n/a: Vamos continuar exatamente de onde paramos em Especulações. A diferença é que vou usar mais personagens, acrescentar novos casais, e muito mais humor e aquilo que gosto de chamar de "doritos".

Atendendo a vários pedidos, inclusive da nossa aniversariante uhura, lá vai:


Especulações II

Prólogo.

Não havia se passado muito tempo desde que os colegas saíram do bar e, sendo a última cliente ainda presente, Rolanda Hooch não ficou surpresa nem ofendida quando Rosmerta a pediu educadamente que se retirasse. Na verdade já estava mais do que na hora de ir mesmo, porque se sua carta tinha chegado a tempo ela ainda tinha boas chances de arranjar companhia para a noite.

Mas, assim que colocou seus pés na rua, seus olhos amarelos de falcão avistaram uma luz acesa que segundo seus planos já não deveria estar lá. Caminhou para o outro bar, ligeira como se não tivesse bebido nem uma só gota, e entrou escancarando a porta de dobradiças enferrujadas.

Havia apenas um homem lá, mais ao fundo, sob a ilha de luz do único e mui antigo candeeiro a gás ainda aceso e que deixava seu rosto barbudo parcialmente oculto pelo jogo de sombras do lugar. Ela caminhou até onde ele estava sentado com o cotovelo sobre a mesa desconjuntada e esperou até que os olhos muito azuis e semicerrados levantassem lentamente do copo de firewhisky quase seco em sua mão até o rosto da bruxa de cabelo curto e espetado.

– O que você ainda está fazendo aqui? – ela perguntou, curiosa com uma pitada de contrariada.

– Bebendo – Aberforth explicou o óbvio levantando o copo para um sarcástico brinde solitário, ainda que estivesse gesticulando com o braço livre para o lado, como que pedindo por mais proximidade.

– Achei que tivéssemos combinado no castelo – Hooch disse em tom de censura, embora que tenha atendido-o e deixado que o bruxo enlaçasse sua cintura enquanto ela pousava o braço em torno de seus ombros. – Ou será que você não recebeu minha coruja?

O barman arrastou a cadeira para trás e puxou a instrutora de vôo para seu colo num gesto abrupto, mas não desprovido de cortesia. Ela ainda tinha o braço sobre os ombros dele, mas nessa nova posição isso dava ao outro uma visão de seus seios agradável o suficiente para que suavizar um pouco sua expressão rabugenta.

– Recebi , mas não gostei da brincadeira.

– Do que você está falando?

Disso – Aberforth respondeu, tirou uma folha de pergaminho dobrada do bolso de sua velha e surrada túnica cinza e a estendeu para a bruxa.

Rolanda tomou o papel e sua mão e não precisou de uma segunda olhada no pergaminho timbrado com o selo de Hogwarts para reconhecer seu pedido de aquisição do material esportivo a ser usado no próximo ano letivo, mas gastou uns bons cinco segundos tentando entender o que isso estava fazendo lá.

– Devo ter me confundido com os envelopes – ela afirmou, mais como quem pensa em voz alta do que dá explicações. – Vai ver a senha foi parar nas mãos do A. Dumbledore errado.

– Foi exatamente o que eu pensei – o outro retrucou com um sorriso de canto sardônico e esticou o braço por cima dela para recuperar seu copo, mas a bruxa o tirou de seu alcance e bebeu ela mesma.

– Você não está com ciúmes do seu irmão, está?

– Albus? Pff, ele jamais daria em cima de você a menos que quisesse perder as bolas de verdade – com muito esforço Aberforth conseguiu reprimir a gargalhada que queria dar num moderadamente malicioso sorriso de desdém, mas mesmo isso teve de controlar perante a perplexidade e Hooch. – Esqueça. Ele mesmo me disse que foi tudo coisa da Minerva e não sei se isso serve de consolo, mas o babaca ficou tão ou mais constrangido com isso do que você.

O modo trêmulo como a garrafa se arrastou pela mesa até a mão da bruxa desmentiu toda a sobriedade que ela tentara demonstrar até então, e isso pareceu divertir a ambos, especialmente quando Aberforth tomou para si a tarefa de servi-la e passou a beber diretamente do gargalo mesmo.

– Que pena. Eu já estava começando a gostar da idéia de poder escolher entre os dois irmãos Dumbledore. Não que você seja desprovido de qualidades, mas dizem que ele é capaz de coisas inacreditáveis com a varinha.

– Então imagine só o que a velha Griselda diria de mim se tivesse chegado a prestar meus N.I.E.M.'s – ele retrucou com uma piscadela e se inclinou mais sobre Rolanda com o pretexto de devolver a garrafa para a mesa. No entanto, esqueceu-se de levantar, continuando a conversa com o rosto colado no dela. – Em todo caso, não entendo esse seu súbito desejo por mudar de ares. Acaso meu bar não é mais bom o bastante?

–Você sabe que eu adoro esse balcão imundo e seu estoque praticamente ilimitado de bebidas de procedência duvidosa quase tanto quanto você, mas queria ao menos de vez em quando terminar a noite na minha própria cama.

Ele levantou o rosto para encará-la com um olhar insondável e a bruxa abriu o que tinha de mais parecido com um sorriso suplicante. Mas então o velho voltou a fechar o rosto, mostrando que não era assim tão fácil de convencer.

– E comigo me esgueirando de volta pro povoado de madrugada pra não ter que esbarrar com nenhum pirralho, não é?

– Esqueci que você detesta crianças.

– Você não? – ele retrucou, rindo.

Sem querer concordar com a verdade, Hooch levou alguns instantes para formular uma resposta.

– Elas pagam minhas contas.

– Eu ainda prefiro meus bêbados.

– Posso compensar você – a bruxa fez da voz o mais insinuante que pôde, colocou a mão entre si e o outro e a desceu mais ao sul da anatomia dele num carinho absurdamente lascivo. – Se estiver disposto a negociar.

O velho finalmente assentiu em total rendição e Rolanda puxou-o pela barba e esmagou os lábios junto aos dele de um jeito que parecia muito mais uma mordida do que um beijo. Aberforth levantou-se com a outra enroscada a si, largou-a sobre a mesa e chutou a cadeira longe. E a bruxa já estava começando a abrir os botões da túnica dele quando a porta do bar voltou a se abrir, trazendo mais um cliente cambaleante em busca de álcool.

– Está fechado, #*%! – gritaram os dois em uníssono.