Capítulo 1 - Winchesters ou Losechesters?

- Buáááá! Buááááá!

- Shep, o que houve meu filho!? - Genevieve perguntou assustada ao ver seu caçula surgir correndo na sala. O menino esbarrou na árvore de Natal, derrubando um ou dois enfeites, o que fez com que o pequeno chorasse ainda mais.

Já era tarde, e ela tinha posto os dois filhos para dormir horas mais cedo.

- Foi papai, e Tom, que mataram eu com a espada... - o garotinho tentou explicar aos soluços.

Ahh, sim... Papai... Aquilo só podia ser mesmo coisa do Jared! Seu marido era mais criança e tinha menos juízo que os dois filhos juntos. A moça pegou o menino pela mão e levantou-se com cuidado, protegendo a barriga crescida pelos seis meses de gravides. Acompanhou o chorão até o quarto das crianças, e lá, sem muita surpresa, encontrou Thomas e Jared duelando com mini espadas de plástico em punho.

- Jared! - ralhou a mulher - Que bagunça é essa aqui!? Isso é hora dos meninos estarem dormindo!

- Shep! Você foi contar pra mamãe! Seu chato! - Tom precipitou-se para bater no irmãozinho, mas foi impedido pelo pai.

- A culpa foi nossa, Tom. A gente matou o Shep... - e dizendo isso o homem pegou o caçula no colo, dando-lhe um beijo na cabeça. - Foi de brincadeira, filho... Não precisa chorar...


Enquanto isso, tudo estava calmo na casa dos Ackles. JJ já tinha ido dormir há muito tempo, e Danneel tinha se recolhido no quarto para dar mamá e ninar os gêmeos. À Jensen coube ficar acordado, sozinho, embrulhando todos os brinquedos que o casal tinha comprado para a filha mais velha. Precisava fazer sem que a menina visse, já que JJ ainda acreditava em Papai Noel.

O louro suspirou. Estava cansado, mas quem mandou deixar tudo para última hora? Já era dia 23 de Dezembro. Agora era encarar aqueles papeis, caixas e o enorme rolo de durex.


Pouco tempo depois, Genevieve já tinha conseguido colocar os dois meninos pra dormir, ainda resmungando com o marido.

- Vai pegar água pra mim, que eu vou deitar, colocar as pernas pra cima. Estou tão inchada...

- Claro, Gen. Volto num pulo.

- Aproveita e guarda essas espadas na caixa de brinquedos lá embaixo. No quarto dos meninos já não cabe mais nada... Depois do Natal vamos doar algumas coisas.

Padalecki assentiu e desceu as escadas depressa. Só que quando chegou na sala, ouviu um barulho esquisito, que vinha da chaminé. O rapaz se aproximou e pumba. Tudo escureceu...

- Ei, me solta! Socorro! - berrou ele. Era como se num passe de mágica tivesse sido teletransportado para dentro de um saco gigante, ou coisa parecida. E em seguida o tal saco foi içado chaminé acima. O pobre homem não parava um minuto sequer de gritar e espernear.


- Jensen...

Quem estava chamando por ele? Era uma voz sussurrada. Danneel? Talvez estivesse precisando de ajuda com os bebês.

O louro se levantou, prendendo uma última ponta de um dos embrulhos, e, ainda com o durex nas mãos, seguiu em direção ao quarto. Mas antes que ele subisse as escadas, ouviu o sussurro mais uma vez.

- Aqui... Na chaminé!

Na chaminé? Talvez ele estivesse cansado demais e ouvindo coisas, mas mesmo assim, precisava averiguar...

- Aiiii! Socorro! - gritou o rapaz assim que a escuridão o surpreendeu.

- Para de se bater, você está me machucando! - Jensen ouviu uma voz reclamar. Mas não era a tal da voz sussurrada, e sim a inconfundível voz de seu melhor amigo: Jared Padalecki.

- Jay!? Que brincadeira de mau gosto é essa? Quer me matar do coração!? Quero sair desse saco!

- Jen, é você? - Jared perguntou surpreso. Ele, ao contrário do louro, não ouvira nenhuma voz sussurrando coisas. Não tinha ideia que o tal saco raptor tinha feito uma pequena parada na casa do amigo.

- Claro que sou eu! - o louro estava agora irritado e nervoso, porque aquela brincadeira era de péssimo gosto. O que ele e Jared faziam juntos dentro de um saco quente e apertado? - Me tira daqui! - berrou em seguida.

- Jen, ainda bem que você está aqui comigo! Eu estava com tanto medo... - Jared tentou abraçá-lo, mas sem muito sucesso.

Como assim tanto medo? Se a culpa não era de Padalecki, de quem haveria de ser? Só podia ser de Misha Collins...

- Misha, você me paga! - vociferou o louro enquanto tentava se desvencilhar dos braços de Padalecki, que ainda teimavam em grudar-se nele.


- Jensen... - Jared choramingou - Colocaram a gente no lombo de um cavalo...

"Pocotó, pocotó, pocotó"

Os dois rapazes já haviam gritado, esperneado e tentado abrir o saco em vão. Agora, sem saber exatamente o que fazer, e convencidos de que Misha ou nenhum outro amigo haveria de ser tão cruel, apenas aguardavam amedrontados o seu destino.

Ackles tentou parecer calmo. Padalecki estava desesperado... Ele era mais velho, precisava ficar firme.

"Pocotó, pocotó, pocotó"

- Claro que não, Jay...

"Pocotó, pocotó, pocotó"

- Então que galopar é esse? - a voz do mais novo saiu entrecortada.

Jensen respirou fundo. Que galopar era aquele?

- Bem, não importa, Jay. Fica calmo! Ninguém há de querer machucar a gente. Deve ser alguma fã querendo uns beijos, ou... - O louro não completou a frase. Ou era uma fã querendo uns beijos, ou um bandidaço muito malvado, daqueles que montavem pangarés no velho Oeste, querendo resgate. E esse último era muito mais provável... O rapaz engoliu em seco. Não podiam ter escolhido momento pior, com Genevieve grávida, e Danneel cuidando de dois recém-nascidos.

- Mas Jen... Essa fã mora onde? Porque nós estamos no lombo de um cavalo, e... Esse cavalo... - Padalecki soltou um soluço agoniado - Agora parece que está voando...

- Não. - respondeu o outro, enfático - Nós só estamos assustados, Jay! E imaginando coisas... Porque cavalos não voam! Respira fundo. Eu estou aqui com você...

Dessa vez foi Jensen quem envolveu o mais novo em seus braços. Queria confortá-lo, e ao mesmo tempo confortar-se em seu abraço. Além disso, estava ficando frio.


O tempo foi passando. Definitivamente parecia que estavam voando. Jared chorava sem parar, enquanto Jensen tentava acalmar a si mesmo e ao amigo como podia.

- Jen... Acho que deve ser algum monstro horrível que assistiu Supernatural e agora quer se vingar da gente.

- Deixa de ser besta, homem. Não tem monstro nenhum... - retrucou o louro, apesar dele mesmo não estar assim tão convencido.

O frio agora era insuportável, e os dois rapazes, tiritando, se abraçavam para tentar aquecer-se. Depois de algumas horas, estavam tão cansados e gélidos, que apenas permaneceram abraçados sem dizer mais nada e rezando para sobreviveram àquela experiência maligna.


Jensen e Jared provavelmente adormeceram ou desmaiaram em algum momento da viagem. Ambos voltaram a si quando sentiram finalmente que estavam em chão firme. Ao seu redor, tudo estava quieto. A temperatura agora estava agradável.

Mais uma vez, tentaram sair do saco, mas, dessa vez, parecia uma tarefa mais fácil. Antes, estavam o tempo todo dependurados. Agora, podiam fincar os pés no chão. E foi isso que fizeram. Em algum minutos os rapazes conseguiram desamarrar uma corda no alto de suas cabeças, e finalmente se viram do lado de fora. Eles estavam no meio de um quarto pequeno, decorado com tons natalinos. Parecia um quarto de criança, dado o tamanho diminuto dos móveis e das duas beliches que se encontravam encostadas na parede.

- Jen... Onde nós estamos? Eu quero ir pra casa... - Jared abraçou o amigo mais uma vez.

- Calma, Jay. Eu estou aqui com você. Nós vamos fugir e ...

Jensen calou-se ao ver a porta se entreabrir. O rapaz então viu um serzinho de menos de um metro de altura, pele esverdeada e orelhas pontudas, se aproximar. O que aquele chupa-cabras marciano ia fazer com eles? Jared tinha razão. Eles estavam perdidos...

- Socorro! Sai daqui, seu E.T. dos infernos! - o rapaz berrou, se precipitando para o alto de uma das beliches.

Mas em vez do tal E.T. se afastar, outros se uniram a ele, e Jensen e Jared se viram cercados.

- Buáááááaá!

- Jensen... - Jared olhou alarmado para o amigo, antes tão corajoso, e que agora estava aos prantos. Aqueles eram monstros, mas eram pequenos... Era hora dele agir! - Calma... Nós somos os Winchesters, lembra?

Winchesters? Jared só podia estar brincando... Eles estavam mais pra Losechesters! Jensen não respondeu, e apenas continuou gritando.

Os seres esverdeados se entreolhavam, um tanto curiosos. Ficaram espantados quando Jared sacou uma espadinha de brinquedo e começou a atacá-los com destreza.

- Venham, suas pestes. Vou acabar com a raça de vocês...

As pequenas criaturas tinham perninhas tão finas que se desequilibravam facilmente, caindo assim que a espadinha os tocava. Eles guinchavam coisas estridentes, que os rapazes não podiam entender. Logo Jensen já havia se acalmado. Jared estava até sorrindo. Estava se sentindo o próprio Sam...

Só que os monstrinhos que caiam, acabavam se levantando.

- Me ajuda, Jen... Desce daí!

Jensen então lembrou-se do enorme rolo de durex que tinha no bolso.

Em pouco tempo todos os vilões estavam com as bocas e os pés amarrados com durex. Jensen e Jared se entreolharam orgulhosos. Ambos estufaram o peito e trotaram vitoriosos porta a fora. Eles tinham vencido aquela guerra, e passariam o Natal com suas famílias. Tinham muito o que contar sobre a sangrenta batalha contra um bando de marcianos verdes, horríveis, assassinos e perigosos.


Assim que se viram fora do aposento, os rapazes se surpreenderam com um corredor gigantesco.

- Nossa, que lugar enorme! - o mais velho suspirou. Pelo jeito teriam dificuldade em achar a saída. Mas tudo bem. Eventualmente estariam fora dali...

Depois de andar um pouco, se perdendo por vários quartos parecidos com o primeiro, Ackles e Padalecki chegaram a um enorme salão. Mas não era um salão de festas, ou nada do tipo. Parecia mais uma fábrica de brinquedos desabilitada.

- Olha, Jensen... - Jared pegou um caminhãozinho mal acabado. Faltavam duas rodas, mas era até bonitinho. - Que lugar mais estranho esse...

- Jay, larga isso aí. Vamos embora!

- Não, Jensen. Espera! Olha! - Jared agora tinha encontrado outra coisa peculiar. Tinha um passarinho solto naquele aposento! Um não... Um casal! O moreno reparou que um dos dois, que parecia ser a fêmea, voejava, desesperada, tentando chamar a atenção do outro. A pobrezinha parecia doida para acasalar, enquanto o macho a ignorava.

- Talvez eles possam nos mostrar a saída! - comemorou Jensen.

Ele e Jared então seguiram as aves que voaram dali direto para uma sala em anexo. Para espanto dos dois, lá se encontrava a maior e mais linda árvore de Natal que já tinham visto na vida. Ela era tão espetacular que tinha não só aqueles, mas outros passarinhos de verdade voejando e piando ao seu redor. As estrelas que a enfeitavam eram tão brilhantes que pareciam ter caído no céu. Era impossível não se encantar.

- Jen.. Jen... sen. - gaguejou Padalecki, com lágrimas no olhos. - Eu acho que sei onde nós estamos.

Ackles estremeceu. Ele já imaginava o que estava prestes a ouvir, só não conseguia acreditar.

- Nós estamos na casa do Papai Noel! - Jared completou, emocionado. - E... Acabamos de prender todos os seus elfos com durex! - o rapaz disse em seguida, horrorizado, lembrando-se dos E.T.s que ele e o amigo liquidaram minutos mais cedo. - Temos que voltar para soltá-los, Jen!

- Não, Jay! A gente tem que ir com calma... - disse o mais velho, tentando agir com cautela. Afinal, até onde ele sabia, não existia Papai Noel, elfo, ou rena de nariz vermelho... Mas, caso existisse, por que aquela gente tinha resolvido rapita-los?

Foi nessa hora que os dois rapazes ouviram passos, e, instintivamente, se esconderam por dentro da enorme árvore. Viram então um homem pequeno, provavelmente uma criança, vestido com um enorme casaco, luvas, gorro e cachecol, adentrar o aposento.

- Elorshin!? Symkalr!? Tem alguém em casa? Papai Noel?

Ao ouvirem o último nome chamado, os dois atores se entreolharam nervosos. O garoto passou direto por eles, sem perceber a presença dos dois, e em seguida bateu numa porta fechada, há poucos metros de onde estavam.

- Papai Noel!? Aqui é o Eros!

- Pode entrar, meu filho. - Jensen e Jared ouviram uma voz potente responder do outro lado da porta.

Eros obedeceu, entrou, e fechou a porta atrás de si.

- Temos que descobrir o que eles estão tramando! - Jared sussurrou para o amigo, que concordou mais por curiosidade que por convicção. Em poucos segundos os dois valentes rapazes estavam com os ouvidos colados à porta.