Mais um dia de, ugh, só de pensar até lhe dava náuseas. Todos os casais com aquelas cenas de namorados tão patéticas, tão estupidamente bobas e superficiais. Pansy Parkinson contemplava o pub onde se encontrava, toda a gente emparelhada, trocando sorrisos estúpidos, conversa fiada, gestos que de tanto romantismo lhe davam vómitos. E ela, a única sozinha no meio daquela gente, sozinha, como sempre, tão fodidamente sozinha. Gargalhou, acendeu o cigarro, jogou a fumaça para o alto e mandou vir mais uma dose de whisky. Viu um homem sentar-se ao seu lado.

-Potter... onde está tua sombra? - perguntou Pansy com a sobrancelha erguida e tragando o cigarro novamente. O homem coçou a barba, esfregou os olhos verdes e respirou fundo antes de lhe responder.

- Parkinson, não é por nada mas isso não te diz respeito absolutamente nenhum. - Disse ele calmamente, olhando os olhos azuis, gelados, desprovidos de sentimento dela.

-Uuuh, toquei na ferida do queridinho da nação, Santo Potter...- Potter virou a dose de whisky que a mulher tinha pedido. Roubou o cigarro das mãos de Parkinson, deu uma tragada e contemplou a mulher morena ao seu lado, fitou-lhe os lábios vermelhos entreabertos em surpresa.

-Potter, passa para cá a merda do cigarro e paga-me outra dose de whisky, cretino. - Soltou Pansy com a voz calma, baixa, cortante como o gelo.

-Então, o que exactamente leva a uma pessoa como tu a estar sozinha e ainda para mais num lugar imundo, muggle, como este? - O homem perguntou passando-lhe o cigarro e sinalizando o barman para mandar vir duas doses do mesmo.

- Odeio este dia, odeio este cinismo todo, e não sup...- Pansy calou-se momentaneamente ao lembrar-se do anúncio do noivado de Draco, mais cedo, naquele mesmo dia. E antes que desse parte de fraca, respirou fundo, tragou o cigarro novamente e só ao fim de uns minutos voltou a falar.

-Apeteceu-me vir aqui, qual o problema com isso? Agora por acaso estou a ser vigiada por Aurores, também? - Perguntou Pansy erguendo o queixo arrogantemente.

-Nenhum problema, Parkinson. E não, princesinha do gelo, não estás sob vigilância. Hoje é só mais um dia normal.- Potter calou-se por momentos, os dois saboreavam mais um pouco da bebida - A minha sombra noivou hoje. - Disparou o homem e arregalou os olhos, incrédulo com a sua própria atitude. A que ponto tinha chegado? Contar justamente à Parkinson, os seus problemas? Socou-se mentalmente.

-Entendo - respondeu Parkinson, sem qualquer cinismo ou ironia. Olhou-o nos olhos.

E num flash de momento, uma faísca nos olhos de Potter, a malícia nos de Parkinson, um sorriso torto de Potter, um morder de lábios de Parkinson, e foi o que bastou. Potter pegou no cigarro de Parkinson e apagou-o, ela virou o que restava da dose dele e saíram juntos do bar. Pansy puxou Potter pelo casaco e aparatou-os para o seu apartamento. Assim que se materializaram, olharam um para o outro e por instantes pairou a dúvida, a tensão. Pansy avançou um passo na direcção de Potter, Harry fê-la parar um momento.

-Á merda com os finais felizes? - perguntou ele devorando-a com os olhos.

-Á merda com os finais felizes - assentiu ela com o seu cinismo, marca registada.

Potter puxou-a para si, Pansy mordeu-lhe o pescoço e como selvagens descontaram todas as frustrações no corpo um do outro.

Horas depois, extenuados, entre os lençóis, Pansy comentou, enquanto passava as unhas envernizadas de vermelho vinho, arranhando o peito de Potter:

-Não é um dia qualquer, é o primeiro.

-O primeiro. - confirmou ele olhando nos olhos azuis, tão ardentes, dela.