PASSO 1

22 de Outubro de 1979

O Outono tinha definitivamente chegado a Hogwarts. Todos ali tentavam o seu máximo para curtir os últimos dias de sol antes que o inverno aplacasse a região das Terras Altas da Escócia. Todos menos uma pessoa. A Professora Minerva McGonagall. Professora de Transfiguração. Vice-Diretora de Hogwarts. Chefe da Grifinória.

Ela ao invés de curtir uma rápida caminhada durante o período da manhã preferiu ficar dentro de seus aposentos no primeiro andar. Como ela vinha fazendo há semanas inclusive durante o final do mês passado. Alvo Dumbledore tinha percebido isso, mas deixou que a sua amiga resolvesse seus problemas. Que colocasse sua mente no lugar. Caso essa situação de prolongasse para uma depressão assim ele agiria. Ele sabia que Minerva poderia desenvolver durante pelo menos um período do ano um estado de solidão. Especialmente no período dessa guerra que se desenvolvia. O período dos Marotos no castelo tinha afastado os fantasmas da cabeça dela, mas com o fim deles por ali ela foi deixada sozinha com seus pensamentos. Ele sabia disso. Quantas vezes ele viu o brilho no olhar dela durante partidas de xadrez! Suas marotagens mantinham a cabeça ocupada. Especialmente as de James e Sirius. A única coisa que ele faria seria conversar com Madame Pomfrey, a única amiga que Minerva deixaria chegar durante os momentos difíceis.

Lá no aposento da Professora de Transfiguração, Minerva bebia um pouco de chá numa xícara de porcelana com detalhes em tons de rosa e dourado. A alça trabalhada era segurada com força pelos dedos finos e longos da mão direita da mulher, que estava sentada na poltrona ao lado do sofá defronte à lareira e ao tapete do chão de madeira lustrado, cujo olhar estava vagando pelas chamas que subiam pelo buraco da lareira de pedra. O Recinto tinha estantes de madeira maciças repletas de livros na parede oposta a da lareira. Era onde também se erguiam nichos para longas e envidraçadas janelas que estavam fechadas. A cada lado das janelas havia cortinas vermelhas escuras.

No lado esquerdo dessa longa parede repleta de livros havia uma sala ligada por um arco de madeira. Era a sala de jantar onde uma mesa redonda de madeira para seis pessoas. Dali, no lado oposto do arco havia uma porta dupla que dava acesso a cozinha do aposento. No lado direito daquela parede de livros havia duas portas. A mais próxima dela era a porta do quarto de Minerva. A mais longe e consequentemente mais perto da parede da lareira era o banheiro. Uma mesa de trabalho ficava entre as duas portas.

A mulher que bebia chá ainda vestia seu pijama verde juntamente com um gorro da mesma cor. Lentamente ela deixa a xícara pousar na pequena mesa de madeira ao seu lado que tinha esse propósito. Chá. Ali também repousava uma bandeja de prata suficiente para sustentar um bule de água quente, uma caixinha de chá, um recipiente para o açúcar e a leiteira e o pires da xícara onde ela acabara de provar a bebida.

Sol iluminava gentilmente o recinto. Mas não a mente da mulher que fervilhava em preocupação e apreensão. Ela vinha pensando sobre o assunto desde que ela presenciou o assassinato de um casal de trouxas durante suas investigações pela Grande Londres. Alvo não sabia o que tinha verdadeiramente acontecido. Para ele somente houve mais uma atrocidade de Voldemort. Na realidade houve duas. A morte do casal e uma menina recém-nascida que tinha ficado órfã. Menina que agora dormia tranquilamente num berço ao lado de sua cama.

Um sorriso fraco apareceu.

Ela vinha mantendo a existência da menina em segredo. Somente Madame Pomfrey e o agente de adoção do ministério sabiam que Minerva tinha uma filha chamada Hermione Atena McGonagall de apenas um pouco mais de um mês de vida.

Minerva não estava num estado de solidão. Estava muito feliz como ela nunca esteve. Mesmo. Não era a solidão que mantinha ela dentro de seus aposentos. Ela sabia que Alvo iria supor isso dela. Mas não era isso. Era porque Hermione canalizava todas as atenções da agora jovem mãe.

Um brilho passou pelos orbes verdes da mulher.

Semanas atrás

Minerva estava caminhando pela sua forma de animaga pelas ruas da Grande Londres. Atualmente ela estava num bairro residencial de casas grandes e bem acomodadas. Jardins na frente e dois carros caros na garagem. Mas não era pela beleza que Minerva estava andando por ali.

Foi pelo seu faro felino. Foi ele que a trouxe aqui depois dele ter encontrado um rastro de fogo. Seguindo-o, Minerva sentiu seu coração acelerar a cada passo. A cada segundo. Pois conforme ela avançava pelas ruas e jardins rumos a origem do fogo ela via o céu se tornar iluminado por uma luz verdes.

E, quando ela pulou num telhado para ter uma melhor visão, ela congelou. A marca-negra pairava sob uma casa com a parte direita em chamas a cerca de vinte metros de distância. Foi quando seu instinto felino a levou para mais perto da casa parcialmente em chamas.

E então ela escutou um choro ao longe. E vinha da parte esquerda da casa. Sem pensar, ela entrou na casa pela porta aberta e correu até a fonte do choro. Durante o caminho ela viu os corpos de trouxas mortos.

O coração dela parou. Se ela tivesse chegado mais cedo...Talvez isso não tivesse acontecido.

Mas o choro persistiu e ela continuou sua busca por sobreviventes. Ela não podia acreditar que ela estava fazendo aquilo. Mas ela precisa ter certeza. Assim ela chegou num corredor do segundo andar cheio de fumaça. Empurrando a porta entreaberta do quarto ela se viu num recinto para bebê. Com decoração para bebê. Com berço para bebê. Com roupas para bebê. Com um bebê no berço chorando.

O coração de Minerva parou de bater pela segunda vez.

Rapidamente ela retornou a sua forma humana e foi até o berço onde cuidadosamente pegou a criança nos braç sensação se apoderou de seu coração e ela ficou determinada e até fez uma promessa para cuidar dessa criança com todas as suas forças.

Rapidamente, com um movimento com a varinha, ela transfigurou um lenço de sua roupa em mala. Com outro, a expandiu magicamente. Uma sequência de movimentos e todos os pertences do quarto foram parar dentro da mala. Pegando a mala com a mão, Minerva encolheu a mala até a forma de uma caixinha de fósforo e colocou no seu bolso.

Uma lufada quente chegou ao quarto e instintivamente ela se virou para proteger o bebê. O Fogo estava no corredor. Sem olhar para trás, Minerva aparatou para seus aposentos. O único local que Alvo a deixou aparatar diretamente em Hogwarts.

Minerva fica séria com as lembranças. Tinha sido um dia cheio. Ela se lembra de claramente quando ela reportou ao Ministério naquele mesmo dia para a adoção da menina. Quando ela aumentou seu recinto para caber às coisas da criança... A mulher se levanta e vai até a porta de seu quarto.

Com a porta aberta, ela vê a criança dormindo tranquilamente por ali. Andando até o berço, ela fita com um sorriso nos lábios Hermione. Seu coração fica quente. Uma quentura boa e gentil que se espalha pelo seu peito e que a faz querer chorar. E sem pensar ela já está segurando a pequena nos braços. Ela continua dormindo e se aconchega para mais perto.

-É hora de você comer algo Hermione. – diz Minerva ao abrir o roupão e levar a boca da criança até o bico de seu peito.

Tudo graças Poppy que foi a primeira pessoa para quem Minerva levou a menina.

Minerva tinha chegado segundos atrás em Hogwarts e rapidamente tinha mandado um Patrono para sua amiga Poppy. Foi um recado curto e rápido. " Preciso de você nos meus aposentos. Agora."

Agora era a vez de Minerva ficar andando prá e para cá em círculos com um bebê nos braços. Ela nem tinha retirado a fuligem de seu corpo. Ela estava em estado de choque. Tinha feito o que nunca pensou em fazer. Levar uma criança para Hogwarts sem a permissão do Diretor. Mas ainda sim, ela não se importava. Sabia que existia a possibilidade dele entender o acontecimento.

-Droga! – rosnou Minerva conforme os segundo se transformavam em minutos. – Onde está Poppy quando eu preciso!

-Aqui. – diz a medi-bruxa ao entrar no recinto com um olhar sério. – Mas pelas barbas de Merlin Minerva! Onde você esteve! – indo para a amiga. – De quem é esse bebê, Minerva...

Minerva fita a amiga e começa a explicar o que aconteceu. E nem precisou terminar, Poppy logo pegou a criança nos braços e a pousou no sofá onde começou uma bateria de exames.

-Vou precisar levar a criança para a Ala Hospitalar. Onde poderei ficar de olho nela durante a noite.

Minerva assente e segue Poppy até a Ala através do Flu.

-Devia ter ido para a Ala através do flu. – resmunga Minerva para si ates de pegar um pouco de pó.

Naquela noite Minerva descobriu novas coisas sobre a criança que salvou. Primeiro, a criança era uma menina. Segundo, uma menina de apenas uma semana de vida. Terceiro, a menina tinha uma pulseira de ouro cujo pingente dizia Hermione. Quarto, que o nome dela era Hermione. Quinto, que ela não queria sair de perto da menina e que por isso passou horas perto da cama da menina até que Poppy a mandou tomar um banho e descançar.

-Mas e se alguma coisa acontecer eu... – falou Minerva para Poppy num tom baixo.

-Eu estarei aqui. Além disso, tenho que avisar o Diretor sobre a menina e...

-Por favor, Poppy. Não agora. Ele não é meu marido nem nada. Somente um grande amigo que não pode influenciar minha vida particular.

Poppy a fita sob uma nova luz.

-Até parece que... – começa Poppy quando Minerva assente. – Pelas Barbas de Merlin! – Minerva faz um sinal de silêncio.

-Sim eu vou. Eu estou muito só Poppy e você sabe que eu sempre quis uma família. E faz tanto tempo que eu não sinto isso por alguém. O destino pôs Hermione no meu caminho e eu não vou a deixar sair.

-Como pode fazer uma decisão como essa. Faz minutos que você conhece a menina. Ela é trouxa, Minerva. – fala Poppy.

Minerva a fita. Suspira e faz um leve carinho na cabeça de adormecida menina.

-Todos os filhos de bruxos nascem sem saber se irão ser bruxos. No mais ela será considerada um aborto.

-Você sabe quais são as chances dela ser uma Nascida-Trouxa.

-Isso não diminiu o que eu sinto por ela. Por Merlin Poppy! Até parece Você-Sabe-Quem falando!

Poppy franze os lábios.

-Não me compare com ele! Como ousa eu... – aumentando o tom de voz.

-Só estou querendo dizer que não me importa o sangue dela. Ela ainda continua sendo uma menina que precisa de cuidados. – levantando as mãos em rendição. Poppy a fita. Minerva continua. – Tens noção que ela está agora órfã por causa de uma guerra nossa e que...

-Ah agora eu entendi. Você se acha culpada por ela estar órfã. Você não pode salvar todas as crianças. Crianças bruxas morreram durante as guerras trouxas do início do século. Assim como ocorreu o inverso na luta contra Grindelwald, Minerva.

-Talvez eu não possa. Mas essa eu possa. E não é questão de obrigação. Um assunto de tal magnitude não deve ser tratado como obrigação porque senão vai se desgastar rápido e acabaria sendo melhor a menina ir para um orfanato do ficar comigo. É uma questão de amor, Poppy. Amor.

Poppy coloca uma mão no ombro da amiga.

-Como pode falar em amor para com uma pessoa que acabou de conhecer.

-O que é o amor, Poppy. Ele não tem fórmula para acontecer. Nem tempo para aflorar. Ele simplesmente acontece e quando eu a segurei nos meus braços eu senti uma quentura que me fez bem. Fez-me querer protege-la a todo custo. Eu quero cuidar dela como eu nunca quis para ninguém.

A enfermeira sorri ternamente.

-Então eu devo avisá-la que a menina sentirá fome dentro das próximas horas. – fala com lágrimas nos olhos. – Oh, minha amiga parece que você tem um tesouro para cuidar.

Minerva sorri e compartilha um riso franco.

-Mas nesses dias difíceis de guerra eu recomendo que escolha muito bem o dia em que falará com Dumbledore. E espero que seja em breve. Quanto mais tempo demorar mais chances tem dele achar que está sendo traído.

-Eu não estou traindo a confiança dele.

-Tem razão. Você não está. Mas nós estamos. E num momento assim confiança é tudo. Você sabe disso.

Minerva olha para a janela.

-Eu sei disso. Mas vou deixar que pelo menos até que tenha a papelada. Depois o direi. Afinal isso é uma decisão minha. Eu serei a mãe. – pausa e se vira para a sua amiga. – Mas com relação a comida de Hermione o que posso fazer... pois sabe... sou inexperiente.

A outra mulher balança a cabeça

-Antes de te dar as opções sugiro que leia livros sobre filhos. – rindo. – Bem como o bebê ainda é muito pequeno eu surgiria leite materno.

-Poppy os pais dela estão...

-Eu sei. Mas há uma poção que ajuda mães que não produzem leite a produzi-lo. Acho que funcionaria em vocês. Só terá que esperar cerca meia hora até que produza algum efeito.

E assim Minerva se viu bebendo a poção lilás que faria produzir seu próprio leite. Como fora dito após trinta e dois minutos ela começou a sentir algo estranho nos seus seios. Eles ficavam ligeiramente maiores conforme os minutos passavam. Dez minutos depois eles pararam de crescer e Minerva olhou assustada para sua amiga.

-Isso quer dizer que já produziu o que você naturalmente produziria. Em mulheres que tem pouco leito isso aumentaria. Nos casos onde não há, ele retira a obstrução que poderia estar impedindo sua produção e nos casos não há produção pela ausência do parto, ela estimula a produção natural. – explica Poppy em seu modo peculiar de ser professora.

Minerva assente e pergunta se já pode dar de mamar Hermione. A amiga assente e assim ela leva a criança até seu bico e sente a sensação mais estranha da sua vida. Algo está saindo dela através da sucção.

Já fazia dois dias que a papelada finalmente ficou pronta e Minerva ainda não foi falar com Alvo. E ali, dando de mamar para Hermione, Minerva jurou que assim que ela terminasse e colocasse sua filha para dormir, ela iria enfrentar o Diretor.

Minutos depois e andares acima de seu recinto, Alvo Dumbledore estava caminhando até Ala Hospitalar onde ele conversaria com Poppy sobre o que estava mantendo Minerva dentro de seus aposentos há mais de três semanas. Chegando lá, ele magistralmente empurrou as duas abas da enorme porta da Ala Hospitalar e viu que o recinto estava vazio a não ser por Poppy que ajeitava as poções nos armários.

-Bom dia Madame Pomfrey. – começa Alvo com um brilho jovial nos olhos.

A enfermeira se vira e quase deixa cair uma garrafa de osso onde ela colocava o Suco de Abóbora.

. -Diretor. – falar ao segurar a garrafa. – A que devo sua visita. – sorrindo.

Alvo a fita e fala sem rodeios.

-Minerva. – pausa. – E é melhor não mentir, pois eu me preocupo com minha amiga e sei quando algo está perturbando ela.

Pomfrey tenta não demonstrar seu nervosismo. Os dois se fitam. Ela abre a boca para começar enquanto Alvo caminha até a sua direção.

-Isso é algo que ela mesma terá que dizer Diretor. Pois só ela poderá explicar. Acho que talvez eu não consiga expressar melhor do que ela. – completa.

-Ah, mas nada melhor do que tentar Madame Pomfrey. Tente me explicar. – pausa – Talvez num local em particular. – sugere.

-Não vai ser preciso. – fala Minerva do portal da Ala Hospitalar.

Alvo se vira e fita sua amiga.

-Ah! – feliz. – Vejo que finalmente você saiu de seus aposentos. – indo cumprimentar Minerva que retribuiu o efeto.

-Sim. Siga-me. Quero lhe explicar o que vem acontecendo comigo. – e nisso começa a guiar seu amigo até seus aposentos.