- Katekyo Hitman Reborn® e seus personagens pertencem à Amano Akira;
- Essa é uma fanfic yaoi-lemon, ou seja, contém relacionamento homossexual entre os personagens. Se você não gosta ou sente-se ofendido com esse tipo de conteúdo sugiro que vá ser feliz lendo shoujo;
- Essa fanfic é um presente de aniversário para a Eri-chan xD. Não esqueci seu aniversário, mas queria dar a fanfic como presente. Ela ficou grande demais, então tenha paciência xD de qualquer forma felicidades e muitas coisas boas para você S2
- Oneshot dividido em duas partes;
- A história se passa dez anos no futuro.
Fortissimo parte I
Fortissimo: Indica um trecho que deve ser executado com mais intensidade sonora. Mais alto do que "Forte", porém, mais suave que "Fortississimo".
Tudo começou com um simples telefonema.
Um gesto incrivelmente banal, irrelevante e cotidiano.
Nada parecia fora do comum naquele começo de setembro. O verão começava a se despedir, então apesar do dia permanecer extremamente quente, as noites esfriavam. Obviamente não o suficiente para retirar os cobertores dos armários, mas a brisa noturna levava um arrepio até a nuca, fazendo com que seu corpo tremesse.
Naquela noite de seis de setembro, não foi a brisa noturna que fez Gokudera Hayato se arrepiar.
Uma voz, poucas frases... o inicio de uma série de acontecimentos.
O Guardião da Tempestade estava sentado no largo e confortável sofá de sua sala de estar. O novo apartamento normalmente não dava a impressão de ser tão grande, pelo menos não quando ele estava acompanhado. Um largo dormitório suíte, cozinha, sacada, uma larga sala de estar/jantar. Geralmente ele não permanecia sozinho, mas naquela noite o homem de cabelos prateados retirou-se mais cedo do escritório do Décimo Vongola e seguiu diretamente para casa. Seu corpo estava levemente dolorido e sua cabeça latejava. Era sinal de que uma gripe estava a caminho.
O outro morador do apartamento estava ocupado em uma missão, deixando Gokudera em frente à tv, apenas olhando as imagens sem prestar muita atenção no que realmente acontecia no programa.
O telefone tocou. O barulho ecoou pela sala. Com exceção do jogo de sofás e a tv, a sala de estar de Gokudera tinha espaço de sobra. Ele e Yamamoto planejaram várias coisas para o local, mas desde que se mudaram - seis meses atrás - todas as idéias estavam apenas no papel.
Sem muita motivação, o Guardião da Tempestade inclinou o corpo para o lado, retirando o aparelho da mesinha. Sua voz soou sonolenta e um pouco mal-humorada.
Era mais de dez da noite e Yamamoto ainda não tinha retornado ou avisado que chegaria tarde.
- Alô - Gokudera preparou-se para ralhar com o moreno.
- Alou?
A voz do outro lado fez o homem juntar as sobrancelhas prateadas. Não era o Guardião da Chuva, mas sim uma mulher.
- Boa Noite, eu poderia falar com o Takeshi?
Os olhos verdes de Gokudera se arregalaram automaticamente.
A voz da mulher era diferente. O japonês carregava um forte sotaque, o que demonstrava que ela não era japonesa. Esse detalhe chamou a atenção do Guardião da Tempestade, mas seu ouvido ainda não conseguia esquecer o nome que ela dissera. Takeshi. O que era aquilo? Ele pronunciava aquele nome, ninguém mais.
- Yamamoto não está. - A resposta veio seca e dura.
- Ooh, eu entendo. Vou tentar o celular, muito obrigada e boa noite.
Gokudera sentiu o frio na nuca e encarou o telefone desligado com uma expressão atônica. Aquilo era muito estranho.
Desde quando Yamamoto conhecia uma estrangeira, que ainda por cima o chamava pelo primeiro nome? Era compreensível a parte do nome. Ele sabia que no Ocidente as pessoas se comunicavam através do primeiro nome, mas isso significaria que o Guardião da Chuva permitiu ser tratado dessa forma.
O humor do homem de cabelos prateados que já não estava dos melhores pareceu descer mais alguns níveis. A televisão foi desligada com certa fúria, e Gokudera caminhou em direção ao quarto, coçando a cabeça e sentindo uma vontade enorme de explodir alguma coisa, ou alguém.
Naquela noite, Yamamoto chegou depois da uma da manhã, permanecendo algum tempo na sala. Os olhos castanhos do moreno correram por todo o espaço, e o Guardião da Chuva só foi para a cama depois de muito pensar. Ele não era o único que parecia pensativo. Gokudera não soube dizer a que horas sua mente desistiu de fazer perguntas, e o cansaço o fez dormir. Sua cabeça doía incrivelmente, mas a dor não era nada comparada à desconfiança que foi plantada em seu coração.
Na manhã seguinte, os dois Guardiões deixaram o apartamento em horários diferentes. Embora tivesse dormido pouco, Gokudera foi o primeiro a levantar, negligenciando o café da manhã e saindo enquanto Yamamoto ainda dormia.
Seu desjejum foi feito em uma loja de conveniência no caminho em direção ao escritório do Jyuudaime. Não havia muito trabalho, então tudo o que o braço direito dos Vongola teria de fazer era organizar a reunião de Tsuna, e evitar encontrar o Guardião da Chuva a todo custo.
A primeira parte de seu plano funcionou muito bem. Como sempre o Décimo chegou atrasado, mas encontrou todos os preparativos prontos, precisando apenas rever o que diria. A segunda parte do plano falhou no instante em que Yamamoto adentrou a cozinha do escritório, assustando o homem de cabelos prateados que bebia seu café. Os olhos verdes de Gokudera se arregalaram, e por muito pouco ele não derrubou a xícara que segurava.
- Hahaha boa tarde, Gokudera.
As palavras ficaram presas nos lábios rosados do Guardião da Tempestade. A voz da mulher da noite anterior voltou aos seus ouvidos, e era incrível a maneira como ele ainda podia ouvir claramente o nome de Yamamoto dito com sotaque. Se um simples cumprimento de boa tarde soava impossível de ser dito, Gokudera imaginou o que mais mudaria a partir daquele dia.
- Você saiu cedo essa manhã, eu nem te desejei um bom dia - O moreno aproximou-se, esticando a mão para tocar a cintura do homem de cabelos prateados. Porém, assim que seus dedos quase tocaram o terno escuro, o corpo do Guardião da Tempestade projetou-se para o lado, evitando o contato - Você está bem, Hayato? - O sorriso desapareceu lentamente dos lábios de Yamamoto.
- Estou ótimo - O Guardião da Tempestade começou a lavar a xícara. O trabalho terminara, mas ele permaneceu no escritório porque não queria correr o risco de encontrar com o moreno em casa. Mas se Yamamoto já estava ali, então ele não teria mais motivos para permanecer.
- Hm... - Os olhos castanhos do Guardião da Chuva pareceram curiosos - Eu só vim avisar que talvez eu me atrase para o jantar, então se você quiser pode comer primeiro.
O barulho da água caindo pela torneira foi tudo que Yamamoto ouviu como resposta. Gokudera lavou a xícara, enxaguou e a secou sem dizer uma única palavra. Ao virar-se de frente para o moreno, seu rosto estava inexpressivo. As sobrancelhas prateadas não estavam juntas e seus olhos verdes encararam Yamamoto sem nenhum sinal de mudança.
- Entendido.
A resposta do Guardião da Tempestade saiu mecânica.
Sem nenhum questionamento ou outra palavra, Gokudera deixou a cozinha e seguiu até sua sala, entrando e trancando-se por dentro. Suas pernas tremiam, assim como suas mãos.
Ao sentar-se em sua cadeira, o homem de cabelos prateados afrouxou a gravata escura e recostou-se melhor, deixando que sua nuca ficasse apoiada no encosto da cadeira. Seus olhos estavam fechados, sua respiração rápida e a incrível vontade de explodir alguma coisa haviam retornado.
Primeiro o telefonema e agora Yamamoto não tinha hora para chegar em casa. A sensação que Gokudera tinha era indescritível. Ele estava irritado, realmente irritado. Mas a irritação não era nada comparada ao seu desapontamento. A razão pela qual sua personalidade não falou mais alto segundos atrás na cozinha foi porque acima de sua raiva estava a decepção.
O pensamento que não saiu de sua cabeça na noite passada havia voltado, e ao abrir os olhos e encarar o teto de seu escritório, o braço direito dos Vongola se viu repetindo-o em voz alta, como se isso pudesse trazer uma resposta fácil, indolor e rápida.
O que eu vou fazer se ele estiver me traindo?
Gokudera permaneceu no escritório até pouco antes da hora do jantar.
Para a surpresa do Guardião da Tempestade, Yamamoto estava em casa quando ele chegou. O moreno virou a cabeça ao vê-lo chegar, sorrindo feliz na direção de Gokudera. O homem de cabelos prateados apenas meneou a cabeça, entrando no apartamento e indo direto em direção ao quarto. Um banho, jantar e depois cama.
- Hayato, eu estava esperando você chegar. Vou comprar o jantar, o que quer? - O Guardião da Chuva apareceu na porta do quarto, visivelmente animado. - Não sinto vontade de cozinhar hoje, mas o jantar é por minha conta.
- Qualquer coisa, não estou com muita fome - Mentira. Gokudera só havia bebido aquela xícara de café durante a tarde inteira. Seu estomago logo daria sinal de vida.
- Vou comprar algo rápido então - Yamamoto sorriu, mas permaneceu no quarto. Seus olhos castanhos estavam fixos nas costas do Guardião da Tempestade, vendo-o procurar algo na gaveta. Seus pés ameaçaram dar um passo a frente, mas seu corpo recuou. O sorriso voltou aos seus lábios, porém, dessa vez não era natural - Eu estou indo, Hayato~
O moreno deixou o quarto, afundando o rosto na jaqueta que usava, escondendo a expressão séria.
Gokudera vasculhou suas gavetas, mas não encontrou a peça de roupa que procurava: uma larga, antiga e extremamente confortável calça de moletom que ele tinha desde sempre. A temperatura ainda estava quente, mas as noites tornaram-se frescas, então nada melhor que dormir com sua calça favorita.
Mais uma rápida procurada em outras gavetas e nada da peça de roupa. Os olhos verdes se estreitaram conforme ele analisava o quarto, tentando fazer sua mente pensar na última vez que vira a calça. Como nenhum local pareceu lembrá-lo, o Guardião da Tempestade deixou o quarto e caminhou em direção a pequena área de serviços. Na realidade, o braço direito dos Vongola não fazia tanta questão de vestir aquela calça naquela noite. A busca servia apenas como desculpa para que sua atenção fosse focada em alguma outra coisa que sua desconfiança em relação a Yamamoto.
Ao chegar à área de serviços e não encontrar sua calça pendurada, nem vestígios de que ela tivesse passado por ali nos últimos dias, Gokudera suspirou e fez menção de refazer o caminho, pensando em dar mais uma olhada pelas gavetas. Sua atenção se fixou em um ponto, mais especificamente o cesto de roupa suja que estava em cima da máquina de lavar, literalmente na sua frente.
Normalmente o Guardião da Tempestade não era adepto de vasculhar a roupa suja de ninguém, mas foi difícil parar a própria mão quando a mesma segurou a última camisa branca que Yamamoto usou naquele dia. Não foi preciso levar a peça para perto de seu rosto para sentir que havia algo diferente, um cheiro diferente. O Guardião da Chuva não era vaidoso, mas usava a mesma colônia há anos, inicialmente presente do próprio Gokudera. O cheiro que estava ali não era somente amadeirado, o cheiro que ele conhecia. Havia algo doce, suave, feminino.
As mãos do homem de cabelos prateados depositaram a camisa de volta, e ele deixou a área de serviços com passos largos. As luzes do quarto e da sala estavam acessas, mas Gokudera não se importou. Ainda vestido de terno e gravata, o Guardião da Tempestade calçou os sapatos que estavam na entrada, deixando o apartamento às pressas. Sem avisos, bilhetes ou nenhuma mensagem. Não havia tempo.
Somente ao ganhar a rua e constatar que estava longe de seu apartamento foi que o braço direito dos Vongola pôde realmente respirar. Suas mãos tremiam enquanto acediam ao cigarro, que foi tragado com fúria. O segundo cigarro. O terceiro cigarro. O quarto cigarro ainda não parecia suficiente para emplacar o que ele sentia. Não havia palavras ou expressão que pudesse descrever o que Gokudera sentiu durante as duas horas que passou sentado em um banco aleatório de praça. Os olhos baixos encaravam seus sapatos, mas sua atenção estava longe dali.
Ao ficar de pé e apagar o último cigarro, o Guardião da Tempestade respirou fundo e passou os dedos pelos finos cabelos prateados. Seu rosto não estava mais vermelho, suas mãos não tremiam, e mesmo seu coração batendo assustadoramente rápido, ele não poderia passar o restante da noite naquele lugar.
O caminho de volta foi feito devagar, sem pressa, sem nenhuma aparente preocupação. Da entrada do edifício era possível ver que a luz de seu apartamento estava acessa. O par de tênis de Yamamoto estava na entrada, e o dono dos sapatos surgiu assim que Gokudera girou a chave na porta. A expressão no rosto do Guardião da Chuva era somente preocupação. Os olhos castanhos de Yamamoto estavam brilhantes, e ele nada disse ao ver o homem de cabelos prateados adentrando ao apartamento com a mesma roupa com que havia chegado horas antes. Não porque as palavras lhe faltavam, mas porque era visível a forma como o moreno se enrolava ao escolher o que era relevante perguntar primeiro.
Por um momento Gokudera sentiu compaixão. Porém, logo seus olhos tornaram-se opacos novamente e ele passou por Yamamoto sem uma palavra.
- Gokudera?
A mão do Guardião da Chuva segurou o braço do homem de cabelos prateados assim que ele passou. A voz do moreno estava séria, e a força que colocava no gesto demonstrava que ele não estava brincando.
Gokudera virou-se lentamente. A mão que segurava seu braço foi perdendo a força, e a expressão no rosto de Yamamoto foi tornando-se suave aos poucos, até retornar ao olhar preocupado. Ambos permaneceram em silêncio, até um deles decidir que era hora de quebrar o silêncio. Para a surpresa do Guardião da Tempestade, a iniciativa partiu dele mesmo.
- Eu estava resolvendo algumas coisas. Esqueci de deixar um aviso.
- Onde você estava, Hayato? - A voz de Yamamoto não soou brava ou irritada. Era o mesmo tom preocupado que Gokudera conhecia bem. Aqueles olhos, aquela voz... não era justo.
- Eu já disse. Eu estava resolvendo algumas coisas - O homem de cabelos prateados desviou os olhos. Ele estava cansado, realmente cansado.
- Algo que eu possa ajudar?
A pergunta quase colocou um sorriso sarcástico nos lábios de Gokudera. O olhar de desprezo na direção de Yamamoto foi automático, mas fez o braço direito dos Vongola se arrepender. O moreno arregalou os olhos, e por um momento pareceu não entender o motivo de toda aquela punição.
Gokudera balançou a cabeça e seguiu em direção ao banheiro, trancando a porta e retirando suas roupas rapidamente, entrando debaixo do chuveiro. A água batia em seu rosto com violência, descendo por seus cabelos prateados, fazendo-o relaxar aos poucos. A dor de cabeça retornara, e dessa vez pior do que a do dia anterior. Aliás, tudo estava pior do que "ontem" para Gokudera.
Suas mãos apoiadas no azulejo gelado do box tremiam. Seu coração batia desesperado pelo desentendimento na entrada do apartamento. O Guardião da Tempestade estava com medo. Ele passou duas horas sentado naquela praça esperando que alguma idéia ou solução surgisse, mas nada concreto passou por sua mente além de suposições. Era difícil acreditar que após quase dez anos, Yamamoto decidisse ter um caso e ainda por cima com uma mulher. Não foi o moreno quem confessou naquele terraço quando ambos eram somente dois garotos? Não foi Yamamoto quem prometeu que o amaria e ficaria ao lado de Gokudera até o fim dos dias? Não foi o Guardião da Chuva que teve a idéia de comprarem um apartamento juntos, assim poderiam ter finalmente uma vida a dois? Na cabeça do homem de cabelos prateados era difícil aceitar que todos aqueles anos não passavam de uma bela mentira. Que no final, nem Yamamoto ficaria ao seu lado e seu maior medo se tornaria realidade. Ele temia. Ele sempre temeu que o moreno um dia quisesse ter uma vida normal, com uma mulher normal, filhos normais. Gokudera não lhe daria filhos. Gokudera não poderia se casar com ele. Gokudera não o esperaria todos os dias com o jantar pronto e um sorriso nos lábios. Se o Guardião da Chuva desejava o normal, o braço direito dos Vongola jamais seria capaz de lhe proporcionar.
Sentindo que sua cabeça começava a doer ainda mais, o homem de cabelos prateados apoiou a testa no azulejo, fechando os olhos, apenas sentindo a água do chuveiro cair sobre seu corpo. Não havia lágrimas, Gokudera até estranhou que não sentisse vontade de chorar para desabafar. Isso talvez o fizesse sentir melhor, mas elas simplesmente não caiam. Sua tristeza parecia estar além de meras lágrimas.
O Guardião da Tempestade permaneceu longos minutos no banho.
Ao sair, Yamamoto estava sentado em frente ao banheiro, encostado no outro lado corredor. Os dois homens se olharam. O moreno ficou de pé, aproximando-se até que estivessem um de frente para o outro. Uma de suas mãos tocou o rosto pálido de Gokudera. A pele estava úmida, já que o braço direito dos Vongola tinha o costume de não secar os cabelos. Retirando a toalha de suas mãos, Yamamoto começou a secar a cabeça prateada de Gokudera, sem que o outro dissesse nada. Ao término, o Guardião da Tempestade estava meio descabelado, mas sua expressão continuava a mesma.
- Eu não sei o que está acontecendo, mas eu vou esperar até que você me diga - Yamamoto segurava o rosto de Gokudera entre suas mãos - Mas eu sei que alguma coisa está acontecendo. Então, por favor, Hayato, confie em mim e me diga se eu posso ser de alguma ajuda.
Os olhos verdes do Guardião da Tempestade piscaram. Seu coração batia mais rápido e seus lábios se entreabriram, mesmo as palavras não saindo. Uma pergunta. Uma simples pergunta faria com que toda aquela angustia fosse embora. Mas ele tinha medo. Medo de descobrir a verdade e de repente perder o sólido chão que achou ter construído nos últimos dez anos.
Se Yamamoto o deixasse o que restaria? Gokudera conseguiria viver novamente sozinho? Ele não era mais um garoto de quinze anos vindo da Itália, que não confiava em ninguém além de si mesmo. Ele sabia que tinha o Jyuudaime, a Família, a Máfia, mas nenhum deles conseguiria preencher o espaço que era de Yamamoto por direito.
- Eu estou apenas... pensando em algumas coisas - A voz do Guardião da Tempestade saiu estranhamente sincera. Ele não estava mentindo. Tudo o que sentia era pura especulação.
- Não quero que você fique com pensamentos desnecessários em mente, Hayato - Yamamoto deu mais um passo a frente, tornando inexistente a distância entre eles - Você me assustou hoje. O jeito como agiu no escritório, e quando cheguei e não te encontrei... então o que quer que esteja te preocupando, se eu puder ajudar a tirar esse peso das suas costas, por favor, avise-me.
As mãos que seguravam o rosto de Gokudera desceram por seus ombros, envolvendo-o em um apertado abraço. Aquele familiar calor, misturado com o cheiro do moreno fizeram o Guardião da Tempestade fechar os olhos. Não havia uma terceira pessoa ali entre eles. Não havia outra voz que não fosse à deles, assim como não havia outro cheiro além daquele que ele já conhecia. Seus braços moveram-se devagar, passando pelo pescoço de Yamamoto e retribuindo o abraço.
Gokudera sabia que estava sendo covarde. Um abraço não seria capaz de apagar suas desconfianças, muito menos o medo de ouvir a verdade. Entretanto, era tudo o que ele precisava naquele momento, nem que fosse uma falsa certeza de que nada mudou, de que o coração do moreno ainda lhe pertencia.
O Guardião da Chuva afastou o rosto, tocando os lábios de Gokudera com a ponta de seus dedos antes de tocá-los com seus lábios. O beijo foi delicado, mas necessitado. A forma como a língua de Yamamoto vasculhava a boca do homem de cabelos prateados, como se as respostas estivessem ali, e que pudessem ser traduzidas através do suspiro que Gokudera soltou após alguns minutos, implorando ar.
Os dois se entreolharam e o Guardião da Chuva sorriu, dessa vez sincero. Seus olhos não pareciam tão preocupados, e era visível a forma como ele parecia mais relaxado e aliviado. Gokudera sentiu quando suas mãos foram seguradas e puxadas na direção do quarto.
- Vamos colocar algumas roupas em você e depois jantamos - As mãos do moreno eram quentes, e abaixar os olhos para enxergá-las fez o homem de cabelos prateados corar. Ele estava completamente nu. A cena no corredor, o beijo... tudo acontecera sem que ele estivesse vestindo uma única peça de roupa. As bochechas de Gokudera tornaram-se vermelhas e ele puxou a mão com força, fazendo Yamamoto se virar. O moreno o olhou confuso, mas depois riu ao entender o que o Guardião da Tempestade tentava esconder - Por isso eu disse que você tinha de colocar algumas roupas antes de comermos. Eu ainda não jantei, fiquei te esperando... - O moreno coçou a cabeça, sem graça - Mas se você for assim pra sala eu vou ter de deixar o jantar para depois, se é que você me entende...
Os olhos verdes de Gokudera se arregalaram, e o braço direito dos Vongola passou por Yamamoto às pressas, abrindo a primeira gaveta que encontrou.
Apenas quando estava finalmente vestido foi que o Guardião da Tempestade percebeu que estava usando sua calça favorita. Ela estava em outra gaveta, no lugar que ele havia deixado da última vez que lavou roupa. Sua mente estava tão abarrotada de pensamentos que foi impossível pensar com clareza.
Ao erguer os olhos e ver Yamamoto na entrada do quarto o esperando para irem juntos a sala de jantar, Gokudera percebeu que de nada adiantaria se isolar em bancos de praças por causa do assunto. Ele não estava preparado para encarar diretamente o problema, mas isso não significava que ele precisaria agir como um adolescente.
A parte de seu coração que não acreditava que aquilo poderia ser verdade ganhou mais espaço naquela noite. O moreno não mentiu quando disse que havia esperado Gokudera. As duas caixas de pizza estavam intactas, e os dois sentaram-se no sofá e as devoraram enquanto assistiam um filme ruim na tv.
Já era bem tarde quando o Guardião da Chuva ajudou Gokudera a chegar ao quarto, completamente consumido pelo sono. O braço direito dos Vongola sentia-se extremamente cansado mentalmente e fisicamente. A noite passada fora mal dormida, então não foi de se estranhar que seu corpo não conseguisse se manter em pé.
A última coisa que o Guardião da Tempestade lembrava era de ser colocado na cama, e sentir os lábios de Yamamoto em sua testa, desejando um carinhoso boa noite. Aquele gesto o fez cair em um profundo sono, não percebendo que após o beijo, o moreno sentou-se na beirada da cama, colocando a cabeça entre as mãos e suspirando, enquanto encarava o chão sério.
x
O dia nove de setembro amanheceu extremamente quente.
A meteorologia avisou que as pessoas deveriam usar roupas leves, e beber bastante líquidos naquele que seria o dia mais quente do ano.
Gokudera mal suportava o terno que usava, mesmo com o ar condicionado ligado. O relatório que deveria estar sendo lido e assassinado era usado como leque, e o homem de cabelos prateados estava jogado em sua cadeira.
Algo gelado, algo gelado, algo gelado...
Com o restante de suas forças, o Guardião da Tempestade ficou de pé, sentindo a camisa grudando em seu corpo enquanto caminhava para fora de sua sala. Alguns passos e três leves batidas antes de abrir a porta ao lado, o fizeram sorrir. Dentro de seu escritório, o Décimo Vongola estava escondido atrás de pilhas de papéis, enquanto sua cabeça repousava na mesa. Havia um ventilador ligado estrategicamente, e mesmo da porta era possível ouvir seus gemidos de reclamação. Tsuna não suportava o verão japonês.
- Agüente firme, Jyuudaime - O braço direito dos Vongola disse rindo, chamando a atenção do homem de cabelos castanhos, que parecia encontrar forças somente para erguer a cabeça e acenar.
- Gokudera-kun~ - Tsuna suspirou, jogando a cabeça para trás da cadeira - É verão na Itália?
- Sim, Jyuudaime.
- Eu quero ir para casa~
O Décimo Vongola voltou a jogar o corpo para frente, voltando a apoiar a cabeça na mesa.
Naquela manhã, Reborn apareceu com pilhas de papéis que deveriam ser analisados, assinados e enviados. A data limite eram dois dias, mas se levar em consideração que já era além do horário de almoço, Tsuna tinha pouco mais de um dia para fazer aquilo tudo. Baseando-se na motivação que via, Gokudera tinha certeza de que o homem de cabelos castanhos não terminaria nunca.
- Eu estou indo buscar algo refrescante. Deseja algo, Jyuudaime? - Gokudera tinha a voz animada. Era sua obrigação animar seu precioso e desmotivado Jyuudaime.
- É mesmo? - Tsuna de repente estava sentado ereto na cadeira. Seus olhos brilhavam.
- S-Sim... - O Guardião da Tempestade sorriu nervoso pela rápida mudança do Décimo.
- Por favor, eu estarei esperando, Gokudera-kun!
- Dê o seu melhor, Jyuudaime! Eu não demoro.
O homem de cabelos prateados fechou a porta e seguiu com passos largos pelo corredor.
Ao passar pela última porta automática, o Guardião da Tempestade fechou os olhos e virou o rosto. Todo o escritório de Tsuna era resfriado pelo ar condicionado. A diferença de temperatura era como receber um soco quente bem no meio do rosto.
Mesmo sentindo sua motivação ser sugada a cada passo que dava debaixo do Sol quente, Gokudera continuou a andar, imaginando como seu Jyuudaime ficaria feliz em degustar um gelado e refrescante sorvete.
Enquanto caminhava por uma das inúmeras ruas abafadas de Namimori, o Guardião da Tempestade tentou colocar sua mente em outra coisa que não fosse o calor excessivo. A situação com Yamamoto continuava na mesma. A cena do corredor aconteceu há dois dias atrás, e até aquela tarde nenhuma outra conversa estranha surgiu entre eles. Por causa das pequenas missões dadas por Tsuna ao moreno, os dois Guardiões só se encontravam durante a noite, e as conversas eram as mesmas: ambos falavam de seus dias, Yamamoto dizia algo que Gokudera não concordava. O homem de cabelos prateados retalhava e avisava que se algo atrasasse o trabalho o Jyuudaime, o moreno estaria perdido e etc. A desconfiança do Guardião da Tempestade ainda existia, mas a oportunidade para resolver o assunto parecia cada vez mais difícil de ser criada.
Quando Gokudera deixou o escritório do Jyuudaime, sua idéia era levar dois potes de sorvete. Uma nova cafeteria havia inaugurado nas imediações, mas o homem de cabelos prateados nunca encontrou tempo para conhecer o novo local.
Ao entrar no centro comercial de Namimori, Gokudera seguiu direto para o local, diminuindo os passos até parar completamente.
Aconteceu por mero acaso. Seus olhos verdes estavam analisando o entorno, buscando uma segunda opção caso não encontrasse o sorvete que gostaria na cafeteria. Ao olhar um dos Cafés que ficava ao redor, seus olhos foram fisgados por uma curiosa cena. Havia uma parede de vidro e as mesas estavam do lado de dentro, provavelmente o ar condicionado estava ligado, já que seus freqüentadores não pareciam estar morrendo de calor. Um desses freqüentadores era Yamamoto. O moreno estava sentado de lado. Em sua mesa havia um copo que aparentemente parecia conter suco de laranja. O prato ao lado estava vazio, mas havia vestígios de comida. O problema não estava naquela rotineira cena. O que chamou a atenção de Gokudera foi que Yamamoto não estava sozinho.
Sentado a sua frente estava uma mulher. Longos cabelos louros que desciam como cascata por suas costas. O rosto não era possível de ser visto daquela distância porque ela usava óculos escuros, mas sim, definitivamente era uma mulher.
O Guardião da Tempestade não sabia se o suor que escorria por seu rosto era por causa do Sol quente ou do nervosismo. Seu coração batia incrivelmente rápido, o suficiente para que ele pudesse ouvi-lo. Na realidade, aquilo era a única coisa que Gokudera conseguia ouvir. Todo o entorno parecia ter ficado mudo. Havia pessoas passando ao seu lado, elas conversavam e riam, mas o som não chegava a seus ouvidos. Era como assistir sua vida com o botão no volume desligado. O único som era de seu dolorido coração.
Seus olhos estavam fixos na cena. Os dois conversavam na mesa. Ele não sabia o assunto. A mulher era claramente estrangeira. Um encontro no meio do dia, no meio do centro comercial, no meio da vida de Gokudera...
Não havia mais dúvidas.
O homem de cabelos prateados permaneceu em pé e observando a cena por longos minutos. Não havia forças em suas pernas para se moverem, muito menos determinação para invadir o Café e conhecer a nova companhia de Yamamoto.
Tudo o que o Guardião da Tempestade fez foi observar sua vida mudar, enquanto o moreno ria de algo dito pela mulher.
Continua...
