Esta história começa no norte, bem na última dezena de Alturiak. Em meio à selva gelada de Lordwood encontra-se um meio-orc em frente a sua fogueira com suas armas espalhadas em sua volta, seu grande machado a sua frente, suas azagaias ainda presas em suas costas horizontalmente e suas machadinhas, uma de cada lado. Como estava bem no meio do inverno, a floresta comparecia com uma pequena tempestade de neve naquela noite. Não se conseguia visualizar totalmente o brutamonte, mas apenas sentado já era alto em comparação a um anão e seu tronco, um pouco maior. Ele tinha saído de sua tribo há três dias, e nesses dias teve a sorte e um pouco de cuidado para não encontrar com as criaturas da floresta, bem, não essa noite. Ele não tinha percebido que aquele era o território de lobos e isso acarretou em seu encontro, ainda mais com a claridade que emanava de sua fogueira.
Em meio aos seus devaneios, ainda estava alerta.
"Nunca se esqueça de que um dia é o caçador e no outro pode ser a caça."
As palavras de sua falecida mãe humana sempre o lembrava de manter a guarda alta, principalmente na floresta. Sendo assim, por volta de 12 metros a sua frente ele ouviu dois troncos se quebrar, mas não mostrou reação. Supondo que eram lobos, ele sabia que o analisavam, aparentemente, furtivamente, porém esta furtividade de caçador já era rotineira. Um momento depois, os lobos decidiram atacar e correram em sua direção, porém eles que tiveram a surpresa da alta iniciativa do meio-orc que rapidamente se levantou já com seu machado grande em sua mão direita se postando a frente da fogueira. Enquanto seus supostos caçadores seguiam em frente quase no alcance de seu machado ele berrou em fúria berserker.
O primeiro ataque veio da direita, com um lobo a mais pulando para a mordida em seu braço, o bárbaro era gigante, mesmo que eles quisessem não conseguiriam pular 2 metros até o pescoço de sua furiosa vítima. Por ter sido rápido e não dando vantagem de um ataque surpresa, o meio-orc brandiu seu machado com grande maestria decapitando seu atacante. Contudo era apenas uma pequena vitória, ainda tinha duas ameaças. Os lobos restantes atacaram-no indiscriminadamente, o do meio indo de boca na perna direta e o da esquerda seu braço canhoto. O furioso com uma simples manobra recolocou sua perna para trás e com o machado bloqueou o segundo lobo com uma pancada e logo emendou um ataque em direção ao primeiro lobo que não teve uma reação rápida o suficiente para evitar um corte profundo em suas costas, caindo, assim, morto na neve que agora não estava tão branca assim. Em seu estado de fúria e com seu constante derramamento de sangue, o meio-orc deu mais um urro, mas dessa vez foi tão poderoso e assustador que o lobo restante não resistiu à fúria e saiu em retirada, disparando inconscientemente para bem longe, mas, nunca se dá as costas para um bárbaro. Antes mesmo de começar a correr, de raspão, o machado lambeu a pele e pelagem do animal. Em meio a fuga desesperada, a besta branca apenas ouviu um som em linguagem gutural e em seguida sua visão, já não muito boa pela dor latente, se enturva e ele cai inconsciente com a dor de algo afiado e frio penetrando suas costas.
Em silêncio, o brutamonte, que, agora com a claridade melhor distribuída e sua silhueta melhor vista, anda em direção ao animal recém-abatido. Quando chega perto do pobre lobo, ele se abaixa e coloca sua mão por cima de seu corpo para dar apoio a retirada da azagaia que tinha lançado, porém percebe uma fraca pulsação no animal, ele ainda não tinha desistido de viver. Logo, o meio-orc ficou surpreso e não sabia muito bem o que fazer. Talvez seja por desejo de Mielikki, ou pela pequena e breve dor de cabeça que sentiu, ou, até, por mesmo que inconsciente se sentir da mesma forma que aquela criatura, ele, ao retirar a pequena lança teve o cuidado de tampar o ferimento com sua enorme mão evitando uma perda de sangue maior. Ele ainda não entendia direito, mas deixou no chão sua azagaia e levou o animal, que em sua perspectiva era bem pequeno e frágil, para perto do fogo colocando-o cuidadosamente no gelo ao lado da fogueira. O meio-orc deixou o lobo ferido e foi pegar sua lança curta e na volta arrastou os outros dois lobos para perto da fogueira. Em seguida começou a despelar os animais. Em questão de minutos ele despelou o decapitado o suficiente para tampar e estancar o sangramento do lobo ferido, continuando seu trabalho em seguida e mais um tempo após, fez um manto para colocar debaixo do animal. Focando sua atenção no outro lobo morto, ele percebeu que seria mais do que complicado fazer um manto para ele próprio, pois querendo ou não, ele estava praticamente nu.
Seu corpo totalmente musculoso cor de mogno estava apenas com uma vestimenta feita de couro de animal na cintura presa a um sinto de couro com um esqueleto de algum animal que não se lembra do nome e uma bota também de couro animal, mas que eram presas com uma tira de couro e uma pata com garras de um animal grande, possivelmente do mesmo animal que ele ostentava o crânio em seu cinto. Fora os protetores de pulso que também serviam de aquecedores, tinha uma tira de couro em diagonal que envolvia seu tronco, feito para colocar seu machado em suas costas.
Com sua machadinha ele fez o que pôde para fazer o melhor manto de lobo que podia. No final, ele colocou o manto sob sua cabeleira negra, que caia trançada sob seu peitoral, cabendo certo em sua cabeça. Por sorte, ele tinha um prendedor para o manto. Mesmo aguentando três lobos de uma só vez, sabia que era questão de tempo até o resto da matilha detectar sua presença e torcia para o nascer do sol. Ele não estava a mais de um dia de distância da trilha mais perto mesmo sabendo que teria que entrar em outra floresta para alcançar seu destino, sabia que sair daquela floresta era o primeiro passo para uma viajem mais rápida e de certo modo mais segura. Como estava sozinho, continuou seu regime de descanso, cochilando por volta de 2 horas e ficando acordado uma.
Com o tempo, a pequena tempestade foi passando e o meio-orc, que estava sentado com os braços cruzados e com as costas apoiada na árvore a frente da fogueira, foi-se descansando e não tardou muito para os raios solares incomodarem seus olhos ainda fechados. O bárbaro logo reparou em duas coisas quando acordou, a primeira, sua fogueira esta extinguida e a segunda, do lobo que ao seu lado descansava só ficou o precário manto que se camuflava com a neve. Ele realmente não se importou, mas tinha a sensação que verdadeiramente fora Mielikki, a deusa para quem sua mãe sempre rezava que o testara. Pelo sim ou pelo não, ele deu um meio sorriso de escárnio ao pensar na possibilidade de o animal ferido o ter retribuído com o afastamento da matilha que ele esperava enfrentar, mas mesmo não sendo o seu tipo de deusa, soltou um "Obrigado" bem baixinho na língua Comum.
Enquanto isso, no dia anterior, no meio da tarde...
