Nota do Autor: Felipe, Luiz, Yuy, Chang, Franklin e mais algumas outras pessoas são personagens meus, e originalmente pertecem à história Beyblade 2 - Os antecessores. O resto dos personagens é de Takao Aoki, criador do mangá que deu origem à série de tv. Eu optei por usar os nomes originais dos personagens, assim Tyson virou Takao, Ray tornou-se Rei (diferenciado da palavra "rei" por uma questão de letras maiúsculas e minúsculas) e Tala será Yuriy, entre outras mudanças.

Bom, aproveitem a história!


EYES OF FREEDOM

CAPÍTULO I

- Então, Kyoujuu, quanto tempo precisa para concluir a nova pesquisa? – Perguntou Kai, sentado em sua cadeira na cabeceira da mesa de reuniões de seu palácio de governo. Seus ministros estavam em reunião sobre os rumos do país, tendo em vista as recentes e incômodas mudanças. Cerca de doze homens e mulheres, todos engravatados e com ar sério, ouviam silenciosos o que o seu comandante supremo dizia. O chamado Kyoujuu, ministro do Desenvolvimento Tecnológico, era o único em pé. Seus óculos redondos que escorregavam constantemente pelo nariz e o cabelo castanho empapado de suor eram marcas evidentes da tensão que o envolvia. Não era muito alto, e, por mais que tivesse acompanhado o General desde sua ascensão ao poder anos antes, ainda temia encarar seu olhar enérgico.

- Hum... talvez... talvez mais alguns meses... – Respondeu ele, tenso.

- Quantos meses? – Insistiu Kai, incisivo.

- Talvez... uns dois... dois meses, se não houver contratempos... – calculando o mais rápido que o seu cérebro de gênio superdotado permitia agindo sob pressão, Kyoujuu passou a encarar o tampo da mesa de marfim a sua frente, com medo do que seu superior pudesse dizer.

- Dois meses? Muito bem, você terá dois meses, se é isso que quer. – Determinou Kai, com um movimento impaciente de sua mão. – A reunião de hoje está encerrada. Eu gostaria que apenas Takao, Rei, Max e Kyoujuu permanecessem aqui. O resto de vocês está liberado.

Alguns dos homens e mulheres engravatados deixaram a sala. Kyoujuu voltou a sentar-se em sua cadeira, aliviado. A sua frente, um rapaz jovem, de longos cabelos azulados presos em um rabo de cavalo brincava com a gravata vermelha, sentado em uma posição não muito formal. Ao seu lado, outro homem, tão jovem quanto ele, corria os olhos sobre alguns papéis a sua frente enquanto passava uma das mãos pelos cabelos loiros rebeldes, provavelmente tentando controlá-los. Um terceiro homem, aproveitando-se da saída dos demais ministros, ergueu-se também, dirigindo-se à janela. Observava o movimento da rua do lado de fora com seu olhar felino, cruzando os braços frente ao peito enquanto apoiava as costas em uma viga próxima. Os três sabiam que formalidades não eram mais necessárias quando Kai liberava os outros ministros.

- Pois bem, Max, me diga tudo que realmente descobriu sobre esse novo grupo de resistência. – Ordenou Kai, o único a manter o semblante sério.

- Não há muita informação disponível ainda, Kai. – Respondeu o Ministro da Defesa, largando os papéis para encarar o General. – Nosso serviço de inteligência infelizmente não conseguiu muita coisa útil. Deixei o Primeiro Esquadrão encarregado de reunir mais dados, mas estou considerando seriamente a possibilidade de envolver mais Esquadrões nesse trabalho. Gostaria de saber o que vocês todos pensam.

- Olha, por mim, quanto mais melhor! – Exclamou Takao, sem tirar os olhos de sua gravata, que agora mantinha parcialmente enrolada em seus dedos. – Envolva todos os batalhões se for necessário, e logo todos os rebeldes estarão nas nossas mãos!

- Não acho que envolver todos os Esquadrões seja necessário. Seria colocar dinheiro e esforço fora. Os revoltosos devem ser ainda um grupo pequeno, caso contrário Yuriy teria conseguido reunir mais informações. – Contrapôs Rei, sem se importar em voltar-se para os companheiros. – O Primeiro Esquadrão nunca falha em investigações secretas, e acredito que seja apenas uma questão de tempo até que ele descubra alguma coisa. Fora que, desculpe a franqueza, Kai, mas depois de todos esses anos, já era hora das forças de oposição começarem a se organizar. Nenhum governante consegue ter cem por cento de aprovação de seu povo, não é?

- Acho que tem razão, Rei. – Foi a resposta do General. O Ministro da Fazenda finalmente saiu de sua posição na janela para voltar à mesa. – Max, se em uma semana Yuriy não trouxer resultados satisfatórios, mande o Segundo e o Quinto Esquadrão se juntarem a ele. Deixe que o próprio Yuriy informe a Ralf e Ozuma o conteúdo da missão, não precisa perder seu tempo com isso.

- Falando em Yuriy... – Começou Max, inclinando-se para a frente, debruçando-se sobre seus papéis. - ... Se não me engano é hoje que os novos oficiais assumem seus postos. De acordo com os exames de seleção, este ano conseguimos homens excepcionais. Um deles, inclusive, é uma de nossas antigas "pérolas"...

- Então... ele conseguiu mesmo? – Kyoujuu inclinou-se também, aproximando seu rosto do de Max. Parecia um tanto surpreso. – Me pergunto como ele conseguiu passar sem chamar a atenção dos outros candidatos.

- Ele está diferente agora. – O Ministro da Defesa respondeu. – Parece que deixou o cabelo crescer até cobrir os olhos. Um bom plano, considerando as marcas deixadas pelos seus experimentos...

- Eles até hoje me dão arrepios... e pensar que ele era apenas uma criança nessa época...

- Kyoujuu, Max, já chega. Não preciso que vocês dois fiquem discutindo experiências passadas em uma reunião como essa. Vocês conhecem muito bem as minhas razões para realizar esses experimentos e a importâncias estratégica dessa gente. – Kai cortou o diálogo entre os ministros, deixando claro que estava dando essa discussão como encerrada. Takao, porém, não pareceu entender o recado implícito:

- Dessa gente e de várias outras que você mantém presas naquele laboratório, né?

- Takao, já chega. – Alertou o general, com a voz mais grave do que costumava usar quando à sós com seus homens de confiança. Antes que o Ministro da Educação e Cultura pudesse responder, a campainha tocou e Yuriy, o líder do Primeiro Esquadrão, entrou na sala, vestindo seu habitual uniforme negro com o distintivo de ouro preso ao braço esquerdo com o número "1" em alto relevo. Tinha cabelos ruivos armados e olhos azuis quase tão ferozes quanto os de Kai.

- General Hiwatari, desculpe interromper a sua reunião, mas como já deve saber, hoje os novos oficiais assumiram seus postos. Deve ser de seu conhecimento que Koichi Yuy, um dos antigos experimentos de Kyoujuu, conseguiu passar nos testes. Ele vai integrar o meu Esquadrão e gostaria de saber se existe alguma recomendação especial quanto ao modo de tratá-lo.

- Veio em boa hora, Yuriy, estávamos falando desse assunto agora mesmo. Recomendações quanto ao tratamento de Koichi Yuy? Ele já deve estar acostumado com as nossas regras, não há necessidade de tratá-lo diferente dos outros oficiais, apenas certifique-se de que ninguém mais veja seus olhos, não podemos deixar uma coisa como essa vazar. – Respondeu Kai, sério.

- Entendido, senhor.

- Ah, e coloque-o no grupo que vai pesquisar esses grupos de resistência que andam surgindo por aí. Acho que uma missão dessas logo no início de sua carreira seria interessante.

- Sim, senhor. – Era tudo que Yuriy podia dizer, ajoelhado perante o general, sem ousar encará-lo. Apesar de ser um dos homens mais importantes do governo, em sua posição de líder de um dos Esquadrões da PPN – Polícia Política Nacional, só lhe era permitido olhar nos olhos do governante supremo em reuniões por ele convocadas, ficando proibido esse tipo de contado em outras situações.

- Pode se retirar.

- Sim, senhor.

Yuriy saiu e fechou a porta atrás de si. Rei, que observara tudo em silêncio, foi o primeiro a fazer um comentário:

- Não sei se é uma boa idéia colocar alguém como Yuy nisso, Kai... ainda mais depois de tudo que ele deve ter passado...

- Justamente por isso é que eu tomei a minha decisão, Rei. Se ele cumprir essa missão com êxito, terei certeza de qual lado ele realmente está. Se estiver mesmo disposto a nos ajudar, é um candidato a se tornar vice-líder do Esquadrão.

- Mas, Kai...

- E se ele for um traidor, como é mais provável, sua punição será mais severa do que a soma de todos os anos que passou no laboratório de Kyoujuu. É bom ele não bancar o espertinho comigo, ou vai ter problemas.


- E então, ansioso para o primeiro dia de aula? – Distraído, Felipe demorou a localizar a voz que falava com ele na mesa do bar. Estava no campus da universidade, aguardando o início da primeira aula do dia, Introdução a Sociologia. Por cauda da ansiedade, saíra muito mais cedo do que o necessário de casa, e já fazia mais de uma hora que estava aguardando naquela mesma mesa, esvaziando latinhas e mais latinhas de suco de laranja. Lamentava ter apenas dezesseis anos e não poder tomar cerveja. A voz que o chamara pertencia a um garoto loiro de olhos verdes com o rosto salpicado de sardas. Tinha um sotaque estranho, feito estrangeiro. Devia mesmo ser estrangeiro, porque as pessoas daquele país normalmente evitavam conversar com estranhos, mesmo em uma universidade. Em tempos de opressão, qualquer pessoa poderia ser um espião do governo disfarçado, pronto para denunciar um desertor.

- Hum... é... – Esquecendo-se da lição de sobrevivência mais básica ensinada por seus pais, Felipe respondeu ao estranho, que se aproximou e sentou-se na cadeira a sua frente.

- É meu primeiro dia aqui também. Me chamo Luiz Schester e vim do Reino da Baviera, no norte, para fazer um ano de intercâmbio. Meu pai é o rei, e ele quer que eu aprenda mais sobre as culturas mundiais, por isso me mandou pra cá.

- Nossa! – Exclamou Felipe, impressionado. Nunca estivera frente a frente com alguém mais importante do que o síndico de seu prédio. – Um príncipe aqui nesse fim-de-mundo? Que honra! – E fez uma reverência desajeitada.

- Ora, não precisa de toda essa formalidade! Eu nem sequer sou o príncipe herdeiro! Quer dizer, eu tenho um irmão mais velho, o que me deixa como segundo na linha de sucessão. Não sou tão importante assim. Na verdade, eu não me importo. Meu pai exige tanto do meu irmão que eu fico feliz em ser o caçula...

- Ah... interessante... – Felipe estava impressionado, para dizer o mínimo. Ele sabia que o mundo da faculdade era um mundo fora dos padrões e da imaginação, mas não esperava que fosse ser tão surpreendente assim, e isso que as aulas nem tinham começado para valer. – Eu sou Felipe da Silva, e nasci aqui mesmo, nessa cidade sem graça nesse país que... bem... – o garoto olhou para os dois lados à procura de algum policial ou pessoa suspeita antes de continuar. Como o bar estava relativamente barulhento e não havia ninguém olhando diretamente para ele, terminou a sentença aos sussurros, inclinando-se para se aproximar do príncipe. – nos obriga a dizer que tudo vai muito bem, obrigado, se é que me entende...

- Entendendo a deixa do novo amigo, Luiz também respondeu aos sussurros, e a conversa seguiu dessa maneira:

- Uma... ditadura?

- Exatamente. Faz uns vinte anos que o General Kai Hiwatari subiu ao poder em um golpe de estado e desde então nossas liberdades individuais têm desaparecido uma a uma. Recentemente a repressão vem aumentando, e eu ouvi dizer que é por causa de grupos revoltosos surgidos principalmente em faculdades como a de Sociologia, História, Arquitetura e Engenharia.

- Foi por isso que você entrou na faculdade de Sociologia? – Perguntou o príncipe, sorrindo.

- Foi. – A resposta de Felipe foi acompanhada por um sorriso ainda maior. Luiz aproveitou o momento para observar melhor seu novo amigo, as diferenças físicas entre eles que deixavam claro suas diferentes origens: Felipe tinha cabelo castanho, coisa rara em seu reino, que se mantinha em um topete caprichado à base de gel para cabelo. Seus olhos eram da mesma cor, coisa que ele nunca vira nas proximidades do castelo de seu pai. E ele parecia mais alto e forte, apesar de provavelmente ser mais novo. Havia semelhanças entre eles, no entanto, e não somente com relação ao fato de serem novatos naquele campus. Havia ao redor de ambos uma atmosfera inquieta, energética, pronta para explodir, como se os garotos tivessem feras adormecidas dentro deles, esperando um sinal para despertar e mostrar sua força. Eram ambos lutadores natos, prontos para se sacrificar por uma causa.

- Quantos anos você tem? – Perguntou o loiro, atento para sinais de imaturidade como a voz um tanto rouca de quem ainda não sabe se fala grosso como homem ou fino como um menino e uns poucos fios de barba nascendo no queijo desordenadamente.

- Acabei de fazer dezesseis. – Felipe desviou o olhar, corando um pouco. – Meus professores do colégio meio que queriam se livrar de mim porque eu causava muitos problemas e por isso me mandaram para cá dois anos antes do normal, não sei como. Aposto que sou o bebê da Universidade.

- Deve ser mesmo. Eu tenho dezessete. Quando fiquei sabendo que as pessoas daqui só iam para a universidade aos dezoito, achei que eu fosse o bebê. Estou aliviado. – Ao contrário do colega, Luiz não tinha mais a voz irregular dos púberes, e odiava ter que se barbear todas as manhãs. No Reino da Baviera, sobretudo na família real, os homens eram conhecidos por serem excepcionalmente peludos. No caso do príncipe mais novo, ele ainda precisava cortar seu cabelo uma vez por mês se o quisesse manter curto e longe dos olhos.

- Espero que possamos nos entender bem daqui pra frente, Príncipe Luiz da Baviera! – Exclamou Felipe, oferecendo sua mão para que o outro a apertasse.

- Eu também espero, Bebê Felipe da Universidade! – Respondeu Luiz, apertando a mão do colega. – E agora vamos andando, ou vamos nos atrasar para a nossa primeira aula!

Dizendo isso, os dois apostaram corrida até sua sala de aula, pois estavam mesmo atrasados.


Fim do capítulo 1...

Mais pra frente a relação entre Kai, Yuy, Yuriy e Felipe será esclarecida. Pode-se dizer que essa fic é uma espécie de crossover entre a série original de Beyblade e a (mini?) série criada por mim, disponível aqui no ff. net para aqueles curiosos para saber quem são essas pessoas estranhas realmente.

Essa história foi primeiro pensada como fic de um capítulo para comemorar o aniversário de um dos personagens de Beyblade 2, Chang Xuan, a aparecer mais para frente. Quem quiser saber como é esse capítulo, é só procurar a fic BEyblade 2 - Série Aniversários e procurar por Eyes of Freedom.

Por enquanto, Kai é o personagem principal da trama, porém mais para frente será introduzido um outro personagem que provavelmente vai roubar seu posto, já que ele dá o nome para a fic.

O que acharam da história? Horrível? Péssima? Tragável? INteressante? Criativa?

Só tem um jeito de eu saber, e assim melhorar esse começo de idéia. Aposto que todos já imaginam o que seja, - REVIEW, para os desligados! - não é pedir muito, é? É só apertar aquele botão roxo ali em baixo e deixar uma mensagem curta que seja! Vamos lá!

E lembrem-se, muitos reviews significam muitas atualizações, ao passo que poucos reviews significam quase nenhum entusiasmo para continuar escrevendo isso...

Ja ne,

James Hiwatari