Disclaimer: Reborn não me pertence (o que é obvio, já que o manga terminou sem D18 se tornar um casal canon)
N/A: Comecei essa fic há uns três anos e só agora consegui terminar, yay! *senta num canto e chora de alivio*
As tatuagens do Dino sempre me deixaram meio curiosa, porque veja bem, elas saem do braço dele e chegam até o pescoço, mas quem garante que elas não vão mais para baixo também? asfhjkl Então, como foi impossível tirar isso da cabeça, a ideia para essa história surgiu hihi
Boa leitura!
Encontrava-se no telhado de sua amada escola de Namimori quando vira aquelas tatuagens pela primeira vez.
Deitado, com os braços servindo como apoio para sua cabeça, e imerso no silêncio, Hibari descansava durante o intervalo entre uma aula e outra – embora o fato de que ele não precisava frequentar as aulas, dado a sua posição como membro do comitê disciplinar e figura influente, fosse do conhecimento de todos.
O clima agradável, com o sol brilhando fracamente e o vento balançando seus cabelos e as folhas das árvores que circundavam o colégio, acompanhado pelo canto suave de seu pequeno pássaro amarelo contribuíam para que ele, caso fosse de seu desejo, continuasse durante horas neste estado de tranquilidade.
Mas então, sem aviso prévio, aquele homem invadiu seu espaço, perturbando a paz e declarando firmemente que iria treiná-lo de forma a ajudar seu mais novo irmãozinho, Sawada Tsunayoshi, a fortalecer a família Vongola.
Que ousadia, um herbívoro – que nem japonês era – dizendo algo como aquilo! Hibari nem mais se lembrava de quantas vezes havia ameaçado e atacado os alunos inferiores e covardes daquela escola, e não apenas eles, mas qualquer um que se atrevesse a causar alguma confusão na cidade de Namimori. Todos, sem exceções, eram imediatamente punidos pelo seu par de tonfas. Era óbvio que ele não precisava de nenhum tipo de treinamento especial, sua força já era grande e temida o suficiente. Além disso, o homem também se dizia irmão de Tsuna. Há! Deveria ser tão ou mais inútil do que ele, totalmente incapaz de ensiná-lo qualquer coisa.
Hibari sentia vontade de rir, aquilo só podia ser uma piada. Uma piada de muito mau gosto e contada por alguém que merecia ser tratado à altura daquele atrevimento, com o líder do comitê disciplinar mordendo-o até a morte.
Infelizmente, para o desgosto do adolescente, o indesejado visitante ainda tinha uma carta escondida na manga: Reborn.
Fora apenas com a menção do nome do bebê – o único digno de receber seu reconhecimento – que Hibari, ainda meio relutante, baixou suas tonfas e exclamou um "wao" parcialmente interessado.
Com sua atenção voltada para o italiano (o sotaque carregado o entregara facilmente – mas não que houvesse alguma tentativa para tentar disfarça-lo, em primeiro lugar), e ainda sustentando um ar de desconfiança e descontentamento, Hibari observou os fios loiros balançarem em volta do rosto sorridente logo após ele ter permitido que o homem explicasse a situação.
Foi ali que Hibari percebera quão estranha a pessoa à sua frente era. Ninguém, em sã consciência, demonstraria tamanha alegria depois de quase se tornar alvo de um ataque inesperado.
Dino – como o estrangeiro havia se apresentado após finalmente parar de sorrir em apreço à atitude determinada de Hibari – era um herbívoro diferente daqueles que ele costumava encontrar, portanto, como uma medida natural e mais do que óbvia, era preciso analisa-lo mais atentamente.
Passou os olhos de cima a baixo pelo corpo de Dino, checando suas roupas – calça cargo, camisa branca e tênis; nada fora do comum – e postura – descontraída demais, na opinião do estudante –, até se deter em um dos braços. Tatuagens. Tatuagens coloridas e extremamente chamativas, além de terem um tamanho exagerado. Eram uma afronta direta à ordem e disciplina.
Saindo da mão esquerda, traços e símbolos representando a família Cavallone, da qual o homem era o chefe – por mais absurdo que isso soasse aos ouvidos de Hibari –, percorriam todo o antebraço até serem encobertos pela manga da camisa. Franziu o cenho. Era impossível não reparar naquilo, as tatuagens praticamente gritavam para que fossem notadas e admiradas.
Felizmente, para a sorte de Dino, o ímpeto que Hibari sentia de mordê-lo até morte fora esquecido quando o garoto se deu conta de que seu interesse por tais tatuagens crescia na medida em que seu olhar se fixava mais e mais sobre elas. Não era possível saber onde terminavam, já que peças de roupa encontravam-se no caminho, mas o líder do comitê disciplinar sentia que precisava obter essa informação. Em sua mente essa era uma curiosidade aceitável – um pouco estranha, mas ainda assim aceitável –, afinal, ele queria apenas descobrir qual o nível de desrespeito de Dino pelas regras da escola; logo, quanto mais tatuagens cobrissem seu corpo, maior seria a punição que ele sofreria pelo par de tonfas de Hibari.
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Durante este primeiro encontro, Hibari permaneceu perdido em pensamentos a maior parte do tempo, fazendo um mapa mental de seu futuro oponente e das melhores formas para derrota-lo. Consequentemente, acabou ignorando quase tudo o que o Cavallone falava sobre sua vida conturbada de chefe da máfia na Itália, apesar de ainda lhe ter dirigido alguns olhares de esguelha quando o nome de Reborn viera à tona e também para se certificar de que nenhum ataque surpresa estava vindo.
Dino deveria pensar que ele era fraco, disperso ou, quem sabe, covarde. Não havia como saber qual das opções era a verdadeira. Ou, do jeito que a mente do homem parecia estar sempre nas nuvens, alheia aos pequenos detalhes à sua volta, talvez nada disso nem mesmo passasse pela sua cabeça. Os dentes de Hibari rangeram com a realização e ele respirou fundo tentando não se deixar levar por algo tão incerto e ridículo. A opinião de Dino não fazia a menor diferença para ele naquele momento, pois outras oportunidades para mostrá-lo sua força com certeza chegariam (não que ele quisesse continuar com aqueles treinamentos ou qualquer coisa do tipo, seu único desejo era mostrar quem é que ditava as ordens naquela escola).
A segunda vez em que se viram fora completamente diferente da primeira. Após muita insistência e desenvoltura do loiro em contornar as chantagens de Hibari (o garoto possuia uma impressionante fixação por batalhas e sua tentativa de negociar uma tarde inteira de lutas em troca de, no dia seguinte, ouvir informações sobre a família Vongola não fazia praticamente nenhum sentido para Dino) o treinamento finalmente teve início no telhado da escola de Namimori – local que num acordo silencioso fora escolhido como ponto de encontro entre eles.
Hibari prestava atenção ao que Dino dizia e comportava-se de maneira menos rude, embora não fizesse nenhum esforço para esconder que continuava a considerar seu tutor um "herbívoro". Por mais que tentasse, ainda era cedo para que Dino compreendesse qual o motivo do uso de tal adjetivo, assim, a única explicação encontrada por ele para a escolha dessa palavra específica era de que, aparentemente, seu aluno era mais peculiar do que havia imaginado a princípio. Outra opção considerada era o fato de que ele e outros alunos da escola (além de basicamente todos os moradores daquela cidade, e do mundo) estavam sempre na presença de duas ou mais pessoas, exatamente como um grupo de herbívoros.
Após as explicações iniciais – Hibari não era muito paciente, portanto, enchê-lo com informações sobre a situação atual da máfia estava fora de questão e, de qualquer forma, Dino também não se sentia confortável o suficiente para tentar convencê-lo do contrário – a prática continuou como havia sido exigido pelo jovem japonês: sem conversas desnecessárias, sem explanações inúteis a respeito de um mundo que não o interessava e sem palavras ridículas de incentivo, apenas puro combate corpo-a-corpo, intenso e ininterrupto durante toda a tarde.
A cada minuto de luta Hibari avançava mais, sondando a capacidade de defesa do loiro e se aproveitando de cada abertura que surgia. Suas mãos, equipadas com o par de tonfas, passavam a milímetros do corpo de Dino, que por sorte, ou pura habilidade, sempre conseguia se esquivar no último instante. Até que, em determinado ponto, num ataque surpreendentemente rápido desferido pelo Cavallone, Hibari, quase que somente por instinto, desviou do chicote que vinha em sua direção e, aproveitando a oportunidade criada enquanto a arma terminava seu curso, brandindo em um estalo alto ao seu lado, ele correu em direção a Dino. E, girando o corpo, ele atingiu o homem na lateral do corpo.
O golpe não foi forte o suficiente para tirar sangue ou mesmo causar um arranhão, entretanto, permitiu que, durante um ínfimo espaço de tempo, a pele por baixo da camisa branca fosse exposta.
Linhas pretas entrelaçadas com desenhos em tons de azul e verde, imitando chamas, marcavam a região da barriga, cobrindo os músculos bem delineados e descendo em direção ao cós da calça.
Hibari engoliu em seco e, quando voltou a si, estava no chão.
Dino havia se aproveitado de seu descuido momentâneo para lhe derrubar, e o melhor era que ele, provavelmente, de acordo com a linha de pensamento seguida por Hibari, deveria achar que a causa desse relapso era a extrema confiança do estudante japonês em suas próprias habilidades.
Mas, ao contrário do que Hibari imaginava, Dino, mesmo sendo extremamente desastrado, era de fato um bom observador. Possuir e saber usar tal capacidade eram imprescindíveis em uma luta, especialmente ao se tratar de integrantes da máfia. Num confronto cara-a-cara, mesmo que a posição do corpo de seu oponente não denunciasse qual seria o próximo movimento a ser executado por ele, seu olhar ou o tique de um dedo o entregariam mais cedo ou mais tarde, e todo o plano para uma emboscada seria descoberto em menos de um minuto. Desta forma, perceber os olhos de Hibari focados em seu abdômen e os dedos segurando o par de tonfas com mais força não fora uma tarefa muito difícil.
Após oferecer-se para ajudar o japônes a se levantar, o que resultou em um olhar severo acompanhado por um tapa em sua mão, Dino suspirou, coçando a parte de trás de sua cabeça, e finalmente deu o treino como finalizado. Acenando e exibindo um sutil sorriso de despedida, ele caminhou em direção às escadas e saiu.
Hibari, ainda sem se colocar de pé, observou com desdém o outro se afastar. Com uma expressão irritada e um tsc ele procurou por uma posição confortável e deitou com as costas no chão, usando os braços como apoio para sua cabeça.
Nos minutos seguintes ele manteve o olhar fixo no céu, fitando as nuvens com atenção desnecessária, e desviando-o apenas quando Hibird chegara cantando, sobrevoando-o e parando próximo ao seu ombro direito. Virando a cabeça para encarar o pequeno animal, ele acariciou o pássaro amarelo com uma das mãos, recebendo um chilrear fino e agradável em resposta.
Voltou a olhar para cima. Os raios do sol poente davam lugar à escuridão da noite e algumas poucas estrelas começavam a brilhar aqui e ali. Adormeceu pensando em como aquele italiano despreocupado, em tão pouco tempo, havia conseguido desestabiliza-lo.
Nos encontros seguintes, que ocorreram conforme uma rígida rotina (Dino conseguira impedir que Hibari controlasse os horários, porque, se dependesse apenas dele e de sua sede por sangue, haveria treinos todos os dias, inclusive nos fins de semana e feriados, durante sabe-se lá quantas horas seguidas), ambos, pupilo e tutor, já estavam acostumados à presença constante um do outro, bem como à frequência e ao ritmo dos combates.
Não perdiam tempo jogando conversa fora ou tão pouco fazendo brincadeiras – até porque isso não era do feitio do mais novo –, no entanto, algumas vezes, era impossível para Hibari permanecer indiferente à falta de jeito de Dino, e ele se permitia esconder um meio sorriso enquanto o homem, desconsertado, tentava disfarçar seus erros involuntários parando o treinamento para contar uma história qualquer a respeito da aliança entre as famílias Vongolla e Cavallone. Mas, no geral, com exceção dos curtos momentos de descanso, toda a tarde e início da noite eram tomados por ataques ferozes e rápidas defesas, com cada um dos oponentes tentando se mostrar superior ao outro.
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Em um desses dias de treino intenso, com a lua já alta no céu, os dois combatentes demonstravam claros sinais de cansaço após permanecerem na mesma atividade exaustiva durante horas a fio. Tinham vários hematomas, cortes e arranhões espalhados por todo o corpo e filetes de sangue saindo dos mais variados locais, além do suor que fazia as roupas grudarem desconfortavelmente na pele e que embaçava suas visões ao escorrer sobre os olhos.
Somando todos esses fatores com a fome que também começava a atrapalhar a concentração de ambos, Hibari, em uma tentativa de acabar definitivamente com a luta, reuniu toda a força que lhe sobrara e correu, indo para cima de Dino sem hesitar.
A investida, realizada tão repentinamente, causou certa surpresa ao loiro, atrasando seus reflexos por milésimos de segundo, mas no final ela apenas resultou em sua camisa rasgada pelo atrito contra uma das tonfas.
Após o frustrado ataque, com um dos joelhos no chão e uma mão limpando o suor do rosto, Hibari tentava, sem muito sucesso, recuperar o fôlego enquanto permanecia com a cabeça abaixada e os olhos firmemente fechados. Depois de respirar fundo e movido pela curiosidade e por algo que ele caracterizou como "apenas checando a situação lamentável da minha vítima", o adolescente se virou na direção de seu tutor.
Parado há poucos metros dele, Dino parecia desapontado com o estrago feito em sua roupa. Como se não bastasse estar completamente suja ela agora possuía um enorme buraco no lado esquerdo.
Os olhos do líder do comitê disciplinar se arregalaram – o que ele logo tratou de disfarçar –, e uma grande dúvida surgiu em sua mente, mais forte do que qualquer outro pensamento, martelando e martelando, quase o fazendo perder o resto do equilíbrio que ainda lhe restava. Como alguém poderia permanecer indiferente àquilo?
A tatuagem vista tantas vezes antes, parecia ainda mais impressionante ao aparecer em sua linha direta de visão. Os desenhos, disformes em sua memória, voltavam a ter suas cores e tamanhos reais. As chamas verdes e azuis cobriam uma parte notável do lado esquerdo do corpo de Dino. Mão, braço, peito, costas, barriga e ainda da mais para baixo, onde, infelizmente, os olhos do japonês não conseguiam alcançar.
Se, talvez, tivesse se concentrado mais e desferido o golpe próximo à calça...
Hibari suspirou, meneando a cabeça para que essas ideias desaparecessem o mais rápido possível. Pensar sobre aquilo, mesmo sendo extremante agradável, não o levaria a lugar algum. O italiano idiota não merecia ser alvo de seu interesse, afinal.
– Algum problema, Kyoya? – Veio a voz afável e preocupada.
Hibari estreitou os olhos ao ouvir a pergunta, uma ruga ameaçando surgir no meio de sua testa. Dino, ao contrário do que imaginara, ainda não havia ido embora para se livrar de sua roupa destruída e, durante todo aquele tempo, ficara observando-o. Tsc.
Levantou-se, batendo as mãos na calça do uniforme, tentando inutilmente limpar as marcas de sujeira, e murmurou um "não" seco.
Ele não tinha a menor obrigação de dar satisfações da sua vida para um estranho – mesmo que tal estranho não fosse uma pessoa totalmente desconhecida para ele e que "satisfações da sua vida" fosse um termo exagerado, visto que Dino apenas parecia intrigado com sua repentina distração.
Entretanto, sem se dar por vencido e ignorando a apatia de seu pupilo, o italiano jogou a última carta do dia.
– Certo, certo, hahaha. Tudo bem se você prefere não falar nada agora, mas, caso você mude de ideia e resolva me contar alguma coisa, qualquer coisa, passe no hotel onde estou hospedado. – Tirou um cartão de um dos bolsos da jaqueta que recolheu do chão e o entregou a Hibari. – Vejo você depois.
E saiu. O mesmo sorriso bobo de sempre estampado em seu rosto.
Esperando até que o homem desaparecesse nas escadas que levavam para fora do telhado, Hibari olhou para o cartão com desdém. O nome do hotel, escrito na parte de cima em grandes letras douradas e cheias de floreios, contrastava com o tom creme do papel. Logo abaixo, em preto, o endereço do lugar. Bem no centro da cidade, suspirou aborrecido.
Rodou o objeto entre os dedos, parando quando o vislumbre de algo na parte de trás chamou sua atenção. Anotados à caneta estavam um número composto por três dígitos (de um quarto, muito provavelmente) e um telefone – como se Dino realmente acreditasse que Hibari, sendo quem era, fosse lhe telefonar.
Ponderando sobre os dados escritos à mão, o japonês tentava decidir qual seria a melhor atitude a se tomar naquela situação e, pouco depois, um sorriso de canto se formou em seus lábios.
Aproximando-se da grade de proteção em passos firmes, ele esticou o braço e deixou que o vento carregasse o cartão para longe.
Bocejando, Hibari afastou-se de onde estava e caminhou em direção à saída sem se preocupar em olhar para trás. Ficaria na sala do comitê disciplinar enquanto esperava pelo cair da noite.
