Capítulo 1 –

Feliz Natal?


Draco abriu os olhos com dificuldade. Estava muito frio e isso o incomodava mais do que deveria, pois a cama já não era tão aconchegante quanto costumava ser. Virou-se para o outro lado, fechando os olhos novamente, tentando encontrar alguma posição menos desagradável para voltar a dormir, mas concluiu que aquilo já era uma batalha perdida quando escutou a porta de seu quarto se abrir devagarzinho.

Abriu os olhos e passou a observar quem havia entrado. Era uma garotinha magricela, vestida em seu pijama cor de rosa, florido. Seus cabelos loiros, na altura dos ombros, eram lisos e brilhantes, lembrando os de uma pequena e frágil boneca sardenta.

Ela tinha tirado os sapatos e tentava não fazer barulho, medindo seus passos e segurando alguma coisa nas mãos delicadas. Draco não queria estragar aquele momento dela e continuou fingindo que estava dormindo, mas se mexeu algumas vezes achando graça na cara de susto que a ela fazia em cada uma das vezes.

Aos pés da cama ela deixou um pequeno embrulho que tinha um laço de fita torto, mas no qual Draco sabia que ela tinha depositado todo o carinho que possuía. Viu a garotinha subir devagar na cama e fechou os olhos quando ela se aproximou para lhe beijar a testa.

"Feliz Natal, papai", sussurrou baixinho.

"Feliz Natal, Lyra", respondeu, sem poder fingir mais.

"O senhor já estava acordado, não é?"

"Só um pouco", falou sorrindo e se sentando devagar na cama.

"Papai, por que o senhor não ganha muitos presentes?", perguntou inocentemente, olhando para os pés da cama onde, além do dela, havia apenas mais um embrulho.

"Eu não fui uma boa pessoa durante os últimos anos e pessoas más não ganham presente, por isso é bom se comportar", respondeu tentando não demonstrar a tristeza que sentia para a filha.

"Eu me comporto".

"Eu sei, você é ótima", falou lhe dando tapinhas no ombro. "Gostou do seu presente?"

"Gostei sim", falou, sem conseguir esconder sua cara insatisfeita.

"Sério?"

"Não", respondeu, sem conseguir encará-lo.

"Pensei que era o que você mais queria".

Ela balançou a cabeça afirmando, mas mesmo assim não olhou de volta para Draco, pois parecia estar tentando reunir coragem para falar o que desejava.

"Por que não podemos ir visitar a vovó?", perguntou. Draco suspirou.

"Alguns problemas, Lyra".

"Passar o Natal sem a mamãe é triste... Queria ir ver a vovó".

"Eu sei. Também sinto falta dela", ele levou sua mão ao rosto da filha. "Mas não podemos ir visitar sua avó".

"Por quê?"

"Você é muito pequena para entender o que aconteceu, Lyra".

"Eu não sou pequena, papai! Posso ainda ser uma criança, mas posso entender o que está acontecendo".

"Mas ainda assim, só tem onze anos, então não quero encher a sua cabecinha com os meus problemas".

Ela bufou com raiva e cruzou os braços.

"Você fica igual a sua mãe quando faz isso", ele sorriu, achando graça.

"Mas eu pareço mais com o senhor, não é, papai?"

"Acho que sim".

"E por que eu ganhei mais presentes, se eu sou igual ao senhor?"

"Apenas alguns anos de vida a mais... Isso realmente faz uma diferença assustadora", ele pensou em voz alta.

"Olha os seus presentes, papai! O meu eu aprendi a fazer em Hogwarts, com uma menina mais velha".

Ele se levantou e foi até o pé da cama, Lyra ficou observando com cuidado e parecendo nervosa. Sentia grande necessidade de obter perfeição em tudo o que fazia, pois não queria ver desaprovação nos olhos do seu pai.

Draco, ainda usando seu pijama verde escuro, pegou os dois embrulhos e primeiro abriu o de sua filha. Sorriu vendo o esforço dela para fazer algo direito, apesar do embrulho não estar perfeito. Abriu e viu um cachecol bordado nas cores da Slytherin e que tinha o nome dela nas pontas.

"É para o senhor não se esquecer de mim", falou com as bochechas rosadas.

Draco a abraçou. Lyra era tudo o que sobrara de sua família e tinha certeza absoluta de que não precisaria de um cachecol para se lembrar dela, mas que iria usá-lo com muito gosto, mesmo que os pontos estivessem frouxos e o acabamento não fosse dos melhores.

"Obrigado", disse colocando-o em volta do seu pescoço.

"De quem é o outro, papai?", perguntou curiosa, tentando ver algum cartão no embrulho impecável.

"Não sei".

"Abre logo!", pediu, sorrindo.

Draco o fez. Rasgou o papel e viu um anel. Lá estava o brasão da família Malfoy, novamente em suas mãos. Sua primeira reação foi rir debochando do presente, depois o ignorou, colocando-o dentro da gaveta do criado mudo ao lado da sua cama. Não queria cair naquela brincadeira, porque doía demais ter esperanças.

"Quem mandou isso, papai?"

"Alguém que provavelmente achou que isso iria ferir meu orgulho".

"E seu orgulho está ferido?"

"Não mais", mentiu. "Apesar de ter sido bastante massacrado no passado".

"O que significa "massacrado"?"

"Um dia você vai entender".

"Por que tudo é "um dia" e nunca "agora"?"

"Como alguém pode fazer tantas perguntas por minuto?", ele perguntou sorrindo.

"É que eu quero ter respostas".

"Isso é coisa de Gryffindor, Lyra. Nunca ficam satisfeitos com uma resposta razoavelmente boa e estão sempre fazendo perguntas".

"Eu não sou Gryffindor, papai".

"Eu sei, graças a Deus, mas às vezes age como se fosse uma".

"Mas a Slytherin é melhor, não é?"

"Com certeza", respondeu convicto.

"Também acho, estamos vencendo o campeonato das casas", informou.

"Fico satisfeito em saber", falou estendendo a mão para ela. "O que quer comer hoje? É Natal, pode pedir o que quiser".

Ela aceitou a mão do pai e desceu da cama. Caminharam para fora do quarto e estavam no corredor quando ele resolveu perguntar de novo.

"E então?"

"Bem... Posso pedir qualquer coisa que eu queira comer?"

"Claro que pode!"

Ela pareceu ainda incerta sobre se deveria pedir ou não, mas sorriu e o fez.

"Quero comer a comida da vovó!"

Draco estacou, antes de começar a descer as escadas. Olhou para a garotinha que tinha uma nota de desafio no olhar e um sorriso travesso nos lábios.

"Você é pior do que eu quando tinha a sua idade".

"Vai me levar para comer a comida da vovó?"

"Tudo, menos a comida da vovó", respondeu, descendo as escadas, mas ela parou.

"Você disse que eu poderia pedir qualquer coisa".

"Certo, então me deixe esclarecer: peça qualquer coisa, menos para ir comer na casa da vovó".

"Mas eu quero ir na casa dela! Faz tempo, papai. Tenho certeza que mamãe ficará feliz se..."

"Na casa da vovó não".

"Então não falo mais com o senhor!", resmungou, soltando a mão do pai e correndo para o seu quarto, fechando a porta com força.

Draco suspirou. O gênio da sua filha era uma coisa séria. Sempre precisava de muita paciência para conseguir domar a pequena garota. Ela voltara para o feriado de Natal muito mais geniosa que antes e ele se perguntava se tinha sido melhor para ela ir para a Slytherin. Talvez, se ela tivesse se tornado uma Ravenclaw ou Gryffindor...

"No que eu estou pensando?", perguntou, em voz alta. "Claro que é melhor ela ser uma Slytherin, casa de bruxos de sangue puro e não de traidores".

Ele parou de falar ao pensar que ele próprio era um traidor do sangue e por esse motivo já não tinha mais ninguém, que não fosse a garotinha geniosa que estava trancada no quarto, para chamar de família. Suspirou, se aproximou e bateu na porta.

"Lyra?", chamou baixinho, mas ela não respondeu.

Ele encostou a testa na porta e bateu mais uma vez.

"Lyra, por favor, abre a porta. Não faça isso com o papai".

Ela continuou quieta.

"Tudo bem, Lyra, eu levo você na casa da vovó".

Mais alguns segundos de silêncio.

"Sério mesmo?"

"Sério", ele respondeu resignado, sentando-se no chão, encostado na parede.

A porta se abriu alguns segundos depois e Lyra apareceu, com uma cara satisfeita, embora visivelmente preocupada com o pai.

"Queria virar adulta logo para que o senhor confiasse em mim. Eu sei que o senhor deve estar sofrendo muito, só que não tem ninguém para conversar sobre isso e eu ainda sou criança".

"Não é culpa sua. Você não tem culpa de nada, você tem que crescer no tempo certo".

"Nesse Natal o presente que eu queria de verdade é ver o senhor feliz, mas acho que isso o senhor não pode me dar, não é?"

Ele lançou um sorriso meio de lado para a filha e a abraçou apertado.

"Sou muito feliz por ter você aqui comigo, Lyra".

"Mas vai ficar ainda mais depois que comer a comida da vovó", ela falou cantarolando.

"Duvido muito", falou sorrindo. "Anda logo, vai se arrumar! Quero te deixar na casa da sua avó, antes de ir a outro lugar".

"Pra onde o senhor vai, papai?", perguntou curiosa, levantando-se, e entrando em seu quarto.

Draco suspirou e encostou-se na porta, com os braços cruzados, observando a garotinha jogar para fora do armário diversas roupas. Ele não parecia muito feliz e sua expressão era de profundo desprezo quando respondeu a pergunta da filha, mesmo que visivelmente contrariado.

"Na casa da sua outra avó".


N/A.: Fic escrita para o projeto Jingle Bells do Fórum 6V. Por favor, comentários são muito bem vindos, extremamente necessários e causadores de felicidade. Seja uma amor e diga qualquer coisa. E visite o Fórum 6V. Se não conhece, não sabe o que está perdendo. Agradecimentos: Mialle, porque está monitorando o projeto e pegando no meu pé para postar essa fic.