada parecia demasiado ameaçadora... apenas um teclado e um contra-baixo tinham sido largados ali. Cada um se dirigiu ao devido instrumento, o coração aos pulos.

- Podem começar! - a voz vinda do altifalante soava ríspida.

Dali, conseguiram visualizar os restantes componentes da banda...

Estava na hora. Não adiantaria nada olhar para todos que os testavam e ouviam. Mu dirigiu-se a Shaka.

- Lá bemol! - a nota no contra-baixo pode ser ouvida, suave, límpida.

Shaka fechou os olhos, posicionou o dedo sobre o teclado e deixou a música fluir. Fez uma introdução solo, mostrando para Mu o que tinha em sua cabeça. Ajustou a bateria eletrônica para uma balada suave e começou. Mu o acompanhou extasiado com a beleza da melodia.

Durante anos tocavam juntos, mas nunca fizeram uma apresentação tão sincronizada, tão bonita. Era como se estivessem sintonizados, muito mais do que por laços de amizade. Naquele momento parecia existir uma ligação única entre os dois e tocaram como se mais ninguém ali houvesse.

A melodia acabava... Andante... um ritardato para finalizar... os dedos finos de Shaka retiam as últimas notas por uns segundos... Balançou as mãos para cima, soltando tudo.

Abriu os olhos, olhando para Mu. Tinha sido... perfeito! Ainda não percebia como teriam sido capazes de tal proeza, sem nunca terem ensaiado antes. Sorriu. Por vezes o improviso era a melhor opção.

Mu acenou para ele, os olhos brilhando.

- Estava perfeito! Obrig... hey!!

- Sai daí! Minha vez! Boa tarde! O meu nome é Milo Miklos Kalomiris sou o vocalista e guitarra base da banda!

- Milô! - uma voz com sotaque estranho ouviu-se ao longe.

- Que foi tamborzinho.?

- Não sei se percebeu, mas eu estava falando!!!! - Camus, olha para Milo completamente vermelho, em parte por vergonha, em parte por vontade de parti-lo ao meio ali e agora.

- Desculpe, Tamborzinho meu, mas não resisti... eles foram perfeitos... nunca ouvi algo assim. Rapunzel do Teclado, será que podia tocar um pouco de novo?

Shaka teve ímpetos de arremessar o teclado na cabeça daquele maluco ao ouvir a maneira como ele o chamara. Respirou fundo e alto, tentando se controlar. Não era o momento de pôr tudo a perder por descontrole, pelo jeito estavam perto demais. Abriu a boca, mas antes mesmo de emitir qualquer som fora interrompido pelo ruivo. Se bem se lembrava, Camus, o baterista.

- Não ligue para ele... Qual é o seu nome mesmo?

- Shaka.

- Não ligue pra ele, Shaka. Mas, por favor, poderia realmente tocar mais um pouco desta linda canção?

Shaka iria começar a tocar e foi novamente interrompido. Isso já estava ficando chato!

- Não aqui. Venham. - são levados para um outro estúdio, onde todos os instrumentos estavam a postos para serem usados.

Ali sim... os instrumentos eram caprichosamente pousados em suportes de luxo, o teclado do último grito...

- Boa tarde... - o ruivo estendeu a mão para ambos, cumprimentando - sou Camus, o baterista. Este é Milo, que acho já se ter apresentado... e aquele é Afrodite, guitarrista. Gostaríamos de tentar acompanhar a música em grupo.

Shaka assentiu, colocando-se de novo atrás do teclado.

Mu pegou o baixo e olhou o instrumento com carinho. Nunca tocara em um instrumento tão belo. Testou as cordas, a afinação...

- Shaka por favor, um lá maior.

Shaka toca a nota pedida por Mu que acerta a afinação do instrumento a seu gosto. Preferia uma afinação semitonada, um pouco mais alta, dando mais peso ao som do instrumento. Não era decididamente uma afinação ortodoxa, mas caía bem ao seu estilo.

Camus senta-se à bateria, Milo pega a guitarra e Afrodite também. Shaka começa a introdução solo. Todos a postos quando Mu dá o sinal com uma suave nota. Não parecia que nunca tinham tocado juntos e muito menos ouvido aquela música. A sincronia foi perfeita.

Shaka estremeceu ao ouvir a própria composição ser tocada tão maravilhosamente bem. Decididamente estavam lidando com profissionais.

As poucas pautas existentes foram tocadas e finalizadas. Shaka olhou para Mu, tentando entender o que ele achava daquilo tudo.

Camus recostou-se na parede, rodando a baqueta habilmente na mão. Parecia reflectir.

Milo de olhos fechados apreciava o último eco que ainda soava no local. Afrodite do seu lado olhava para os outros dois divertido.

- Estão mais que contratados!

- MILO! - mais uma vez Camus abanava a cabeça em sinal negativo, repreendendo o namorado.

- Não me repreenda Camus! Que coisa! Eles são simplesmente ótimos. Vai ficar enrolando mais o quê? Já ouvimos aberrações demais pro três gerações!!!!!!!!!

- Milô! Temos muitos outros a ouvir ainda! Temos que dar chance aos demais.

Milo puxa Camus pelas mãos até a janela próxima e mostra a confusão do lado de fora.

- Acha que encontraremos outros ali? - seu tom era de desprezo. Estava realmente impressionado com os dois que ali estavam e completamente sem paciência para toda aquela confusão.

Camus passa as mãos pelos cabelos vencido. Desta vez Milo estava com a razão. Mas não daria o braço a torcer assim tão facilmente.

- Não seria melhor ouvir a opinião de Dite e principalmente de Mask?

- Claro! DITE!!!!!!!!! - Milo grita dentro do estúdio.

- Concordo plenamente com o Mimiluchinho!

- Afrodite!

- Ah vai... sabem que eu sempre escuto as vossas conversas... e sim... o Mask também concorda que eles são excepcionais!

- Pronto! Esclarecido senhor Camus?

Um suspiro alto soou no local, sinal da rendição do francês.

- Óptimo! Eu te compenso depois! - dando um selinho ao namorado, Milo dirigiu-se aos dois recém componentes da banda.

- Meus parabéns! Estão contratados!

Mu não conseguiu conter a emoção, pulando nos braços de Shaka abraçando-o.

- Vocês são namorados? - a voz suave de Afrodite atingiu-os em cheio.

Shaka e Mu ainda estavam em choque com a notícia quando a voz suave de Afrodite os despertou. Agora o que responder?

- Sim. - Shaka não acreditou quando ouviu aquela palavra sair de sua própria boca, com sua própria voz.

Mu saiu do transe e levantou Shaka do chão em um abraço apertado.

- Nós conseguimos, pequeno Buda!!!! Nós conseguimos!!!!! - sem nem mesmo pensar, no meio da euforia da vitória Mu deu um pequeno selinho em Shaka.

Os olhos do loiro se arregalaram ante aquele ato como se fossem saltar da órbita. Ficou completamente sem reacção, sem fala, sem nada. Não pelo fato de Mu tê-lo beijado, mas principalmente pelo fato de ter gostado e achado completamente natural. Precisavam sair logo dali. Precisavam conversar. Tudo estava indo longe demais.

- Hum... pena... - comentou Afrodite, olhando os dois. - Mas fazem um lindo casal!

Fora a vez de Mu cair em si e compreender o que tinha feito. Era... estranho demais...

Um barulho ensurdecedor cortou o silencio do local. Algo como um borbulhar...

- Fooooome...

Milo encontrava-se debruçado sobre a barriga, resmungando alto.

- Estamos todos Milô... passamos horas aqui trancados sem comer nada decente.

- Óptimo! - Afrodite soltara um som estridente, batendo palmas - O que me dizem de ir no restaurante comer algo? Seria uma óptima oportunidade de conhecer melhor os nossos novos 'companheiros musicais'!

- Sim!

- Não!

- Pelo jeito teremos um casal a rivalizar com Milo e Camus aqui em matéria de divergência de opiniões... - Afrodite ri.

- Vamos Shakinha... vai... não fizemos nada para comer em casa, a geladeira está parecendo o início do mundo, água, gelo e luz, estamos aqui o dia inteiro... - Mu faz aquele beicinho que Shaka conhecia bem. Desde a infância o ariano sempre usava deste artifício para convencê-lo a fazer sua vontade...

- Mu! Eu vou para casa, se quiser ir, vá! - desta vez não ia ceder.

Milo abraça Shaka, resolvera dar uma forcinha Mu. Gostara dos dois e sabia bem o que era um namorado de opiniões fortes.

- Vamos rapunzel dos teclados... passaremos muito tempo juntos daqui pra frente é bom para ir se acostumando.

- Mas...

- Nem mas nem meio mas! Não seja anti-social! Tem de ganhar forças comendo para conseguir 'comer' o seu namoradinho ali não?

Corado era pouco para descrever o estado de Shaka. Aquela frase... a sua mente começava a divagar... bem longe... imaginando uma cena mais que anormal entre ele e Mu.

- Eu...

- Óptimo! Eu sabia que aceitaria! - Milo finalizou com duas tapinhas nas costas do loiro.

Shaka abanara as mãos em um gesto típico de derrota. Estava sendo atropelado por um comboio de tanques. Tudo era novo e estranho para ele, mas como dizia o velho ditado, se não pode com eles, junte-se a eles. Abraçou Mu pela cintura.

- Então vamos logo nos alimentar que estou louco para chegar em casa!

Os companheiros de grupo riram, levando a frase para um outro sentido, menos puro. Mu arregalou os olhos verdes não acreditando que era Shaka mesmo ali. Colocou a mão teatralmente na testa dele.

- Está doente?

Mask observava a todos... A interacção entre eles parecia boa. O conjunto funcionaria. Levaria a todos para jantar. O loiro parecia estar sendo atropelado pelos demais, estava na hora de salvar o coitado.

- Deixe de implicar com ele, Mu. Vai ver com o tempo como Milo sempre consegue o que quer... - Mask bateu nas costas de Mu e depois se dirigiu a Shaka - Vamos amigo, quanto mais rápido dermos comida para aquele escorpião maluco, mais rápido ele acalma, capische?

Neste momento Shaka percebeu… que o dia não iria acabar tão cedo…

.
Continua…


Cantinho (ariano)²

Bom… como boa ovelhinha (neste caso carneirinho) sacrificado… hoje cabe a mim, Áries sin, comentar este lindo… magnifico… espantoso… e tuti quanti, capítulo.

Pois foi num dia chuvoso de Outubro, numa conversa no meio de tantas outras, num momento pseudo-depressivo de ambas as partes, que, para levantar o astral das duas, eu e Luciana (Athenas de Áries) decidimos começar uma 'oneshot cutinha' em parceria… digo… PSEUDO one-shot curtinha… pois de oneshot não tem nada… muito menos de curtinha. Acabamos por nos empolgar e acabou por sair… isto! apontando o primeiro capitulo da fic.

Agora, descodificando a fic: o Mu pode vos parecer meio occ. Mas acontece que, essa é a ideia que tanto eu como a Luci temos acerca da personalidade ariana. Pois é, muzinho não deixou de ser o pacato ariano calmo por fora e explosivo por dentro, que acorda de mau humor SEMPRE que é acordado, e ainda mais mal humorado fica quando lhe retiram o que lhe é mais sagrado: neste caso, café!

Nesta historia, só aparecem alem do casal principal, o Camus, Milo, Dite, Mask e… outra que aparecerá no final, cujo nome não vou revelar aqui.

Bom… acho que vou acabar de vos massacrar aqui espero que tenham gostado da leitura.

Um agradecimento mais que especial à nossa beta Eliz (Shiryuforever) que mesmo com o pulso enfaixado, contra ventos e marés se manteve de pé e betou a nossa baby .

Outro agradecimento MUITO especial a… Ada (Kamui) pelo acompanhamento da fic, elogios ou simplesmente por aturar duas arianas completamente insensatas. XP

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