Sentido Litoral

Por: Aryam


Sumário: Heero vai para a praia buscar inspiração, e encontra exatamente isso e muito mais. Vai descobrir uma nova vida e talvez um novo sentido para sua felicidade e sua arte. Universo Alternativo.

Casal: 1x2, R+1 (não correspondido) e talvez outros por vir.

Narração: Primeira pessoa = Heero

Nota: As músicas que inspiraram a fic não têm absolutamente nada a ver com a ela em si a não ser o tema praia, mas me refiro a 'Os Seis Mané' d'Os Kmaradas, 'É No Balanço da Rede' de Armandinho e 'Vamos Fugir' do Skank.

Retratação: Fui até a Sunrise e pedi gentilmente para o Tomino (só porque eu tinha uma espada na mão, não precisava chamar os seguranças! Eu falei 'por favor'!) os direitos autorais de Gundam Wing, mas ele se recusou porque o relançamento dos DVDs estão rendendo uma grana preta, então eu os seqüestrei e os trouxe para uma praia paradisíaca.

Dedicatória: Mahalo para Illy-chan!!! Valeu moça pelos palpites, apoio e ajuda para filosofar a coisa toda! Ela que ama o mar como eu, nada mais apropriado do que dedicar uma fic sobre praia! Illy, essa postagem vai especialmente pra você que me acompanhou nas risadas, nos dramas e nas sensações dessa história. Considere-a uma homenagem à nossa amizade já que ela ajudou a nos mostrar o quanto mais temos em comum e acredito que nos trouxe alegrias juntas. Te adoro, moça!

Agradecimento: À Harumi! Obrigada pela força e pelos comentários! Seu incentivo valeu muito mesmo para mim. Espero que goste do resto da história. Um grande abraço bem apertado de ursos fofos monocromáticos!

Boa ação do dia: Comente e faça uma pessoa feliz. Autoras felizes fazem leitoras felizes... E vice-versa.

N/A: Essa fic é composta por 8 capítulos curtos. Portanto, a velocidade das postagens dependerá de sua aceitação, ou seja, dos comentários. Ela tanto pode ser atualizada após dois dias como após dois meses.

Por favor, críticas, sugestões, comentários, são muito bem vindos e altamente apreciados.

Obrigada.

Observação: Glossário e notas adicionais no fim da página.


-Heero, tenho certeza que era por ali! – ela disse se atrapalhando com o mapa voando para tudo o que é lado.

-Não Relena, não era. – apertava com força o volante, já extremamente irritado com as reclamações da acompanhante.

Relena me convencera a vir junto comigo em minha viagem sentido litoral. Sabia muito bem de suas segundas intenções. Ela achava que eu não percebia, que eu era 'muito tímido e precisava de um empurrãzinho' e com certeza tentaria me seduzir na praia.

Se ela não tivesse se oferecido para bancar o passeio, jamais estaria aqui ao meu lado tentando me dizer o que fazer. Ela já estava a viagem toda, 4 horas até agora, avisando para que eu fosse mais devagar, que não fizesse a ultrapassagem daquela maneira, mudando incessantemente as estações de rádio alegando que não gostava dos meus CDs de rock clássico; pedindo para parar a cada meia hora para comer e tomar água, ir ao banheiro ou simplesmente ver as lojinhas de beira de estrada, reclamando do preço do pedágio e engajando em um discurso político e agora insistindo que eu tinha pegado o caminho errado.

Ou seja, eu já estava farto.

Tomei uma decisão. Mais uma reclamação, só mais uma...

-Mas o mapa diz que se você pegasse a esquerda, nós...

-Está certo Relena, então vamos por ali.

Ela soltou um grito quando virei o carro de repente e me olhou ainda mais surpresa quando parei na frente de um motel.

-Desce do carro.

-O quê? – por essa você não esperava, não é?

Saí do carro, abri o porta-malas e coloquei a enorme mala rosa no chão. Abri a porta de passageiro e o mais gentilmente que pude, puxei-a para fora. Fechei a porta, entrei no lado do motorista, engatei a primeira e acelerei. Ignorei os gritos desesperados de Relena e continuei, respirando aliviado.

Ela tinha celular e dinheiro e a deixara na frente de um lugar que pudesse passar a noite. Sem contar que a cidade praieira estava à passos de distância. Não, não me sentiria culpado.

O problema é que nessa de desviar o caminho, agora não encontrava um retorno. O mapa ficara com Relena. Então tive que continuar por quase uma hora até desistir de voltar e resolver pegar outro caminho. Com meu cd preferido tocando, simplesmente deixei a estrada me levar.

Cheguei a uma cidadezinha, que parecia mais uma vila. Perguntei se tinha algum lugar próximo onde poderia surfar. Algumas pessoas pareceram surpresas por terem um turista na cidade, pelo jeito não recebiam muitos. Ficaram hesitantes em me dizer, mas um rapaz me apontou um caminho pelo meio da mata aonde chegaria a uma praia usada pelos surfistas locais. Portanto, resolvi deixar meu carro estacionado em um algum lugar por ali mesmo.

Peguei a mochila e me embrenhei na floresta seguindo uma trilha que se o rapaz não me tivesse mostrado não teria percebido.

Andei por mais de uma hora. Cansado, com fome e perdido, considerava tentar voltar quando finalmente ouvi o mar e vi o sol.

Pisei na areia branca com uma sensação de satisfação indescritível. Era tão macia e limpa. Havia poucas pessoas. Bem poucas, estava quase deserta. Alguns surfistas aqui e acolá, uns jovens brincando de vôlei do outro lado e alguém deitado numa rede entre os coqueiros. Aproximei-me da água e me sentei o suficientemente perto para meus dedos dos pés sentirem o mar que ia e vinha. A água límpida e quase transparente. A praia era pequena e cercada de árvores e morros. Um lugar paradisíaco.

Tirei o caderno e a caneta da mochila e me perdi nas sensações que a brisa marítima e o ambiente passavam.

Estava escrevendo tranquilamente quando um grupo de surfistas, rindo e cantando, disse para mim 'Aloha turista' antes de pegar minha mochila e saírem correndo. Corri atrás deles, vendo minhas roupas e pertences sendo jogados para os lados. Gritei para que parassem, minha raiva aumentando. Estava quase os alcançando e pronto para distribuir murros em quem pegasse primeiro. Entretanto, estava despreparado para os livros que caíram das mãos deles. Acabei por tropeçar vergonhosamente e dar de cara na areia que agora não parecia mais tão macia. Merda...

Ouvi as risadas em volta. Tentei me erguer com o pouco de dignidade que me restava e olhei para frente. Vi um par de pés bronzeados. Seguis as pernas que se encaixavam neles percebendo que eram bem esbeltas e fortes. Belas pernas. E o corpo que se seguiu não ficava para trás. O short John deixava óbvio que era um rapaz, mas mesmo assim eu estava praticamente babando naquele monumento molhado. Os músculos firmes, perfeitamente proporcionais, de dar inveja. Mas o rosto... Nunca vira olhos tão brilhantes. Ele tinha as mãos na cintura e olhava feio para os outros surfistas.

-Hei Solo! Deixa o cara em paz. – sua voz soou grave.

-Ah Duo. Não enche. O cara é haole e esse aqui é o nosso secret point!

-Solo. Dá o fora.

O loiro me olhou com desdém e mesmo parecendo mais velho, chamou sua turma e saiu ainda me zombando. Segurei-me para não ir arrancar-lhe o pescoço. Quando me virei novamente para aquelas formosas pernas, uma mão estava estendida. O rapaz me ajudou a levantar e foi quando notei o cabelo comprido preso em uma trança pendendo no ombro.

-'Cê 'ta legal?

-Estou. Obrigado.

Quando olhei para trás procurando minhas coisas, não foi com surpresa que vi minhas roupas boiando no mar. Não consegui reter um suspiro mesmo que reservado.

-Desculpe por isso – o rapaz extremamente atraente falou parecendo genuinamente sentido.

-Tudo bem – virei e comecei a recolher meus livros nos quais havia tropeçado, colocando-os de volta na mochila – Eles são sempre assim com quem é de fora?

-Bom... – ele se abaixou para me ajudar a pegar as coisas e discretamente desviei os olhos para admirar seu corpo curvado coberto pelo neoprene - Essa praia é bem desconhecida e o lugar aqui é... diferente. Não lidamos bem com turistas.

-Mas você...

-Eu estudei fora – fomos pegando minhas coisas próximas a areia – mas a comunidade aqui é bem calma e não é amigável com quem vem de outras bandas porque ficaria movimentado, traria poluição e a cidade cresceria.

-Então são contra o progresso? – perguntei com uma falta de tato que até eu fiquei surpreso.

-Não – ele riu – apenas defendemos um estilo de vida e não queremos gente atrapalhando. Cara, só queremos viver numa boa.

-Entendo. – na verdade não, mas no momento bastaria.

Dizem que quem está na água é para se molhar. Algumas peças de roupa já estavam bem afastadas da costa. Coloquei minha mochila no chão e fui caminhando em direção ao mar. Ouvi uma risada atrás de mim e o rapaz de cabelos compridos passou correndo e mergulhou na água salgada como se pertencesse ali, com os peixes. Recolheu meus pertences e voltou calmamente como se a maré não fizesse diferença por entre suas pernas. Só consegui encarar, com certeza de boca aberta, o sol do entardecer refletindo as gotas escorrendo pelo corpo escultural.

Eu deveria estar cansado de ressaltar o quanto ele era belo, mas quanto mais olhava, mais queria olhar e me embebedar na visão.

Acho que me perdi no paraíso.

Continua...


Notas da autora: Eu pesquisei bastante sobre a cultura, as gírias e tudo que envolve o surfe, mas só conhece de verdade quem vivencia. Percebi logo de cara uma forte influência havaiana (a terra do surfe).Primeiramente, eu realmente me esforcei para ficar o mais crível possível e em segundo lugar, essa fic não tem a intenção de ficar perfeita quanto a isso. Entretanto, qualquer erro ou bobagem, por favor, avisem. Aliás, quero comentários mesmo assim, afinal "Mais vale um comentário na tela do que dois na cabeça." Para quem preferir, meu e-mail é maymacallyster (arroba)yahoo(ponto)com(ponto)br

Percebi depois que talvez eu devesse ter assistido aquela novela de praia que passava na Globo, mas a fic já estava pronta e, sinceramente, não suporto assistir novela (desculpa para quem gosta). Então já aviso, qualquer semelhança é mera coincidência e se tiver muitas coisas diferentes, bom, peço para que tenham a cabeça aberta.


Glossário:

Aloha – literalmente tem muitos significados. Algo como "a presença do sopro sagrado". Na cultura havaiana é como uma invocação divina e serve tanto para uma saudação quanto para despedida. Nesse caso, pode ser interpretado tanto quanto 'oi' como 'tchau'.

Short John – Também chamado de (short) wetsuit. roupas aquáticas de neoprene (tipo de borracha) para proteger do frio. Esse modelo em particular, tem mangas curtas e pernas.

Haole – pode ser um termo pejorativo, mas basicamente usado para designar turistas e/ou surfistas que não são do local. Palavra havaiana 'há ole' que significa "sem o sopro de vida", o forasteiro, homem branco, o surfista de fora. Espalhou-se para classificar falsos surfistas.

Secret point – como o nome sugere, lugar secreto onde quebram ótimas ondas.

Mahalo – obrigado/a, gratidão. Algo como "vá/esteja com o sopro divino".