GHOST
Autora: Jessy Potter
Ship: Draco/Harry - não se segue o definição de seus papeis na relação.
Sinopse: Pós-guerra - Quando os fantasmas se tornam maior que você... O que você faria? Enfrentaria-os? Fugiria? Enlouqueceria? Abraçaria-os? ou simplesmente se esqueceria? Obliviate é a solução ou se prostituir seria a melhor saída? Draco tenta encontrar essas respostas enquanto corre de um passado com olhos verdes.
Obs¹: Não leve em consideração os dezenove anos depois, tudo além disso é verídico aqui nessa fic.
Obs²: Todos os nomes aqui sitado que lhe arremate ao mundo de Harry Potter pertencem unica e exclusivamente a JK. Rowling. Essa fic não arremata qualquer lucro ela fora criada unicamente para diversão própria e para a de futuros leitores.
FIC SEM BETAGEM - por isso paciência diante de alguns erros, tentei corrigi-los o máximo que pude.
Capitulo 1.
-X-
Esse não é o fim
Esse não é o começo
Apenas uma voz como uma revolta
Balançando cada melhoria
Mas você ouve o tom
E o ritmo violento
Embora as palavras pareçam firmes
Tem algo vazio dentro delas
-X-
Os olhos que outrora eram preenchidos por um brilho de malicia e felicidade, hoje esquadrinhava o céu noturno com um quê de indiferença e até deboche. Os lábios rosados circulava sua fonte de tabaco e distração mental. A mente vagava limpa por memorias que nunca o pertenceria. No pulso trazia marcas de desespero e fragilidade.
Draco há muito tempo já nem sabia mais quem era e a quem pertencia. Iludia-se em pensar que sua mente perdia-se ao vento mesmo que seu corpo já perdera as contas a quantos pertencera.
Um suspiro cansado soltou de seus lábios liberando a fumaça, após traga-la com afinco. Um sorriso adornou seus lábios assim que duas batidas foram ouvidas em sua porta. A voz saiu cortada, talvez por culpa de ter se mantido por muito tempo calado.
_ Entre.
_ Draco meu precioso, está bem disposto hoje? – veio à pergunta dos lábios vermelhos, por conta da maquiagem carregada.
Poderia ri da pergunta que fora dita com tamanha inocência e carinho, afinal tinha mesmo essa escolha? Draco sabia que não a possuía, pois se recusasse hoje amanhã trabalharia dobrado, pois seus clientes voltariam e insistiriam, talvez aumentassem até o preço, somente para tê-lo por uma hora e Draco jamais poderia dizer 'não'.
Desenhou um sorriso falso, mas doce em suas feições e negou minimamente.
_ Só me dê duas horas para me aprontar. – pediu com cortesia.
Rose sorriu para ele com carinho e fechou a porta o deixando sozinho mais uma vez. Draco terminou de consumir seu cigarro e os dedos finos e pálidos começou a desabotoar a blusa que lhe cobria o corpo em uma lentidão quase doentia.
Posicionou-se na frente do espelho e ainda pode encontrar as marcas da noite que já havia se passado. Fazia seis anos que estava ali, preso. Não sabia como aconteceu, mas agora não passava de uma mercadoria. Um Malfoy, um Malfoy sendo considerado uma simples mercadoria sexual.
Sentia nojo do próprio corpo e como quase todas as noites correu para o banheiro debruçando-se por sobre o sanitário e jogando ali a comida que já não possuía mais no estomago. Sentia raiva por se sujeitar a algo tão indigno, algo que no passado torceria o rosto se visse alguém o fazendo.
Cansado de sentir pena de si mesmo, por pelo menos aquela noite, colocou-se de pé quando os espasmos deixou seu corpo e foi se lavar para a noite que estava acabando de começar. O banho foi rápido assim como a chegada do primeiro cliente.
-X-
Com os braços no alto
Como se estivéssemos nos segurando a algo
Que é invisível
Pois estamos vivendo à mercê
Da dor e do medo
Até morrermos
Esquecermos
Deixarmos tudo desaparecer
Esperando o fim chegar
Desejando que eu tivesse força para suportar
Não é isso que eu tinha planejado
Isto saiu do meu controle
-X-
Era um cliente antigo, de estatura forte e pele negra. Ele lhe sorriu gentil, como todos os outros e como todas às vezes antes de sequer ele falar algo, beijou-o. Estimulou-o. Deitou-o em sua cama e tirou-lhe a roupa. Sabia o que ele queria, sabia o que ele veio tirar do seu corpo. E com movimentos sensuais, masturbou-o com sua própria boca, os dentes arranhava a carne, mas era assim que ele gostava.
As mãos fortes jogou seu corpo no colchão invertendo assim as posições. Ele queria controle e por função do seu trabalho deu a ele o que buscava: controle. As mãos agora rudes vagavam pelo seu corpo sem nenhum respeito ou carinho. Tudo que acontecia entre aquelas quatros paredes, à noite, se resumia em um grande e luxurioso desespero.
Afinal Draco não passava de uma máquina para somente dar prazer.
O negro estava chegando ao seu limite de controle e como o esperado ele o penetrou sem nenhum cuidado ou consideração. Doeu, mas Draco não estava ali para receber prazer e como programado fingiu gemidos, fingiu que seu corpo o recebia com um prazer devassador.
Após pegar o que queria de seu corpo o negro sem nome, afinal nenhum deles possuía nome para Draco, colocou-se de pé e assim que se recompôs e após depositar uma quantia significativa em sua cabeceira, saiu.
Os outros quatros que ainda recebeu aquela noite, não foram diferentes. Usava seu corpo, pagava o pedágio pelo uso e saiam de seu quarto e de sua vida até as esposas não conseguirem mais satisfazê-los ou até eles próprios não as quiserem mais.
A luz do amanhecer tomou o quarto e o único som do aposento era o som que sua garganta cansada soltava, após mais uma tentativa desesperada de limpar algo que já estava impregnado em sua pele. Encheu a banheira e se enfiou nela com a agua quase queimando lhe a pele.
Os olhos cinza correram pelo corpo nu e frágil e lagrimas rolaram pela sua face que já às esperava como todas as manhãs. Todos podiam falar quantas vezes quisessem, que tudo isso era somente questão de tempo para passar ou para se acostumar. Afinal o ser humano não se acostuma com qualquer situação? Uma enorme mentira, pelo menos para Draco.
Uma mentira que somente os fracos se satisfaziam com ela. Draco era realista, sabia que não deveria ter esperança de nada e ele não tinha. Sabia que não deveria castigar seu corpo do modo que fazia, mas não podia evitar. Machucar o corpo era mais suportável que as dores que fluía de sua alma já destruída.
Draco sabia o que era ter tudo o que se podia ter. Draco sabia o que era ter poder sobre si mesmo e sobre os outros. Afinal ele um dia fora um Malfoy. Não foi?
_ Agora nem sei mais o que sou. – disse de forma cansada, limpando as lagrimas e pegando em seguida um cigarro na gaveta embaixo da pia. Acendeu-o e o tragou com gosto.
-X-
Sentando em um quarto vazio
Tentando esquecer o passado
Isso nunca foi feito para durar
Eu queria que não fosse assim
-X-
Sabia os efeitos que o tabaco causava nas pessoas. Afinal mesmo ainda sendo um bruxo, se é que ainda poderia se considerar um, era conhecedor de algumas peculiaridades trouxas. Afinal aquela casa não recebia somente bruxos, seu corpo não satisfazia apenas os desejos de bruxos.
Um roupão foi o que bastou para cobrir-lhe o corpo e as marcas que conseguiu aquela noite. Saiu do banheiro após quatro cigarros e caminhou para a sacada. Um passarinho repousou na mureta e piou em sua direção, arrancando de seus lábios um sorriso triste. Jamais pensou que invejaria um animal como aquele. Mas o que podia fazer, ele tinha algo que já não possuía mais: liberdade.
Seis anos. Seis anos vendendo seu corpo. Seis anos que desapareceu do planeta. Mais de meia década trancado naquele lugar maldito.
Lembrava com tristeza do bendito dia que seu pai foi condenado e que na mesma noite sua mãe viajou para Gramados - Rio grande do Sul, um estado do Brasil; sem nem ao menos avisa-lo. E naquela época nem havia completado dezoito anos. Um menino, arrogante e mimado. Mas apenas um menino esnobe, mas ingênuo demais para algumas coisas da vida.
Draco também se lembra das mil tentativas de seu pai de se libertar, todas inúteis. Na antevéspera do seu aniversário recebeu uma carta do Ministério avisando do possível suicídio de Lucius Malfoy. Uma enorme hipocrisia vinda do Ministério. E naquele dia lembrava com uma dor no peito a solidão e o abandono que sentiu. Pela primeira vez estava sozinho.
Sozinho, para pagar dívidas que nunca pediu e que nunca fora sua. E foi na véspera de seu aniversário que tudo piorou.
Lembrava-se do grande sentimento de felicidade que sentira, após receber uma carta de sua mãe pedindo para ir ter com ela. Mas nunca chegou a vê-la, naquela noite fora raptado em sua própria casa.
Se fechasse os olhos ainda podia sentir o terror que tomou seu corpo quando o primeiro homem rompeu seu corpo e sua alma de forma rude. O primeiro que o penetrou tão fundo e tão animalesco, que se viu em pouco tempo reduzido em um pequeno nada.
Naquela época ainda tinha esperança que alguém pudesse encontra-lo, resgata-lo. Ironia...
Afinal quem se importaria com um ex-comensal da morte? Ninguém.
Sorriu pensando quando permitiu que sua inocência sonhasse com Harry Potter vindo resgata-lo. Um tolo. Como um grande tolo se comportara naquela época. Harry Potter nunca apareceu e sua esperança foi roubada em um rompante, em que num belo dia acordou e no lugar dela só encontrou um vazio imenso. Vazio que viria a traga-lo de forma sôfrega e quase masoquista, pois aquela dor era mais segura que a dor que sentia ao rever cada rosto de prazer que via enquanto aqueles homens invadiam seu corpo no chão lamacento daquela cela maldita.
Já não possuía mais nada. NADA.
Draco tragou o oitavo cigarro só daquela manhã e deixou as imagens invadir sua mente do dia que veio parar naquela casa. A casa de Madame Rose. Uma jovem de feições angelicais e de atitudes fortes e quase brutais. Afinal muitos ali a temiam e a outra maioria a respeitava.
Quando conheceu Madame Rose não passava de um moribundo e como todas as casas como aquela, fazia você possuir dividas que não eram suas. Mas elas eram suficientes para te aprisionar ali para sempre. Porém Draco sabia que Madame Rose, jamais lhe cobrou nada, nunca o obrigou a nada. Porém quando se viu dependente da ajuda daquela mulher não podia mais se dar ao orgulho de recusar tal ajuda e fechar os olhos para todas as coisas que ela lhe fazia como dar-lhe o que comer, o que vestir e aonde dormir; coisas que já não possuía a mais de três anos.
Chegara ali naquela casa pedindo por ajuda como nunca precisou e Madame Rose o ajudou como ninguém outro fizera por ele. Não tinha coragem de voltar para casa. Seu corpo estava rompido, sua alma destruída e naquele momento só queria coexistir. E Madame Rose lhe estendeu a mão quando pedirá por sua ajuda e não era difícil imaginar o que veio a seguir, pois Draco já não suportava mais depender tanto de uma pessoa precisava retorna-lhe seus cuidados, porém Draco não sabia trabalhar, ele sabia fazer apenas uma coisa: abrir seu corpo.
E sua vida de prostituto se iniciou ai.
Seu passado antes de se ver cercado por aquela casa era ainda mais sombrio e animalesco, mas Draco simplesmente o instalara no fundo da mente e tentava a todo custo esquecê-lo.
-X-
O que restou
Quando o fogo acabou
Eu achei uma boa sensação
Mas o certo era errado
Tudo apanhado no meio da tempestade
E tentando entender
Qual era a sensação de seguir em frente
E eu realmente não sei
Quais tipos de coisas que eu disse
A minha boca continuava mexendo
E a minha mente morreu
Juntando os pedaços
Sem ter por onde começar
A parte mais difícil do final
É ter de recomeçar
-X-
Draco soltou a fumaça que prendia e olhou o jardim calmo lá embaixo.
Suas manhãs não eram difíceis ali. Era até as das mais mimadas. Mas quando a noite caía, Draco não se permitia perdoar pelo que veio a se tornar. Um meretriz. Um mundano. Um prostituto. Um garoto de programa.
Dois toques em sua porta o avisaram da chegada de Rose. Virou-se para recebê-la e sorriu ao avista-la. Seu andado era firme como uma pantera. Seus cabelos de um vermelho tingido caiam como cascatas caracoladas por sobre o colo robusto. O corpo magro e muito invejado, era coberto por apenas uma camisola de saia comprida, rosa bebê. Rose poderia ser confundida com facilidade com uma ninfa se não fosse sua personalidade horrível.
_ Bom dia meu precioso, vejo que não se permitiu dormir ainda. – disse ela com sua voz aveludada e um sorriso bondoso no rosto.
Draco tragou o ultimo pedaço do cigarro que tinha em mãos e o lançou longe pela sacada se aproximando dela. Soltando a fumaça que ainda segurava, sorriu perante o olhar repreensor dela.
_ Estava esperando-a para escovar meu cabelo como tanto gosta. – disse ele como um gato ronronando. Ela lhe sorriu, balançando a cabeça em uma descrença fingida.
_ Mas sabe que não gosto que fume tanto, Draco.
_ Eu vou parar.
Ela cortou o pouco espaço que os separava e os dedos quentes percorreram seu rosto com carinho e os olhos azuis o fitaram com um brilho de pena e cuidado.
_ Hoje vou tentar despistar alguns clientes, me parece tão cansado. – Um sorriso triste tomou os lábios carnudos de Rose, arrancando um aperto do seu coração.
_ Eu estou bem, só fiquei um pouco enjoado. – disse Draco com sinceridade, afinal não era de toda mentira. Ela só não precisava saber que isso acontecia com frequência. Pois mesmo desejando ter sua liberdade de volta, já não sabia se a queria possuir realmente. Pois se ele mesmo já não conseguia mais se sentir limpo, como podia esperar que os outros o tratassem com respeito fora daquelas paredes. Draco agora sempre seria um meretriz. Outros não podiam saber, mas ele sempre saberia e isso era o suficiente para fazê-lo pensar que talvez isso que agora possuía já era o bastante. Era tudo que poderia ser.
Rose beijou-lhe a face e o puxou pela mão até sua penteadeira. O fez sentar na cadeira e ela ocupou o mesmo banquinho de sempre. Draco passou-lhe a escova e em silencio Rose começou a escovar lhe o cabelo.
Draco não sabia quando decidiu deixar o cabelo crescer, mas agora já não se importava que ele lhe tomasse a costa inteira e um pouco além. Rose trabalhou em seus cabelos até ver Draco pescando de sono e com uma habilidade toda feminina, ela o trançou o amarrando no final com um elástico.
_ Durma com tranquilidade que em algumas horas pedirei a algumas das meninas trazerem-lhe seu almoço. – Sorriu agradecido e permitiu que ela trocasse seus forros de cama com um aceno de varinha. – Desça após almoçar, gostaria de ter sua companhia em uma caminhada. Precisa sair um pouco desse quarto, ou vai acabar enlouquecendo.
Voltou assentir. Afinal o que ele ganharia negando a ela algo como uma simples caminhada? Nada.
_ Tenha bons sonhos meu precioso. – Desejou ela já da porta.
Deitado em meio a novos lençóis Draco a respondeu com educação e sonolento.
_ Você também, Rose.
Sem mais, ela apagou a luz e retirou-se. Draco adormeceu.
oOo
Draco acordou aquela tarde com batidas em sua porta. Sentou-se na cama e pediu para que entrassem, era apenas uma das meninas. Sorriu para o rosto juvenil e fez sinal para ela se aproximar. Luna era uma das poucas que gostava de conversar de vez enquando ou sempre que podiam.
Seus cabelos loiros e pele branca como a sua e íris de um preto profundo, arrematava para Draco a imagem de uma velha amiga de escola. Uma que ficou sabendo, que fora a única que ainda o procurou depois de um tempo. Pansy. Parara talvez pelo cansaço, afinal até os jornais já o dava por morto. Por que seus amigos não fariam o mesmo?
Luna sentou-se em sua cama e colocou a bandeja recheada de guloseimas matinais a sua frente. Draco lhe sorriu agradecido e deu uma dentada em seu pão predileto, que era coberto com creme e coco.
_ Adoro vê-lo comer esse pão. – Ela comentou com sua voz infantil. Realmente Luna poderia ser confundida facilmente com Pansy. – Como foi sua noite? Precisa que eu te prepare um banho de sais?
Draco poderia até dizer que Luna, depois de Rose era a única que confiava ali. Luna com sua gentileza era a única que cuidava de seus ferimentos, quando algum cliente se excedia. No começo fora difícil permitir que pessoas além dele vissem seus ferimentos. Mas quando você vive nessa vida a primeira coisa que aprende é que as únicas pessoas nas quais você pode se apoiar, são aquelas que passam pelo mesmo sofrimento que os seus. E Luna foi a primeira que lhe estendeu a mão ignorando suas palavras ferinas e suas caretas de sarcasmo.
Uma fiel amiga.
_ Quatro, o negro e aquele castanho de cabelos compridos apareceu. – Foi sua única resposta e para Luna isso bastava para informar que sua noite fora horrível.
Sem nenhuma palavra ela se pôs de pé e caminhou para seu banheiro. Enquanto comia, ouviu a banheira se enchendo e após uns minutos ouviu o ar ser preenchidos pela música que Luna mais gostava de cantarolar. Sua música preferida, também.
Luna retornou ao quarto sorrindo e retirou a bandeja de sua cama, o ajudou a se levantar e como uma mãe o guiou até a banheira, colocando-o deitado e com uma bucha trabalhou com ela todo seu corpo. Com movimentos tão leves que fez Draco fechar os olhos e aspirar o cheiro de camomila que se desprendia da agua.
Acabou adormecendo e Draco tinha ciência que somente acordou, por que Luna o despertou.
_ Hora de sair dorminhoco. Madame Rose ainda te espera para uma caminhada. – disse ela rindo de minha careta de desgosto. – Draco, você sabe que não faz bem ficar trancado nesse quarto, estamos preocupadas com você. Deveria fazer amizade com os outros três rapazes. – aconselhou ela enquanto o ajudava a colocar o roupão.
_ Eu estou bem, Luna. Você e Rose que se preocupam a toa.
Luna ainda o ajudou a se vestir. E com ela pendurada em seu braço desceram para a sala de estar, onde encontraram Rose sentada no sofá bebendo vinho. Draco ainda viu pelo canto dos olhos, Luna revirar os olhos, perante a bebida que Rose bebia.
_ Madame, a senhorita sabe que não pode beber muito, já basta à bela quantidade que sorve todas as noites. – Repreendeu Luna indo até a ruiva tirando-lhe a bebida das mãos.
_ Luna, minha criança, tamanha preocupação com o tempo deixa a pele enrugada. – disse Rose rindo das próprias palavras. Quando seus olhos azuis caíram sobre Draco ela sorriu com um carinho que só atribuía a ele.
_ Meu precioso decidiu descer. Venha Draco, me leve para passear. – pediu ela com sua infantilidade tão bem conhecida.
Todos naquela casa eram novos demais. Draco com seus vinte três, Luna com vinte e um, e Madame Rose com apenas vinte seis, novas demais para fazer o que fazia. Mas às vezes a vida não te dar escolhas e no caso de Draco, às vezes ela te lança sem nem ao menos você ter consciência.
_ Luna, poderia cuidar de tudo por aqui?
_ Claro, Madame. Faça nosso menino sorrir. – Respondeu Luna piscando para Draco de forma coquete.
Draco revirou os olhos e Rose gargalhou.
_ Diga para Lucas ir encomendar mais bebidas com nosso fornecedor. –Avisou Rose parando no batente da porta.
_ Pode deixar, tomarei conta de tudo.
Rose se virou para Draco com carinho e pegando em sua mão o guiando para a rua movimentada de Paris.
-X-
Tudo que eu quero fazer
É trocar essa vida por algo novo
Tomando posse do que eu não tive
-X-
Como toda caminhada que Draco fazia com Rose que se resumia em ir até a travessa da Rue Jean-Baptiste Pigalle com a Rue Douai e entrar no Café Brisserie, um dos cafés mais conhecidos daquela redondeza de Paris. Eles sentavam na quarta mesa da vidraça e pediam um café normal e bem forte. Draco se colocava a olhar para fora e Rose falava coisas desnecessárias e corriqueiras.
Naquele período da tarde, Pigalle ainda era parcamente movimentada; mas assim que o meio da noite chegasse àqueles cafés e casas noturnas se lotariam de jovens solteiros, ou pessoas casadas em procura de diversão.
E como uma das poucas casas de cabarés daquela rua, a casa de Madame Rose; como era prontamente reconhecida, enxeria-se de clientes. Mas Draco naquele momento não tinha que se preocupar com isso, apenas tinha que olhar pela vidraça da Brisserie e observar as pessoas passando pela rua, sejam elas estando apressadas ou não.
Draco gostava de observar pessoas estranhas. Às vezes se imaginava como alguma delas, somente andando, passeando por aquela rua. Mas isso só o fazia no final de tudo se sentir ainda mais inferior, ainda mais infeliz. Aos olhos acinzentados a todos que avistavam eram mais livres do que ele. Mais felizes do que ele. E no final talvez sejam mesmo, mas Draco já não tinha animo e nem força para tentar mudar sua vida.
Foi arrancado de seus devaneios sem sentido pela voz sedosa de Rose.
_ Desculpe-me Rose, mas não ouvi o que disse. – Desculpou-se ele com as bochechas rosadas.
Rose suspirou e tomou suas mãos nas dela em um gesto de conforto, deixando assim as canecas de cafés fumegantes no meio de seus braços.
_ Draco nos últimos dois anos me vejo, preocupada com sua saúde. – Olhos azuis lhe olharam novamente com pena e foi Draco quem suspirou dessa vez.
_ Estou bem. – respondeu ele já um pouco impaciente por ter aquela conversa novamente. Pois puta que pariu, ele sabia que seu corpo estava perdendo peso. Ele sabia que seus olhos tinham olheiras profundas decorrentes das noites e dias em claros que passava com frequência. Tinha ciência que sua aparência não era uma das melhores, mas também sabia que não era uma das piores. Sabia que seu humor estava instável também, mas isso se devia ao fato da pressão que sofria nos últimos anos.
Será que todos não poderiam esquecê-lo por um minuto? Afinal, ainda não era o queridinho dos clientes? Então, para que tamanha demonstração de preocupação?
_ Às vezes me pergunto a quem você tenta enganar ao repetir isso. A quem faz a pergunta, da qual não acredita em uma só letra de sua afirmação, ou a você mesmo, com a desculpa para se sentir melhor. – As feições de Rose eram severas, quase ferinas, quando proferiu aquelas palavras.
Draco quis dizer que era uma grande idiotice o que ela lhe dizia, queria desmenti-la, mas se viu paralisado. Pois era verdade. Não estava nada bem. Mas o que Rose queria que ele fizesse? Sair da casa dela estava fora de cogitação, afinal para onde iria sem dinheiro? Claro que ele ganhava uma boa quantia com seus clientes, era uns dos poucos que recebia bem, lá dentro. Mesmo assim permanecia a pergunta: para onde iria? O que poderia fazer, além do que já fazia?
Não queria mais uma aventura, só queria coexistir. Simples assim.
_ Tem que parar de culpar a si mesmo e aos outros pelo que te aconteceu.
Em um movimento quase brusco puxou suas mãos para si, derrubando quase sua xicara de café no processo, e dispensou um olhar frio para a ruiva a sua frente.
_ Eu não culpo nem a mim e nem a ninguém pelo que me aconteceu e pelo que me acontece. Hoje o que vivo e o que deixo de viver é uma escolha minha. Mas mesmo assim não sou obrigado a gostar ou desgostar do que faço com minha vida. – disse em um sussurro congelante.
O silencio reinou mais um pouco e os olhos cinza voltaram a invejar as pessoas que passavam pela rua.
_ Sua dívida que você mesmo criou para si mesmo está perdoada, quando quiser ir embora se sinta à vontade, precioso. – Draco não a encarou, mas pode ver pelo canto dos olhos ela se pôr de pé e depositar uma nota da moeda francesa na mesa de madeira escura. – Não posso continuar vendo sua destruição e não fazer nada para mudar isso, Draco. Só Deus sabe o quanto te quero ao meu lado, mas ele também sabe que meu desejo nunca foi destruí-lo, mas apenas te dar um modo para ter uma vida melhor, quando fosse a hora certa.
_ Eu nunca te pedir uma chance para uma vida melhor, apenas te pedir abrigo e emprego. Simples assim. – a voz saiu profunda de sua garganta. Rose inclinou sobre a mesa e depositou um beijo em sua testa.
_ Mesmo assim sua dívida comigo está perdoada e paga há muito tempo. Fique, - disse ela segurando seus ombros. Impedindo assim que Draco se levantasse. – Fique e aproveite essa tarde linda.
E sem mais a ruiva deixou o Café sem nem ao menos olhar para trás. Pela vidraça Draco ainda a viu caminhar pela calçada em direção para a própria casa. E não querendo mais ficar parado colocou mais uma nota em cima da que Rose já havia deixado e se retirou do estabelecimento seguindo para o lado contrário que a ruiva tomara.
Pigalle era uma rua bem extensa, mas Draco não se importou de percorrê-la. Quando deu por si novamente estava dentro de uma locomoção que os Trouxas chamam de metro. A grande locomoção de metal o levou para um destino que desconhecia. Draco apenas se sentou em um dos vários bancos vazios e se pôs a olhar pela pequena janela, onde só se desenhava uma grande imensidão escura por conta da parca luminosidade que o túnel proporcionava.
Draco já havia ponderado sair da casa de Madame Rose e tentar uma vida diferente, um emprego menos sôfrego e mais humano. Mas sempre que esse pensamento e essa vontade vinham a sua mente acompanhada delas vinham também a imagem do seu passado. O passado que decorreu a partir da véspera do seu aniversário de dezoito anos até o dia que apareceu a porta da casa de Madame Rose pedindo abrigo e comida.
Aquele passado era o único que o fazia recuar de qualquer esperança. Aquele passado destruiu tudo que um dia possuiu. Hoje era apenas um material dispensável. Não podia ser diferente. Não queria ser diferente. Não conseguia ser diferente. E era isso que Rose não conseguia entender. Jamais conseguiria se salvar sozinho, quando ele mesmo sentia uma vontade doentia de tirar a própria vida.
Levou as mãos ao rosto e as afastou em seguida para encara-las e nota-las molhadas pelo seu choro calado e discreto. Um sofrimento silencioso.
Draco suspirou e seu único desejo era que o tempo passasse mais rápido.
-X-
Esse não é o fim
Esse não é o começo
É só uma voz como uma revolta
Balançando cada melhoria
Mas você ouve o tom
E o ritmo violento
Embora as palavras pareçam firmes
Algo se esvazia dentro delas
-X-
Quando apareceu na casa de Madame Rose essa já estava completamente lotada de jovens e senhores figurões. Todos ricos e bem vestidos, homens e até mulheres que podiam pagar aquilo que aqueles corpos que desfilavam com elegância pediam.
Draco viu Luna lhe sorri, sentada no sofá ao lado de um homem por volta dos trinta anos. Homem que tinha a mão na altura de sua virilha, acariciando a coxa de sua amiga em uma intenção obvia do que queria.
Draco também avistou Rose vir até ele, abandonando o piano. Os braços finos rodearam seu pescoço em um abraço carinhoso.
_ Desculpe-me se fui rude hoje à tarde. – pediu ela com sua voz sedosa.
_ Não se preocupe, mas se faz questão eu te desculpo. – Draco lhe sorriu com carinho. – Me dê umas duas horas e pode mandar o primeiro cliente.
Rose balançou a cabeça negando.
_ Hoje não, descanse.
Draco tirou o sorriso carinhoso colocando em suas feições um olhar frio.
_ Rose, você não pode.
Ela colocou os braços em riste com o próprio corpo e lhe olhou com suas íris azuis frias como gelo, medindo força.
_ Sim, eu posso. Eu posso enquanto você for meu empregado.
_ Então eu posso muito bem usar meu corpo em outro lugar.
Os dois ficaram se encarando de forma firme. Draco sabia que Rose ponderaria tudo naqueles minutos de silencio. Absolutamente tudo.
_ Certo Draco, vai ser como você deseja.
E sem mais Draco se afastou sem dispensar um olhar na direção de ninguém.
No quarto fez o de sempre fumou como uma caipora; vomitou o pouco que tinha comido durante o dia e por último tomou banho.
O primeiro cliente apareceu um pouco atrasado do horário que combinara com Rose, mas não se importou. O homem por volta dos quarenta lhe sorriu com galanteio e o tomou nos braços, beijando sua boca com volúpia e luxuria.
As mãos fortes retirou-lhe o roupão e em seguida guiou sua mão para a ereção que ele queria sua atenção. E Draco deu a atenção que aquele cliente buscava, chupou, mordeu, lambeu e se deixou penetrar.
A penetração era raivosa, era sem nenhuma consideração ou preparo e enquanto sentia seu corpo sendo rasgado em dois, só pensou em uma coisa: que pela manhã precisaria novamente do banho revigorante de Luna.
Aquela noite recebeu uma mulher, era raro, mas elas sempre que possível apareciam. Para Draco com mulheres era complicado, pois ali ele sabia que teria que atuar como ativo, atuar com toques carinhosos, beijos adocicados e tudo que as mulheres buscam, mas normalmente não tem em casa.
Aquela cliente era bastante conhecida para Draco. Já havia servido a em outras noites. Com um sorriso gentil se aproximou dela e beijou-lhe a boca com doçura e calma. Ela era jovem, um pouco mais velha que ele, seus cabelos castanhos caiam em cachos por toda a extensão das costas. Uma bela mulher.
Mas Draco não falava com seus clientes. Os recebia, dava o que eles buscavam e por fim eles iam embora. Sem eles conhecerem seu nome e sem Draco conhecer os deles. Não era para ter intimidade além da que oferecia. Intimidade além daquela de possuir seu corpo, significava sentimentos e Draco não oferecia isso e muito menos buscava por isso.
As mãos leves correram pelo seu corpo, os lábios carnudos beijaram seu tórax. Draco a parou no meio do movimento deitou-a em sua cama. Posicionou-se no meio das pernas torneadas e acariciou lhe os peitos volumosos; beijou-lhe no meio das pernas e enquanto sua língua trabalhava ouvia os gemidos luxuriosos preencher seus ouvidos e cada canto de seu quarto.
No minuto seguinte estava penetrando-a com todo cuidado e sensibilidade. Aquilo era uma forma diferente de ser rompido, de se sentir roubado. Pois ali seu corpo estava animado da forma necessária para poder dar o prazer que aquela cliente buscava e isso o irritava mais do que ser penetrado.
Com um sorriso gentil ela colocou as notas em sua cabeceira e após roubar-lhe mais um beijo saiu de seu quarto, pelo menos por aquela noite.
Aquela era sua terceira cliente da noite. E após se limpar estava agora esperando pelo quarto cliente, mas que após meia hora sabia que nunca viria. Bufou irritado, sugou a última gota de tabaco e colocando um robe preto de seda, saiu de seu quarto descendo as escadas e deixando seus ouvidos apreciar a música leve que Rose deveria estar tocando diante do piano.
Luna foi a primeira a vê-lo descer as escadas e com olhos arregalados veio ao seu encontro.
_ Draco, por que desceu? Você jamais desceu. – Ela o abordou, preocupada.
Draco sorriu-lhe com carinho.
_ Está tudo bem, me diz por que não subiu mais ninguém? – perguntou com a voz manhosa.
Luna pareceu corar e seus olhos pretos desviaram-se dos seus.
_ Rose... – E sem precisar ouvir mais nada Draco se direcionou para a pianista, mas Luna o segurou no meio do caminho. – Draco, nós só estamos preocupadas com você. Veja seu estado agora...
Draco liberou seu braço com brutalidade e desferiu para Luna um olhar congelante.
_ O corpo e a vida são meus e eu espero que parem de tentar controla-los por mim e contra minha vontade. - E sem mais a dizer ou ouvir caminhou até um cliente que lhe sorria do bar da casa.
Draco caminhou com elegância e sentou-se ao lado dele.
_ Me paga uma bebida? – perguntou com olhos brilhosos.
O homem de corpo forte e sorriso branco, assentiu, colocando a mão em sua perna afastando seu robe daquela área. Draco olhou para a mão leviana e para o dono desta e sem nenhum pudor levou a mão deste para mais perto de sua virilha. Seu corpo dobrou em direção ao moreno e com a voz rouca se ofereceu como uma mercadoria barata.
_ Quer conhecer meu quarto? Podemos beber lá em cima.
Draco nunca tinha falado com um cliente, eles simplesmente subiam. Aquela era sua primeira vez lá em baixo, pegando seu próprio cliente e isso o fazia sentir ainda mais nojo de si mesmo. Mas não estava na hora de se entregar para o desespero, tinha que fazer Rose pagar pelo seu atrevimento. E para isso só tinha uma maneira...
Com um sorriso pervertido segurou a mão do homem e o guiou escada a cima sobre o olhar de Luna e de uma Rose indignada, mas que não fizeram nada para impedi-lo. Draco aquela noite ainda desceu mais seis vezes, após aquela. Seu corpo estava destruído, sua alma já o havia abandonado há muito tempo aquela noite. E em movimentos sistemáticos Draco ainda atendeu mais clientes do que seu corpo suportava e no fim daquela noite se encontrava sangrando mais fundo do que seus olhos seriam capazes de ver.
E por um minuto em meio a sua birra e suas dores desejou que sua alma nunca voltasse e com sorte ela levaria também o ar de seus pulmões.
-X-
Com os braços no alto
Como se estivéssemos nos segurando a algo
Que é invisível
Pois estamos vivendo à mercê
Da dor e do medo
Até morrermos
Esquecermos
Deixarmos tudo desaparecer
-X-
oOo
Nota: Espero que todos que venham a ler tenha gostado desse capitulo, foi bastante difícil escrevê-lo na época sim época faz um tempinho já...kkkk Mas depois de muito enrolar em fim terminei essa fic com doze capítulos e esse é só o primeiro ;)
Me digam se gostaram, se choraram, se encantaram, se odiaram, se achou muito erro gramatical..kkkkkkk Me falem tudo o retorno de vocês é muito importante.
Diferente das outras fic em aberto no meu site aqui essa eu tenho completa então se querem a continuação me mimem muito...kkkkkkkkkkkk
Desculpem a demora, mas mesmo amando escrever eu ainda tenho meus momentos de Memory Stop - como gosto de chamar.
Ghost é uma fic chameguinho, em minha mente ela cresceu de forma exorbitante, porém para que não ficasse cansativo fechei com onze capítulos e um bônus.
Mimem-me e eu os mimarei com mais capítulos ^^
Obs: Draco nessa fic já quase nem tem nenhum rastro de sua personalidade se não gostam dele mais dependente, sofrido e coisa e tals estão lendo a fic errada, pois do inicio ao fim Draco será cada vez mais, mais destruído e chorara rios de lagrimas, fara coisas que a personalidade do Draco que estamos acostumados não faria, mas lembrem esse 'meu' Draco passou por muita coisa é impossível se manter intacto.
Obrigado pela atenção!
Bjos e abraços de urso
Jessy
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