Capítulo um: O golpe

Por Kami-chan

– Vamos Hina–chan, abra o jogo. Quando você e Neji irão trocar as alianças? – Ino perguntou sem se preocupar em esconder que sabia do namoro que deveria ser absolutamente sigiloso.

– Hinata? – Tsunade parecia surpresa com a notícia – Mas vocês não são primos? O que seu pai acha disso?

– Ino-chan! – A morena resmungou muito envergonhada pela revelação.

Aquilo era algo que apenas ela e o primo deveriam saber, até porque não havia sido planejado. Aquele amor simplesmente aconteceu de forma a surpreender a herdeira dos Hyuuga acima de qualquer outra pessoa.

– Meu pai ainda não sabe, Tsunade-sama. E deve ficar sem saber por mais algum tempo. – A voz suave de Hinata continuou a conquistar o local de forma doce e cautelosa.

– Mas como se esconde um namoro desses dentro da casa do líder dos portadores do Byakugan? – Sakura perguntou quase incrédula, fazendo Shizune rir e sendo seguida pelas outras logo em seguida até que todas fossem abruptamente interrompidas.

– MENINAS? – Tenten entrou pela porta da frente com um olhar de quem estava implorando por forças para não matar alguém.

– Alguém está muito irritada. – Ino disse ainda com tom falho de brincadeira por causa da risada e fechando a porta por onde a amiga havia acabado de passar. As outras konoichis ainda não tinham parado de rir.

– Espera! Tenten, você não disse que não viria ao nosso encontro porque tinha um jantar importante com sua família? – Sakura disse parando de rir e indo em direção à amiga recém-chegada.

Ao ouvir as palavras da rosada, a mestra das armas apenas abaixou a cabeça. A ira contida nas íris escuras haviam rapidamente mudado para uma vergonha genuína de quem havia acabado de ser pego em uma mentira.

– Hum, parece que alguém trocou as amigas para ter um encontro. – Ino cantarolou se parando ao lado da mestre das armas.

Tenten se esforçava para não sucumbir em lágrimas, tinha orgulho em ser a mais forte nesse sentido entre elas todas, mais forte até mesmo que sua inspiração a Hokage. Por isso não choraria na frente delas... na frente dela.

– Ino-chan, não fale assim. Não vê que ela não está bem. – Hinata disse pegando nas mãos da morena que havia acostumado a conviver desde cedo graças aos treinos intermináveis de Neji.

Ao sentir o toque carinhoso da amiga de quem gostava tanto, Tenten sentiu-se muito mal. Gostava tanto da Hyuuga e agora aquilo!

Puxou bruscamente suas mãos, não tinha o direito de aceitar a gentileza de Hinata. Não depois de descobrir pela boca da irmã mais nova da mesma que a herdeira Hyuuga estava namorando com o grande e único amor capaz de fazer o coração tão firme da mestra das armas bater mais forte.

Como aceitar o carinho da mulher que ouvia as palavras doces da boca de Neji minutos após o moreno deixar sua cama e sujar seus lençóis de seda fina com o gozo da luxúria. A paixão injusta que o sentimento de amor vivido pela morena a fazia cega a ponto de não perceber que aquilo tudo não era nada além da consequência de um desejo carnal. Tão diferentes. A morena de olhos cor de chocolate se esforçava tanto para ser a mais forte. A herdeira do poder do Byakugan nunca sequer ligou para a própria fragilidade.

Não que fosse uma ninja fraca, mas Hinata era quem tinha o coração mais puro ali. Era uma ofensa muito grande aceitar o carinho de alguém tão doce como ela depois de saber a forma como Tenten, sem querer, a enganava. Ainda assim nada mudaria o fato de que Hinata era a mulher dos sonhos de Neji, enquanto o mesmo mantinha Tenten iludida pela química dos dois na cama.

Tenten correu até a janela e vomitou; Toda admiração que sentia por Neji se transformou em nojo.

Ainda o amava muito ela sabia, mas deixar o restaurante onde estava esperando por ele após ouvir o que Hanabi lhe contara acidentalmente, foi o primeiro passo para encontrar forças de renegar esse amor. Um amor unilateral e injusto pela omissão da verdade.

Acreditou cegamente quando ele disse que a amava. Afinal Neji era um homem digno, um shinobi com hombridade. Alguém que jamais mentiria ao falar de algo que pudesse a ferir assim.

Sentia-se a pior das traidoras. Amásia, reles vadia que satisfazia os desejos que Neji provavelmente tinha medo de expor para alguém tão pura quanto Hinata. Sentia nojo de si própria por permitir-se ser o que era para o homem que amava; um mero objeto de prazer.

Prostituta. Amásia. Garota de programa. Garota da rua. Mulher perdida. Marafona. Mulher da vida. Puta. Rameira. Cortesã. Meretriz. Rameira. Messalina. Rascoeira.

Qualquer adjetivo lhe servia, desde que lhe colocasse fora do alcance da benevolência de Hinata. Pois não era digna.

– Tenten? – Ela sentiu a mão firme em seu ombro e a voz autoritária de Tsunade atrás de si.

– Está tudo bem Tsunade-sama. – Respondeu passando o dorso da mão na boca para remover os resíduos que sujavam os lábios finos.

– Vem, vamos até outro aposento, vamos cuidar de você.

– Não há necessidade Tsunade-sama, é apenas um mal estar. – Disse forçando um sorriso falso.

– Então pelo menos tire uns dias de folga. – Ofereceu a mestra.

– Adoraria. – Respondeu de imediato – Na verdade, faz tanto tempo que não vejo meus pais. Tinha muita vontade de passar uns dias na aldeia onde moram – Teve a ideia na hora.

A kunoichi pediu com tanta saudade expressa no olhar que Tsunade lhe estendeu um belo sorriso. Com certeza não passou por sua cabeça tamanha era a mentira que a pupila lhe passava.

– Cinquenta dias com sua família está de bom tamanho?

– Hai. Arigato Tsunade-sama; meninas – Disse fazendo uma breve reverência e saiu deixando um grupo de mulheres alarmadas.

– O que exatamente foi isso? – Ino perguntou pasmada, sem entender o que havia se passado ali naquele momento, mas ninguém a respondeu.

Tenten havia surgido do nada em péssimas condições e saiu do nada simplesmente depois de pegar uns dias de férias. A loira achou na verdade que não deviam ter deixado Tenten sair dali sem maior auxílio. Ela realmente não aparentava estar bem.

– Acho que vou fazer um chá para nós. – Disse Shizune se levantando.

– Eu a ajudo. – Disse Hinata saindo com a morena da sala.

– Eu não entendo, ela chegou aqui arrasada. E vocês viram como ela reagiu estranha quando a Hina tocou nela. – Mais uma vez Ino se pronunciou, quando Hinata já havia saído do aposento.

– É, as duas sempre foram tão amigas. – Completou Sakura.

– Esqueçam isso meninas. Ela não quis dividir o problema conosco, quis? Ela está indo pra casa, tenho certeza que ficará bem com um bom colo de mãe. – Disse a mestra já imaginando o motivo da melancolia de Tenten, afinal não seria a primeira nem a última kunoichi que se havia se apaixonado pelo companheiro de equipe e nem a única mulher que fora trocada por outra na história da humanidade.

Longe dali Tenten estava correndo. Não passaria em casa, sairia para onde seus pés a levasse.

Quando seus pais morreram, há duas semanas, ela decidiu que não contaria o caso para ninguém em Konoha com o intuito de fugir dos infinitos quadros de pena que as pessoas associariam a ela. Até mesmo porque a presença diária de Neji a matinha aquecida e fazia a ideia de que nunca mais veria seus pais ou abraçaria sua mãe pairasse muito tempo em sua cabeça.

Omitir este detalhe lhe foi muito útil agora, pois tudo que ela desejava no momento era ficar longe de Konoha, longe de Neji. Dias inteiros somente dela e de seus pensamentos. A pequena mentira lhe conferira cinquenta dias de folga. Sem rumo, a única coisa que sabia é que iria para longe de Konoha e tudo que ela representava.

Queria isolamento que usaria para fazer o que sabia fazer de melhor: treinar, treinar e treinar.

–Tenten – Ouviu alguém dizer seu nome.

Ou seria apenas impressão?

– Tenten – A voz máscula a chamou mais forte.

Havia algo naquela voz que lhe lembrava um sonho bom. Poderia ficar ouvindo aquela voz a chamar por horas a fio.

–Tenten, está me ouvindo? – Era isso, era tudo um sonho.

Um péssimo sonho, tinha que acordar agora. Iria se virar na cama e abraçar-se junto aos ombros largos do amado; o homem que passava as noites esquentando seu corpo sob os lençóis.

Ele a amava também. Somente a ela e mais nenhuma, não havia Hinata no coração do Neji e isso não faria dela uma amasia. A amante que enganava a melhor amiga. Aquela náusea que sentia e fazia com que se sentisse o ser mais burro e grotesco do país do fogo iria sumir assim que sentisse o calor dos beijos ternos de Neji ao lhe trazer de volta para o mundo real.

– Tenten! – Finalmente olhou para quem a chamava e agora a sacudia pelos ombros a fim de chamar sua atenção.

– Neji-kun – Disse sorrindo.

– Por que não foi ao restaurante? Fiquei esperando por você e você não apareceu, então me preocupei. Fui até a casa da Ino onde estão todas reunidas e me disseram que esteve... Tenten? – Interrompeu sua frase para segurar o corpo fraco que perdia a consciência rapidamente em sua frente.

Não fora um sonho. Claro que não era, e mesmo que fosse um doentio pesadelo nào haveria ninguém para lhe salvar. Era um pássaro com a asa ferida caindo em queda livre, perdendo o seu território no céu.

Ninguém iria lhe estender a mão. Nada poderia curar aquela dor desumana que assolava seu peito. Sentia-se flutuar cair sem nem mesmo deixar de tocar o chão com seus pés; sentia-se cair sem sentir o vento passar por seu corpo jogado como um descarte do abismo dos sonhos desfeitos.

– O que há com você? Está pálida! – O moreno de olhos claros lhe amparava com expressão preocupada.

– Me solta Neji! – O Hyuuga se assustou, nunca ouvira a morena falar assim, pelo menos nunca com ele.

Soltou-a imediatamente. A preocupação se misturando com a incompreensão.

O que era aquilo? Aquela não era sua destemida amante.

– Te fiz algo? – Perguntou deixando d e tocar os ombros da kunoichi em amparo, mas sem os afastá-lo muito para o caso de ter que segurá-la novamente.

A ânsia no estômago da kunoichi mudou de náusea para uma azia insuportável. Sem saber bem o que fazia, lançou o tapa cheio de angústia que atingiu em cheio a face sem expressões do homem à sua frente.

Não costumava agir por impulso, mas achou que se havia um momento adequado para ações impensadas e imprevistas, seria esta. Era uma kunoichi forte, de uma família honrada. Pouco conhecida em terra dominada por Uchihas e Senjus, e embelezadas pelo poderoso dom dos Hyuuga e dos Uzumaki, mas ainda assim uma família honrada.

E como defensora desta honra de força e engenharia, Tenten representava sua família. Era uma kunoichi forte e destemida, com armas engenhosas e letais, o dom da justiça em seus atos quase bárbaros em batalha, era um dom nato e desenvolvido com rigorosidade.

Mitarashis eram justos. Mitarashis eram leais.

Mitarashis usavam armas letais, mas jamais se tornariam armas. Nem de dor e nem de morte.

Mitarashis tinham honra. Neji havia desonrado a centelha Mitarashi da chinesa, mostrando sem piedade o quanto subestimava sua inteligência; mostrando o quanto a achava baixa e burra. Neji havia a transformado em algo que ela não era e não suportava.

Injusta. Traidora. Uma arma de sujeira e destruição de sentimentos.

– Como pode ser tão frio e sínico Hyuuga? – Perguntou segurando com todo autocontrole que lhe restava as lágrimas que estavam deixando a superfície de seus olhos cristalinos.

Ela não sabia ao certo qual a origem destas lágrimas. Falta dos pais, a decepção com Neji, o nojo do que estava fazendo sem saber com sua melhor amiga ou a forma como até mesmo naquele momento ele não tinha expressão nenhuma no rosto e lidava com aquilo tudo como se fosse incapaz de entender sua indignação.

Sua raiva aumentou ainda mais quando ao invés de retrucá-la, Neji a pegou firme pelos ombros e a girou fazendo com que seu corpo ficasse prensado entre ele e uma árvore. Podia ver que ele mexia os lábios, mas não era capaz de ouvir o que ele dizia.

Odiava-se por sentir os músculos que tremiam acalmando-se ao sentir o corpo dele junto ao seu. A força feita para repudiar aquele a quem tanto amava fez sua azia aumentar, sua respiração ficou cada vez mais descompassada e, ainda assim, a morena sentiu como se nenhum ar entrasse em seus pulmões. A pele cada vez mais pálida e fria derramava largas gotas de suor e tudo em sua frente escureceu.

Não, ela não havia desmaiado. Seus olhos fecharam instintivamente quando seus lábios gélidos foram invadidos impetuosamente pela língua quente de Neji que explorava sua boca sem mostrar preocupação pelo estado em que ela estava.

Todo o efeito da maleficência da aproximação com aquele ser humano desapareceu no mesmo instante. Tudo que seu corpo sentia era o calor prazeroso pelo contato com o do outro. Neji era um canalha, mas ainda o amava demais.

Correspondeu ao beijo com a mesma ferocidade em que lhe era oferecido. Permitiu que o gênio da Bouque explorasse seu corpo possessivamente enquanto raspava ferozmente as unhas pelo dorso do rapaz. A mestra das armas colocou força e um pouco de chakra na ponta dos dedos fazendo com que suas unhas abrissem feridas nas costas do outro.

Queria feri-lo, queria que ele sentisse dor pelo que fazia com ela e Hinata ao mesmo tempo. Queria que ele sentisse dor por não respeitar nenhuma das duas, feri-lo por fazer com que não resistisse ao corpo e aos toques do moreno.

Sentiu seu corpo ser erguido e suas pernas suspensas em torno da cintura de Neji. O ódio aumentou, pois o desejava. Mas aquilo estava errado e o ódio apenas aumentava, em sua mente viu o sorriso dos pais que perdera há tão pouco tempo, viu como se perdeu na ilusão de ser amada.

Abriu os olhos a tempo de ver Neji abrir os botões de sua blusa enquanto beijava seu pescoço. Concentrou mais seu chakra, cravando as unhas fundo nas costas do outro fazendo-o gemer alto pela dor.

Tenten aproveitou a brecha e o retorno de sua racionalidade para desprender as pernas do corpo do moreno e se impulsionar para longe com um dos pés. A morena literalmente o chutou para longe de si. Não devia sentir raiva nem nojo de si mesma, o culpado entre os dois era ele, o único pecado dela fora se apaixonar e ficar tão dependente de Neji.

– Aproveite e peça pra sua noiva cuidar de seus ferimentos essa noite – Disse com todo ódio que estava sentindo – Eu vou tirar férias na casa dos meus pais – Abotoou a blusa e saiu, deixando-o ali.

Tinha uma longa viagem pela frente. Não sabia para onde ia e nem o que de fato faria; quanto tempo duraria aquela força de vontade de viver que sentia naquele momento.

Se seria apenas até dar as costas, ou se seria para vida toda. Se cairia assim que olhasse para trás, ou se este evento mórbido apenas a deixaria mais forte.

Contudo, surpreendeu-se com a forma como passou a se sentir melhor a cada passo mais para longe dele que dava. Era como se sua presença a enfraquecesse e a distância um antídoto para este veneno pegajoso que estava profundamente entranhado em si. Os passos ultrapassaram seus pés cada vez mais velozmente, até assumir o ritmo de corrida novamente, desta vez não pararia por nada.

Correu. Apenas correu, ganhando o caminho a sua frente sem ligar em definitivo para onde ele lhe levava. Inconscientemente seus pés sabiam o caminho para fora da vila de cor.

Para onde não era importante. No meio da noite, acariciada pelo orvalho agradável ela se concentrou apenas no prazer absoluto da corrida, sentindo a brisa que batia em sua face como um abraço de liberdade. Correu até ver o breu ser consumido pelo fogo e as estrelas terem seu brilho ofuscado pela imensidão do sol que subia lentamente pelo céu.

Correu sem olhar para trás. Correu da vida que tinha e de Neji. Correu por horas e quilômetros sem sentir os pés e nem as pernas e parou de correr apenas pelo peso do cansaço em seus pulmões.

Inclinou o corpo levemente pra frente, descansando as mãos um pouco a cima dos joelhos. Parada nesta posição até sua respiração voltar ao normal.

– NANI? – Ouviu o grito espalhafatoso – O que você quer dizer com isso afinal? Fale em uma língua que pessoas normais possam entender Kakashi-sensei.

Os olhos seguiram por extinto em busca da voz alta que exclamava dúvidas sobre algo que ela obviamente desconhecia.

Ah sim, como esquecera? O motivo para que ela e Neji pudessem marcar um encontro naquela noite que havia passado, Gai e Lee haviam saído em missão com Naruto, Kakashi, Sai e Yamato.

Mas como pudera ir tão longe em uma noite? Afinal, a comitiva havia saído de Konoha um dia antes dela. Não achou que estivesse correndo com tanta pressa, ainda assim, diminuiu seuss passos para tomar outro caminho qualquer, em outra direção que não fosse a mesma que a deles.

Não queria ser vista e nem questionada por ninguém. Queria apenas a solidão, voltaria a correr assim que sua respiração normalizasse.

– Tenten? – A voz grave a fez olhar de modo automático na direção daquele que conseguira detectar sua presença ali.