A Filha de Shaka

Capítulo I

Nota: Essa fic teve o capítulo I completamente revisado, e também sofreu algumarevisão nos capítulos II ao VI.

Era uma manhã nublada, embora alguns raios do sol, quase totalmente encoberto pelas nuvens, ainda aparecessem a iluminar a imponente construção que estava localizada dentro da imensa e densa floresta. Os raios lentamente penetravam por entre os galhos iluminando a vegetação majestosa das Florestas Altas, lar das Feiticeiras Druidas.

Porém uma onda de tristeza invadia a aquele bosque, uma vez que a harmoniosa comunidade que ali vivia estava prestes a perder um importantíssimo membro: a feiticeira Enya, uma das mais poderosas entre as Druidas. A bela Feiticeira havia sido acometida por uma terrível e misteriosa doença...

A bela feiticeira de olhos verdes cor de esmeralda não partia sem deixar sua continuação. Enya havia tido uma filha a quem dera o nome de Avalon, em homenagem à antiga ilha de seus ancestrais.

Nascida e criada na majestosa floresta inglesa, lar dos druidas, a menina havia tornado-se uma talentosa Feiticeira, com poderes comparados aos da lendária mãe. Como se não bastasse também herdara de Enya a beleza sem igual e o espírito livre, impossível de ser domado. Eram, mãe e filha, incrivelmente parecidas em forma e em espírito.

No entanto, mesmo sendo feiticeiras de incrível poder e sabedoria, verdadeiros prodígios na Magia , não eram bem vistas por todos nas Florestas Altas. Os mais conservadores jamais esqueceram que Avallon fora fruto da desobediência de Enya ao voto de castidade que sacerdotisa destinada a ser a futura Shalafi dos druidas deveria seguir. Para muitos era imperdoável o fato da mãe de Avalon ter abdicado de suas obrigações apenas para satisfazer seus próprios desejos carnais...

Naquela manhã nublada, o mundo Druida estava prestes a perder a bela Enya, porém, antes de entregar-se aos seus últimos suspiros, Enya, chamou a filha ao seu quarto, onde repousava resguardada por amigas Feiticeiras.

Ver a mãe moribunda em cima daquela cama era uma visão perturbadora para ela, que crescera com a mulher ativa, cheia de vida e vigor. Enya estava abatida. Tinha olheiras profundas e seus olhos que uma vez já estiveram cheios do brilho, agora pareciam vazios, denunciando que a vida daquele corpo estava prestes a se esvair.

Tentando manter-se firme, Avallon se aproxima da cama onde repousava sua querida mãe.

Ela tossia forte no momento em que a sentou-se ao lado de seu leito. A filha aperta com força as mãos, emagrecidas pela doença, da mãe entre as suas, tentando passar-lhe apoio e calor humano. Enya preparava-se para falar sobre um assunto que evitara a vida inteira, mas que agora , em seu leito de morte, concluira ser a coisa mais urgente a tratar com sua filha. Reunindo as ultimas forças que lhe restavam ela olha bem dentro dos olhos angustiados da jovem e sorri.

– Nunca lhe disse antes meu amor... você tem os olhos dele. - Emocionada, tocou a face da filha com a palma da mão.

– Do que está falando minha mãe? - Por mais que tentasse a adolescente não tinha forças para corresponder aos sorriso da mãe naquele momento. Era um sorriso de despedida, ela sabia, e isso a enchia de desespero.

– Avallon, antes que a vida se esvaia desse corpo eu tenho que lhe contar uma coisa muito importante, decisiva para seu futuro... -Diz Enya serena.

– Não mãe, não fale, apenas descanse!

– Minha filha... - Enya continuou, ignorando a ordem da moça. - Uma vez eu decidi que iria levar esse segredo comigo para o túmulo. Mas agora estando a beira da morte sinto quase que uma necessidade de lhe dizer...de lhe dizer averdade!

– Mãe, seja o que for, pode esperar, por favor...

– Eu estou partindo Avallon, não me resta muito.

– Não! - Avallon segurou com força aquelas mãos que tantas vezes lhe afagaram com carinho, e não pode mais conter que as lágrimas viessem a tona.

– Avallon me escute... Você tem um pai...ele não está morto como eu sempre lhe disse, está vivo!

Outrora aquela notícia causaria grande comoção e surpresa na Druida, mas naquele momento nenhum sentimento poderia superar a dor que estava sentindo.

Enya prosseguiu determinada a revelar toda a verdade.

– Lembra-se do que eu lhe falei sobre os honrados cavaleiros de Athena?...

– Sim... - Avallon chorava, mas podia ouvir e compreender a mãe.

– Você é filha de um desses homens Avallon... - A revelação foi interrompida por uma súbita crise de tosse. Avallon segurou com mais força as mãos de sua mãe e ia dizer alguma coisa, mas Enya logo prosseguiu. - Ele se chama Shaka, é o Cavaleiro de Ouro de Virgem. – Uma nova crise a interrompeu, juntando tudo de si prosseguiu. – Prometa-me que vai procura-lo!

– Mãe. Por favor, não me deixe! – A menina estava em prantos.

– Prometa Avallon, por favor.

Avallon sentiu nos olhos de Enya a força daquele pedido, e entendo que talvez fosse aquele o seu último desejo, resolveu consentir.

– Prometo minha mãe, eu prometo. Agora não fale mais, descanse...

Enya obdeceu-a, iria descansar, agora e para sempre. Avallon sentiu os olhos de sua mãe perderem o brilho por completo, e ainda a viu sorrir, certa de que fez a revelação na hora correta. Ela tinha ainda algum fio de vida, ao qual se prendia para olhar sua filha mais uma vez e ainda ver que todo seu esforço para criar uma criança sozinha e transformá-la em uma poderosíssima Feiticeira Druida havia sido mais do que bem feito. Não se arrependia de absolutamente nada do que fizera ate então e partia certa de que sua filha procuraria pelo pai, que certamente lhe receberia...

Enya finalmente está morta, nos braços da filha, que chora.

A última nuvem que faltava para encobrir o céu sobre as Florestas Altas já havia encontrado seu lugar perante o Sol, tampando totalmente a luz do Astro – rei, deixando somente uma manhã nebulosa e triste. Um canto de lamentação pela Feiticeira que acabara de partir para sempre começa a ser entoado pelas Feiticeiras Druidas em cada ponto das Florestas Altas...

O Sol brilhava forte como sempre brilhava ali, encantando aos recém chegados e irritando aos nativos daquele lugar. O Santuário de Athena ficava realmente lindo sobre a luz do sol do meio-dia. Um dia de tranquilidade para os Cavaleiros que habitavam o Santuário. E neste dia tão ensolarado, os cavaleiros de Ouro e os de Bronze reuniam-se para uma amistosa partida de futebol.

Quem observava de longe, podia observar que Shun era aparentemente o goleiro daquela partida no mínimo cômica. Hyoga gritava algo inaudível para Shun e este lhe respondia com gestos ora obscenos ora engraçados. Sentado em uma das muitas pilastras caídas ao chão, Shaka observava a partida, achando ate alguma graça nela, mas não fazia a menor menção de que iria participar.

Raramente aparecia em público com os olhos abertos, mas naquele dia, um dos muitos do longo período de paz que atravessavam, estava com os olhos bem abertos para poder assistir à partida e assim Ter algum motivo para mexer com seus amigos mais tarde... Eles eram excelentes guerreiros, temidos e fortes, mas como jogadores de futebol eram ótimos cavaleiros de Athena...

Com o cotovelo apoiado no joelho de uma das pernas que estavam dobradas, Shaka estava quase se retirando para sua casa, mas então viu alguém vindo em sua direção com as roupas e o rosto suados.

– Fala ai, Shaka, não vem jogar não?

– Prefiro ficar aqui vendo vocês se fazendo passar por jogadores de futebol, um verdadeiro espetáculo cômico para quem quiser assistir!

– Po, deixa de ser anti-social e vem jogar...

– Não, obrigado... Não to afim de pagar mico, como o Aldebaran costuma dizer aquela gíria lá do país dele...

–Shaka você não acha que seria legal se você tivesse alguma preocupação a mais na vida que não fosse atingir o Nirvana?

– Mas eu tenho outras preocupações sim... Agora mesmo estou muito ocupado em como me livrar de um mala...

Milo fica olhando para a expressão séria do cavaleiro de virgem e cai na risada.

– Hahahahahahahahahaha...

– Qual foi a piada da vez? – Pergunta Mu de Áries, que acabara de chegar ao local.

– Também não sei... – Respondeu o cavaleiro de virgem.

– É que esse cara é tão chato, mas tão chato que da vontade rir!

Mu sorriu discretamente. Shaka permanecia sério mantendo seu irritante ar de superioridade.

– Shaka sabe do que tu ta precisando? M-U-L-H-E-R, mulher! Tu ta precisando de uma boa trepada!

O Cavaleiro de Virgem olhou para Milo com ar de desdém, e levantou-se batendo o pó do sabre laranja.

– Estão chamando vocês. – Avisou, antes de dar as costas e sair.

Mu teve vontade de acompanhá-lo, há muito tempo não conversavam, mas isso podia esperar. No momento tinha um assunto seriíssimo para resolver: terminar a partida de futebol.

Mais tarde, quando o Sol já esta se pondo e os cavaleiros todos já retornaram aos seus templos, Shaka tomava chá no terraço de sua casa, quando recebe uma visita.

Era Mú, ele não sabia bem o por quê, mas sentira-se impelido em vir, achara algo na reação de Shaka inquietante. Na verdade não era de hoje que vinha estranhando o comportamento do amigo. Estava achando o Cavaleiro de Virgem especialmente sombrio nos últimos tempos...

– Boa noite Shaka.

– Boa noite Mu, aceita?- Perguntou, enquanto servia-lhe uma xícara do chá.

– ah, obrigado.

– A que devo a honra?

– Nenhum motivo especial, só vim mesmo conversar... não sei se é impressão minha, mas to te achando meio... estranho, triste, sei lá...

– Impressão sua. – Sorveu um pouco de chá.

Mu aproveitou para beber o seu também, enquanto preparava-se para tocar num assunto.

– Faz anos que somos amigos, não é mesmo? No entanto existem assuntos sobre os quais nunca falamos.

– Por exemplo?

– Nossa vida sentimental por exemplo...

– É verdade.

– Se importa de falar sobre isso?

– Não... – A negativa não foi lá muito convincente, mas Mu resolveu continuar mesmo assim.

– Você faz voto de castidade não é?

Shaka esboçou um risinho sarcástico. – Não. Nunca fiz.

A pergunta seguinte seria algo do tipo: " Mas Shaka , você tem certeza que é feliz assim?", porém diante da resposta inesperada Mu teve que mudar o roteiro.

– Eu pensei que...

– Pensou errado meu amigo. Eu acho o sexo muito importante para uma vida saudável , para não dizer essencial!

Mu estava pasmo com aquilo tudo, mas fingiu que não.

– E o amor? Você já amou?

Shaka respirou fundo, não tinha vontade de responder essa pergunta, mas também não havia porque mentir.

– Já...há muito tempo atrás...

– E o que houve? Por que se separaram?

– Eu também gostaria de saber... ela me deixou.

– E quem era ela?

– Enya, o Espírito Livre... Assim ela era conhecida pelo povo dela...

– Povo?

– Sim... era uma Feiticeira Druida... - Os olhos de Shaka parecem perdidos no tempo.

– Mas quando foi isso?

– Não sei bem ... há uns dezoito, dezenove anos atrás, por aí. Eu não tinha nem dezoito anos...

– Você morava no santuário...ninguém soube dela?

– Não, Foi tudo muito rápido... Nos conhecemos numa festa às margens do rio Ganges... Foi um encontro breve, mas inesquecível para mim e para ela. As Feiticeiras Druidas não podem se envolver com ninguém, mas Enya se apaixonou...nós nos apaixonamos

– E então ?

– Nós conhecemos na índia, depois voltamos para nossas vidas, eu na Grécia, ela na Inglaterra. Havíamos combinado, eu iria até ela, na Inglaterra, mas antes ela veio até mim.

–Aqui? No Santuário?

– Sim, ela veio...apesar da proibição de Shalafi , uma espécie de mestra das druidas... Mas ela veio para me tirar as esperanças. ...

–Não entendi...

–A intenção dela era acabar com o que havíamos começado na Índia, mas eu não lhe dei essa chance... acabamos dormindo juntos. E isso era proibido para Enya, segundo as leis dela...

– E o que aconteceu depois...?

– Enquanto eu dormia, ela partiu.

– Você não faz a menor idéia de onde ela possa estar?

– Provavelmente ainda mora nas Florestas Altas, o lar das Druidas, mas eu nunca fui ate lá, respeitei a vontade dela...

– Não deve ter sido fácil renunciar a um amor assim, não é meu amigo?

Shaka consente levemente com a cabeça e depois de um breve silêncio fala num tom incomodado.

– Desde que a conheci tem sido difícil...fui tomado por sentimento humanos que eu sempre tentei afastar da minha mente...

Mú fitava o amigo, que tinha o olhar ainda mais longe.

– Amanhã é seu aniversário Mu... – Falou Shaka de repente, mudando de assunto.

– Pois é..estou ficando velho... – Sorri.

– Estamos todos não é? – Shaka retribui o sorriso – Quem diria que sobreviveríamos até essas idades...Sempre achei que morreríamos muito jovens...

–E nós morremos mesmo, só estamos aqui graças a Athena que convenceu Perséphone a nos devolver a vida.

– Sim, é verdade...Vocês farão uma festa amanhã não é?

– Pois é o Miro e o Shura sempre arrumam motivo pra fazer uma festa.

– Mas o seu aniversário de 35 anos é um bom motivo.

– Então você virá?

– Ah eu não disse isso...

– Puxa Shaka vai me fazer essa desfeita? – Ficando sério.

Shaka não sabe o que dizer, ele realmente detestava aquelas festas regadas à bebida e aquelas comidas que ele não podia nem sentir o cheiro. Sem contar que sempre davam um jeito de empurrar alguma amazona pra cima dele. Ele já estava imaginando tudo...Mas com certeza seria uma desfeita não ir ao aniversário de um dos seus melhores amigos.

– Eu passarei por lá Mu.

– Tudo bem , isso já é uma desfeita menor, hehe...Bem vou indo...

– Até logo amigo. E cuidado quando passar na casa de leão, aquele pirralho o filho do Aioria não é mole não! Fique em alerta ! Da última vez ele jogou algo em mim que até hoje não sei o que foi! Só sei que fedia bastante!

– Hahaha! O Aioros cismou com você mesmo não foi?

– Aquele menino é endiabrado... eu tenho pena da Marin que tenta educa-lo. Já o Aioria faz tudo que ele quer! Isso não é educação que se dê para um filho!

– Shaka , se você tivesse um filho provavelmente iria enche-lo de mimos...

Shaka sentiu-se estranhamente incomodado com o comentário do Cavaleiro de Áries. Sentiu seu peito apertar, mas não fazia idéia do por quê... mal sabia ele que logo, logo entenderia o motivo da sua angústia dos últimos tempos.

– Bem, então espero que você cumpra o que disse e apareça na festa amanhã a noite. Ah! E não se preocupe! Depois da sua reação de hoje de manhã o Milo provavelmente vai te deixar em paz.

– Espero que sim...

Mu despede-se do amigo com um aceno e desce as escadas do templo em direção à sua casa. Os dois nem imaginavam que suas vidas estavam prestes a mudar drasticamente. Apesar de que a intuição divina de Shaka lhe avisava que algo grande estava para acontecer em sua vida.

Ele agora observava seu amigo descendo as escadarias imponentes do Santuário e quando Mu não mais estava ao alcance de sua visão, levantou-se com a intenção de ir para dentro de casa. Porém detêm-se ao ouvir uma enorme explosão e se assusta com o clarão que vem da casa de leão, seguido do grito de Mu.

BUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUMMMMMMMMMMM...

Continua...