Se há nove anos me perguntassem onde eu iria morrer, simplesmente daria os ombros, e balançaria a cabeça em negativa, sem me preocupar em entender aquela pergunta absurda. Aos onzes anos eu não daria atenção ao questionamento, pois estaria completamente absorta na paisagem que mudava constantemente conforme o trem que me levava a Hogwarts avançava.
Se a mesma pergunta fosse feita quatro meses depois, eu diria que morreria aqui em Hogwarts, no salão principal ou então no salão comunal da Grifinória.
A pergunta se repetiria em dois meses, após a minha recuperação. E sem dúvida alguma eu diria que iria morrer na cela fria, úmida e claustrofóbica, e essa seria a mesma resposta durante um ano inteiro.
Dos treze aos quinze anos a resposta seria outra, eu morreria facilmente na sala de treinamento ou então em minha cela, porém completamente diferente da outra úmida, fria e claustrofóbica.
A última pergunta poderia ter sido feita aos dezesseis anos, pois não havia sombra de dúvidas que a minha morte estava destinada a ser concretizada em um combate.
Agora, nove anos depois que a primeira pergunta fora feita, eu me vejo tentada a respondê-la pela ultima vez. A esperança morreu dentro de mim há muito tempo, quando ainda era uma menina, junto com a explosão da escola.
Foi nesse dia em que a esperança foi brutalmente esmagada e tirada de mim.
É incrível como a mente consegue, em um piscar de olhos, passar os momentos mais marcantes de nossa vida. É como se o tempo parasse um instante para então começar a rodar em câmera lenta.
Posso me ver pequena com meus pais, o medo e estranhamento quando a magia começou a fluir em mim. Então, a alegria palpável ao receber a carta de Hogwarts, o receio de meus pais por me deixarem ir, o orgulho de ser escolhida para a Grifinória, o medo das ameaças que cresciam em todo o mundo bruxo, o pânico que todos sentiam de Lorde Voldemort e, por fim, o pavor de ver Hogwarts ruir de um dia para o outro, tão rápido quanto o triunfo de Tom Riddle, o maior e mais poderoso bruxo das trevas de todos os tempos.
Enquanto via o feitiço da comensal vindo em minha direção, me dei conta de como tudo foi difícil para mim.
Na verdade o mundo bruxo inteiro sofreu muito, era como se voltássemos a Idade Média, onde deveríamos venerar e se curvar para um só rei. Durante esses nove anos, apenas o caos, o medo e as trevas reinaram. Tudo o que Tom Riddle ordenava era feito. Posso citar Hogwarts como exemplo, totalmente modificada para que fosse servida como moradia para ele.
O campo de quadribol permaneceu intacto, mas há muito as traves e as bolas não eram usadas para o jogo. O campo se tornou o espaço de diversão do Rei, um espaço que exalava maldade e morte, os bruxos se enfrentavam até a morte, até apenas um time ou uma única pessoa restar de pé.
Voldemort criou a Arena para divertir-se com sua maldade sádica. Não se passava um dia sem que alguém lutasse na Arena. Na realidade, não havia descanso até o cheiro da morte tomasse o lugar.
E era no meio desse inferno que eu me encontrava agora.
E é aos vinte anos que respondo a pergunta que me persegue desde os onze:
Eu morrerei na Arena.
O feitiço da morte é frio, posso afirmar com convicção, pois ele já passou perto de mim incontáveis vezes, mas talvez essa seja a última.
Há apenas duas pessoas na Arena imensa, a sangue-ruim e a poderosa comensal, Belatriz Lestrange, que sorri com lasciva ao ver o Avada Kedavra chagando com força até a rival.
- Morrerei na Arena. – apertei os olhos e sorri enormemente. - Ou não morrerei nunca! - gritei com todas as forças que possuía.
Enquanto esquivava do feitiço da morte, lentamente via o sorriso de Belatriz ir se desfazendo.
Com um gesto rápido e sem pronunciar uma única palavra, o feitiço que saiu de minha varinha fez com que o corpo da comensal virasse pó.
Tudo em volta ficou em silencio... até mesmo Tom Riddle.
Meu nome é Hermione Jane Granger, tenho vinte anos e desde os onze sou obrigada a divertir os comensais.
Fui treinada para saber lutar, fui treinada dia e noite para matar!
Meu corpo tem marcas que confirmam isso.
Dou as costas a todos e começo a seguir para a saída, tentando não demonstrar dor, medo, fome, pânico...
Não sei que castigo terei de suportar pela morte de Belatriz Lestrange, não sei quem será o próximo que irá vingar a morte da bruxa, mas uma coisa é certa, se me pegarem sofrerei terrivelmente até morrer.
Apenas uma coisa me faz ter forças para suportar o tormento diário.
A promessa que eu e Victor fizemos.
Juramos não morrer na Arena...
Na verdade juramos nunca morrer.
