De novo. Aquele sonho vinha se repetindo noite após noite desde o que ele lhe fizera. O tiro que recebera no ombro, ainda doía, apesar de não existir mais ferida. Era o tiro que doía, ou o fato daquilo ser a prova mais clara de que fora traída?

Não eram nem mesmo seis horas daquela fria manhã, quando a Capitã deixou seu quarto e foi ficar lá, em pé nas lâminas de seu Galleon. Com a mente no vazio.

Ele foi seu primeiro tudo. O primeiro colega. O primeiro confidente. Foi o primeiro rapaz a ficar tão próximo dela. Foi quem primeiro lhe beijou e primeiro tocou seu corpo. Ele fora seu primeiro amante.

Podia dizer que ainda sentia as mãos dele a encostando contra a parede fria. Seus lábios descendo pela sua pele recém despida por essas mesmas mãos que pareciam estar famintas de seu corpo.

Ainda sentia os mamilos de seus seios nus contra a palma que os apertava insistente. Ouvia os suspiros dele, ouvia os próprios suspiros. Os dedos lhe invadindo a intimidade sem pudores. As mordidas quase vampíricas que ele teimava em dar em seu pescoço.

- " Mire-chan é tão linda, ne... Ainda mais com esse rosto todo vermelhinho"

A voz dele, ecoando em sua mente. Sarcástica. Safada. Os momentos em que ele lhe apanhava no colo e carregava pra cama, quando ela, somente uma pirata perdida entre os muitos mundos, se sentia uma princesa.

Voltava ainda mais para o passado de seus pensamentos. O dia em que AkaRed permitira que ele fizesse parte de sua tripulação. Ela fora infantil com ele. Teimosa. Não queria aceitar gentilezas e onde já se viu, permitir que um homem lhe desse comida na boca? Ela era adulta, forte e quase podia derrotar inimigos com as mãos nuas. Não precisava ser tratada como uma bebezinha por aquele... Desconhecido.

Droga... O primeiro beijo. Mordeu o canto do lábio inferior com a lembrança. Foi breve, roubado. Mal pôde sentir o gosto dele com aquilo. Depois que entendeu sua natureza, se fez a revelação óbvia: foi proposital. Ele sabia que a deixaria curiosa. Que a deixaria faminta por mais. E ela, caiu como um patinho. Um indefeso patinho sentado contra um predador nato. Não tinha nenhuma chance.

Foi nessa mesma curiosidade, que ela se permitiu ser deflorada por ele.

- "Basco... Basco... Ahn..."

Ainda se ouvia dizendo. Também ainda estava sentindo o membro dele pulsando entre suas coxas úmidas. Seus olhos estavam tão pesados quanto naquele momento. Não conseguiam abrir. Era impossível. O fogo que tomava seu corpo era invencível. A respiração estava tão alterada quanto naquele momento. Não era mais uma brincadeira, não era mais só uma lembrança. Era uma alucinação completa.

A vontade súbita de gemer, de gozar, era insuportável. Quantas vezes será que gemeu pra ele? Que gozou por ele? Junto com ele?

Tinha raiva só de lembrar que um dia o fizera. Lhe fora tão hipócrita que naquela noite mesmo... Eles haviam estado na cama antes dele resolver que estar do lado dos Piratas Vermelhos não lhe traria mais nenhuma vantagem. As próprias roupas ainda estavam meio bagunçadas quando saiu do quarto em meio à agitação.

A dor do tiro de novo. O sorriso triunfante dele em ir embora com aquela corja maldita de monstros. Monstros como ele.

A morte de AkaRed se resumia em sua mente como algo que ocorrera segundos depois. Seus olhos só se abriram com a manhã raiando verdadeiramente e o Sol batendo em seu rosto, esquentando-o, fazendo suas lágrimas brilharem dourado.

Mirabile se afastou. Cresceu. Estava rodeada por pessoas que realmente gostavam dela agora. Que acreditavam nela. Gente que talvez desse a vida por ela. Mas a pior confirmação que a líder rubra dos Gokaigers tinha nesse momento, era que o tempo não apagou ou destruiu o que ela sentia por Basco. Porém, destruir é parte da vida de uma pirata e ela faria isso, nem que tivesse que arrancar esse sentimento com as próprias mãos.