Domo pessoal

Em comemoração super atrasada ao aniversário dos saint´s mais fofos que o Kuramada já criou, aqui vai Blood Lust, com Saga e Kanon de maneira nunca antes vista, numa história de arrepiar. Espero sinceramente que curtam essa nova fic, como Rosa dos Ventos é a menina dos olhos da Margarida e Muito bem Acompanhada da Saory-san, Blood Lust é uma fic muito especial pra mim, não só pela história em si, mas porque é um projeto que desejo concretizar a muito tempo, acho que desde que comecei a escrever.

No mais, qualquer semelhança, não é mera coincidência XD.

Boa Leitura!

Nota: Os personagens de Saint Seya não me pertencem, apenas Alexia Colfer, Jéssica Belmonte e Diana Rossini são criações únicas e exclusivas minhas para essa saga.

N/a: Essa fic se passa antes da crônica X – Perfume de Jasmim, então Kanon ainda está em Dublin.

Obrigada a Saory-san e Margarida por betarem esse capitulo pra mim.

.::♂ Blood Lust ♀::.

By Dama 9

Capitulo 1: Um encontro em Dublin.

.::O Artista::.

.Por Basílio Hallward (O Retrato de Dorian Gray).

O artista é o criador de coisas belas.

Revelar a arte e ocultar o artista é a finalidade da arte.

O critico é aquele que pode traduzir, de um modo diferente ou por um novo processo, a sua impressão das coisas belas.

A mais elevada, como a mais baixa, das formas de crítica é uma espécie de autobiografia.

Os que encontram significações feias em coisas belas são corruptos sem ser encantadores. Isto é um defeito.

Os que encontram belas significações em coisas belas são cultos. Para estes há esperança.

Existem os eleitos, para os quais as coisas belas significam unicamente Beleza.

A vida moral do homem faz parte do tema para o artista, mas a moralidade da arte consiste no uso perfeito de um meio imperfeito. O artista nada deseja provar. Até as coisas verdadeiras podem ser provadas.

O artista jamais é mórbido. O artista tudo pode exprimir. Pensamento e linguagem são para o artista instrumentos de uma arte.

Vicio e virtude são para o artista materiais para a arte.

Na realidade, a arte reflete o espectador e não a vida.

.I.

Passou a mão nervosamente pelos cabelos azulados que caiam ondulados pelos ombros até o meio das costas. Aquele dia fora realmente cheio, reunião atrás de reunião, fora aquela papelada que tinha para revisar antes de mandar para Yo dar a ultima conferida antes de assinar e enviar os relatórios aos acionistas.

Vida empresarial não é fácil; Kanon pensou afrouxando a gravata esverdeada e recostando-se na cadeira estofada. Isso porque apenas dois meses e meio já haviam se passado.

No começo procurava sempre ligar para o santuário perguntando das coisas, muitas vezes recebendo algumas informações que não perguntava, mas Saga fazia questão de lhe passar.

Assim ficara sabendo que Yuuri estava grávida e Afrodite quase matara Milo com uma planta carnívora, alem é claro da viagem do irmão ao Brasil; ele pensou dando um baixo suspiro.

Olhou novamente para a pilha de papéis e teve realmente um certo desejo insano desperto de jogar-se da janela de sua sala. Aquilo era demais; pensou com ar desolado.

Tais pensamentos foram cortados pelo telefone a sua direita que tocou.

-Alô;

-Senhor Kanon; a secretária falou.

-Sim;

-A senhorita Alexia deseja falar com o senhor e pediu que eu lhe avisasse para que se estiver livre, ir até a sala dela; a garota explicou.

-Eu já vou, obrigado; Kanon respondeu ouvindo-a despedir-se e desligar.

Levantou-se de imediato da cadeira, pelo menos iria sair um pouco dali, não fazia a mínima idéia do que Alexia queria, mas estava começando a se acostumar com o gênio da 'chefa'.

-o-o-o-o-o-

O outono já caia sobre a cidade das piscinas negras, o luxuoso carro preto estacionou em frente ao prédio. Bandeiras e mais bandeiras eram erguidas nos mastros em frente ao lugar.

Um motorista desceu do carro, bem vestido e uniformizado, e com uma postura impecável aproximou-se da porta traseira abrindo-a para alguém descer.

-Senhorita, este é o museu; ele falou, fazendo-lhe uma breve mesura.

A jovem assentiu com um sorriso nos lábios, uma brisa suave esvoaçou os cabelos vermelhos que caiam displicentes pelos ombros e os orbes castanhos quase negros pareceram cintilar.

-Obrigada; ela falou com a voz calma e controlada.

Do alto das escadarias do museu de artes de Dublin um rapaz descia correndo para lhe receber, a franja esmeralda caia repicada pelos olhos e o mesmo parecia ter muita pressa, ou então estava atrasado.

-Senhorita Belmonte, perdoe o atraso; Issak falou aproximando-se com uma pasta nas mãos, prestando-lhe uma breve mesura.

-E você, é? –a jovem perguntou fitando-lhe curiosamente. Sentia uma energia diferente emanada daquele rapaz, o que fez com que velhas lembranças viessem a tona, lembranças bastante interessantes; ela pensou, enquanto seus olhos corriam pela fachada antiga do museu. O lugar era perfeito, como queria.

-Issak, sou da New Land, represento Alexia Colfer, senhorita; o ex-marina falou estendendo-lhe a mão cordialmente.

-Sim, Alexia me falou algo sobre um representante; ela falou vagamente aceitando o cumprimento, vendo-o pousar um beijo suave sobre as costas da mão enluvada.

-Me acompanhe, por favor, senhorita, vou mostrar-lhe as instalações; ele falou oferecendo-lhe o braço.

Com um aceno, o motorista afastou-se retornando ao carro e retirando-se dali. Subiu as escadas acompanhada do marina, era interessante, já conhecera muitos lugares, mas a atmosfera de Dublin tinha realmente um ar de mistério e magia; ela pensou deixando-se guiar.

.II.

Desligou o telefone, ouvindo alguém bater na porta, mandou que entrasse, enquanto levantava-se da cadeira e seguia até um aparador próximo a janela, que continha uma jarra de água.

-Com licença; Kanon falou.

-Deixe de formalidades Kanon, pode entrar; Alexia falou sorrindo. –Quer beber algo? –ela perguntou.

-Não obrigado; ele respondeu com um fino sorriso. –Mas Eliana me disse que queria falar comigo, algum problema?

-Na verdade não, mas queira te perguntar uma coisa; Alexia falou recostando-se no aparador e voltando-se para ele.

-O que? –Kanon perguntou curioso.

-Tem alguma coisa pra fazer amanhã à noite?

-Uhn! Não; ele respondeu com simplicidade.

-Amanhã a noite vai acontecer um coquetel no museu de Dublin, uma artista estrangeira vai expor seus trabalhos, muitos dos eventos quetêm o nome dela são voltados para as fundações, entre elas a New Land. Então, gostaria que você fosse amanhã junto conosco;

-...; Kanon assentiu. –Como é o nome dela? –ele perguntou sem muito interesse, não que não gostasse de arte, mas vivera a vida toda em um lugar onde se transpirava e respirava isso vinte e quatro horas por dia, que estava precisando de uma folga do assunto.

Viu Alexia aproximar-se da mesa e entre os papéis encontrar um encarte, que lhe estendeu em seguida. Pegou o papel em mãos, vendo alguns dos quatros a serem exibidos no museu como plano de fundo do encarte.

-Jéssica Belmonte;

-O que? –Kanon perguntou sentindo por um momento a mão vacilar e o papel ir ao chão.

-Algum problema? –ela perguntou ao vê-lo empalidecer.

-Nã-ão, só que; ele balbuciou com a voz trêmula.

-Kanon, você está se sentindo bem? –Alexia perguntou tencionando se aproximar, mas viu-o recuar um passo instintivamente. –Você a conhece? –ela perguntou de maneira enigmática.

-Não, o nome só me soou familiar; o cavaleiro respondeu balançando a cabeça levemente para os lados, deveria ser coincidência, apenas isso, quantas mulheres existiam no mundo com o mesmo nome? Que conhecia? Apenas ela; ele pensou prendendo a respiração nervosamente.

-Kanon; ela chamou-lhe a atenção.

-Ahn! Que horas vai ser amanhã? –o cavaleiro perguntou recuperando a compostura, adquirindo um ar mais frio que o normal.

-Às sete; Alexia respondeu achando estranho à forma que ele agia.

-Eu estarei lá; o cavaleiro avisou. –Deseja mais alguma coisa?

-Não; ela avisou, fitando-o atentamente.

-Então, com licença; Kanon falou deixando a sala rapidamente, sem que nem ao menos Alexia pudesse falar algo.

-Estranho, muito estranho; a jovem balbuciou abaixando-se para pegar o encarte e vendo que logo na capa estava a foto da jovem expositora. Será que eles já se conheciam? –Alexia se perguntou intrigada.

Balançou a cabeça levemente para os lados, deveria ser só impressão a sua e o nome deveria ter realmente soado familiar para ele; ela tentou se convencer enquanto voltava ao trabalho.

-o-o-o-o-o-

Tédio, essa sim era uma boa palavra para definir aquele momento. Se havia uma das suas maiores paixões alem de deuses gregos encarnados e vinhos, eram museus, mas não estava gostando nem um pouco daquele tour.

Respirou fundo, sutilmente desvencilhando-se do braço do rapaz, enquanto caminhava até uma dasestátuas da ala medieval.

-Algum problema, senhorita? –Issak perguntou.

-Não, quero apenas vê-las de perto; a jovem respondeu contando até dez, iria ter uma conversa séria com Alexia depois, por mandar um legítimo puxa-saco para ser seu guia.

Aquele garoto não parava de falar sobre a historia de Dublin e tudo o mais, não duvidava que ele fosse um dos apreciadores da nova novela das seis do Brasil, porque aprender sobre a história local de maneira fácil só sendo fã da Malu Mader ou Thiago Lacerda; ela pensou balançando a cabeça levemente para os lados.

Será que chegaria ainda o dia que as pessoas iriam se interessar por história, de livre e espontânea vontade e não na base da pressão e tortura?

Passou pelas armaduras de prata e não pode deixar de dar um meio sorriso, aquilo trazia muitas lembranças, algumas não tão boas quanto às outras, mas as que eram agradáveis, procurava sempre mantê-las em primeiro lugar.

-Não sei se a senhorita sabe, mas um dos grandes revolucionários na literatura européia viveu aqui; Issak falou em tom solene aproximando-se.

-Eu sei, Oscar Wilde, mas ele só foi revolucionário, porque a sociedade da época era hipócrita demais, para admitir que ele era gay e não tinha vergonha disso; Jéssica respondeu num tom frio cortando a aproximação do marina. –Mas no fim, preferiram chamá-lo de excêntrico e louco, do que admitir suas próprias falhas de caráter;

-Ahn! Bem...; ele balbuciou recuando instintivamente. –E também...;

-Foi ele que escreveu a obra o Retrato de Dorian Gray, refletindo exatamente essa fase, onde um garoto de dezenove anos ao cair na realidade de que não vai ser eternamente belo, acaba ganhando o dom e a maldição de jamais envelhecer, em troca disso, seu retrato sofre todas as deformações de seu caráter ao longo dos anos. Sim... Bastante fascinante; ela falou gesticulando displicente.

Ao longo dos últimos anos já conhecera muitos do tipo, que não fora a única a chamar de 'Jovem Adônis' como Basílio Hallward, o pobre pintor a criar a mais fascinante das obras. O belo Dorian retratado em óleo sobre tela. O rosto de menino, olhos de anjo, sorriso acolhedor, porém que tornara-se seu algoz antes do ultimo suspiro.

Oscar Wilde fora um gênio sádico, alias, talvez ele e Sade seriam perfeitos para darem as mãos, ambos com gênios excêntricos e indomáveis, que adoravam chocar a sociedade de sua época. Vai ver que era por isso que Carlos V queria tanto que Rochester entrasse na linha e se tornasse o tão adorado Shakespeare deElisabeth.

Cada um marcou sua própria época e foi perfeito em meio a seus próprios defeitos. Deu um alto suspiro, fechando os olhos por um momento, quantas histórias cada um daqueles personagens tinham a contar.

Desde A tempestade até O Retrato de Dorian Gray. O passado era fascinante, porém viver apenas dele era deixar-se levar pela insanidade utópica de que o mundo ainda seria perfeito e não, algo sempre num ciclo contínuo de evolução.

-Se não se importar, gostaria de falar com o curador agora. Quero saber direito onde minhas telas ficarão e como será feita a segurança do evento; a jovem falou voltando-se para o cavaleiro.

-Me acompanhe, por favor; Issak falou estendendo-lhe o braço cordialmente, porém a jovem passou por si, indo em direção a saída daquela ala.

Todo passado é cheio de mistérios, cenas que jamais foram descritas em livros, mas que apenas seus personagens puderam vivê-las em toda sua essência. Nenhum passado descrito está livre de alterações, ainda mais quando se tornam parte de um livro. Mas o que fazer com aquelas que nunca chegam a tornar-se parte de um volume?

.III.

Fitou o sol que aos poucos desaparecia na linha do horizonte, ainda ouvia as palavras de Alexia ecoando em sua mente, ainda tinha algum tempo antes de se arrumar para o evento.

Pensou várias vezes em ligar para a jovem, avisando que não iria poder ir, ou tentando dar alguma desculpa para não comparecer naquele evento, mas sabia o quanto Alexia poderia ser insistente para obter informações, então desistiu.

Jéssica Belmonte, como será que ela estaria depois de tantos anos? –ele se perguntou intrigado.

Sabia que não havia outra forma de descobrir se não, indo ao evento, mas e se ela não lhe reconhecesse, ou pior...; Kanon pensou fazendo uma pausa em seus próprios pensamentos.

Já fugira demais, como Mú lhe dissera uma vez, evitar enfrentar o próprio passado era o mesmo que abandonar aqueles que lhe eram caros a mercê do próprio destino, então... Não havia outra alternativa se não ir.

Afastou-se da janela, encaminhando-se para a cama, onde havia deixado o terno e o sobretudo que usaria, embora fosseinício de outono, a estação ali era bem inferior as dos países do mediterrâneo onde era calor o ano todo.

Alguns minutos depois, o Maserati azul deixava o prédio, rumo ao museu e ele mal sabia as surpresas que iria encontrar em meio a tantas paredes impregnadas de historia.

-o-o-o-o-o-

Aproximou-se do espelho, fitando-se atentamente enquanto passava o delineador, no contorno dos olhos, mas parou imediatamente, afastando-se no momento que um brilho avermelhado apossou-se deles.

Suspirou, jogando o lápis dentro da nécessaire, enquanto jogava o roupão sobre a cama e começava a se vestir, poderiam ter-se passado anos, mas algumas coisas não mudavam; ela pensou, vendo o vestido longo sobre a cama.

Não que fosse dada a usar roupas tão pouco usuais, mas infelizmente não poderia simplesmente colocar um jeans, all star e jaqueta, para aparecer no meio daquele coquetel.

Se bem que seria interessante... Daria muito o quê falar para aquele povo louco por algum choque cultural, mas não era isso a lhe chamar a atenção e sim aquele vestido.

Vermelho sempre fora sua cor favorita, mas aquele modelo era mais uma das coisas a lhe trazer velhas lembranças. Um meio sorriso formou-se em seus lábios, tocando a seda fina que deslizou por sua mão.

Se bem se lembrava, ele chegava até o chão e da barra até quase o colo, rosas vermelhas estavam desenhadas, algumas num tom mais escuro, príncipes negros, principalmente as da barra, para subirem da cintura para cima tão vermelhas quanto sangue.

As alças eram finas e o decote era discreto, pelo menos na frente. Respirou fundo, estava na hora de enfrentar aquela multidão de pessoas, quem sabe se fosse um pouco mais sociável isso não soasse tão aterrorizante, mesmo depois de tantos anos com experiência nisso.

Levantou-se, terminando de se arrumar rapidamente, não poderia se atrasar, a noite seria longa... Muito longa.

.IV.

-Nunca mais eu banco o cicerone; Issak falou enquanto entrava no museu acompanhado de Alexia, Yo e os demais marinas.

-Issak, menos, você não está na sua casa; Yo falou em tom cortante, enquanto de braços dados com Alexia, guiava a jovem pelo salão principal, rapidamente sendo abordado por uma infinidade de repórteres a fazerem perguntas das mais variadas categorias.

-É sério, você não teve que ficar com ela para saber que não é fácil; ele continuou, enquanto acenava casualmente para algumas fotos. –Aquela garota é estranha;

-Ela não pode ser muito normal mesmo, para ter aturado você o tempo que você disse que foi; Kasa falou sarcástico, vendo-o serrar os orbes de maneira perigosa.

-Oras, seu;

-Parem com isso; Kanon falou colocando-se entre eles. –Alexia, se não for pedir muito, da próxima vez você arruma uma babá e deixa esses dois em casa; ele completou aborrecido.

-Hei! –eles reclamaram ao compreenderem o que ele dissera.

-Vou me lembrar disso Kanon; Alexia falou rindo. –Mas vejam, ali está ela; ela completou apontando para uma jovem rodeada de repórteres.

Sentiu o corpo enrijecer e ser tomado pela tensão, não sabia por que, mas em seu intimo desejava até aquele momento que tudo não passasse de uma 'feliz' coincidência, mas agora sabia que não.

Os cabelos vermelhos agora estavam lisos, presos em um coque, com apenas alguns fios soltos, o vestido igualmente vermelho moldava-lhe o corpo perfeitamente descendo até o chão, tudo estava da mesma forma que se lembrava, desde aquele dia; ele pensou sentindo sua mente ser tragada por lembranças das quais, julgou estarem enterradas.

Viu-a de costas para a entrada da sacada, debruçada no alpendre, os cabelos vermelhos antes cacheados estavam presos em um coque liso, apenas com alguns fios soltos a caiar sobre os ombros.

Tão jovem e tão perigosa; ele pensou com um sorriso nada inocente nos lábios, enquanto os orbes verdes cintilaram ocultos pela mascara negra que cobria-lheparcialmente a face.

Afrouxou lentamente a gola da camisa, deixando os dois primeiros botões abertos, detestava festas formais, principalmente aquelas que lhe faziam parecer um pingüim, mas decidira que iria naquela apenas para vê-la mais de perto.

Era um risco que corria, mas que não se importava nem um pouco de corrê-lo.

-Linda noite, não? –ouviu um sussurro rouco chegar até si e virou-se rapidamente para trás.

O terno preto tinha um ótimo caimento sobre ele, às melenas azuis caiam sobre os ombros levemente úmidas e onduladas. O sorriso cafajeste bailava em seus lábios, destacando ainda mais as presas salientes que marcavam o personagem interpretado por ele, bastante propício para aquela noite de lua vermelha.

-Quem sabe; respondeu num tom frio e calculado.

-Parece preocupada, ou é minha presença que lhe perturba? –ele perguntou aproximando-se com um olhar felino, porém foi com frustração que não a viu recuar.

-Talvez um pouco dos dois, pois não estou aqui para me divertir, muito menos bancar de babá para você; a jovem rebateu seca.

-Não era disso que eu me referia; ele falou apoiando ambas as mãos, uma de cada lado da jovem, impedindo-a de se afastar, tendo como única alternativa, encostar-se no alpendre para se esquivar dele. –E você sabe disso; completou num sussurro enrouquecido em seu ouvido, para em seguida pousar um beijo suave sobre a curva do pescoço da jovem.

-Não se atreva; ela avisou, tentando empurra-lo.

-Me detenha? –ele provocou com o sorriso em seus lábios alargando-se.

-Kanon!

Piscou confuso ao voltar-se na direção de quem lhe chamava, encontrou o olhar preocupado de Alexia sobre si e dos demais marinas que pareciam bastante curiosos com seu completo desligamento do mundo real a segundos atrás.

-Uhn?

-Alexia estava falando que ia nos apresentar a artista; Issak falou cauteloso. –Mas você estava longe;

-Desculpe, estava distraído; ele apressou-se em justificar-se.

-Tudo bem, mas vamos logo, antes que os repórteres voltem a atacá-la; Alexia falou mudando rapidamente de assunto.

-...; todos assentiram seguindo com ela pelo salão, sem ao menos notar que ele havia ficado ali.

Não estava pronto para encontrá-la agora, sabia que Alexia provavelmente iria desconfiar de algo depois, mas era melhor agüentar isso do que não saber o que falar quando estivessem cara a cara novamente.

-o-o-o-o-o-

-Jéssica;

Virou-se quando ouviu uma vozconhecidalhe chamar, embora só houvessem se falado por telefone, algumas coisas não mudavam; ela pensou sorrindo ao ver a jovem de melenas esverdeadas se aproximar acompanhada de um séqüito de homens elegantemente vestidos.

-Oi;

-Finalmente podemos nos conhecer pessoalmente; Alexia falou indo cumprimentá-la. –Alexia Colfer, é um prazer conhecê-la;

-Igualmente e obrigada novamente por me arrumar esse espaço para expor; a jovem respondeu em meio a uma mesura.

-Imagina, é sempre bom receber pessoas de talento aqui; Alexia respondeu. –Mas deixe-me lhe apresentar meus amigos e que fazem a New Land funcionar; ela brincou.

Virou-se para os rapazes reconhecendo o 'mala' entre eles, procurou respirar fundo e tentar ser o mais cordial possível, mas seria obrigada a retalhá-lo com o olhar, se ele viesse querer lhe passar um monólogo sobre mitologia grega novamente.

-Esses são Yo, Kasa, Krishina, Issak... Ele você já o conhece, Bian e Kanon; ela falou voltando-se para os marinas, mas notou que estava faltando um. –Onde estáo Kanon?

-É um prazer conhecê-los; a jovem falou com um suave sorriso, mas parou quando ouviu o último nome.

-Oras, ele estava atrás de nós; Alexia reclamou aborrecida com o sumiço do cavaleiro, de alguma forma sabia que isso fora proposital. –Jéssica, me desculpe, mas acho que ele se perdeu pelo caminho; ela falou com um sorriso forçado.

-Não tem problema, creio que terá tempo de nos apresentar depois; Jéssica respondeu calmamente.

-Mas me diz, esta ocupada, ou pode nos falar um pouco sobre suas obras? –Alexia perguntou casualmente.

-De maneira alguma, venham comigo; ela respondeu indicando-lhe a galeria repleta de quadros.

-Como se chama esse? –Yo perguntou detendo-se no primeiro quadro que abria a exposição.

-Deusa dos Mares, terminei-o recentemente; Jéssica respondeu indicando o painel onde um mar revolto era retratado com cores fortes que variavam entre o azul e o verde, as ondas pareciam quebrar-se em rochedos imaginários, mas que por fim, acalmavam-se no canto direito da tela, onde a espuma das águas erguia-se da superfície formando a imagem de uma bela mulher.

-Interessante; o marina murmurou aproximando-se da tela com curiosidade.

-Gosta de mitologia, senhorita? –Bian perguntou casualmente.

-Muito; Jéssica respondeu. –Principalmente grega, mas não foi por isso que pintei esse quadro; ela falou apontando para o mesmo.

-Não, então qual a historia por trás dele? –Krishina perguntou interessado.

-A verdade é que costumo pintar as coisas que gosto, não por moda ou porque alguém gosta daquilo que faço. Apreciar meu trabalho é mera conseqüência, por assim dizer; Jéssica respondeu com um sorriso calmo. –Gosto de pintar aquilo que sonho, alguns mesmo que sejam impossíveis, afinal, já que nosso pensamento é livre e dotado de asas velozes, nada mais justo do que deixá-lo tomar vida própria às vezes; ela completou de maneira enigmática.

-Ele esta à venda? –Yo perguntou voltando-se para ela.

-Infelizmente não, ele faz parte de um acervo particular; Jéssica respondeu vendo o desapontamento nos olhos do rapaz. –Mas, podemos conversar melhor sobre isso outra hora, se assim o desejar;

-...; ele assentiu, lançando um olhar de soslaio a jovem de melenas esverdeadas que corou levemente com isso.

-Ahn! Quem ela está esperando? –Kasa perguntou aproximando-se de outra tela, onde uma jovem era retratada em um jardim florido, sentada em uma mesa próximo a uma escada onde os balaustres eram tomados pelas eras e uma sombra fresca pairava sobre a mesma.

-O Brad Pitt; Jéssica respondeu abafando o riso.

-Como? –ele perguntou confuso.

-Esse quadro se chama 'Encontro Marcado', eu o fiz pensando naquela escada; ela explicou indicando o local.

Qualquer um que deixasse a imaginação fluir, poderia ver que logo um rapaz iria surgir no alto daquela escada e que a qualquer momento, veriam a cabeça da jovem inclinar-se para trás, deixando os cachos castanhos caírem sobre os ombros, enquanto a aba do chapéu movia-se com o vento. Até seus olhares se encontrarem e ela vê-lo descer cada um dos degraus daquela escada, vindo em sua direção.

-Todos seus quadros têm uma historias por trás? –Issak perguntou curioso.

-Me responda qual obra não tem uma historia por trás? –Jéssica rebateu, voltando-se para ele.

-Bem...;

-Embora sejam poucos que conheçam a história, mas todas têm a sua, desde o porquê do cisne de Leda ter aquele sorriso malicioso, até a posição nada casta da estátua de Santa Teresa, de Bernini; Jéssica falou com um meio sorriso. –Cada obra, por menor que seja, tem um pouco de seu criador refletido ali, um pedacinho de alma que fica entre as tramas da tela, os pigmentos da tinta e o passo suave do pincel sobre o tecido ou entalhe feito pelo formão, enfim...; ela completou dando um baixo suspiro.

-Algum muito oculto, que jamais seja revelado? –Alexia perguntou com um sorriso maroto nos lábios.

-Não; ela respondeu calmamente.

-Então, quem é o jovem das rosas negras? –ela perguntou apontando para um quadro, onde a face de um rapaz era coberta por uma máscara, onde o fundo era repleto de fartas rosas, porém todas eram negras.

-Longahistória; Jéssica respondeu, ouvindo alguém lhe chamar. –Com licença, eu já volto;

-...; todos assentiram, vendo-a se afastar.

-Quem será que é? –Bian perguntou aproximando-se com os demais da tela que Alexia falara.

-Eu não sei vocês, mas isso responde muitas coisas; a jovem falou apontando para uma frase que jazia embaixo da tela, contendo a assinatura da jovem de melenas avermelhadas.

-O quê? –Yo perguntou abaixando-se um pouco para ler.

(...) Tudo que é bom, vem em dois. (...)

-O que ela quer dizer com isso? –Kasa perguntou confuso.

-Vai saber, ouvi dizer que muitos artistas são excêntricos; Issak comentou.

-É, talvez...; Alexia balbuciou, embora não concordasse completamente com o que ele acabara de falar, mas realmente isso resumia tudo agora.

Continua...