- Ah, eu não credito. – a gartota, agora com seus 20 anos, levantava-se do chão com grama verde. Olhou em volta, e quase sentiu como se voltasse ao lar. Respirou o ar mais puro, e rodou até cair. E repetiu o ato, até que se cansasse.

- Alice? – uma voz sonhadora e distante perguntou, como se já soubesse a resposta. Alice levantou o rosto num gesto rápido e passou a fitar o rosto da figura à sua frente. O rosto pálido revelava certa surpresa, e felicidade. Como sempre, tinha uma expressão sonhadora, e um tanto excêntrica demais. Mas lhe agradava. Gostava daquele jeito de ser.

- Chapeleiro. – disse, e se levantou. Bateu na saia do vestido para a terra úmida sair – É bom ver você. Como estão os outros?

- Alice? – a expressão sonhadora e alegre foi de repente trocada por uma expressão de puro horror.

- Chapeleiro? Sou eu, Alice. – olhou à sua volta – O que está havendo?

- Alice! – a figura vestida com trapos coloridos saiu correndo, Alice disparou atrás dele – Alice está de volta! É Alice!

Ele caiu e Alice abaixou para olhar seu rosto.

- Chapeleiro, o que há? O que está havendo, conte-me!

- Você, Alice. Você cresceu. – ele piscou os olhos com pesar – Não é a mesma Alice. Você mudou. Posso perceber que não acredita. Você duvida. Você é a Alice errada.

- Não sou!

- Prove.

- Não me julgue. Prove você, que diz saber mais que eu, que sou a Alice errada. Sou assim, sou Alice. Sou a mesma Alice que aqui esteve 13 anos atrás. A mesma Alice. Estou aqui. Acredite.

- Não é mais a Alice teimosa.

- Cresci.

- Esse é o problema.

- Não quer dizer que crescer seja ruim, Chapeleiro. Tenho que lidar com os problemas, melhorar as situações, me aperfeiçoar. Crescer não é de todo o ruim.

- Mas se você melhora os defeitos não é mais a Alice certa. É a Alice errada.

- Claro que sou a Alice certa, Chapeleiro. Mesmo que eu tenha melhorado, a Alice sempre estará aqui. – fez uma gesto com os braços que representava todo o País das Maravilhas; pegou a mão do Chapeleiro – E aqui. – encostou a mão em seu peito, onde ele pudesse sentir o coração batendo.

- Continuo achando que é a Alice errada.

- Se sou a Alice errada, como posso fazer isso?

Alice começou a dançar o passo maluco, mexendo seus braços, pernas e articulações. Seu movimentos pareciam fluir no ar encantado.

- Você ainda lembra?

- Eu nunca esqueci, Chapeleiro. Sou a Alice certa.

O Chapeleiro pareceu pensar.

- Você é a Alice certa.

- É claro que sou.

O silencio se fez novamente.

- Por que voltei para cá? Quero dizer, é claro que gostaria de voltar, mas está tudo tão... – fez-se silêncio novamente – Silencioso. Parece que a magia acabou.

- Alice, a magia nunca acaba. As pessoas do seu mundo param de acreditar, mas a magia nunca vai acabar. É eterna.

- Mas isso não responde à minha pergunta.

- Mas é claro que responde.

- Não.

- Sim.

- Explique.

- Apenas não deixe a magia acabar para você, Alice. – ele sorriu com excentricidade e mistério, mas sonhador e feliz.

Alice sentiu a fumaça tomar conta de seus tornozelos e ir subindo. Estava sendo tomada pelo seu mundo, e voltando aos poucos.

- Chapeleiro, uma última pergunta. – a fumaça subia muito lentamente, então ela ainda tinha seu tempo - O que é a magia?

- A magia, Alice, é um lugar para onde a sua mente escapa quando tem vontade. Você está no comando de lá, e tudo depende de você. Não existe tempo, apenas o eterno. Cada um tem a sua magia, mas a magia é comum para todos. Apenas as pessoas não à percebem. Nunca, Alice, deixe a magia morrer dentro de você. Sem ela, não há nada.

Alice assentiu, sentindo a fumaça subir para seus ombros.

- Chapeleiro!

- Sim?

- Qual é a semelhança entre um corvo e uma escrivaninha?

- Imagine, Alice. Não subestime a magia. – sorriu daquela forma única mais uma única vez, e então, Alice havia voltado.