Capítulo um: Akasuna no Kamui

Por Kami-chan

– Eles se quer me conhecem. – Disse voz doce com um leve toque pensativo.

– Quem? – Questionou a voz masculina.

– Eles. – Ela respondeu como que se depois das longas horas que passaram discutindo "eles" fossem óbvios.

– Que tal se você se mostrasse para eles. – O ruivo disse exatamente no mesmo tom que ela.

– Eu não me mostro pra ninguém. – Ela ergueu apenas os olhos para mira-lo, fazendo os castanhos escuros de seus olhos engolirem os dele.

– Não use esse truque comigo – Advertiu elevando seu tom de quem fala com segurança.

Mas ainda assim incapaz de olhar para o ar sedutor brilhar e expandir das íris dela. Ao mesmo tempo, ela abria seu mais encantador e ao mesmo tempo falso sorriso que formava doces covinhas à medida em que se arqueava no rosto delicado.

– Truque? – Ela falou baixo sem desviar o olhar nem desfazer o sorriso – Que truque?

– Esse. – Respondeu no mesmo tom baixo já incapaz de desviar seus olhos da hipnose induzida pelos dela.

– Huhuhu – Ela riu em sua maneira única – O que diria seu líder se o visse assim, rendido por um truque tão besta. – Fez sua voz ecoar pela imensidão verdade da bela floresta onde estavam.

– O que diria o clã Akasuna se a visse aqui, morando na floresta. Insultando todo o mundo shinobi usando essa bandana sem símbolo algum. Usando esses dons que você, e só você, foi capaz de aprender em três dias para curar animais feridos e fazer florescer botões precoces ao seu redor.

– O que dirá a vovó não é mesmo? Ou o que diria a vovó se por acaso ainda estivesse viva, não é Sasori. Ou acha que estar aqui me impede de ter minhas informações. Você ainda quer falar de meus dons, por acaso lembra do dia em que os consegui? Lembra-se de por que vim parar aqui? E agora vem com essa cara de pau me dizer que quer que eu vá com você para uma organização de mercenários?

A maneira como ela falava não permitia transparecer nenhum sentimento. Esta era a maior habilidade da Akasuna da floresta. Confundia até mesmo quem crescera ao seu lado, deixando Sasori confuso se ela estava sendo irônica, rude, agressiva ou ao menos sincera.

– Kamui. Por favor, seja sensata. – Disse segurando seu braço para fazê-la olhar para si.

O ato previsível do primo fez Kamui sorrir por dentro, enquanto externamente parecia imparcial. Ele tinha ido atrás de si por causa de seus dons, mas claramente havia se esquecido de como não devia subjulgar suas armas. Pensativa, direcionando o olhar para a mão que a prendia.

– Kamui está me ouvindo?

Perguntou puxando a prima mais para perto, mas nada mudou. Kamui apenas olhava para a mão sem dizer nada.

Claro que Sasori era ouvido. Internamente a menina até estava incomodada com o alto timbre do ruivo. Mas reclamar acabaria com a peça que ela tinha em mente. Então somente pensou na resposta que daria enquanto permanecia olhando com olhos baixos para a mão fria de Sasori.

– Kamui – Ele repetiu a puxando mais para perto. Tão perto. Tão...

"PREVISÍVEL"

Ela tirou os olhos da mão e lançou-os sem aviso dentro dos de Sasori para então engoli-los. Não podia evitar sentir o amor que sentia por aquele homem, ainda assim poderia puni-lo brincando com as fragilidades que ela sabia detectar como ninguém em suas vítimas. Jogando todos os pontos fracos dentro de suas doces ilusões.

Que coisa hipnotizante era o brilho bem no fundo dos olhos dela, prendia as pessoas quando se davam de conta quão sedutora era sua dona. Sasori odiava aquele truque, pois graças a ele nunca soube se alguma das coisas que tiveram no passado fora real ou apenas algo que ela usava para se divertir.

– Kamui – A voz voltou a falar tão baixa quanto um sussurro.

Era duro não saber se o rubro que tingia levemente o belo rosto era real. ou fazia parte do truque que apesar de conhecido, fazia-o sentir incapaz de lutar contra. No fim ele sabia que usava as qualidades da prima como uma desculpa esfarrapada para justificar o desejo que tinha em tê-la por perto mesmo em todos esses anos em que seguiram caminhos diferentes.

Ela sustentou o rubro em sua face por mais dois minutos apenas, tempo suficiente para que o ruivo se perdesse entre a realidade em sua frente e a fantasia que as lembranças do passado colocariam em sua mente confusa. Então ela daria seu golpe final.

– Sasori- kun, não me faça esperar.

Ela podia apenas ter dito "me beije" ou simplesmente se inclinar na direção do ruivo e beija-lo. Sasori estava tão bem preso por ela que não reclamaria nem mesmo se o mordesse, mas brincar com seu ponto fraco era muito melhor.

Sasori acima de tudo odiava esperar, puxou-a de vez para o beijo possessivo, sôfrego de saudade que ele se recusava admitir. Ela aprofundou o beijo e sentia-se bem como há muito tempo não se sentia, apertou o corpo do ruivo contra o seu enquanto raspava as unhas pela superfície da capa negra como que se com aquele ato fosse capaz de chegar ao corpo do ruivo.

– Chega! – A voz máscula soou decidida acabando com o beijo. – Não vai usar seus tolos truques comigo Kamui.

– E eu usei? Você parecia tão à vontade. – O sorriso traiçoeiro voltou a arquear na bela face.

– Pare! – Ele advertiu vendo quão malicioso o ar que ela emanava estava se tornando.

"É apenas um truque." Ele tentava forçar seu interior a se fortalecer, embora soubesse que se tratando dela isso seria em vão.

– Você sempre reclama. Eu adoro quando você reclama. – Ela se levantou desprendendo seu braço das mãos dele sem quebrar a conexão entre seus olhos.

Ela riu mais uma vez, encantadora como sempre. Ela sempre soube quão fácil era seduzir pessoas e sempre usou isso para vantagens pessoais. Sasori acima de todos sabia muito bem disso.

O que ele não sabia era que apenas com ele Kamui ousava a deixar essa brincadeira chegar tão longe arrancando beijos e noites do primo. Moveu-se então para o colo do ruivo.

– Você sempre reclama quando percebe que já perdeu. – Disse abrindo de vez o sorriso que de encantador tornou-se tão belo que chegava a transparecer inocência.

As pontinhas dos olhos se fechavam à medida que o sorriso se ampliava. Dessa vez foi ela quem tomou os lábios do ruivo que se mantinha inteiramente seu através do olhar hipnótico.

– Não Kamui. Eu vim aqui à negócios – Disse terminando com o beijo que ela havia começado, descansando os braços em volta da cintura da morena.

– Pode ser, mas eu não. Eu já disse, eu não vou. – Disse sem deixar de prestar atenção no fato de que ele ainda mantinha os braços em torno de seu corpo.

– Você vai comigo. – Ele afirmou.

– Eu sou feliz e segura aqui. – Ela abrira mão das brincadeiras para finalmente falar sério.

– Vai ser assim lá também. – Ele falou e a observou desviar o olhar.

Ali morava a sinceridade, naquela mudança que os olhos dela tomavam em busca de algo de desviasse sua atenção. Então foi a vez dele usar suas próprias armas contra a prima, puxando o queixo da morena pra forçá-la a o encarar.

– Eu já prometi que vou sempre cuidar de você Kamui, abri mão de você por essa promessa e ela vai se manter se você for comigo.

– Ir com você para um grupo de assassinos mercenários...

– Eles não são assim, eu garanto. Vamos Kamui, vem comigo.

"Vem comigo." Apenas duas palavras, ditas no mesmo tom de quem queria e precisava convencer outra pessoa. A frase tão simples fez Kamui se lembrar da última vez que havia escutado a aquela frase, num tom muito semelhante.

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Memórias de Kamui

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– Por favor, Kamui. Só você pode fazer dar certo. Vem comigo – Ele pousou a mão no ombro da morena ao seu lado.

Kamui olhava a lua que refletia sobre lisa superfície do lago, pensativa. Nunca negara nenhum pedido do primo antes. Dizer não para qualquer coisa pedida por ele simplesmente parecia um completo absurdo.

Por que tinha que amá-lo tanto afinal? Ou simplesmente, por que não podia ser mais parecida com ele? Ou com sua avó. Ou com qualquer outro membro do clã Akasuna.

– Você sabe como é a segurança em torno do Kazekage, isso simplesmente não tem como dar certo. Mesmo que eu o leve até você Sasori, é impossível fazer isso sem ser vista ou...

– Eu vou proteger você de qualquer coisa.

– Por que tem que mata-lo?

– Você precisa de um motivo que justifique a morte de um homem, não é? Mas você não vai matar ele, só vai o levar até minha armadilha. Entretanto não posso mentir pra você, eu o quero para fazer uma marionete.

– Como oka-san e otou-san¹?

– Não. Essa vai ser a minha mais poderosa criação.

– O Kazekage morre e você aparece com uma marionete que é a cara dele e com o jutsu da areia de ferro. É realmente um plano brilhante Sasori, você por acaso andou tomando alguns dos venenos que fiz pra você? – Disse calma e completamente irônica.

– É claro que depois disso eu vou ter que sair da vila.

– Então está decidido – Ela olhou o primo com um olhar assustador. – Eu não vou ajudar você.

– Vou fazê-lo com ou sem a sua ajuda.

– Vai morrer tentando se fizer isso.

– Então está decidido. – Ele imitou o mesmo olhar da prima. – Eu vou matá-lo. – terminou de falar e deu de ombros.

– Achei que tivesse mais palavra, Sasori – Apenas se virou de costas para o rio e olhou em direção ao ruivo. Ele havia parado ao ouvir o comentário dela. – Como vai me proteger estando longe?

– Por culpa dele nem eu e nem você temos pais Kamui. Se isso não serve de motivo pra você, eu sinto muito, mas vou matá-lo sozinho

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A lua estava alta, a madrugada silenciosa e o pátio do belo palácio completamente vazio. Nada era escutado além do som gracioso da água do chafariz da fonte de pedra que dava um toque de beleza genuína ao local.

Ninguém se mantinha acordado àquela hora além do Kazekage que costumava sair para caminhadas nos primeiros dias de lua cheia. Talvez devido ao medo que cercava os moradores da aldeia após o nascimento do bebê que deveria servir de reservatório para o demônio de uma calda, Shukaku.

Essa informação era sigilosa, ninguém sabia mais do que alguns rumores, mas ela sabia da verdade. Sua avó selara pessoalmente a besta no recém nascido.

E ali estava Kamui. Quebrando a neutralidade daquele cenário, sentada na fonte enquanto brincava com a água com a ponta de seu pé, vestida com a roupa de linho leve, completamente branca o que a destacava entre a escuridão da noite e rompendo o silêncio cantarolando uma antiga canção infantil. Talvez fosse proibido estar ali, mas se houvesse alguém ali, o Kazekage em especial, ela tinha que ser vista.

– Você tem noção de onde está e do que está fazendo menina? – Ela adorava a forma como qualquer tom de voz parece ser mais suave entre o silêncio profundo de um jardim em plena madrugada.

– Ora me desculpe – Ela disse interrompendo seu canto e tirando os pés da água. – Entrei há poucos dias na polícia de Suna e me encantei com esse jardim, mas só posso observá-lo à noite, pois acho que se vier aqui durante o dia vão me expul... – Ela virou o corpo completamente olhando exatamente para o rosto que esperava ver ali. – Ahh Kazekage-sama, gomen nasai.. – Ela expressava em sua face a mais pura surpresa, misturada com vergonha por ter sido pega ali, enquanto internamente sorria ao ver a expressão com o velho assistia sua cena. – Eu não queria invadir sua propriedade.. eu..ah me desculpe por favor estou morta de vergonha. – Disse já em pé e dando passos para longe do Kazekage.

– Não. Por favor, espere – Ele disse a segurando pelo braço – Realmente é um belo jardim e as pessoas desse palácio o aproveitam pouco – Em sua visão, estava confortando a bela morena pelo acontecido.

– É – Ela lhe sorriu, satisfeita ao ver como ele estava preso a cada movimento que fazia. – Eu realmente adoro belos jardins, principalmente com essa fonte de pedra. Há tão poucas flores aqui em Suna.

– Como se chama?

– Akasuna no Kamui – Não havia problemas em dizer seu nome ao Kage, ele morreria naquela noite mesmo.

– É um excelente clã.

– Obrigada senhor, tenho muito orgulho de pertencer a ele.

– Então gosta de flores Kamui?

– Muito – Ele já estava preso, mesmo assim ela preferiu baixar o tom da voz.

– Sabe minha esposa também gostava muito.

"É por isso é você construiu uma estufa para ela" Foi o que pensou, mas suas palavras foram outras:

– É mesmo? Ah que rude estou sendo esta noite, meus pêsames por sua esposa senhor.

– Obrigada Kamui. Sabe ela gostava tanto de flores que construí uma estufa inteiramente para ela, secreta. Escondida em um ponto estratégico do deserto onde ela foi capaz de criar muitas espécies. Será que você não gostaria de conhecer? – Ele com certeza não tinha a mínima noção de onde estava se metendo.

"Realmente muito secreto, tanto que eu acho que pouquíssimas pessoas sabem de sua existência, Chyo-baa, por exemplo, que sem querer contou para Sasori que por acaso está lá nos esperando" A excitação dos passos certos estarem sendo tomados sem grandes dificuldades faziam seus pensamentos falarem alto.

– Ah não, não! Imagine só uma simples kunoichi, pega em flagrante no jardim do Kazekage botar os pés em lugar tão especial. – Ela parecia tão envergonhada.

– Mas eu decidi agora que vou até lá e na minha condição de Kazekage devo levar um shinobi comigo para minha proteção. Estou convocando você para isso, se preferir ver por esse ângulo Kamui. Vamos ninguém vai dar atenção àquele jardim agora que ela se foi. Em breve todas aquelas flores estarão mortas, venha aprecia-las – Kamui então concordou com a cabeça, entre um sorriso tímido.

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– Terminou?

– Kamui.. Não imaginava encontrá-la aqui.

– Sabia que era para cá que você viria depois de tudo. Não conseguiria dormir sem saber se tinha dado tudo certo. – A voz ecoava pelo esconderijo que era usado apenas pelos primos.

– É claro que daria certo. – Ele lhe mostrou o pergaminho – Você foi fantástica como sempre, levou ele até o ponto exato. – A resposta fez a morena sorrir, pelo menos ele reconhecia seu sacrifício.

– Fantástica como sempre. – Ela direcionou o sorriso ao primo junto com um olhar que fez Sasori achar que ela sorria também com os olhos.

– Kamui não me olhe assim, eu acabei de matar o homem mais importante da vila. – Kamui sorriu ainda mais empurrando o primo até ele bater com as costas na parede e encostando suas mãos espalmadas na mesma, deixando o corpo do ruivo entre seus braços, sem deixar de olhar fundo em seus olhos.

– E eu acabei de enganar esse mesmo homem, o levei para uma armadilha e ainda sou cúmplice deste assassinato. Preciso falar mais? – Ela fez a última pergunta em um sussurro e Sasori viu-se engolido por seu olhar, enfeitiçado, enroscou a cintura da morena e a trouxe até seus lábios.

Mesmo jovens, desde muito antes daquele tempo, ele já não sabia mais dizer se a prima se fazia sua por diversão ou se havia algum sentimento naquilo tudo. Como o que partia dele, pensar em tais sentimentos fez nascer uma nova dúvida em sua mente perturbada que terminou o beijo sem permitir que ela se afastasse.

– Por que fez isso? – Referiu-se a mudança de opinião dela na questão de o ajudar.

– Por que foi com você que eu descobri meus dons e usa-los em você é extremamente divertido. – Disse para não dizer que não usaria aquele truque de tal forma com qualquer outra pessoa que não fosse ele.

Sasori fechou a cara. Diversão. Para Kamui só existe diversão.

– Eu me referi ao fato de você resolver me levar o Kazekage – Disse soltando a prima e indo até a mesa que tinha ali, fingindo procurar por algo.

– Porque agora eu tenho tanta culpa quanto você e se quiser manter sua promessa de me proteger, vai ter que me levar com você.

Mesmo sem poder mais vê-la, Sasori fechou os olhos. Este havia se tornado seu meio de se proteger de Kamui, pois até mesmo apenas ouvindo-a ele sentia como que se o ato o protegesse.

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Fim das Memórias de Kamui

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Kamui olhou para o ruivo sério ao seu lado pensando seriamente que devia aprender a dizer não ao ruivo. Aquilo era injusto em seu ponto de vista, pois tinha que hipnotizar o primo que desejava. Ele conseguia tudo de si sem esforço algum.

– O que foi? – Ele perguntou sem tirar os olhos de seu caminho.

Sim. Já estavam na trilha para o lugar que ele queria fazer de nova casa para ela.

– O que você disse a Chyo-baa-san quando eu não voltei? – Apesar de não ser o que estava pensando, sabia que aquela era uma pergunta que ele esperava que ela fizesse.

– Uma desculpa esfarrapada qualquer. – Ele respondeu vagamente.

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Memórias de Sasori

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As coisas estavam muito piores do que ele imaginava. Seria melhor ir ao esconderijo buscar Kamui somente no dia seguinte, quando os dias de batalha certamente terminariam. Diria à avó que não a vira durante a batalha, mas que teve notícias de que estava bem.

– Isso é um absurdo! – Esta era a voz da avó gritando com alguém dentro de sua casa.

– Baa-san – Ele disse sério entrando em casa. Com a avó estavam ninjas especiais da polícia de Suna. – Aconteceu algo?

– Sasori, veja o que esses ninjas estão dizendo de sua prima.

– Posso ajudar? – O ruivo se adiantou diante de um dos ninjas, uma vez que a avó estava visivelmente nervosa.

– Hai. Há uma ordem de execução para Akasuna no Kamui.

– Sob que acusação? – Ele perguntou calmo.

– Sasori, esse homem acusa Kamui de ter matado o Kazekage. – Disse a avó em desespero.

– Já faz dois meses que o Kazekage morreu. –Ele completou o que dizia a avó.

– Hai. Na madrugada em que ele foi assassinado um grupo que saía em missão o viu na companhia de Kamui momentos antes de sua morte. Essa semana o grupo retornou à Suna.

– Sasori, explique a esses homens que a nossa Kamui não seria capaz de tal atrocidade.

– É claro que ela não seria capaz. Kamui era muito sensível em relação à morte. Sensível demais.

– Sasori, não fale de sua prima no passado. Ela não pode ser acusada de algo assim.

Sasori engoliu em seco. Aquele era o momento em que tinha que tinha que mostrar que crescer ao lado da menina que fazia todos de fantoches, o fizera aprender algo. Kamui inventava histórias com tanta facilidade, ele tinha que pensar rápido. E tinha que ser convincente.

– Eu sinto muito baa-san – Ele baixou a cabeça – Isso não será possível...

– O que? Sasori..onde está Kamui, por que ela não voltou com você?

– Não queria ter que ser eu a trazer tal notícia, nem tê-la que dar numa situação tão vergonhosa. – Ele fez uma pausa. – Ela estava ferida e eu a mandei correr, foi muito depressa, uma sequência de explosões interligadas por chakra ela... Ela mesma não viu onde pisava e desarmou a armadilha. – Ele baixou ainda mais a cabeça, se isso era possível – Quando saímos eu prometi que cuidaria dela, mas não fui capaz. Por favor, não acusem minha prima de algo dessa proporção quando em justa noite ela morreu lutando por Suna.

– Kamui.. – A mais velha parecia não digerir a ideia.

– Nós lamentamos sua perda. Ainda assim vamos ter que passar isso ao novo Kazekage, mas por hoje o assunto dá-se por encerrado. – Eles se retiraram.

– Eu preciso muito de um banh...

– Sasori – A voz de Chyo-baa o cortou.

Aquele tom o fazia perceber que era agora que vinha a verdadeira encrenca.

– Você ainda não tinha dentes quando comecei a cuidar de você, então não pense que pode mentir assim tão facilmente para mim. Onde está Kamui e por que mentiu daquela forma quando sabe que ela seria incapaz de matar a sangue frio. Ainda mais o Kazekage.

Bem no fundo ele sabia que não seria tão fácil. A manipulação era um dom do clan, e ela era a mestra que os havia criado. Kamui tinha um dom extra para conseguir omitir coisas da avó. De qualquer forma, teria que justificar seu sumisso mais cedo ou mais tarde também.

– Eu não sei onde ela está! – Mentiu – E nós nunca sabemos do que as pessoas são capazes.

– Se aqueles homens tivessem entrado aqui dizendo que havia sido você o autor dessa loucura eu teria acreditado, mas não insinue nada desse tipo sobre ela.

– Não insinuei nada contra ela. Mas você tem razão, eu tenho sangue frio pra matar – Ele fechou os olhos apertados antes de virar e encarar a vó, essa mentira tinha que ser convincente – Quer a verdade? Vai ser capaz de aguentar a verdade? Eu não faço ideia de quem matou o Kazekage, mas com certeza não foi Kamui, ela não foi capaz nem de ir contra a pessoa que a matou. Sabe, andar pra cima e para baixo tendo que cuidar dela era realmente um atraso de vida. Ela era um fardo que eu não precisava carregar, não teve bomba nenhuma, eu mesmo matei Kamui e sinceramente se soubesse que ela estava sendo procurada teria a entregue antes de sujar minhas mãos.

– Sa...Sasoriiii – A velha ninja não sabia o que fazer, apenas caiu aos prantos no sofá enquanto assistia seu neto a abandonar ali.

Sentia-se incapaz de qualquer ação. Ainda assim tirou forças do impossível para mesmo caída manipular os finos fios de chakra que saiam de seus dedos, lançando um ataque contra Sasori.

Era a mestra das marionetes contra o garoto prodígio que deveria ser seu sucessor algum dia. O jovem se defendeu e uma breve disputa se iniciava ali, mas o peso do tempo deixara Chyo mais lenta do que se lembrava ser.

Feriu um dos braços do neto, mas isso não foi o suficiente para parar Sasori que conseguiu fugir deixando a avó desmaiada.

"Por favor Kamui, não saia do esconderijo por nada." O ruivo correu. Tinha que se apressar enquanto escolhia caminhos que passavam por becos escondidos para chegar pnde a prima estava. Desejando com toda sua força que Kamui não saísse do esconderijo por nada, pois se algum oficial de Suna a visse, seria seu fim.

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Fim das Memórias de Sasori

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– Uma desculpa qualquer? – A vovó não costumava cair fácil, não acreditaria em qualquer coisa.

– Ah Kamui, foi há tanto tempo atrás. Suna estava em guerra lembra, eu não sei exatamente que palavras usei para convencê-la.

A prima não sabia que ele não havia voltado pra casa depois de tirá-la da vila. Jamais imaginou que ele tinha passado seus últimos dias escondido no esconderijo, e nem que havia brigado e mentido fervorosamente para a avó antes de encontrá-la naquela noite. E não precisava saber, isto era apenas coisas do passado.

Sasori olhou para Kamui de relance, tinha se esquecido com o passar dos anos o que era ter a menina falsamente desmiolada ao seu lado. A amava de uma forma que lhe parecia até injusta. Principalmente a dolorosa certeza de que aquilo que era amor para si, não passava de diversão para ela.