Hisoka x Machi. PWP. Contém BDSM de leve(? acho que depende de quem lê, de qualquer maneira, se puder ter problemas com isso, vai o aviso). Se você sabe quem é a Machi, então não há spoilers.


Desire me so deeply

Drain and kick me hard [1]

A água corria quente por sua pele, não mais com o propósito de limpar ou enxaguar, mas somente prover-lhe uma sensação prazerosa. Dentre o vapor que a água levantava, Hisoka mantinha-se de pé com um sorriso torto nos lábios, aproveitando o momento consigo mesmo em antecipação pelo que estava por vir. As mãos alcançaram o próprio pescoço, substituindo brevemente o toque de seus cabelos molhados naquela região pelo de seus dedos, antes de passarem a trilhar seu corpo abaixo.

Podia senti-la no cômodo ao lado.

Seus olhos reviraram ao tentar idealizar o que aconteceria em alguns momentos, deliciosa agonia que fazia questão de prolongar enquanto a pele escorregadia guiava seu experiente toque para o membro pulsante, centro físico de sua comoção. Ela esperaria por ele? Sim, esperaria. Com um riso abafado misturado com um gemido, ele concluiu que a espera a deixaria ainda mais sedenta. Sedenta por seu sangue, sedenta por marcar sua pele e pisar em sua cabeça.

E ele poderia revidar esses anseios? Sim, poderia. Com um anseio muito mais violento e, acima de tudo, livre de qualquer amarra, ao contrário dos dela. Um anseio de morte. Em certa medida, Hisoka sabia que revidaria. Só não levaria às últimas consequências porque era um passatempo bom demais para ser desperdiçado. Ao menos por enquanto. Provavelmente chegaria o dia em que essa aranha se prenderia às próprias teias para ser devorada por ele.

A excitação que essa expectativa lhe proporcionava o fez aumentar a intensidade de sua ação sobre o próprio corpo, a ponto de quase atingir a liberação total daquele prazer físico. Quase. Mas não permitiria que aquilo acontecesse tão logo. Cada gota da essência daquela sensação seria derramada sobre ela, dentro dela, nela, em nenhum outro lugar.

Controlando-se, julgou que já era hora de desligar o chuveiro, retirar-se do conforto daquele ambiente úmido e quente e embrenhar-se em outro. Alcançou a toalha para secar-se e retirar o excesso de água dos cabelos, porém não a envolveu em seu corpo. Estava coberto o suficiente com a Textura Surpresa nas costas. A aranha, o número 4, a morte. Com um sorriso irônico estampado o rosto, resolveu sair do banheiro e revelar-se a ela.

Ou obrigá-la a revelar-se para ele.

- Que surpresa, M-.

Machi. O nome dela ficou preso em sua boca, e sua boca, presa nas linhas dela. Em um bote rápido, ela saiu das sombras passando por ele, envolvendo-o do pescoço aos lábios na teia de nen. Com um gesto brusco, para finalizar o movimento, ela ajustou os fios na medida exata para que ele soubesse que sua vida estava nas mãos dela, sem, no entanto, feri-lo. Ao menos não muito. Um filete de sangue escorreu até sua clavícula, provindo de um pequeno corte.

Êxtase.

- Silêncio. - Ela demandou com a voz bem composta.

Naquele momento, não era possível identificar absolutamente nenhuma emoção naquela voz. Nada. Se não a conhecesse, temeria por sua vida? Não, não temeria. Seus olhos esgueiraram-se tranquilamente ao senti-la próxima a ele. Machi passou a dedicar-se em prender suas mãos para trás a partir dos mesmos fios que o prendiam pela boca e ligavam-se aos dedos dela. Bondage. Ele gostava daquilo. Sentiu a mão livre dela empurrá-lo para baixo, e, teoricamente sem escolha, obedeceu, ajoelhando-se no chão.

Foi quando a figura dela finalmente se fez ser devidamente contemplada perante seus olhos. Estava de cabelos soltos e trajando roupas casuais, o que ele considerou uma pena. A calça e a jaqueta ocultavam as belas formas do corpo dela. Em contrapartida, a imponência que aquele ângulo de visão lhe atribuía era excitante, assim como aqueles olhos azuis mirando-o de cima, que faiscavam de desejo a despeito da frieza de suas expressões e seu silêncio. Em suas pequenas mãos, o poder de vida e morte sobre ele.

O prazer que Hisoka sentia somente por estar ali, à mercê da dominação dela, já era quase orgástico. Jogava o jogo dela e mantinha-se em silêncio, os gemidos contidos parecendo descer pelo seu corpo para bombear o sangue mais fortemente. No entanto, sua expressão de pura lascívia era o suficiente para transmitir o que sentia. Sentimento esse que ela pareceu desprezar, soltando um baixo muxoxo e virando-se para afastar-se dele.

Enquanto caminhava lenta e calmamente, Machi livrava-se dos sapatos, da calça comprida, abria a jaqueta, ia enfim revelando a figura que ele tanto queria ver. Ao encará-lo novamente, estava apenas de roupa de baixo, o que já era algo, ainda que não o suficiente. E quando seria o suficiente? Ela sentou-se em um poltrona e, com um menear de cabeça, indicou a ele o lugar onde queria vê-lo. A seus pés. Hisoka esboçou o reflexo de levantar-se, ao que ela prontamente barrou, com uma leve puxada em seus fios que abriu novos pequenos cortes. Mais filetes de sangue passaram a adornar sua pele pálida e ele quase não conseguiu engolir o gemido. Entendendo a ordem, passou a percorrer a distância até ela de joelhos.

Humilhação era um conceito relativo. Naquele momento, o que ele sentia era uma agonia infinitamente prazerosa e nada mais.

Ao chegar perto dela, Machi esticou o pé e levemente tocou-o no peito com ele. Passou a percorrer sua pele firme, delinear seus músculos enquanto observava-o de cima, os olhos sendo acompanhados pelos dele de forma maliciosa. Ao chegar em seu ombro, Hisoka virou o rosto para encaixá-lo na curva do tornozelo dela, conseguindo captar brevemente o cheiro da pele antes de ser repelido e chutado, caindo ao chão.

Ela ergueu-se sobre ele e permaneceu alguns segundos observando-o, o pé firme sobre a lateral de sua face, o que não desmanchava a luxúria que queimava nos olhos dourados. A tensão no ar atingiu seu ápice com o silêncio daquele momento.

De repente, Machi virou-o de costas para o chão e sentou-se sobre seu abdômen. Ora, ora, finalmente, ele pensou. Finalmente sentir a pressão do peso dela sobre ele. Finalmente sentir a umidade que transpassava o tecido entre as pernas dela e molhava sua pele abaixo, esquentava-a, levava-o à loucura. A mulher inclinou-se e lambeu os pequenos filetes de sangue que brilhavam em sua clavícula. Ele iria explodir.

Não, não ainda. Ele prometeu a si mesmo que somente nela permitiria aquilo, e as promessas que fazia a si mesmo eram as únicas que garantia cumprir. Segurou-se firme no próprio intento, ainda que ser obrigado a segurar firme a vontade de apertá-la com as próprias mãos, penetrá-la fundo de uma vez e urrar de prazer fosse um obstáculo forte a seu intento. Como a contenção que ela lhe impôs era deliciosamente torturante.

Machi aproximou o rosto do seu, a ponto dos dois respirarem sofregamente o mesmo ar enquanto encaravam-se de forma desafiadora. Hisoka provavelmente jamais saberia a medida do ódio que ela sentia, ódio de si mesma por desejar, ódio dele por alimentar aquele desejo; mas sabia que a cada encontro daqueles o ódio se apaziguava para então crescer mais forte no dia seguinte, o que era deveras interessante. Até onde a mulher chegaria?

Os lábios dela pressionaram os seus por sobre as linhas, mas nenhum dos dois fechou os olhos completamente.

Foi quando, de forma um tanto repentina e muito bem-vinda, ela ergueu o tronco e afastou a própria lingerie para encaixar-se nele. O corpo dele chegou a espasmar levemente, era cada vez mais vertiginosa a impossibilidade de usar as mãos para alcançá-la, apertar-lhe os quadris, enfiá-la em si com muito mais violência do que ela agora usava. Porém reconheceu a incrível experiência que era ser reduzido a objeto dela para desaguar seus desejos mais ocultos; a incrível beleza que era vê-la tal qual uma amazona com rédeas em mãos, os fios que ainda se ligavam a ele.

Como a vida seria entediante sem os jogos dela a preencher os espaços vazios.

Machi, que ditava o ritmo, era boa conhecedora do próprio corpo e da própria necessidade. Podia sentir que ela encontrara o melhor posicionamento sobre ele, os movimentos mais intensos e satisfatórios para si mesma, e não tardaria muito para atingir o primeiro ápice. Boa coisa, pois ele também não conseguiria segurar por muito tempo, não enquanto estivesse sendo devorado por ela, a essência dela inundando a junção entre os dois, os olhos dela fixos nos dele, o silêncio atormentador sendo quebrado somente pelas respirações pesadas.

Ele sentiu na pele a antecipação dela. As linhas foram encravando um pouco mais a fundo em sua carne, dificultando sua respiração. Asfixia. Já estava se tornando impossível para ele segurar a queda definitiva no abismo do deleite, e pela primeira vez fechou os olhos, depois de revirá-los, deixando a revoada de sensações controlar seu corpo. As contrações do interior dela; as águas de seu prazer que clamavam por misturarem-se com as dele; os espasmos violentos e incontroláveis dos dois; a dor, o suor, o grito, na voz dos dois.

Só quando ouviu o som que Hisoka percebeu que ela, de forma incrivelmente cautelosa, liberou-o das amarras antes de perder o controle definitivamente. Teria decapitado-o caso contrário? Talvez. E aquela dúvida cativava-o nela. Voltou o olhar para a mulher e encontrou-a ofegando, ainda perdida na intensidade do orgasmo. Com as mãos agora livres, ele pôde apoiar-se para aproximar-se dela, pegá-la pelos cabelos, manchando-os com o sangue de seus pulsos e puxando-a para sujar igualmente as faces coradas com o sangue do rosto dele, afundando-se em sua boca com toda a violência da sede que foi contida nas teias dela.

- Ah, Machi, Machi, Machi… - suspirou sôfrego entre os beijos que desferia contra os lábios dela. - Assim vou acabar me apaixonando…

- Hm, lamento se isso acontecer. - Ela retrucou com uma frieza quase inabalável. Quase.

As mãos dele desceram até as costas pequenas e firmes, apertando a pele dela enquanto os beijos encaminhavam-se por seu queixo, transformavam-se em mordidas, em expressão de puro desejo entre o pescoço e a clavícula dela. Luxúria inextinguível. Alcançou o ombro esquerdo, onde jazia a tatuagem, verdadeira, perto do coração. Número 3, Imperatriz, tão próxima a ele. Deslizou a língua quente por toda a extensão do desenho.

- Basta. - Ela declarou, aplicando uma força desnecessária para sair dos braços dele, já que ele não fez questão de prendê-la.

A força era contra ela mesma.

- Já está satisfeita? - Hisoka perguntou, com tom de cinismo cético. Permanecia sentado no chão, tranquilamente observando-a às voltas, juntando as próprias roupas.

- Não sei se satisfação é a palavra certa, mas para mim, basta. - Olhou-o mais uma vez de cima, ao que ele sorriu daquela maneira, a que ele sabia fazê-la bufar. Com efeito, ela revirou os olhos e virou-se em direção ao banheiro com as roupas em mãos.

Não tão cedo.

Sem nenhum trabalho Hisoka puxou-a de volta para si, para seu colo. Seu Bungee Gun estava colado nas costas dela, e ele não a liberaria tão fácil, nem mesmo ao finalmente ver a fúria dela subindo para suas feições, deixando-as vermelhas, como ele adorava.

- Me solta, seu-

Filho da mãe? Ele imaginou do que o chamaria antes dele selar sua boca com mais um beijo, um que ela relutou em receber enquanto debatia-se em seus braços, mas ele sabia muito bem que Machi era mais forte que aquilo. Se ela quisesse subjugá-lo, ela o faria de uma vez. E da mesma forma que conhecia sua força, Hisoka conhecia também as amarras que a impediam de se soltar e viver seus desejos plenamente com ele, egoisticamente preocupava-se em vê-la livre. Apertou o pequeno rosto em sua mão antes de livrá-la do beijo.

- Foi só o começo, Machi. Não está nem perto de estar satisfeita.


[1] The Smashing Pumpkins - Pug

Apenas por curiosidade, o número 4 no Japão significa morte, e o número 3 no tarot é a carta da Imperatriz, daí a referência.