LEGENDA:

Itálico - pensamentos

Negrito - sonhos/lembranças


Subi as escadas que davam para o terraço. O vento estava agradável o bastante para desarrumar o meu cabelo, mas ao mesmo tempo me deixava confusa, como se ele quisesse falar comigo.

- Kagome. – gelei. Usei minha visão periférica, mas não consegui identificar a direção de onde a voz vinha. Senti uma presença próxima ao lado direito e o vi. Automaticamente me afastei.

- Kagome. – ele me chamou novamente enquanto se aproximava de mim. Seus olhos transmitiam paz, mas eu não me sentia segura. Na verdade, a sensação que eu tinha era que deveria sair correndo, e foi o que fiz.

Meus sentidos se confundiram por segundos e eu não mais ouvia com clareza. Era apenas minha respiração acelerada, meu coração disparado e meu corpo se esforçando para aguentar o esforço incomum.

- KAGOME! – finalmente o ouvi. Corri mais ainda e a única coisa que pensava era Eu não o conheço! Como ele sabe meu nome? Cheguei a uma bifurcação da escada e não me lembrava por qual lado havia subido. Merda! Escutei novamente seus passos atrás de mim.

- EU NÃO SEI QUEM VOCÊ É, MAS FIQUE LONGE DE MIM! – gritei sentindo minha garganta fechar, num prenuncio de que iria chorar. Me recusei. Aposto que nos filmes de terror as mocinhas fazem isso, e eu me senti uma idiota por fazê-lo, mas ele parecia querer que eu o reconhecesse.

Consegui chegar ao térreo e continuei forçando minhas pernas a correr.

...

Senti meu corpo ser balançado. Lembrava que estava deitada no sofá da sala de casa, contudo não me lembrava de como acabei dormindo ali. Minha mente, antes sonolenta, foi clareando aos poucos e eu o vi novamente.

Percebi a televisão ligada em algum programa relativamente barulhento para o silêncio que o local se encontrava. Não sei explicar o porquê, mas não senti a mesma onda de pânico como na última vez.

- Kagome. – ele me chamou mais uma vez – Precisamos sair daqui! – sua voz continha urgência, mas meu corpo não correspondia a tal. Voltei a fechar meus olhos, vencida pelo cansaço e sua voz se distanciava a medida que minha mente se entorpecia de sono.

...

Era estranho o fato de eu não lembrar como havia chegado ali. Minha mente e meu corpo pareciam não mais trabalhar em conjunto. Aquela se desprendia, me deixando aérea e confusa. Este funcionava no automático, fazendo com que me surpreendesse cada vez que me encontrava em um lugar diferente do anterior.

Agora estava sentada junto à mesa na cozinha. Tudo estava em seu devido lugar, porém tudo era estranho. Não ouvia meu avô varrendo o pátio ou mamãe mandando Souta sair de qualquer jogo que ele estivesse jogando.

Olhei em volta e me senti deslocada, sozinha.

Fui até a sala, confirmando minha intuição, a casa estava vazia. Olhei cada foto nas molduras e porta retratos, recordando cada momento que foi eternizado ali e sentindo-me uma idiota por estar chorando por recordações tão felizes. Estranho eles não estarem aqui, pensei.

Passeei por cada canto da pequena casa e um buraco cada vez maior se abria em meu peito. Nada estava errado. Os locais onde cada objeto estava indicava que a casa ainda estava em uso, que minha família ainda estava ali. Não aquela coisa de casa inabitada.

Saí para o pátio e olhei para a mata envolta da casa. Meus passos me levaram até a árvore sagrada, ela ainda me fascinava mesmo estando lá séculos antes de eu sequer ter antepassados. Exagerada! Me sentei entre suas raízes e esperei.

Esperei alguém da minha família aparecer ou algum visitante do templo. Até mesmo meus amigos... Mas nada aconteceu.

...

Minha cabeça doía, muito. E cada vez que eu me aproximava da lucidez, ela doía mais. Levantei ambas as mãos com o intuito de segurar meu crânio, mas uma fisgada impediu que minha mão direita chegasse ao destino final. Abri os olhos, tentando acostumar com a claridade. Muita coisa pra lidar ao mesmo tempo. Dor em um local apenas já é o suficiente, agora descobrir, a cada momento, que várias outras partes do corpo doem é péssimo. Percebi que a dor na minha mão vinha por causa de uma agulha presa nela.

Olhei ao redor. Havia algumas pessoas por perto, todas de branco ou variações de cores claras, usando máscaras. Algumas me observavam, outras escreviam em pranchetas e poucas estavam ocupadas demais para perceber que eu estava consciente.

- Dor. – consegui sussurrar para a pessoa mais próxima a mim.

- Aonde querida? – uma voz feminina e reconfortante soou.

- Tudo. – não conseguia medir aonde a dor terminava ou começava, muito menos os locais exatos.

Acho que ela acreditou em mim, pois foi até o restante da equipe e todos passaram a mexer em máquinas ou equipamentos. Até que uma enfermeira injetou um líquido amarelado no tubo do soro. Senti queimação e náusea.

Cada célula minha ardia. Não consegui segurar por muito tempo e logo gritava de dor. Minha noção de tempo e espaço desapareceu, parecendo que havia gritado por horas devido à queimação na garganta.

Meus sentidos foram se distanciando de mim e eu entrei em um estado de torpor.

...

- Hãm?! – olhei ao redor e estava na sala de estar dos Taisho – Como raios eu vim parar aqui?

A sensação que eu tinha era a mesma de quando estava em casa, vazio. Não havia sinal do tio Ryo, da tia Izayoi, muito menos de Sesshoumaru ou InuYasha.

Me levantei, percorrendo a conhecida sala. Ri das recordações que tive ali e meu coração mesclava entre alegria, nostalgia e saudades. Estava sozinha mais uma vez, mas queria que qualquer pessoa estivesse ali.

- Kagome? - mesmo reconhecendo aquela voz, tive a esperança de ser alguém daquela família. Mas era ele. Parado no topo da escada, esperando que eu fosse ao seu encontro - Até quando você vai fugir de mim? - ele parecia magoado. Meu peito se comprimiu e uma fração de mim desejou saber quem ele era para poder entender o que ele queria.

- Até o momento que eu não me lembrar de você. - sussurrei. Ele abaixou os olhos e desapareceu da mesma forma que surgiu.

Respirei fundo e tentei manter a calma. Aquilo estava me enlouquecendo! Parecia estar presa em algum universo paralelo ou coisa parecida, pois não havia como aquilo estar realmente acontecendo.


Nota: Olá pessoas! ;) Primeira fic, então sejam bonzinhos, por favor... Sim, esse primeiro capítulo parece meio confuso, mas essa é a intenção... Quer dizer, isso é o que se passa na cabeça da Kagome :D

Depois volto com mais alguns! #Beijos