O Outro Escolhido
Marc Hauser havia crescido em meio aos computadores. Tinha sido abandonado pelos pais em um terrível orfanato, onde a carência fez com que criasse mais ligações afetivas com os obsoletos computadores que eram usados para manter os órfãos entretidos. Dos seus pais nada sabia, apenas uma estranha história que foram mortos conspirando contra o governo. Histórias que Hauser tirava da sua fantástica capacidade de navegar e hackear a Internet.
Computadores eram tudo para Hauser. Ele se admirava com sua perfeição, com o mundo onde ninguém o recriminava nem ria de sua cara, com a liberdade que lhe passava o meio eletrônico. A sua predileção pelas máquinas desde a mais tenra idade, lhe valeram um corpo obeso e extremamente pálido. Isso, somado a crueldade infantil que lhe estigmatizar com o apelido de "gordo azedo", aumentou mais ainda a sua obsessão com as máquinas. O código não lhe recriminava, o código o aceitava como uma mente, uma inteligência capaz de dobrá-lo e programá-lo, de submetê-lo à sua vontade.
Quando atingiu a maioridade, Hauser conseguira um emprego de programador de uma companhia de segurança de sistemas, um emprego no qual não precisava sair de casa. Os anos de reclusão que se seguiram acabaram por transformar os seus cabelos loiros em quase brancos, o que levava aos poucos que tinham contato com o programador a pensar que ele era um albino. Um estranho e obeso albino.
A essa altura, Hauser já tinha adotado um segundo nome, o seu nome dentro da rede. Ele era conhecido como Defrag, uma alcunha conquistada devido às milhares de invasões que fizera, fragmentando o código ao invadir sistemas. Fazia isso pelo simples prazer de poder punir todas aquelas pessoas que o humilharam durante toda a sua vida. Cedo ou tarde, os homens de sucesso que o excluíam e as belas mulheres que o rejeitavam dependiam do mundo eletrônico para sobreviver. E era aí que Defrag atacava, quebrando as frágeis defesas dos programas bancários e violando a privacidade da sociedade que nunca o aceitaria. Isso era tudo que o quase-albino podia fazer.
Certa noite, Defrag estava deslizando pela rede buscando novas presas para suas invasões, quando se deparou com um gigantesco banco de dados extremamente protegidos em um região da Matrix. Todos os programas de rastreamento eram deletados sem que ao menos lhe retornassem alguma informação aproveitável. Defrag sabia que só havia uma organização capaz de colocar tantos investimentos para criar um sistema de defesa tão agressivo e inexpugnável. Era um site governamental, pensou Defrag.
A quantidade de Gelo (ou como eram chamados os programas de proteção de alto nível) ao redor do banco de dados governamentais era impressionante. Qualquer que fosse o sistema que estivesse protegendo, devia ser algo muito valioso, pensou Defrag. Ele iria tentar invadir, é claro. Violar o governo era como violar sociedade como um todo, era uma vingança perfeita. E uma grande diversão.
O programa de invasão ficou pronto depois de semanas de programação incessante, o que causou a Hauser várias ameaças de demissão por meio de nervosos e-mails de seu chefe. Mas Defrag estava completamente devotado ao projeto. O segredo era criar um programa que se associasse ao fluxo de informações e entrasse dentro do sistema de dados como se fosse um fluxo normal de informações. Batizou o seu programa de Rêmora, pois, assim como o peixe-parasita, ele iria grudar em um dos pacotes de dados que constantemente entravam para o gigantesco sistema e que, devido à sua assinatura digital, passavam pelas eficientes proteções.
Assim que ficou pronto, Defrag imediatamente testou a Rêmora em um banco de dados de uma operadora de cartões de crédito que considerava possuir um sistema de defesa razoavelmente eficiente. O obeso albino sorriu largamente quando viu o pequeno programa penetrando por todas as camadas de proteção da operadora e lhe oferecer todos os dados como uma sobremesa de chocolate de um restaurante de luxo. Finalizado o teste, Defrag lançou o seu programa em um pacote de informações que partira endereçado ao banco de dados governamental. Seus olhos nem ao menos piscaram quando observava na tela do seu computador o seu pequeno programa sendo aceito dentro do banco de dados como uma informação qualquer. O Rêmora tinha apenas mais uma função embutida, além da capacidade de imitar um pacote de informações qualquer: ele roubava senhas e enviava imediatamente para Defrag.
Imediatamente, Defrag usou a senha de 243 dígitos enviada por Rêmora e entrou no sistema. E o que encontrou quase o fez cair de sua cadeira. Ali estavam os dados de milhares, não milhões de pessoas, de todo o mundo. E não eram apenas dados bancários, legais, de identificação, etc. Eram dados sobre as vidas dessas pessoas, de todos os momentos íntimos, até mesmo registros dos seus pensamentos e sentimentos. Existiam arquivos infindáveis de vídeo sobre a vida dessas pessoas, e outros registros que indicavam suas ações futuras.
Depois do choque inicial, Defrag começou a explorar as vidas que tinha em sua tela, vendo com assombro a capacidade impressionante de informações que o governo tinha dessas pessoas. Depois de algum tempo percorrendo por todos essas vidas, Defrag notou algo estranho. Para todas as pessoas que ele acessava, havia duas categorias de arquivos, um denominado de Simulação e outro denominado de Simulacro. Quando ele ia clicar no arquivo de Simulacro, um barulho na sala de seu pequeno apartamento lhe chamou a atenção.
__Olá? Tem alguém ai?__ gritou Hauser, deslizando sua cadeira até a porta do seu quarto para ter uma melhor visão da sala. Não havia ninguém, a porta estava fechada e as poucas mobílias empoeiradas como sempre estiveram. Antes de voltar para o quarto, Hauser olhou pela janela. Havia uma corda que balançava do outro lado do vidro e que batia levemente na janela, causando o barulho. Um barulho que foi substituído por outro, muito mais forte, vindo do seu quarto. O som de vidros se quebrando.
Hauser pulou da sua cadeira e correu para o seu quarto, o mais rápido que os seus 150 kilos permitiam. No meio do seu quarto, entre sua cama e o computador, estava um jovem de óculos escuros e vestido com um belo capote negro. O jovem era magro e belo, e passava um ar de serenidade e poder que Hauser jamais havia visto antes. O jovem parecia estar vendo sua alma através daqueles óculos escuros.
__Mas o que está acont...__tentou perguntar Hauser, antes de ser interrompido pela destruição da janela da sala. Outra pessoa havia invadido o seu apartamento, mesmo ele estando no décimo-quinto andar de um dos maiores prédios habitacionais da cidade. Porém a raiva e a surpresa que se misturavam dentro de Hauser foram dissolvidas pela figura que entrou em seu quarto. Era uma mulher belíssima, talvez a mais linda que Hauser já vira em seus 21 anos de vida. Ela tinha um cabelo preto e escuro, e um corpo atlético e feminino ao mesmo tempo. A roupa de vinil negro acentuava a sensualidade da mulher, e os seus óculos escuro lhe davam um ar de mistério e força. Ela carregava um cinto com várias granadas, duas mini-uzis e levava um enorme rifle de assalto AK 47 no ombro. Era a primeira vez que Hauser via essas armas ao vivo, mas sabia o que exatamente o que eram e o que podiam fazer, principalmente depois de anos de Counter-Strike. Hauser baixou os olhos, com a certeza que uma mulher daquelas iria certamente vê-lo como um ser patético. Ele preferia encarar o jovem de negro. A tela do computador continuava ligada, com as duas opções piscando para serem escolhidas: Simulação ou Simulacro?
__Eu...o que vocês querem...é um roubo?__perguntou Hauser, cada palavra lutando para sair do mar de medo que começava a inundar sua mente. Ele tinha invadido muitas contas bancárias e bagunçado a vida de tanta gente, que o que estava acontecendo tinha que ter alguma relação. Talvez fosse uma vingança; talvez uma ameaça. Mas ao mesmo tempo que essa hipótese surgiu em sua mente, a visão daquela misteriosa mulher a dissolveu imediatamente. Ele teria se recordado dela, daquele rosto perfeito, daquela boca...
__Não tenha medo, Defrag. É esse o nome que você usa na rede, não?__disse o jovem.
__Não, você está enganado...eu não sou...
__Defrag, eu sou Neo, lembra-se? Há muito tempo atrás trocávamos informações e programas na rede. Você me ensinou quase tudo sobre programas de invasão, não se lembra?
A mulher andava nervosamente pelo apartamento, checando todas as janelas e segurando um telefone celular permanentemente no ouvido, como se tivesse escutando informações de alguém. Quando Defrag ia responder a pergunta de Neo, ela interrompeu o quase-albino:
__Neo, apresse-se. Os Agentes já sabem da localização dele e já cercaram o prédio. Tank está me informando que todos os telefones fixos desse prédio estão desligados. Temos cerca de cinco minutos até que os Agentes cheguem.
Neo olhou para a mulher e colocando a mão na cabeça, disse:
__Três minutos é muito pouco para ele, Trinity...Se os Agentes chegarem, eu cuido deles.
Trinity apenas olhou para Neo enquanto ia para sala ficar de guarda. Neo se virou para Defrag, que suava muito e estava ofegante.
__Defrag, sente-se.
O obeso hacker sentou imediatamente, e esboçou uma resposta:
__Neo...me lembro de você...Você tinha um certo talento para o código, mas era muito afobado...Criava alguns programas que, mesmo cheio de defeitos, funcionavam...Mas, você é assim? Jamais imaginei que...
__Defrag, teremos muito tempo depois, dependendo do que você escolher...O que eu posso te dizer é que as suas ações chamaram a nossa atenção. Ninguém chegou tão próximo à verdade por conta própria. Defrag, você conseguiu vencê-los dentro do jogo deles, você os derrotou usando as regras que eles usam para nos escravizar. Ninguém fizera isso sozinho antes.
Hauser olhava para Neo, mais confuso ainda. "Que conversa louca...", pensou. Porém, o que um gordo sedentário como ele podia fazer com esses dois psicopatas? Ele podiam acabar com a sua raça a qualquer momento.
__Neo...se você é mesmo ele......Quem são esses "Agentes"? E o quê são "vocês"?
Neo pensou um pouco, viu a tela do computador ligada e disse:
__Continue o que você estava fazendo Defrag. Esse sistema que você invadiu é um dos centros de controle da Matrix, a Central de Monitoramento de Indivíduos.
Confuso, Hauser deslizou sua cadeira em direção à tela do computador. O brilho do monitor o acalmava, dentro daquela situação bizarra, a tela lhe dava um pouco de conforto, ele estava de volta ao mundo eletrônico, onde não havia surpresas nem sustos. Nem medo.
__Neo! Tank acabou de me informar que eles estão subindo! __gritou Trinity da sala, empunhando a AK 47 em direção à porta de entrada do apartamento. Neo apenas observava Defrag fitar as duas escolhas: Simulação ou Simulacro.
Defrag clicou no Simulacro da mulher cuja vida ele havia bisbilhotado e ele viu a tela do seu computador mudar totalmente de visual. Uma série de janelas foram se abrindo uma sobre as outras, e em cada uma delas, uma imagem grotesca de uma espécie de ovo translúcido envolvido no meio de um monte de ferragens. Estranhos robôs negros, com formas parecidas com aranhas, andavam por entre as engrenagens do ovo translúcido. Usando as possibilidades apresentadas, Defrag explorou a visão do ovo, usando as câmeras que eram os olhos dessas aranhas mecânicas como fonte de visão. Sentiu seus olhos querendo escapar de seu crânio quando descobriu o que havia dentro do ovo.
Envolvida em um líquido gelatinoso e transparente, estava a mesma mulher do arquivo que ele havia olhado. A mesma mulher, que o arquivo dizia ser casada, ter três filhos, trabalhar como enfermeira em uma escola, a mesma mulher estava dentro do casulo, sem cabelos e com fios plugados em diversas partes de seu corpo!
__Mas como? O que é isso?__exclamou, ainda com os olhos grudados na tela.
__Isso é como essa mulher realmente é. Defrag, tudo isso que você vê a sua volta é uma simulação. Toda a realidade que vivemos é uma simulação criada para manter nossas mentes operando, enquanto a energia dos nossos corpos é drenada para alimentar máquinas. O que você viu é uma parte do mundo real, o mundo que existe além da simulação que você chama de realidade.
__Espere um pouco...Você está indo rápido demais para mim...Você está querendo me dizer que nesse ovo é onde está o verdadeiro corpo da mulher e que essa vida aqui descrita na simulação é apenas um construto criado virtualmente? Mas como? Porquê?
__Houve uma batalha entre os homens e as máquinas, e elas venceram. Os homens tentaram fazer com que elas parassem cortando a energia solar, mas elas continuaram usando a energia elétrica de nossos corpos. Mas para que continuássemos a produzir essa energia, tiveram que manter as nossas mentes ativas, enquanto dormíamos nos casulos-baterias. Mas alguns de nós conseguiram se libertar dessa ilusão. E hoje chegou a sua vez, se você quiser...
Uma rajada de tiros interrompeu a fala de Neo.
__Neo! Eles estão aqui! Não temos mais tempo!__gritou Trinity , enquanto descarregava sua arma na porta, fazendo-a em pedaços. Mas os Agentes que estavam por trás dela, desviaram das balas e atiravam de volta. Trinity, soltando a arma, pulou para trás usando todo o Foco para dobrar as leis da Matrix e foi dando cambalhota sucessivas para trás e desviando das balas que vinham dos Agentes. Na última cambalhota, antes de sair da sala, Triniy pegou uma granada de seu cinto e, depois de armá-la, soltou na sala, fechando a porta em seguida. A forte explosão sacudiu as estruturas do apartamento.
__Meu deus do céu, meus deus do céu, eu vou morrer...__gritou Defrag, colocando as mãos na cabeça.
__Não Defrag, isso não é a sua morte...Pelo contrário, é o seu nasciment...
Uma um forte impacto isola a porta do quarto em direção a parede, errando por milímetros o computador de Defrag. Dois homens impecavelmente vestidos de ternos negros e óculos escuros entraram rapidamente no quarto, com um deles pegando Trinity pelo pescoço e jogando-a contra a parede do quarto, destruindo assim parte de um poster do jogo Diablo e da parede que estava por trás. Trinity caiu no chão, mas, girando o corpo de maneira inacreditável para Defrag, ela apoiou uma das mãos no chão enquanto chutava o queixo do homem de terno com o seu calcanhar.
Neo enfrentava o outro Agente com muito mais facilidade. Os dois trocaram uma seqüência de chutes e socos que Defrag jamais tinha visto antes, seja na rede ou forda dela. O Agente que neo enfrentava tentou segurar Neo pelo pescoço, tentando dar uma chave-de-braço, mas foi surpreendido com um golpe de judô, e acabou sendo lançado pela janela abaixo. Porém, mais Agentes entravam no apartamento.
Defrag virou-se para o computador.Talvez essa loucura toda tenha um sentido, pensava. De repente, como um cupim que tivesse passado milênios comendo a estrutura de uma casa e que finalmente a visse cair, Defrag sentiu um estranho frio na barriga. Tinha algo que ele tinha que fazer, algo que iria prova realmente a veracidade de tudo que Neo falava. Com rápidos toques no teclado, Defrag foi atrás da prova, ignorando o gigantesco medo que se formava em sua alma. O medo de que o que Neo disse era verdade.
Trinity lutava como nunca contra o Agente, alternando chutes no rosto, socos, pontapés. Porém, o Agente contra-atacava com mais violência ainda, e ela não queria que Neo a achasse frágil, mesmo agora que ele tinhas todas aqueles novos poderes sobre a Matrix. Os Agentes que entravam no quarto iam em direção a Neo, pois sabiam quem era o maior perigo ali. Neo lutava com quatro agentes ao mesmo tempo, procurando defender ao máximo o obeso hacker dos ataques dos agentes. Ele não podia manifestar os seus poderes completamente pois iria ferir tanto Trinity quanto Defrag. Virando-se para Trinity, Neo gritou:
__Pule em direção a janela! Eu levo o Defrag!
Trinity desviou de um chute em seu rosto e olhou para Neo e depois para Defrag, ainda entretido com a tela do computador. Ela correu para a janela, e dobrando as leis da Matrix, se virou sacando as duas mini-uzis e caiu de costas, disparando a metralhadora no Agente com quem estava lutando. O Agente, pego de surpresa, tomou todos os tiros, caindo no chão.Uma surpresa que não iria acontece novamente, pois a Matrix assimila todos os ataques sofridos pelos seus Agentes e esses dados servem de base para as computações dos ataques futuros.
Neo se agachou um pouco, enquanto os Agentes tentavam segurá-lo. O chão em torno de Neo começou a se dobrar em um círculo e com um pequeno grito, os Agentes foram todos jogados violentamente em direção a sala, alguns chegando lá através das paredes do quarto. Defrag, ainda com os olhos no monitor do seu computador, levantou-se. Na sala, os Agentes, ainda meio atordoados, procuravam se levantar. Neo pegou o braço de Defrag e disse:
__É agora, Defrag, venha comigo que eu te mostrarei a realidade como ela realmente é. Venha e seja livre, livre das máquinas, livre do controle, livre para fazer as escolhas que quiser...
__Quer dizer que vocês são os humanos que libertam as pessoas desses gigantescos óvulos? E para que você os libertam? Que tipo de mundo aguarda esses seres livres?
__Um mundo destruído pela guerra, um mundo de sobrevivência difícil, mas um mundo livre! Um mundo livre das máquinas, da Matrix. Um mundo humano!
Defrag olhou para a tela do seu computador e depois olhou para Neo. Os Agentes já estavam voltando e parecia que havia mais deles, muito mais. Neo olhava Defrag esperando uma resposta.
__Eu só posso te levar se essa for a sua escolha, Defrag.
Defrag sacudiu seu braço gordo para se livrar do toque de Neo. Olhando para ele, disse:
__Pode ir embora Neo. Eu vou ficar aqui.
__Defrag...pense...é essa a sua escolha?
__Me diga uma coisa. Aquela mulher...vocês são amantes lá fora?
__Sim, somos.
__Ok. Eu entendo. Vá embora Neo. Não existe ninguém para ser libertado por aqui.
Neo olhou para Defrag, grato pelos óculos esconderem o seu desapontamento.
__Se é esta a sua escolha...boa sorte...amigo.__disse, para depois sair voando pela janela.
Defrag olhou surpreso o vôo de Neo, enquanto cerca de dez Agentes o cercavam:
__Sr. Hauser...__disse uma voz sem emoções que vinha de um dos Agentes.Sentindo uma confiança e uma certeza diferente da fraqueza que sentira toda a sua vida, Defrag respondeu:
__Não precisam me falar nada. Não há escolhas, apenas destino. Eu vou com vocês, com uma condição. Quero ser um Agente.
Os Agentes olharam entre si, processando o inédito pedido. Defrag, ainda olhando para a janela, desceu os seus olhos para a tela do computador, ainda mostrando a última imagem que tirara do banco de dados.
Na tela estava ele mesmo, dentro de um enorme óvulo, sendo cuidado por aranhas mecânicas, vivendo o sonho que ele chamava de vida. Lá estava o seu simulacro, gordo, imensamente gordo.
"Que liberdade você queria me dar Neo!". E com um profundo ódio pela raça humana, Defrag se foi junto com os Agentes.
Marc Hauser havia crescido em meio aos computadores. Tinha sido abandonado pelos pais em um terrível orfanato, onde a carência fez com que criasse mais ligações afetivas com os obsoletos computadores que eram usados para manter os órfãos entretidos. Dos seus pais nada sabia, apenas uma estranha história que foram mortos conspirando contra o governo. Histórias que Hauser tirava da sua fantástica capacidade de navegar e hackear a Internet.
Computadores eram tudo para Hauser. Ele se admirava com sua perfeição, com o mundo onde ninguém o recriminava nem ria de sua cara, com a liberdade que lhe passava o meio eletrônico. A sua predileção pelas máquinas desde a mais tenra idade, lhe valeram um corpo obeso e extremamente pálido. Isso, somado a crueldade infantil que lhe estigmatizar com o apelido de "gordo azedo", aumentou mais ainda a sua obsessão com as máquinas. O código não lhe recriminava, o código o aceitava como uma mente, uma inteligência capaz de dobrá-lo e programá-lo, de submetê-lo à sua vontade.
Quando atingiu a maioridade, Hauser conseguira um emprego de programador de uma companhia de segurança de sistemas, um emprego no qual não precisava sair de casa. Os anos de reclusão que se seguiram acabaram por transformar os seus cabelos loiros em quase brancos, o que levava aos poucos que tinham contato com o programador a pensar que ele era um albino. Um estranho e obeso albino.
A essa altura, Hauser já tinha adotado um segundo nome, o seu nome dentro da rede. Ele era conhecido como Defrag, uma alcunha conquistada devido às milhares de invasões que fizera, fragmentando o código ao invadir sistemas. Fazia isso pelo simples prazer de poder punir todas aquelas pessoas que o humilharam durante toda a sua vida. Cedo ou tarde, os homens de sucesso que o excluíam e as belas mulheres que o rejeitavam dependiam do mundo eletrônico para sobreviver. E era aí que Defrag atacava, quebrando as frágeis defesas dos programas bancários e violando a privacidade da sociedade que nunca o aceitaria. Isso era tudo que o quase-albino podia fazer.
Certa noite, Defrag estava deslizando pela rede buscando novas presas para suas invasões, quando se deparou com um gigantesco banco de dados extremamente protegidos em um região da Matrix. Todos os programas de rastreamento eram deletados sem que ao menos lhe retornassem alguma informação aproveitável. Defrag sabia que só havia uma organização capaz de colocar tantos investimentos para criar um sistema de defesa tão agressivo e inexpugnável. Era um site governamental, pensou Defrag.
A quantidade de Gelo (ou como eram chamados os programas de proteção de alto nível) ao redor do banco de dados governamentais era impressionante. Qualquer que fosse o sistema que estivesse protegendo, devia ser algo muito valioso, pensou Defrag. Ele iria tentar invadir, é claro. Violar o governo era como violar sociedade como um todo, era uma vingança perfeita. E uma grande diversão.
O programa de invasão ficou pronto depois de semanas de programação incessante, o que causou a Hauser várias ameaças de demissão por meio de nervosos e-mails de seu chefe. Mas Defrag estava completamente devotado ao projeto. O segredo era criar um programa que se associasse ao fluxo de informações e entrasse dentro do sistema de dados como se fosse um fluxo normal de informações. Batizou o seu programa de Rêmora, pois, assim como o peixe-parasita, ele iria grudar em um dos pacotes de dados que constantemente entravam para o gigantesco sistema e que, devido à sua assinatura digital, passavam pelas eficientes proteções.
Assim que ficou pronto, Defrag imediatamente testou a Rêmora em um banco de dados de uma operadora de cartões de crédito que considerava possuir um sistema de defesa razoavelmente eficiente. O obeso albino sorriu largamente quando viu o pequeno programa penetrando por todas as camadas de proteção da operadora e lhe oferecer todos os dados como uma sobremesa de chocolate de um restaurante de luxo. Finalizado o teste, Defrag lançou o seu programa em um pacote de informações que partira endereçado ao banco de dados governamental. Seus olhos nem ao menos piscaram quando observava na tela do seu computador o seu pequeno programa sendo aceito dentro do banco de dados como uma informação qualquer. O Rêmora tinha apenas mais uma função embutida, além da capacidade de imitar um pacote de informações qualquer: ele roubava senhas e enviava imediatamente para Defrag.
Imediatamente, Defrag usou a senha de 243 dígitos enviada por Rêmora e entrou no sistema. E o que encontrou quase o fez cair de sua cadeira. Ali estavam os dados de milhares, não milhões de pessoas, de todo o mundo. E não eram apenas dados bancários, legais, de identificação, etc. Eram dados sobre as vidas dessas pessoas, de todos os momentos íntimos, até mesmo registros dos seus pensamentos e sentimentos. Existiam arquivos infindáveis de vídeo sobre a vida dessas pessoas, e outros registros que indicavam suas ações futuras.
Depois do choque inicial, Defrag começou a explorar as vidas que tinha em sua tela, vendo com assombro a capacidade impressionante de informações que o governo tinha dessas pessoas. Depois de algum tempo percorrendo por todos essas vidas, Defrag notou algo estranho. Para todas as pessoas que ele acessava, havia duas categorias de arquivos, um denominado de Simulação e outro denominado de Simulacro. Quando ele ia clicar no arquivo de Simulacro, um barulho na sala de seu pequeno apartamento lhe chamou a atenção.
__Olá? Tem alguém ai?__ gritou Hauser, deslizando sua cadeira até a porta do seu quarto para ter uma melhor visão da sala. Não havia ninguém, a porta estava fechada e as poucas mobílias empoeiradas como sempre estiveram. Antes de voltar para o quarto, Hauser olhou pela janela. Havia uma corda que balançava do outro lado do vidro e que batia levemente na janela, causando o barulho. Um barulho que foi substituído por outro, muito mais forte, vindo do seu quarto. O som de vidros se quebrando.
Hauser pulou da sua cadeira e correu para o seu quarto, o mais rápido que os seus 150 kilos permitiam. No meio do seu quarto, entre sua cama e o computador, estava um jovem de óculos escuros e vestido com um belo capote negro. O jovem era magro e belo, e passava um ar de serenidade e poder que Hauser jamais havia visto antes. O jovem parecia estar vendo sua alma através daqueles óculos escuros.
__Mas o que está acont...__tentou perguntar Hauser, antes de ser interrompido pela destruição da janela da sala. Outra pessoa havia invadido o seu apartamento, mesmo ele estando no décimo-quinto andar de um dos maiores prédios habitacionais da cidade. Porém a raiva e a surpresa que se misturavam dentro de Hauser foram dissolvidas pela figura que entrou em seu quarto. Era uma mulher belíssima, talvez a mais linda que Hauser já vira em seus 21 anos de vida. Ela tinha um cabelo preto e escuro, e um corpo atlético e feminino ao mesmo tempo. A roupa de vinil negro acentuava a sensualidade da mulher, e os seus óculos escuro lhe davam um ar de mistério e força. Ela carregava um cinto com várias granadas, duas mini-uzis e levava um enorme rifle de assalto AK 47 no ombro. Era a primeira vez que Hauser via essas armas ao vivo, mas sabia o que exatamente o que eram e o que podiam fazer, principalmente depois de anos de Counter-Strike. Hauser baixou os olhos, com a certeza que uma mulher daquelas iria certamente vê-lo como um ser patético. Ele preferia encarar o jovem de negro. A tela do computador continuava ligada, com as duas opções piscando para serem escolhidas: Simulação ou Simulacro?
__Eu...o que vocês querem...é um roubo?__perguntou Hauser, cada palavra lutando para sair do mar de medo que começava a inundar sua mente. Ele tinha invadido muitas contas bancárias e bagunçado a vida de tanta gente, que o que estava acontecendo tinha que ter alguma relação. Talvez fosse uma vingança; talvez uma ameaça. Mas ao mesmo tempo que essa hipótese surgiu em sua mente, a visão daquela misteriosa mulher a dissolveu imediatamente. Ele teria se recordado dela, daquele rosto perfeito, daquela boca...
__Não tenha medo, Defrag. É esse o nome que você usa na rede, não?__disse o jovem.
__Não, você está enganado...eu não sou...
__Defrag, eu sou Neo, lembra-se? Há muito tempo atrás trocávamos informações e programas na rede. Você me ensinou quase tudo sobre programas de invasão, não se lembra?
A mulher andava nervosamente pelo apartamento, checando todas as janelas e segurando um telefone celular permanentemente no ouvido, como se tivesse escutando informações de alguém. Quando Defrag ia responder a pergunta de Neo, ela interrompeu o quase-albino:
__Neo, apresse-se. Os Agentes já sabem da localização dele e já cercaram o prédio. Tank está me informando que todos os telefones fixos desse prédio estão desligados. Temos cerca de cinco minutos até que os Agentes cheguem.
Neo olhou para a mulher e colocando a mão na cabeça, disse:
__Três minutos é muito pouco para ele, Trinity...Se os Agentes chegarem, eu cuido deles.
Trinity apenas olhou para Neo enquanto ia para sala ficar de guarda. Neo se virou para Defrag, que suava muito e estava ofegante.
__Defrag, sente-se.
O obeso hacker sentou imediatamente, e esboçou uma resposta:
__Neo...me lembro de você...Você tinha um certo talento para o código, mas era muito afobado...Criava alguns programas que, mesmo cheio de defeitos, funcionavam...Mas, você é assim? Jamais imaginei que...
__Defrag, teremos muito tempo depois, dependendo do que você escolher...O que eu posso te dizer é que as suas ações chamaram a nossa atenção. Ninguém chegou tão próximo à verdade por conta própria. Defrag, você conseguiu vencê-los dentro do jogo deles, você os derrotou usando as regras que eles usam para nos escravizar. Ninguém fizera isso sozinho antes.
Hauser olhava para Neo, mais confuso ainda. "Que conversa louca...", pensou. Porém, o que um gordo sedentário como ele podia fazer com esses dois psicopatas? Ele podiam acabar com a sua raça a qualquer momento.
__Neo...se você é mesmo ele......Quem são esses "Agentes"? E o quê são "vocês"?
Neo pensou um pouco, viu a tela do computador ligada e disse:
__Continue o que você estava fazendo Defrag. Esse sistema que você invadiu é um dos centros de controle da Matrix, a Central de Monitoramento de Indivíduos.
Confuso, Hauser deslizou sua cadeira em direção à tela do computador. O brilho do monitor o acalmava, dentro daquela situação bizarra, a tela lhe dava um pouco de conforto, ele estava de volta ao mundo eletrônico, onde não havia surpresas nem sustos. Nem medo.
__Neo! Tank acabou de me informar que eles estão subindo! __gritou Trinity da sala, empunhando a AK 47 em direção à porta de entrada do apartamento. Neo apenas observava Defrag fitar as duas escolhas: Simulação ou Simulacro.
Defrag clicou no Simulacro da mulher cuja vida ele havia bisbilhotado e ele viu a tela do seu computador mudar totalmente de visual. Uma série de janelas foram se abrindo uma sobre as outras, e em cada uma delas, uma imagem grotesca de uma espécie de ovo translúcido envolvido no meio de um monte de ferragens. Estranhos robôs negros, com formas parecidas com aranhas, andavam por entre as engrenagens do ovo translúcido. Usando as possibilidades apresentadas, Defrag explorou a visão do ovo, usando as câmeras que eram os olhos dessas aranhas mecânicas como fonte de visão. Sentiu seus olhos querendo escapar de seu crânio quando descobriu o que havia dentro do ovo.
Envolvida em um líquido gelatinoso e transparente, estava a mesma mulher do arquivo que ele havia olhado. A mesma mulher, que o arquivo dizia ser casada, ter três filhos, trabalhar como enfermeira em uma escola, a mesma mulher estava dentro do casulo, sem cabelos e com fios plugados em diversas partes de seu corpo!
__Mas como? O que é isso?__exclamou, ainda com os olhos grudados na tela.
__Isso é como essa mulher realmente é. Defrag, tudo isso que você vê a sua volta é uma simulação. Toda a realidade que vivemos é uma simulação criada para manter nossas mentes operando, enquanto a energia dos nossos corpos é drenada para alimentar máquinas. O que você viu é uma parte do mundo real, o mundo que existe além da simulação que você chama de realidade.
__Espere um pouco...Você está indo rápido demais para mim...Você está querendo me dizer que nesse ovo é onde está o verdadeiro corpo da mulher e que essa vida aqui descrita na simulação é apenas um construto criado virtualmente? Mas como? Porquê?
__Houve uma batalha entre os homens e as máquinas, e elas venceram. Os homens tentaram fazer com que elas parassem cortando a energia solar, mas elas continuaram usando a energia elétrica de nossos corpos. Mas para que continuássemos a produzir essa energia, tiveram que manter as nossas mentes ativas, enquanto dormíamos nos casulos-baterias. Mas alguns de nós conseguiram se libertar dessa ilusão. E hoje chegou a sua vez, se você quiser...
Uma rajada de tiros interrompeu a fala de Neo.
__Neo! Eles estão aqui! Não temos mais tempo!__gritou Trinity , enquanto descarregava sua arma na porta, fazendo-a em pedaços. Mas os Agentes que estavam por trás dela, desviaram das balas e atiravam de volta. Trinity, soltando a arma, pulou para trás usando todo o Foco para dobrar as leis da Matrix e foi dando cambalhota sucessivas para trás e desviando das balas que vinham dos Agentes. Na última cambalhota, antes de sair da sala, Triniy pegou uma granada de seu cinto e, depois de armá-la, soltou na sala, fechando a porta em seguida. A forte explosão sacudiu as estruturas do apartamento.
__Meu deus do céu, meus deus do céu, eu vou morrer...__gritou Defrag, colocando as mãos na cabeça.
__Não Defrag, isso não é a sua morte...Pelo contrário, é o seu nasciment...
Uma um forte impacto isola a porta do quarto em direção a parede, errando por milímetros o computador de Defrag. Dois homens impecavelmente vestidos de ternos negros e óculos escuros entraram rapidamente no quarto, com um deles pegando Trinity pelo pescoço e jogando-a contra a parede do quarto, destruindo assim parte de um poster do jogo Diablo e da parede que estava por trás. Trinity caiu no chão, mas, girando o corpo de maneira inacreditável para Defrag, ela apoiou uma das mãos no chão enquanto chutava o queixo do homem de terno com o seu calcanhar.
Neo enfrentava o outro Agente com muito mais facilidade. Os dois trocaram uma seqüência de chutes e socos que Defrag jamais tinha visto antes, seja na rede ou forda dela. O Agente que neo enfrentava tentou segurar Neo pelo pescoço, tentando dar uma chave-de-braço, mas foi surpreendido com um golpe de judô, e acabou sendo lançado pela janela abaixo. Porém, mais Agentes entravam no apartamento.
Defrag virou-se para o computador.Talvez essa loucura toda tenha um sentido, pensava. De repente, como um cupim que tivesse passado milênios comendo a estrutura de uma casa e que finalmente a visse cair, Defrag sentiu um estranho frio na barriga. Tinha algo que ele tinha que fazer, algo que iria prova realmente a veracidade de tudo que Neo falava. Com rápidos toques no teclado, Defrag foi atrás da prova, ignorando o gigantesco medo que se formava em sua alma. O medo de que o que Neo disse era verdade.
Trinity lutava como nunca contra o Agente, alternando chutes no rosto, socos, pontapés. Porém, o Agente contra-atacava com mais violência ainda, e ela não queria que Neo a achasse frágil, mesmo agora que ele tinhas todas aqueles novos poderes sobre a Matrix. Os Agentes que entravam no quarto iam em direção a Neo, pois sabiam quem era o maior perigo ali. Neo lutava com quatro agentes ao mesmo tempo, procurando defender ao máximo o obeso hacker dos ataques dos agentes. Ele não podia manifestar os seus poderes completamente pois iria ferir tanto Trinity quanto Defrag. Virando-se para Trinity, Neo gritou:
__Pule em direção a janela! Eu levo o Defrag!
Trinity desviou de um chute em seu rosto e olhou para Neo e depois para Defrag, ainda entretido com a tela do computador. Ela correu para a janela, e dobrando as leis da Matrix, se virou sacando as duas mini-uzis e caiu de costas, disparando a metralhadora no Agente com quem estava lutando. O Agente, pego de surpresa, tomou todos os tiros, caindo no chão.Uma surpresa que não iria acontece novamente, pois a Matrix assimila todos os ataques sofridos pelos seus Agentes e esses dados servem de base para as computações dos ataques futuros.
Neo se agachou um pouco, enquanto os Agentes tentavam segurá-lo. O chão em torno de Neo começou a se dobrar em um círculo e com um pequeno grito, os Agentes foram todos jogados violentamente em direção a sala, alguns chegando lá através das paredes do quarto. Defrag, ainda com os olhos no monitor do seu computador, levantou-se. Na sala, os Agentes, ainda meio atordoados, procuravam se levantar. Neo pegou o braço de Defrag e disse:
__É agora, Defrag, venha comigo que eu te mostrarei a realidade como ela realmente é. Venha e seja livre, livre das máquinas, livre do controle, livre para fazer as escolhas que quiser...
__Quer dizer que vocês são os humanos que libertam as pessoas desses gigantescos óvulos? E para que você os libertam? Que tipo de mundo aguarda esses seres livres?
__Um mundo destruído pela guerra, um mundo de sobrevivência difícil, mas um mundo livre! Um mundo livre das máquinas, da Matrix. Um mundo humano!
Defrag olhou para a tela do seu computador e depois olhou para Neo. Os Agentes já estavam voltando e parecia que havia mais deles, muito mais. Neo olhava Defrag esperando uma resposta.
__Eu só posso te levar se essa for a sua escolha, Defrag.
Defrag sacudiu seu braço gordo para se livrar do toque de Neo. Olhando para ele, disse:
__Pode ir embora Neo. Eu vou ficar aqui.
__Defrag...pense...é essa a sua escolha?
__Me diga uma coisa. Aquela mulher...vocês são amantes lá fora?
__Sim, somos.
__Ok. Eu entendo. Vá embora Neo. Não existe ninguém para ser libertado por aqui.
Neo olhou para Defrag, grato pelos óculos esconderem o seu desapontamento.
__Se é esta a sua escolha...boa sorte...amigo.__disse, para depois sair voando pela janela.
Defrag olhou surpreso o vôo de Neo, enquanto cerca de dez Agentes o cercavam:
__Sr. Hauser...__disse uma voz sem emoções que vinha de um dos Agentes.Sentindo uma confiança e uma certeza diferente da fraqueza que sentira toda a sua vida, Defrag respondeu:
__Não precisam me falar nada. Não há escolhas, apenas destino. Eu vou com vocês, com uma condição. Quero ser um Agente.
Os Agentes olharam entre si, processando o inédito pedido. Defrag, ainda olhando para a janela, desceu os seus olhos para a tela do computador, ainda mostrando a última imagem que tirara do banco de dados.
Na tela estava ele mesmo, dentro de um enorme óvulo, sendo cuidado por aranhas mecânicas, vivendo o sonho que ele chamava de vida. Lá estava o seu simulacro, gordo, imensamente gordo.
"Que liberdade você queria me dar Neo!". E com um profundo ódio pela raça humana, Defrag se foi junto com os Agentes.
