CAPÍTULO 1

{Novo Alvorecer}

Dias passam com lentidão quando tudo o que você ama foi afastado de você. Paris, sua casa, sua escola, sua vida e o motivo dela. Ando por entre essas pessoas sem realmente vê-las. É o meu primeiro dia em Hogwarts depois de cinco anos estudando em Beauxbatons. Além de tudo, tenho um ano a mais que meus colegas aqui. Olho em volta procurando um rosto conhecido. Mas não há ninguém. Este não é um lugar pra mim. E talvez não mais haja um lugar pra mim.

Um enorme salão, com velas que pairam no ar sobre minha cabeça. Mesas dividindo as pessoas por tipo, classificando-as. Estranho tudo isso. Sempre aprendi na Minha Escola que as pessoas são iguais. E isso é uma ironia, já que não faço mais parte do meu lugar por não ser igual. Será melhor assim, ser classificada por critérios que eu não posso esconder.

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-Srta. Le Grant, eu sou Alvus Dumbledore, diretor de Hogwrats. –um velho senhor me estendeu a mão. - Seja bem vinda! Madame Máxime lhe fez grandes elogios apesar das circunstancias que lhe obrigaram a deixar sua casa e sua antiga escola.

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Eu estava numa enorme e bonita sala circular, repleta de quadros de antigos diretores da Escola. O homem sentado a minha frente era o maior bruxo da atualidade.

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-Bom, sente-se aqui e coloque este chapéu. –ele me entregou um chapéu esfarrapado, sujo.

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Relutante, coloquei-o na cabeça. Foi com grande susto que eu ouvi o Chapéu falando dentro da minha mente.

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-"Ardilosa, inteligente, meio controvertida, não é mesmo? Sagaz... hmm Muito sagaz e esperta. Sem dúvidas é uma Sonserina..."

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E a ultima palavra foi dita em voz alta. O homem a minha frente sorriu.

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-Vamos conhecer uma pessoa, senhorita Monique Le' Grant.

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Não senti a menor vontade de entender o lugar por onde eu caminhava. Eu apenas sabia que descia escadas e me embrenhava no subsolo de um lugar completamente novo pra mim. Não estava com medo. Na verdade eu me sentia segura.

O Professor Dumbledore bateu numa polida porta de madeira. Ela se abriu devagar e espreitando pela fenda estava um olho negro com uma sobrancelha erguida e parte de um nariz um pouco grande.

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-Sim? –a voz me fez sentir um arrepio estranho que veio da minha nuca e percorreu toda a extensão da minha espinha dorsal, espalhando-se pelos braços e pernas. - Diretor?

-Severo, abra a porta. Esta é a Senhorita Monique Le Gran't. Nova aluna da sua Casa.

-Da minha Casa? –ele perguntou abrindo a porta- Le Gran't?

-Muito prazer, senhor. –eu disse esquadrinhando o rosto másculo e viril a minha frente, emoldurado por aquela cortina de cabelos negros, divididos ao meio.

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O homem era alto, forte, emanava poder e seus gestos eram de quem detinha todo o poder a sua volta. Ele era o poder.

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-Monique Le Gran't. - eu lhe estendi minha mão.

-Eu já ouvi o seu nome, senhorita. –e ele olhou para a minha mão como se sentisse nojo de mim. - Serei o Diretor da sua Casa.

-Sonserina? –perguntei com um leve asco. Se ele ia me tratar mal estivesse preparado para receber a minha TPM. - Certo.

-Qualquer dúvida, me procure.

-Será que eu posso procurar mesmo?-desafiei. Sou impertinente.

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O diretor nos encarou com seus pequenos olhos azuis e sibilou.

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-Severo, essa moça está enfrentando um momento difícil e se você puder deixar de ser assim tão pouco receptivo eu tenho certeza de que ela ficaria grata e lembre-se de que ela é uma aluna exemplar selecionada para a sua Casa.

-O que houve pra que você esteja aqui, Senhorita? Com todo esse sotaque francês, tenho certeza de que você é de Beauxbatons.

-Não precisam fingir que não sabem os motivos da minha expulsão da minha antiga escola, ou de onde venho, ou mesmo o que me fez escolher Hogwarts ao invés de Durmstrang, quando a minha família é decididamente envolvida em Artes das Trevas.

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O Professor Snape titubeou e me encarou com novos olhos.

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-Sua mãe é Vallentina Le'Grant?

-No mínimo. –eu respondi arrumando o casaco de peles no corpo- No entanto eu quero apenas saber quais as minhas aulas de amanhã e informar que já terminei o programa de DCAT e de TCM. Mas preciso de reforço em Poções e Transfiguração. Não tive professores muito bons por lá. –cruzei os braços, inconscientemente ressaltando o meu decote singelo, porém farto de carnes.

-Prepararei seu horário essa noite e amanhã no café eu irei até você lhe passar algumas instruções. Convocarei um Monitor para situá-la nas aulas.

-Melhor assim, professor Snape.

-Mas já devo alertá-la de que sua primeira aula amanhã será aqui, com a turma do Sétimo ano de Poções. Será que consegue chegar até aqui?

-Por certo, meu senhor.

-Bom, eu preciso me retirar. –O Professor Dumbledore disse meio cansado, caminhando até a escadaria que levaria de volta aos Salões.- Severo, por favor, conduza a nossa nova aluna até a Sonserina e seja um bom anfitrião, sim?

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Ele fez um meneio irritado com a cabeça e me indicou uma passagem lateral, deixando sua sala e me seguindo por um corredor frio e escuro.

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-Qual a sua idade, senhorita?

-17 anos, senhor. –respondi prontamente

-No entanto ainda está no Sexto Ano? –ele comentou meio debochado

-Acho que deve ser do conhecimento de todos os professores da Europa que Beauxbatons conclui o seu ensino em Seis e não em Sete Anos como Hogwarts, portanto é de se esperar que eu esteja um pouco mais adiantada do que os seus alunos.

-Lumus. –ordenou ele e apontou a varinha pro papel que o Professor Dumbledore havia lhe entregado.- Mas você tem NOM's fantásticos em todas as matérias, inclusive Poções e Transfiguração.

-Como pode ver nas duas matérias que o senhor ressaltou eu tenho dois Ótimos. Não quero nenhum ótimo na lista de NIEM's.

-Quer que Exceda as Expectativas em todos os parâmetros?

-Exatamente. Quero calar a boca dessas pessoas sem juízo que me julgam por um pequeno deslize. Quero mostrar a elas que eu não sou o que me dizem ser, mostrar que eu tenho caráter e que as atitudes que eu tomo são decisões minhas e não influencias da sordidez a que meus pais escolheram servir.

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O homem calou por um minuto inteiro. Seus olhos negros fixos nos meus, um sorriso zombeteiro brincando em seus lábios. Um sorriso que zombava e logo virou um sorriso que me estimulava a prosseguir.

Mas eu não o fiz.

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-Vamos. –ele tocou minhas costas com a mão aberta e me conduziu por uma passagem lateral. Não pude ver nada, estava muito escuro.- A Senha é Olho de Dragão.

-Olho de Dragão. –repeti assentindo.

-Isso mesmo. Tenha uma boa noite de sono e não se preocupe com o pré julgamento das pessoas. Basta que você se mostre diferente daquilo que elas te acusam de ser. Não busque a aprovação incondicional, Srta. Le Grant. Nem o maior mártir do mundo a deteve.

-Boa noite, senhor. –e entrei no salão comunal da minha nova Casa. Um novo passo que eu não queria ter que dar.

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Mas minha vontade não foi meu maior impulso, e enchendo-me de coragem, eu prossegui, como sempre se deve fazer.