Trick 1# Pretty face inside a song.

Que se pode dizer de um garoto de dezesseis anos que conquistara a fama de forma rápida, como estrondo no ar?

Que era desejado por milhares de garotas.E brilhante.Gostava de coca-cola e pizza.E de mim.Um certo dia, após tempos inevitáveis de amizade, ele me ligou e perguntei qual era minha relação com seus vícios alimentícios, e me respondeu sorrindo: "Alfabética".No momento, sorri também; mesmo sabendo que Rebecca Lovett viria por último em sua lista, o que de fato me aborrecia profundamente.

Era inverno quando o conheci.Minha mãe trabalhava dias e noites em busca de uma foto perfeita.Não era para books ou editorias.Era na verdade, para a revista de fofocas mais badalada de toda Londres.Sua missão nessas férias era descobrir o novo affair do inglês mais queridinho: Skandar Amin Casper Keynes.

Lembro-me bem de como eram raros os momentos em que a Sra.Lovett convidava minha presença em suas perseguições de flashes, sempre preferia sua outra filha, minha adorável irmã Louis Ann, que demonstrava total interesse em entrevistas, fama e holofotes.Carinha de uma, fuçinho doutra.A mesma sempre discutia nas suas horas vagas sobre o quanto era estúpido ficar trancada num quarto, batendo poesias e tocando violão, e para variar, costumava usar-me como exemplo de um perfil "rebaixada socialmente".Fazia questão de me guiar até seu paraíso de quarto, com paredes rosa-carmim e postêres dos famosos de rostos bonitinhos.Minha irmã era fissurada por três singelas coisas: Boates;Champagne;Fama.Essa era sua vida de mil maravilhas reluzentes, contrapondo com meus Beatles, Mozart e Bach.

10:23am.O sol raiou de forma jamais vista, entre cores faceiras e pásteis; aquele tom de céu queimado, fora do azul-comum invadia minha janela.O dia prometeu ser diferente.

A voz irritante de minha mãe ecoara desesperadamente, harmoniando com o barulho de seu salto no assoalho.Acordei pronta para ter de preparar as panquecas, trajando meu costumeiro moletom cinza e o nike surrado de sempre.Baque fatal.Nossas duas frontes se chocaram quando abrimos a porta, sorrimos delicadamente.Tudo parecia estar acontecendo num ritmo contra o dejavu rotineiro: panquecas;colégio;louis ann gritando o caminho todo até o conservatório ...

- Oh meu bem!Está inteira? – Aquela mulher de cabelos longos e loiros, a qual chamava de mãe, estava pouco menos nervosa, estendendo a mão para ajudar-me a levantar.

- Claro!Obrigada pela consideração – Recusei a ajuda e coloquei-me a caminho do banheiro, segurando o roupão verde-musgo praticamente no chão.

- Não se preocupe com banho minha adorada – Olhei faceiramente para aquela face plastificada, onde os olhos azuis assustavam no close – Estamos indo para Espanha, ainda hoje!Não é magnífico?

- Pode haver algo mais magnífico do que viajar contigo e com a mini megéra? – Retruquei cabisbaixa, prendendo os cabelos embaraçados como um ninho.Desengonçada.

- Sua irmã não irá junto, mandei ela viajar para um curso preparatório da Brodway – Certamente lembro-me do quanto segurei o riso.Pobres professores da Brodway, pensei comigo – Vamos apenas eu e você.E claro, minha equipe de fotógrafos assistentes.

- Jura?Quem é o rico sem costela que teremos de caçar esta vez?

- Sei que a busca pela foto do Manson não foi tão agradável para você – E com certeza não foi; minha primeira viagem como fotografa free-lancer tive de deparar com um ser esquizofrênico, branco e rude, tentando comenter um assasinato sobre meu corpo.Talvez por isso tenha ficado pouco traumatizada – Vamos em busca do elenco das Crônicas de Nárnia.Sabe, daquele filminho do leão que você insiste em ver todas as madrugadas.

Lewis era meu outro vício; alfabeticamente o último, mas não o pior.Contrário, talvez o melhor e mais precioso de todos meus amores.Passava as noites em claro lendo suas obras, ou sentada na biblioteca particular de meu falecido pai, contando as maravilhosas fantasias que o irlandês havia escrito.Não chegava a considerar-me um alguém solitário, tinha a companhia de minha música, meus livros e de meu namorado Lucas.

- Mamãe, não posso viajar.Vou entrar de férias e bem, pretendia ir para a Irlanda do Norte com o Lucas.Não estrague meus planos – Desapontada segui pelo corredor, rumo as escadas.Rumo a liberdade.

- Se sair por esta porta esqueça qualquer tipo de viagem!

Surgira dentro de mim aquela irresistível vontade de chorar.Mas resisti.Eu NÃO ia chorar.Limitei-me a voltar o percurso da escadaria e com um sinal de afirmação representar que viajaria para a Espanha, como motivo de felicidade pelo fazer do que ela quisesse.

- Sabia que não recusaria – Foram essas suas últimas palavras da manhã.