Importante (por favor leia):
- Essa história é uma versão reescrita do primeiro filme da trilogia Como Treinar o Seu Dragão, contendo TOOTHCUP, ou seja, um romance entre Soluço e Banguela. Sim, dragão e humano. Com futuras cenas de sexo e mpreg. Infelizmente as cenas de sexo não poderão ser postadas aqui, mas colocarei um link para os capítulos que faltam.
- Essa história é uma AU, Alteração no Universo. O universo da história não foi modificado, só a história em si.
- Na história há a presença de personagens originais, humanos e dragões. Entre elas a minha personagem "Biscoito", da minha super velha fanfic How to Live with Your Dragon.
Considere tudo isso antes de ler ou escrever um comentário, obrigads. ^^


Capítulo 1 - Os olhos da escuridão

"Soluço! Saia de perto da janela!" Valka gritou ao notar o garotinho tentando ver o que estava acontecendo lá fora, mesmo sem ser alto o bastante para alcançar a janela. Ela agarrou o garoto pela camisa e gentilmente o colocou de volta na cama, ao lado de sua irmã. "Vocês esperem aqui! Se acontecer alguma coisa, chamem!"

E, assim que a viking saiu da casa, Soluço pulou da cama mais uma vez.

"Soluço!" Sua gêmea chamou.

O garoto pegou o balde jogado no canto do quarto e o usou de apoio para poder dar uma olhada na vila.

Lá fora era o caos, assim como já eles tinham visto tantas vezes, mesmo tendo apenas oito primaveras de idade.

Casas queimavam enquanto vikings corriam para todos os lados, protegendo sua vila e lutando contra os causadores daquele inferno. Grandes criaturas voavam acima deles, atacando não só os guerreiros que tentavam matá-los, mas também as casas e os animais que tentavam fugir.

"Soluço! Mamãe nos mandou ficar longe da janela!" A jovem ruiva puxou a camisa do irmão, quase o fazendo perder o equilíbrio.

"Pare com isso! Você vai me fazer cair, Enguia!" Ele retrucou.

"É 'Biscoito', eu já disse!" A garota reclamou, com vergonha do próprio nome. "Ah! S-Soluço!"

Soluço se virou na direção que a irmã apontava, vendo uma parede de fogo vindo na sua direção.

"Cuidado!" Ele pulou para fora do caminho bem a tempo, levando sua irmã junto. O fogo atingiu o lado de fora da casa, percorrendo a parede do chão até o telhado como uma língua flamejante; o fogo de aparência quase viscoso entrou pela janela, caindo no quarto das crianças. Soluço apagou as chamas que tocaram a barra de sua calça. "Você está bem? Vamos!" Ele agarrou a mão da irmã e a puxou para longe do quarto, ouvindo o estalar do teto agora completamente coberto de labaredas, em pouco tempo tudo aquilo ia desabar.

Biscoito o acompanhou, tropeçando vez ou outra – ela nunca teve o melhor equilíbrio – mas seguindo em frente, mesmo quando tiveram de passar por uma parede de fumaça, tossindo violentamente. Eles saíram pela porta de trás, deixando para trás os restos flamejantes do que um dia foi sua casa. Pelo menos não iria demorar muito para ser tudo reconstruído, os vikings de Berk já estavam tão acostumados com os ataques quanto com a destruição deixada pra trás.

Quando as duas crianças já tinham passado dos limites da vila, eles finalmente se viraram.

Puderam ver sua mãe liderando a "brigada de incêndio" de Berk com suas carroças cheias de água, mas ela não parecia estar focada apenas naquele trabalho. Ela se virou com um estrondo repentino. Um Nadder Mortal foi lançado ao chão graças a um grupo de homens, que ainda tentavam segurar o dragão com seus machados em mãos.

"Não! Pare!" Valka correu até um deles, segurando seu braço que já erguia a arma afiada. "Você só está piorando as coisas!"

Era algo estranho que a mãe deles fazia, ninguém realmente entendia porque ela fazia aquilo. Valka era uma guerreira temível, sempre foi, Stoico estava sempre ponto para contar histórias sobre a valente mulher viking com quem tinha se casado. Mas mesmo após todos esses anos de luta, ela parecia ter se tornado um tanto quanto sensível com certas coisas; ela sempre foi uma mulher sensível para falar a verdade, pelo menos se comparada à típica sensibilidade viking...

Mas diferente da mãe, o pai não pensava duas vezes antes de matar um dragão. "Dragão bom, é dragão morto", era sua frase de efeito. E com motivo. Desde sua infância, Berk era atacada e destruída por aqueles "demônios voadores" e um dos grandes troféus da vida de Stoico tinha sido a cabeça de um Pesadelo Monstruoso que ficou pendurado no batente da porta da casa de seus pais, ele havia matado o dragão quando ainda novo – ele tinha praticamente oito primaveras – e tinha salvado a sua família ao fazer isso.

Stoico se mantia alto e imponente em uma das grandes catapultas que rodeavam Berk.

"Soluço! Cuidado!" Biscoito puxou seu irmão para o chão assim que um Nadder Mortal passou acima deles. "Você está bem?"

"S-sim..." Soluço gaguejou, tremendo levemente. Mas o dragão voou para longe, pelo jeito sem notar os pequeninos. "Temos que sair daqui."

De mãos dadas, eles continuaram correndo, chegando até as grandes árvores da floresta em volta da vila, era difícil ver para onde iam no escuro da noite. O que os gêmeos realmente queriam era poder voltar e ajudar seus pais e amigos, mas não havia muito que eles pudessem fazer; tendo nascido muito antes do dia esperado e num ano bissexto acima de tudo – oh, que azar! – os dois eram raquíticos e muito fracos, incapazes de levantar um martelo ou um machado mesmo já passando da idade para isso. Em pensar que seus pais já estavam por aí lutando dragões com aquela mesma idade... O melhor que Soluço e Biscoito podiam fazer era fugir e tentar não serem mortos.

"Espera... Soluço...!" Biscoito disse sem fôlego, tropeçando mais no escuro. "Podemos descansar…?"

"Ah, ok..." Soluço soltou a mão da irmã, também se sentindo cansado e sem fôlego. Ele tossiu levemente, ainda sentindo o gosto da fumaça em sua garganta.

Eles se sentaram, escondidos entre as moitas altas da floresta. Eles ainda podiam ouvir o som de batalha na vila, mas estavam a salvo naquele lugar. A não ser que algum dragão decidisse aparecer por ali. Pelo jeito Biscoito pensou naquela possibilidade assim como Soluço, porque estava tremendo no lugar.

"Ei, está tudo bem..." Soluço colocou uma mão em seu ombro, tentando acalmá-la. "Estamos seguros aqui."

Biscoito assentiu levemente, deitando a cabeça contra o ombro do irmão. Ele deixou que ela fizesse isso, sabendo que se sentiria melhor assim.

Um estalo baixo fez Soluço se virar. Não dava para ver nada do lugar onde se escondiam, não que seria fácil de ver com a única luz sendo o fogo vindo da vila e a fraca luz da lua descendo por entre as árvores; mas Soluço podia jurar que aquele som estava perto. Biscoito notou e foi falar algo, mas seu irmão a silenciou. Ele se levantou um pouco, só para dar uma olhada, não parecia haver nada... Talvez fosse algum animal pequeno da floresta, ou uma ovelha que tinha fugido.

Ele viu algumas moitas se moverem não muito longe e se abaixou novamente.

"Tem alguma coisa por aqui..." Soluço murmurou sem prestar atenção, recebendo um arfar alto de Biscoito. "N-não, não se preocupe! Tenho certeza que é só... Hm... Uma ovelha! Nada demais!" Ele não tinha certeza nenhuma. Ele pegou uma pedra do chão. "Olha, eu vou assustar ela, ok?"

Biscoito balançou a cabeça de modo estranho, como se estivesse dizendo "sim" e "não" ao mesmo tempo; ela se manteve em silêncio enquanto o irmão se levantava de novo. O ruivo deu uma olhada em volta, só para ter certeza de onde essa "ovelha" estava, não que ele fosse realmente atirar a pedra nela, ele só ia fazer uma cena para sua irmã se sentir melhor.

Ele jogou a pedra com facilidade, mesmo não tendo o braço mais forte para o trabalho. A pedra atingiu alguma coisa e houve uma resposta, mas não soava como uma ovelha. Soava mais como um... Dragão!

"Ah, não." Soluço se abaixou rapidamente.

"O que? O que foi-?" Biscoito começou a frase, mas não conseguiu completar com as mãos de seu irmão contra sua boca.

"Shh..." Um sibilo alto quase o silenciou; vinha das moitas à frente deles. "Fica atrás de mim." O gêmeo mais velho nem esperou resposta, se colocando em frente da garota.

O sibilo se tornou mais alto e eles podiam ver a plantas se mexendo enquanto algo andava entre elas. E então...

Dois grandes olhos verdes apareceram entre as moitas, os encarando com pupilas negras em fendas e, logo abaixo delas, uma fileira de dentes à mostra. O sibilo aos poucos se tornou um leve rosnado enquanto o dragão permanecia parado, encarando. Soluço sabia que tinha que proteger a si mesmo e à irmã, mas ele não conseguiu deixar de encarar também. Que tipo de dragão era aquele?

Soluço conhecia bem os mais comuns tipos de dragões, dos pequenos Terrores Terríveis até os inflamáveis Pesadelos Monstruosos; ele conhecia suas cores variadas, o número de chifres e seu poder de fogo. Mas, aquele dragão… Era quase impossível de vê-lo na escuridão da noite, a pouca luz pelo menos dava uma ideia sobre o tamanho da criatura. Era grande, mas nem tanto, e seu corpo parecia ter a cor do céu noturno, escuro como carvão.

Só podia ser…

"Fúria da Noite…" Soluço e Biscoito murmuraram juntos.

O Fúria da Noite rosnou um pouco mais alto, levantando a cabeça. Soluço deu um passo para trás, levando sua irmã com ele.

"F-fique longe!" Ele gaguejou um comando fraco, mas é claro que o dragão não ia se importar com o que dizia um pequeno e fraco humano como ele. Eles eram presa fácil, e Soluço se lembrava bem do que os vikings mais velhos falavam: Dragões sempre atacam para matar.

O dragão continuou encarando, rosnando baixo, até que o rosnar se tornou mais alto, quase fazendo Soluço tremer nas bases. Ele quase nem notou, mas sua irmã havia se movido, esticado a mão para o chão e pegando uma pedra grande. Era isso que tinha feito a fera reagir daquele modo!

"Biscoito, não!" Soluço segurou o pulso da irmã.

"Soluço!" Ela retrucou.

"Você só está piorando as coisas!" Soluço acabou soltando, lembrando as palavras de sua própria mãe. Biscoito o encarou por alguns segundos, mas cedeu quando o Fúria da Noite soltou um rugido baixo.

Soluço chutou a pedra para o lado, se voltando para o dragão e apertando a irmã contra o tronco da árvore atrás dela.

Os olhos do dragão desviaram da pedra para os irmãos e o rosnado parou, sendo substituído por um som estranho, longo e gutural.

Soluço ergueu a mão tentando manter distância entre o dragão e os dois.

"Não nos machuque…" Ele murmurou, movendo levemente a mão, como faria frente à um yak irritado. "... Por favor…" Acrescentou.

"Soluço! O que está fazendo?" Biscoito sibilou para ele. "Ele é um dragão!"

"Shhh…!" Soluço sibilou de volta.

Os dois pequenos vikings continuaram imóveis, sem saber o que fazer. Será que ninguém estava procurando por eles? Porque ninguém tinha aparecido para os ajudar? Não, eles não deviam ser egoístas, os outros vikings estavam protegendo a vila.

De repente, o Fúria da Noite ergueu a cabeça, as barbatanas escuras no topo de sua cabeça se erguendo. Ela deu uma ultima olhada nas crianças e deu-lhes as costas, abrindo as asas longas e negras e saltando para o céu.

Soluço e Biscoito quase perderam o equilíbrio com a força das asas, mas ficaram parados no mesmo lugar, mesmo depois do dragão já ter desaparecido no céu escuro.

Era quase possível ouvir seus corações batendo alto como tambores.

Céus, aquilo foi… Em poucas palavras, assustador e confuso…

Mas eles estavam bem, estavam vivos, mesmo depois de terem ficado cara a cara com uma Fúria da Noite!

"Biscoito, você está bem?" Soluço se virou para a irmã rapidamente, mesmo sabendo que ela esteve protegida atrás dele esse tempo todo.

"Sim, tô sim…" Ela murmurou, ainda tremendo, assim como ele. Os dois voltaram os olhos para o céu, ainda abalados com o que tinha acontecido, mas não havia mais nenhum dragão no céu.

"Soluço!" Uma voz forte, muito conhecida, gritou não muito longe de onde eles estavam.

"Enguia!" Outra voz, feminina, o acompanhou.

"Vamos pra casa, Soluço…" Biscoito murmurou, puxando o irmão pelo braço.

O garoto desviou os olhos das nuvens cinzentas que escondiam a lua e as estrelas e seguiu a irmã de volta para a vila.