Retratação: Todos os personagens contidos neste fanfiction são de propriedade intelectual de John Ronald Reuel Tolkien (J.R.R Tolkien), criador de O Senhor dos Anéis, protegidos pelo Direito autoral sobre a obra. Respeitados inclusive os direitos de publicação do livro e New Line e Warner Bros, produtoras do filme, dirigido por Peter Jackson. A autora só pegou emprestado um pouquinho para fazer umas maldades.

Universo alternativo da história original, por isso não me culpem se um ou dois personagens tiverem o caráter 'meio' deformado. (dirigido o aviso aos fans de Eomér, que só aparece mais prá frente. Juro que a escolha dele foi por pura conveniência! ). Outra coisa: todos são humanos, então... nada de orelhinas pontudas, miras telescópicas etc.

Não sou fã de personagens do Tolkien fora do mundinho perfeito criado para eles, a menos que seja feito pela Mestra Sadie "Elrond" Sil, ou Shell. Já aviso que os personagens nada sabem sobre terra média alguma!

Essa fic foi escrita metade Cavaleiros do Zodíaco, metade Senhor dos Anéis (tipo pizza mussarela e calabreza), porque eu não sabia em qual assunto ia ficar melhor. Depois de ter uns papos com a Sadie, resolvi postar nos dois. Motivo para saberem que pode demorar para atualizar, já que os capítulos são idênticos em conteúdo, mas diferem nos personagens, e tenho que revisar para que não apareça nenhuma Saori por aqui, ou alguém de cabelos lilases.

Importante: Como já está escrita até o fim, não vai acontecer como com a outra, de ficar inacabada eternamente.

Hannah é personagem minha, criada em substituição ao nome da Saori, que é uma personagem que eu odeio, e eu não tenho coragem de colocar as poucas mulheres que Tolkien criou para um papel tão ... tão... ah, sei lá, ela é detestável.

Aos fans do Legolas... não sei bem o que dizer. Eu não gosto muito desse personagem, mas ele ocupa função importante nessa fic.

Casal Arwen / Aragorn. Não podia deixar de me voltar para algo que fosse original da obra.

Resumo: Arwen é uma garota que mora no Japão e termina o relacionamento com o namorado (Haldir), vindo passar um tempo na Europa com a prima Hannah. Lá ela conhece Aragorn...detesto escrever romances, e fazer sumários.

Notas: pedaço em itálico recordação

Pedaço em negrito: carta da Hannah para Arwen.

Agora... à história:

Primeiro ano de faculdade, muitas expectativas, novas amizades, festas e como sempre, situações amorosas difíceis de resolver.

Arwen estava vivendo nessa situação essa noite. A turma da faculdade estava fazendo uma festa de recepção dos 'bichos' num mini clube e ela estava lá, não porque gostasse de badalação ou quisesse conhecer alguém. Estava lá procurando um rapaz em especial.

Alguém que não aparecia, embora tivesse dito que estaria lá.

Conversava com Éowyn e Elanor, suas novas amigas para tentar disfarçar sua decepção. Olhava para os lados toda hora, queria circular pelo lugar, na esperança de que aquela pessoa estivesse perdida naquela multidão. Claro que, pelo menos Éowyn, já tinha notado isso. A mais alta delas não perdia um lance e sabia muito bem o que se passava na cabecinha inocente dela, mas respeitava seu espaço, abstendo-se de fazer seus comentários apimentados.

Atendeu o celular logo na primeira vez que o viu acender as luzes. Novamente cara de quem comeu e não gostou. Era Lindir. Um novo colega de turma, calouro também. Passou a semana toda perguntando para ela se Éowyn ia na tal festa.

Pobre rapaz... achar que tinha alguma chance com Éowyn, quando ele tinha um jeito de rapaz que procura não uma namorada, mas uma amiga e irmãzona! Logo com a Éowyn, que dizia que se quisesse um irmão tinha pedido aos pais anos antes.

Lindir havia dito que não ia na festa, e negado veementemente sua vontade, só dando uma de bobo na frente de Arwen que era próxima, muito próxima, diga-se de passagem, de seu 'interesse'. Moravam juntas na república.

Tanto não ia que acabou 'aparecendo' lá! E agora estava à procura delas. Éowyn pouco se importava, porque Arwen tinha omitido que o rapaz gostava dela. Um pouco de medo dele em se declarar também... ela tinha um gênio terrível. Ele chegou, se sentou e começou a tagarelar. Algo que a fez rir, mas que fez Éowyn e a outra garota logo se levantarem para dar uma volta.

Situação que se repetiu diversas vezes... era uma forma discreta de dizer "se manca que você é chato prá cacete!". Mas sem resultado. Uma hora da manhã... duas, duas e meia, e nada dele aparecer. Alguns outros amigos dele já tinham chegado, e Éowyn não deixava eles saírem da mesa, não queria deixar Lindir ser o único 'homem' com elas. Realmente ele era chato.

A pista começava a ficar mais animada e resolveram dançar. Muito dessa decisão foi tomada na tentativa de animar Arwen que parecia mais num enterro do que numa festa. Tinha a esperança de 'ficar' com ele naquela noite. Mas ele não veio.

Na pista ela achava graça no modo como Éowyn e Elanor tentavam se livrar de Lindir, que dançava como se estivesse chutando alguma coisa, enquanto dava pulinhos ridículos, e secava a testa com as costas das mãos. Suava por causa das 3 ou 4 latas de cerveja que tinha entornado! Pudera! As duas tentavam empurrá-lo para fora do círculo, ou entrar na frente dele dando-lhe as costas, mas ele sempre achava outra brecha, para vergonha das garotas.

O modo de dançar e a insistência lhe renderam o apelido de "esperminha".

Éowyn toda hora cutucava Arwen, referindo-se a um amigo do pessoal da faculdade que estava olhando para ela, dançando bem em frente, e ela olhou umas três vezes e não viu de quem se tratava... efeito de vinho, será?

Horas se passaram, muita gente foi embora e chegou a hora delas de despedirem também. Desceram uma pequena trilha onde, ao fim, havia uma outra pista de dança com música ao vivo e casais dançando, para se despedirem de Orophim, que era amigo de Haldir... o rapaz com quem Arwen queria ficar.

"Orophim... a festa tá muito boa, mas as meninas querem ir para casa... como eu sou a motorista hoje, tenho que obedecer." – dizia Éowyn enquanto se despedia dele com um beijo no rosto e um abraço, assim como Elanor, que havia sido a primeira e já tomado o rumo da subida, deixando as duas lá.

"Já, mas está cedo!" – comentou olhando parta o relógio.

"Não está, não. Tchau Orophim. A noite foi legal..." – disse Arwen num tom que não escondia um certo desapontamento. Tinha se produzido toda: calça cheia de brilhos, blusa solta, cabelo bem escovado e preso em algumas tranças ao longo das mechas soltas, negras como a noite, maquiagem natural, perfume... e nada!

"Puxa, é uma pena. Tinha um amigo meu que estava querendo "conversar" com você, mas..." – disse Orophim, fazendo sinal de aspas com os dedos indicador e médio ligeiramente flexionados, no sentido de: o cara tá a fim!

Mas Arwen, no auge de sua inocência respondeu: "Pois é... tem gente que disse que não vinha e veio, gente que vinha mas nem apareceu..." – referindo-se especificamente a Lindir "esperminha" e Haldir, seu amor platônico. Estranhou quando Éowyn começou a sinalizar um 'não' com os dedos indicadores das duas mãos, com os olhos arregalados, implorando para que ela encerrasse a frase sem dizer nomes. Se Haldir não estivesse a fim dela, ninguém ia saber desse mico, ao menos.

Arwen olhava a amiga sinalizar, achando que ela estava bêbada, embora não tivesse tomado mais do que um copo de vinho. Estava louca?

Despediu-se do rapaz com quem falava e que entendeu tanto quanto ela o gesto da outra, e começou a subir a trilha novamente.

"O que foi, Éowyn?" – perguntou querendo a explicação do significado daqueles gestos exagerados.

"Graças a Deus você ficou calada! Não era do Haldir que ele estava falando, tonta! Era do bobo de camisa verde alface que eu disse que te olhou a noite toda!" – dizia Éowyn, chorando de tanto rir ao ver Arwen perder a cor e o rumo da subida ao ouvir a revelação.

"Sério! Imagina se eu falo que era o Haldir que disse que vinha e não veio? Que mico!" – Arwen saía do branco cadavérico para um vermelho vivo, quase arroxeado que, agora, cobria sua face. Nunca agradeceu tanto por ficar de boca fechada na vida.

"O que você pensou? Eu tentei avisar..." – dizia Éowyn, recolocando-as de volta na trilha de saída, onde Elanor já ia longe.

"Pensei que você estava bêbada!" –respondeu rindo da sua própria ingenuidade.

Era uma manhã de sexta-feira em Tóquio... mais um dia sem ter em que prestar atenção. Como os professores tinham coragem de fazer uma semana de aula depois das provas de fim de semestre? Passou a aula toda em outro planeta, tentado focar a mente em outras coisas, mas sempre Lúthien surgia em seus pensamentos. Como era chato ouvir o seu namorado falando bem dela o tempo todo! Mas muito era culpa sua... nunca reclamava de nada.

Arwen bem que tentou prestar atenção mais foi quando a cena da festa lhe veio em mente e tomou os últimos minutos de aula. Foi despertada quando sentiu um chute bem dado na perna de sua cadeira, estremecendo a estrutura. Olhou assustada, pensando se tratar de um terremoto, e era quase isso. Foi a tempo de ver sua amiga Éowyn alisando o pé que tinha acertado o assento dela.

"Ai...Ai... até que enfim você me percebeu! A aula já acabou. Estamos de férias. F.É.R.I.A.S! Faz tempo que eu estou te chamando para dar a boa nova. Não vai prá casa?" – Éowyn parecia um brinquedo de pilha, quando começava...

Mas Arwen nada respondeu.

"Já sei! Um centavo pelo seu pensamento, embora em quem você pense valha menos do que isso." – disse a outra estalando os dedos.

"Como você sabe?" – era impressionante como Éowyn percebia as coisas. Ou era muito boa nisso, ou era ela que dava demais na cara?

"Só tem duas coisas que te põem em transe: Haldir e mousse de chocolate. Não era a segunda porque eu não vi baba." – comentou inspecionando o local, arrastando o dedo sobre a mesa dela, e olhando-o com cara de Sherlock Holmes. Para depois fazer uma cara de zumbi, revirando os olhos e pondo a língua para fora.

Arwen riu. Éowyn era mau humorada com os outros, mas dentro de seu círculo, muito restrito de amigas, era uma palhaça. Tinha gênio difícil, feminista demais.

"Estava pensando no Haldir mesmo." – admitiu. Seu namorado, ou era... – " Nele e na Lúthien. Hoje ele disse o quanto ela é simpática, e você sabe o que mais. Daí nós nos desentendemos, outra vez. Você já tinha vindo prá ca, na hora." – continuou, baixando o olhar.

'Graças a Deus eu não estava lá... senão, talvez o Haldir tivesse o focinho arrastado pela parede de cimento cru que eu tenho lá.'- pensou Éowyn, não deixando de se divertir ao imaginar o quão esfolado o outro ia ficar se caísse nas garras dela. Arwen era como sua irmã mais nova... mexer com ela era comprar briga feia. E Éowyn não entrava em nada para perder.

Sentou-se ao lado da amiga. Por mais geniosa que fosse e tivesse desprezo pelo amor escravo que Arwen vivia, não deixaria nunca de ajudá-la, a qualquer hora, em qualquer lugar.

"Eu... eu gosto tanto dele, Éowyn..." – respondia Arwen, com a cabeça baixa, deixando as lágrimas caírem sobre as mãos, cujos dedos entrelaçados estavam sobre as pernas.

"Eu sei. Só que você tem que entender que está se humilhando demais por causa dele. Qual é!... o cara combina de sair, não parece nem dá notícias e vem hoje de manhã todo doce! Você acata sem questionar, depois fica com raiva da sua atitude e vem chorar as pitangas. Pô! Tem vezes que eu acho que é bem feito! Não me entenda mal, só que a sua atitude dá todo esse espaço prá ele."

Éowyn era muito dura e insensível às vezes, mas não negava que ela tinha razão.

"Mas Éowyn... você já namorou sério. Sabe que namorar é ceder!" – retrucou Arwen, mesmo sabendo que ela exagerava no 'ceder'.

"Eu sei! Eu também já tive meu primeiro namorado, e não vou dizer prá não fazer as coisas que eu fiz, como muita gente faz. Cada um tem suas próprias experiências, o que posso fazer é dizer o que há, e você resolve se segue ou não. Olha só... meu namorado me ensinou muito sobre relacionamentos comparando com o futebol."

"...!" – O que ela queria dizer com aquilo?

"É... quem não faz gol, leva!" – disse Éowyn, de forma simples e direta.

"Não entendi o ensinamento Mestre Yoda." – Dizia Arwen um pouco mais animada, dando um sorriso que, embora triste, era genuíno.

"Observe, pequena padawan!" – respondeu Éowyn com a continuação da frase do filme favorito delas... mais pelo Ian MacCgregor do que pela história. – " Namoro é assim: Ele cede, você cede. Ele avança, você avança. Tem que medir um pouco de força para não ser dominada."

"De dominar você entende, né!" – cortou Arwen, rindo. A amiga tinha um gênio terrível, coitados dos namorados dela. Que fera!

"Por exemplo..." – continuou ela, limpando a garganta e elevando um pouco a voz.- " Eu gosto de ir ao Shopping..."

"Você detesta Shopping!" – cortou novamente em clara provocação.

"EU sei! É um exemplo tonta!" – Rosnou Éowyn com falsa irritação, arregalando os olhos e puxando os próprios cabelos, trincando os dentes em gestos exagerados.

"Tá... tá!" – Arwen levantava as mãos em sinal de rendição, vendo que Éowyn tinha chamado a atenção das pessoas no corredor.

"Como eu dizia... Gosto de ir lá, e ele não, mas ele gosta de futebol, e eu não. Então quando estivermos juntos um não faz o que o outro não gosta, e se fizer tem que ter recompensa... quase como treinar um cão. Ele vai e eu acompanho, eu vou e ele acompanha. Não dói em ninguém.

Mas..." – disse ela com o dedo em riste – " se ele diz que não gosta que eu vá no Shopping sozinha, mas vai sozinho ao futebol... aí, minha amiga,... a casa cai!" – disse Éowyn, tentando saber se conseguiu se fazer entender.

"Ai Éowyn... você falando é tão fácil." – Arwen sabia onde ela queria chegar, mas não tinha a coragem que a amiga tinha de fazer coisas que até Deus duvida.

"Sabe qual é o seu problema? É o seu primeiro namoro... realmente a gente não sabe como agir direito, mas com o tempo vai ficando mais calejada e é disso que os homens tem medo. Mulher muito esperta faz deles gato e sapato." – Éowyn dizia isso por experiência própria.

"O Haldir acha que você não é boa companhia..." – riu Arwen ao lembrar da cara dele quando dizia que a Éowyn era um capeta.

"Por isso mesmo! Quando você tenta por as garras de fora ele logo associa com as caraminholas que eu ponho na sua cabeça. Desculpe, mas ele não te acha capaz de fazer algumas coisas, por isso põe a culpa em mim... logo eu que sou uma santa!" – debochava ela, fazendo ares de boa moça e pondo as mãos em sinal de prece, depois de chacoalhar os cabelos da amiga.

"Eu estava pensando na primeira vez em que eu quis ficar com ele... naquela festa, se lembra?"

"E dá prá esquecer... todo mundo achando que eu era louca enquanto eu só queria evitar o desastre!" – respondeu Éowyn. – " Você o e Orophim acharam que eu tinha tomado todas!"

"Pudera, você estava com os olhos esbugalhados!" – riu Arwen. Aquela era uma cena pela qual ela daria tudo por uma máquina fotográfica.

"Eu ri tanto!"

"E eu!" – disse Arwen, mal contendo o riso.

Pararam de rir quando Haldir apareceu na porta, com cara de cão abandonado, a mesma de sempre que ele queria alguma coisa.

"Oi Haldir." – falou Éowyn, a fim de quebrar o silêncio estranho entre os presentes.

"Oi." – respondeu ele, seco. Sua antipatia por ela e a reciprocidade do sentimento eram públicos e notórios. Trocavam farpas afiadas, ofensas discretas e ele a chamava, em seu círculo de amizades, de sargentona. Não se bicavam mesmo. A paz vigilante e ácida entre eles se dava somente por causa de Arwen que quase sempre se via na situação de não saber as dores de quem tomar. Outros colegas entraram, mas sem fazer qualquer diferença para eles.

"Podemos conversar, Arwen? – mencionou quieto, amável. Não precisava ser grosso e iniciar a terceira guerra com a amiga cão de guarda naquele momento.

"Claro, sobre o que?" – Arwen respondeu, sem fazer qualquer menção a querer que a amiga saísse.

"Sobre ontem. Eu tive problemas com meu cachorro, e não pude te ligar. Desculpe. Eu..."

Haldir ia fazendo o relato sobre as incríveis aventuras de seu cão. Éowyn ouvia tudo, mal podendo impedir o queixo de cair. Que traste! Com certeza se preocupa mais com o 'cão' do que com a namorada aflita sem saber notícias dele. Éowyn se lembrava de Arwen ligando para um celular fora de área ou desligado, ficando angustiada, andando de um lado para o outro, imaginando mil desgraças e ele nem aí, porque teve que dar banho no animal que caiu numa poça de lama e estava com as vacinas atrasadas, às onze e pouco da noite!

"... e então eu tive que levar ele no veterinário." – concluiu ele.

"O mesmo onde você se consulta?" – Éowyn mal teve tempo de segurar a primeira sílaba do que ia dizer. Aquilo era uma afronta!

"Não estou falando com você!" – rosnou ele. Sabia que a desculpa era esfarrapada, mas Arwen nunca cobrou nada...

"Ainda bem... se estivesse estaria sem os dentes da frente!" – riu Éowyn. Sabia que suas manifestações de sarcasmo e pouco caso o deixavam louco.

"Minha namorada é problema meu!" – disse ele com autoridade, vinda não se sabe de onde, investida por não se sabe quem.

" E minha amiga é problema nosso. Quando ela fica de madrugada preocupada porque o traste com quem ela sai não dá notícia eu fico chateada. Quando ela chora por alguém que não vale nada eu fico muito chateada. Quando ela perde aula por causa do inútil eu fico com raiva, e quando o inútil diz que estava no veterinário às onze da noite para dar banho no cão e não ligou nem para avisar, aí eu fico uma fera. Porque tá na cara que é tudo mentira!" – disse ela calmamente esticando as pernas por sobre outra cadeira, recostando-se e cruzando os braços com ar de vitória e, estreitando os olhos, olhou de um para o outro.

Arwen estava de cabeça baixa, visivelmente triste pela desculpa esfarrapada que recebeu. Demonstração da mais pura falta de respeito e consideração. Quisera ter a coragem da amiga e dizer tudo o que a sufocava naquele momento. Apenas levantou-se, pegando sua bolsa e casaco, saindo da sala em seguida.

"Arwen... olha..." -Haldir tentou argumentar, mas Éowyn tinha envenenado prá valer dessa vez!

"Chega! Acho que você não gosta mais de mim. Por que não fala de uma vez? Não precisa se dar ao trabalho de inventar uma história tão idiota prá dizer que me quer fora da sua vida!" – gritava entre lágrimas, saindo porta afora sendo seguida por ele, que a alcançou no corredor.

"Não é verdade!" – disse ele.

"Olha Haldir, chega. As férias começam hoje e eu quero passar um tempo longe de você." – disse enquanto se afastava.

Caminhou algumas quadras, sentia o vento gelar o caminho deixado pelas lágrimas. Era uma tarde bonita, sol, poucas nuvens, clima agradável. Andava observando os casais felizes, andando de mãos dadas, pessoas rindo e sorrindo umas para as outras, e ela lá, se sentindo a criatura mais miserável de toda a Terra.

Chegou ao apartamento que dividia com Éowyn. Não era muito grande: a entrada dava direto na sala de estar, com dois sofás dispostos em "L", um deles de costas para a porta. Tá certo que aquele sofá era motivo de discórdia, ela era pelo feng shui: sofás de costas para a entrada das visitas não era sinal de uma pessoa muito amistosa. Éowyn era pela comodidade: se o sofá ficasse em baixo da janela a fiação do home theatre ia ficar no caminho, mas com o sofá onde estava, ele cabia alí perfeitamente, além de não pegar os reflexos da janela!

À direita de quem entra, seguindo a porta de entrada ficava a cozinha e no fundo dela uma pequena área de serviço, ambas estreitas. Entre a cozinha e a sala tinha um bom espaço que elas aproveitaram para colocar uma mesa de jantar para 4 pessoas, Éowyn insistiu para que a parede fosse coberta de espelhos... dava sensação de que o apartamento era maior.

Ao lado da mesa de jantar começava um estreito e pequeno corredor onde ficavam os dois quartos e o banheiro. Nada demais, poucos enfeites, muitos livros.

Pegou sua correspondência, deixando as da amiga sobre a mesa. Entrou no seu quarto... tão comportado: cama, estante, escrivaninha e guarda roupa com sapateira. Tudo nos cantos para deixar o centro livre. Cores claras e enfeites meigos. Não era o tipo de pessoa que dividiria uma casa com Éowyn, estranhamente eram amigas. Éowyn tinha em seu quarto caveira de gesso com um aspecto nojento. Por causa do betume passado nela parecia que tinha saído debaixo da terra, devidamente arrumada com uma bandana preta e óculos escuros, além de uma dragão esculpido em metal prateado gasto, com olhos vermelhos, a quem ela chamava de Ambrósio! Além de toda uma sorte de coisas estranhas.

Diferentes em tudo, roupas de uma eram claras, a outra só saía de luto. Pelo menos uma peça!

Recostou-se em sua cama. Em meio as contas e relatos do banco havia uma carta de sua prima Hannah, que morava na Inglaterra.

Oi Estrela!

Como vão as coisas na terra do sol nascente? Espero que tudo esteja bem com você. Como vai o namoro? – Arwen não deixou de sentir um certo desgosto, e o choro tomar conta de si quando leu a pergunta, mas sua prima não tinha como saber o que acontecia. Retomou a leitura. - Faz tempo que não nos falamos... você com a faculdade, eu com meu trabalho, mas quero que saiba que sinto saudades suas.

Aproveitando que as férias estão chegando... Por que você nunca veio me visitar aqui? Eu sei que você fala inglês muito bem, então isso não é desculpa. E mesmo que não falasse não seria, também.

Como estão seus pais? Faz tempo que não falo com os tios. Os meus estão viajando mais uma vez, e só meu namorado e a minha turma tem me feito companhia nesses dias. Gostaria que você estivesse aqui. Só e –mails e cartas não dão para nada, e quando a gente se fala por telefone não tem a mesma graça do que pessoalmente, certo!

Então, por que você não aproveita sua folga e vem me visitar?

Um beijo da prima que te adora!

Hannah Undómiel.

Do lado de fora Éowyn chegava, tropeçando no tapete mal colocado e praguejando:

"Merda de Tapete!" Olhou em volta, correspondência sobre a mesa. Arwen esteve lá. – "Arwen, você está aqui?"

"Estou." – respondeu saindo do quarto, os olhos vermelhos inchados, assim como o nariz.

"Tudo bem?" – Éowyn pareceu preocupada.

"É... mais ou menos."

"Carta?" – disse ela apontando para o papel que a amiga segurava, mudando o assunto antes que chegasse no nome que não queria ouvir tão cedo.

"É... da Hannah." – respondeu.

"Aquela sua prima que mora na Europa?"

"Essa mesma."

"E aí? Quais são as novidades?" –Éowyn sofria do mal da curiosidade, fosse sobre o que fosse.

"O de sempre. Me convidou para passar uns tempos lá."

"E porque você não vai? Teu passaporte tá em dia!"

"Não sei..."

"Não sabe o quê? Pensa Estrela! Estamos de férias! FÉRIAS! Um mês sem nada para fazer!" – disse, chamando-a pelo apelido carinhoso usado pela prima.

"Mas e o Haldir?"

"O que tem ele?" – Ia ter que ouvir esse nome outra vez. Sempre ele empatando o samba.

"Nada... a gente ia dar um tempo." – Respondeu Arwen, lembrando-se dos fatos, há pouco ocorridos.

"Mais um motivo! Vai prá longe e vê se sente saudade... se diverte um pouco, ou melhor, muito. Tudo o que a gente faz é estudar e trabalhar. Tem que viver também!" – Éowyn estava mais empolgada do que ela.

"Acho que você tem razão." – Arwen começava a se animar com a possibilidade de viajar.

"Eu também acho! Aproveita que é um lugar evoluído diferente daqui, vê uns gatos por lá!" – comentou Éowyn piscando um olho, com ar maroto.

"Vai ou não?"

"Vou, mas quando?" – Algo lhe dizia para ir, mas outra coisa muito maior dizia o contrário.

"Que tal... já? O que você tem a perder? Dias de tédio sem fim? Aturando a louca aqui?" – dizia apontando para si mesma.

"Éowyn... eu não sou tão impulsiva quanto você! Não sei fazer as coisas assim." – constatou Arwen.

"Sempre dá tempo de mudar. Uma vez na vida não mata!"

Arwen pensou nas palavras da amiga. Por que não? É certo que nunca fizera nada assim em toda a vida, mas era uma chance de começar uma nova etapa, como se fosse um rito de passagem. Viajar era sempre bom. Teve até um pouco de inveja da época em que Éowyn resolveu mochilar pelo país. Não ia ser tão radical, mas era como quebrar uma corrente que a mantinha presa. Sorriu para a amiga.

"Me ajuda com a mala?"

Éowyn nem respondeu. Pegou Arwen pela mão, entrando no quarto e fazendo a mala com tudo o que encontrava.

"Vai me fazer um favor." – disse Éowyn enquanto pegava uma peça de roupa no armário.

"Qual?"

"Vai usar esse vestido vermelho que eu te dei e tirar uma foto com ele... em alguma festa, sei lá!"

"Ai... não sei, não." – disse Hannah olhando para o vestido. Não teria coragem de usar algo assim.

"Pense como um desafio. Uma foto não vai doer." – disse Éowyn com suavidade.

Riam enquanto arrumavam a mala, e Arwen ligava para o Aeroporto reservando uma passagem no próximo vôo para Londres. Se viraram com uma pizza enquanto aguardavam a hora de sair, e se tivesse tido tempo Éowyn teria organizado uma festa.

No começo da madrugada Éowyn levou Arwen até o aeroporto. Estavam no saguão, à espera da chamada.

"Será que é a coisa certa?" – Arwen perguntou mais para si do que para a amiga.

"Claro que é! Pegou o endereço?" – disse Éowyn, encorajando a amiga.

"Peguei, mas ... Ir assim, sem mais nem menos, deixar tudo aqui..."

"Nossa! Você não vai prá guerra, sabia! Quando voltar daqui um mês, tudo vai estar no mesmo lugar!" – afirmou categoricamente.

"E o Haldir?" – De novo ele, sempre ele.

"Também... se quiser eu fico de olho." – ofereceu desanimada com a possibilidade.

"Não... ele sabe se cuidar" – Éowyn ouviu aquelas palavras com alívio.

"Ufa! Ainda bem. Escapei por pouco." – disse relaxando os ombros, e suspirando fundo.

"Babaca." – murmurou Arwen, dando um tapa no braço da amiga. Riam no momento em que foi feita a primeira chamada para o vôo.

"Bom... é agora." – disse Arwen, criando coragem de seguir em frente.

"É sim. Boa viagem amiga. Quando chegar me liga. Manda uma abraço prá sua prima, e vê uns gatinhos lá por mim, Ok. Se puder dá meu e-mail para algum inglês bonitão, tá!" – riu Éowyn, enquanto abraçava a amiga apertado.

Arwen andou pelo corredor que ligava a uma sala onde a amiga já não podia mais ir. Olhou para trás mais uma vez, sentindo as lágrimas aflorarem novamente, mas dessa vez por alguma felicidade estranha que a tomava. Era um novo começo em sua vida.

CONTINUA...

Sei lá. Me digam o que vocês acharam.

Beijos

Kika-sama.