Periélio
A manhã é a despedida, e ela se infiltra no quarto por meio de raios de luz. Em um amplexo, toma para si o leito alheio e propaga calor como se beijos fossem. A luz impávida faz também com que todos os resquícios da noite anterior sejam afastados dali, restando apenas a memória daquela que ainda está adormecida. Esta, que sabe que a manhã já chegou e que não irá embora tão cedo, recusa-se a abrir os olhos. Tenta prolongar a noite, mesmo sabendo que nunca obteria êxito. Seu desejo era correr até o hemisfério oposto, só para continuar escutando a voz dele em seu ouvido e sentindo os calafrios inevitáveis sob seu toque. É antinatural, mas ela sentia vontade de correr da luz. Correr da luz e mergulhar no escuro.
Esse pensamento relampejou por sua consciência, e ela despertou de imediato.
Havia um retrato sobre a cabeceira, sobre o qual a luz do sol parecia incidir mais intensamente, e ela olhou-o por um longo tempo. Pássaros gorjeavam lá fora, o céu se descobria de nuvens.
Talvez ela não estivesse pronta para desistir da manhã.
(Ainda)
