- Parte 1 -

A nossa história começa em um dia atipicamente quente de outubro. Era um domingo, então a maioria dos alunos estavam passeando pelas propriedades de Hogwarts. Estava um dia muito quente para ficar dentro do castelo. Duas amigas, Christine e Anne, estavam sentadas na margem do Lago Negro, refrescando os pés na água. Christine estava tagarelando, mas Anne não escutava. Ela estava ocupada demais olhando para o outro lado, onde o Prof. Lupin conversava com Hagrid. Mexia nervosamente em seus cabelos e arrumava a sua gravata verde e prata.

- Ô meu santo Ronaldo! Eu estou aqui toda animada, falando sobre o Draco Malfoy e o seu perigón, e você aí, olhando pra não sei onde e se mexendo feito uma minhoca. - Christine disse, impaciente. E, ao ver que a amiga ainda não a estava escutando, gritou:

- PELAS CUECAS FURADAS DE MERLIM, ANNE! PÁRA DE OLHAR PARA A BUNDA DO DIGGORY E PRESTA ATENÇÃO NO QUE EU TÔ FALANDO!

Nesse momento, todas as pessoas se viraram para olhar as duas amigas, rindo. Cedric Diggory e seus amigos estavam ali perto, e riam muito alto. Anne virou-se para a amiga, com o olhar furioso.

- Obrigada, Chris. Agora a escola inteira sabe, sendo que eu nem estava olhando para a bunda dele. - disse rispidamente.

- Tudo bem, eu perdôo. Afinal, era a bunda do Cedric, não do Dumbledore. Então, como eu estava dizendo, ontem Draco e eu estávamos na Sala Precisa e... - disse Christine, animada.

Anne interrompeu a amiga, com um sinal idêntico ao do Jô Soares quando silencia a sua orquestra.

- Poupe-me dos detalhes sórdidos! Eu já imagino o que vocês fizeram lá. Também, com o fogo que você tem... Cada semana é um, e a história é a mesma.

Christine deu uma gargalhada muito alta, que atraiu mais olhares curiosos. Anne virou os olhos. Não acreditava que tinha uma amiga tão doida.

- Pobre garota puritana! Você precisa de uns conselhos meus! - Christine disse, depois de recuperar o fôlego.

Anne imediatamente tapou os ouvidos, e começou a cantarolar feito criança:

- Não vou ouvir, lalala! Não vou ouviiir!

- Você é quem sabe. Depois não reclama quando não conseguir apertar a bunda do Diggory ou de alguns dos seus lobinhos. - Christine respondeu, com a expressão cansada.

- MAS QUE RICHARLYSON, VIU! SERÁ QUE VOCÊ SÓ PENSA NISSO? - Anne disse, impaciente. Voltou a olhar novamente para o outro lado, e suspirou. - Será que algum dia você vai chegar pra mim e dizer que está apaixonada por alguém em vez de dizer que deu pra sei lá quem na Sala Precisa?

- HAHAHA, muito engraçado. Você, falando isso? Justo a praticante de zoofilia da turma? A tarada por lobisomens? Você não me engana, Anne. Bem que você queria ir com o Prof. Lupin para a Sala Precisa!

Anne já estava abrindo a boca para responder, quando uma canção desafinada chamou a atenção das duas:

- Quinze homens sobre o caixão do defunto yo-ho-ho, e uma garrafa de rum! A bebida e o diabo se encarregaram dos outros, yo-ho-ho, e uma garrafa de rum!

Era a Amy, que ia ao encontro das garotas. Ela estava descabelada, com uma garrafa de uísque de fogo na mão direita, e seus passos estavam trôpegos.

- Essa daí teve uma noite boa! Olha só, sair com o Flint está fazendo tão bem a ela... - Christine disse, irônica.

- COM O FLINT? COMO ASSIM?! A Amy odeia o Flint! Realmente, entramos na Era de Aquarius... - disse Anne, surpresa.

- Não, amiga. Entramos na Era da Cachaça mesmo. - disse Christine, indignada com a lerdeza da amiga.

Nesse momento, Amy parou, desequilibrada, e com os braços pra cima. Ela estava derrubando uísque de fogo sobre si mesma, e começou a cantar:

- Alguém disse cachaça? Se você pensa que cachaça é água, cachaça não é água nããão! Cachaça vem do alambique, e a água vem do ribeirão!

Anne estava boquiaberta. Amy estava completamente bêbada e fora de si.

- Pelas barbas de Dumbledore! Ela está completamente fora de si! Vem Chris, vamos levá-la à ala hospitalar!

Anne e Christine levantaram-se. Quando iam agarrar os braços da amiga, ela se desvencilhou rapidamente, gritando:

- A MANDIOCA É MINHAAA! - E caiu.

Exatamente no momento em que Amy ia bater com tudo no chão, Dobby aparatou bem embaixo dela, amortecendo a queda.

- AAAAAHHH SOCORRO! ESTOU DEBAIXO DE UM BARRIL DE UÍSQUE DE FOGO! - Dobby começou a gritar, com a vozinha esganiçada.

Christine e Anne entreolharam-se, segurando o riso. Agarraram os braços da Amy, que já estava desacordada, e a jogaram para o lado, como uma boneca de trapos. Ajudaram o pobre elfo a se levantar.

- Muito obrigado, senhoritas. A propósito, viram o senhor Harry Potter? Dobby precisa muito falar com Potter, muito mesmo... - disse, com a expressão mais sonhadora do que a de Luna Lovegood.

- Ele está no campo de quadribol. Parece que um dos jogadores da Grifinória se machucou e eles estão treinando os reservas. - Anne respondeu animada. Não conseguiu esconder o quanto estava feliz com o desfalque do time rival, e Dobby lhe lançou um olhar cortante, que fez o seu sorriso murchar.

- Obrigado, senhorita. E não faça pouco caso do time de quadribol da Grifinória. É um ótimo time, e o senhor Potter é o melhor apanhador que o mundo já viu! - retomou Dobby, ainda com a expressão sonhadora.

Sem mais o que dizer, Dobby girou nos calcanhares e desaparatou, com um estalido seco.

- Você viu como ele falou do Potter? Parece até que está apaixonado! - Anne disse uns dois minutos depois de Dobby ter desaparatado.

- Ah, não implica. Você se apaixona por lobisomens, por que um simples elfo não pode se apaixonar por um humano?

Anne deu uma risadinha, e pegou uma pedra do chão, fingindo que iria atirar na amiga, que se desdobrava de rir.

- Bom, vamos levar o pudim de pinga pra Madame Pomfrey. - Christine disse, com lágrimas nos olhos de tanto rir.

Enquanto as garotas carregavam a Amy, desajeitadamente, Cedric chamou Anne. Ela parou, e olhou para trás, ruborizada.

- Beijo me liga! - Cedric disse, enquanto seus amigos gargalhavam.

Anne balançou a cabeça, incrédula, e ajudou a amiga a levar Amy até a ala hospitalar.