Moonlight Serenade

Eram apenas devaneios -- flutuações oscilantes da mente perdida a cada pequeno toque em seus cabelos, seus ombros, seus braços, seu rosto. Era impossível que um dia os dois realmente andassem naquela direção, ela não se vestiria de branco, não haveria flores em suas mãos, nem lágrimas de alegria em seus olhos. Não haveria anéis trocados, nem beijos aplaudidos, ou danças ao som de jazz.

Bom, talvez tivessem danças ao som jazz, mas não em frente a todos. Cada pequeno carinho era um segredo que jamais deveria ser falado em voz alta -- jamais poderia ser explicado, e jamais seria compreendido pelos demais. Era parte da dor e do prazer daquela fantasia maravilhosa, o caminho sagrado de um acólito.

Mas não era fantasia os dedos que percorriam suas costas, lhe trazendo arrepios, ou o rosto que deslizava por seu pescoço lhe arranhando levemente com o princípio de barba que jamais realmente apareceria. Seus suspiros, seus gemidos eram dolorosamente reais, seu desespero de ter mais era profundamente verdadeiro.

Seus dedos trêmulos se enrolavam em fios palidamente platinados, sua garganta exposta para beijos lentos e delirantes, seu corpo pronto para se perder em um paraíso pecaminoso com cada pequeno movimento.

Mas não, não era só isso, não era pecado. Havia algo ali -- algo tão inexplicável que nunca se sabia se era pura fantasia ou realidade. Não era apenas suor e sons -- havia lágrimas e desespero; havia mais que desejo e paixão: haviam conversas, sorrisos roubados, pequenos carinhos escondidos dos olhos alheios. Havia abraços longos, firmes, confortadores.

Já fora luxúria, o desejo de alguém diferente, de uma mudança, de corpos novos e novos sons, pedidos e gemidos, o desejo de chocar a todos. Mas algo mudara e então havia dedos entrelaçados ao invés de arranhões e tapas selvagens. Surgiram confissões e o segredo, e até mesmo declarações feitas em voz baixa para corpos adormecidos.

O querer egoísta deu lugar a noites compartilhadas; dormir abraçados, a respiração regular na nuca como uma carícia, a suavidade e a confiança. Como se fosse sagrado, como se fosse santo, como se fosse o paraíso, a ruiva se perdia nesses momentos, aproveitando-os como se fossem eternos e ao mesmo tempo, inexistentes.

Houvera fogo, um desejo insaciável, uma loucura inexplicável e inacabável, ou ao menos assim parecera. Subitamente, os mesmos toques deixaram de ser provocações para se tornarem carícias genuínas. Pequenas e leves carícias lhe levando a insanidade, ao mesmo tempo profanas e parte de um mistério maior.

Sua mãe lhe dissera muitas vezes que o que ela estava fazendo era pecado, era errado, era sujo. Mas ela não era capaz de senti-lo conforme via os olhos cinzentos encontrarem os seus um segundo antes de se desfazerem em uma incoerência maravilhosa, nem Draco nem Ginny, apenas uma única coisa sagradamente completa, flutuando à deriva da música do universo.

E se aquilo já fora pecado um dia, agora era também a salvação e as portas do paraíso.