Naruto não me pertence
Vida por Braedy
Capítulo um
A cicatriz
A escuridão esvaiu-se dando lugar a uma imensidão de cores que explodiam a sua frente, fazendo-o piscar pra que se acostumasse com a luz. De onde estava podia ver ao fundo o sol despedindo-se, deixando o céu em um tom alaranjado que nunca antes vira, e frente a este o mar em sua imensidão, mostrando-se misterioso e traiçoeiro com suas ondas quebrando-se contra as rochas.
Por um segundo, jurou ter ouvido um som como se a água salgada estivesse apagando as chamas do sol, inconscientemente moveu-se com a mão direita estendida como para alcançar o ambiente; parou, porém ao sentir uma pressão na altura da cintura. Olhou para baixo percebendo não apenas uma cerca, mas também que devia estar a aproximadamente vinte metros acima do solo; assustando-se, segurando com força as grades, enquanto respirava descompassadamente.
Recuperando-se, observou novamente o horizonte. Desejou poder ir, mergulhar na profunda e caliente imagem, libertar-se de toda a lógica do universo e simplesmente fazer parte daquilo. Deslizou lentamente a mão direita pela cerca enquanto rodeava o que parecia ser um mirante, em busca de um plano de fuga daquele local. Fechou os olhos em dor, levando a mão até próximo dos olhos para ver uma linha de sangue se formar, deslizar e gotejar no chão.
Odiou. Detestou. Amaldiçoou. Sentiu sua vida ir embora, enquanto se encontrava ali preso. Pior. Torturado. Ansiando alcançar a visão, mas com enormes obstáculos que os separavam. O mirante maltratado, nem ao menos porta tinha. Em ira, chutou a cerca, fazendo parte dela cair e a estrutura local tremer. Rapidamente sentou-se com medo. Desejava o que estava além daquele lugar, por outro lado sua vida era demasiado preciosa para que tentasse sair.
Sentiu-se muito confuso, suas emoções o traiam; queria segurança, que o lugar parasse de tremer, queria paz. Como afinal fora parar ali, se o que mais apreciava era a segurança do chão e as quatro paredes de sua casa? Pôs a fronte sobre os joelhos encolhidos contra o corpo, tentando desesperadamente se lembrar da resposta. Uma infantil ânsia o tomou...
- Quero ir pra minha casa...
Foi um sussurro triste, uma súplica. Deu atenção a mão direita que agora doía; observou o sangue já seco desde o cotovelo até as pontas dos dedos, continuando – sem conseguir evitar – até que pudesse ver o horizonte, no qual se via ainda alguns raios de sol apagando-se contra o mar. Desfez-se de sua posição, engatinhando até próximo às grades, apertando-as com força. Estava deslumbrado. Não quis perder nada da extraordinária vista – esquecendo-se por completo dos sentimentos de a pouco. Esperou... até que a noite tomou conta.
Abriu os olhos assustado, sua respiração irregular demonstrava isto. O suor escorria pelos poros e nem mesmo o ar condicionado ligado conseguira refrescar seu corpo. Que pesadelo! Estar preso naquele lugar, a tantos metros do chão, longe de casa, fora terrível para ele. Desfez-se dos lençóis com que antes cobria-se, numa tentativa inútil de mandar embora o calor e a sensação de sufoco. Sem obter sucesso, levantou-se e dirigiu-se até o banheiro ligado ao seu quarto para tomar um banho.
Já com o chuveiro ligado, observou a água cair por alguns instantes antes de fechar os olhos e molhar os curtos cabelos negros e o corpo de pele claríssima - resultado do pouco contato com a luz do sol. Fechou a torneira, e enquanto se ensaboava levantou as pálpebras revelando os olhos de mesma cor que seu cabelo. Seu corpo era alto e possuía músculos bem definidos, mas não exagerados.
Minutos mais tarde, encontrava-se de toalha frente ao espelho escovando os dentes, pôs-se a pensar novamente no pesadelo. Jamais visitara um mirante, nem nunca vira o por do sol, se não por fotos ou filmes. Não conseguia apreciar nada além da paz de seus escritório ou apartamento. Passara toda a vida em ambientes fechados, restaurantes, salões de festa, salas de conferência; a tranquilidade desses lugares tornou-se indispensável. E de repente vinha esse sonho ruim tirar-lhe do conforto de tudo o que conhecia.
Pelo agrado que tinha pelo silêncio, mudou-se para o prédio onde vivia, agora, há seis anos. Ninguém o incomodava, às vezes conversava com o porteiro - antigo amigo de sua família - ou com seus vizinhos, que com o passar dos anos tornaram amigos, mesmo que não passassem horas tagarelando.
Terminou de escovar os dentes e guardou a escova. Parou quando viu em sua mão direita uma ferida que lhe parecia recente, mas que não lembrava como conseguira.
- Droga...
Maldisse em sussurro. No pesadelo ele feriu-se, mas teria isso alguma relação? Balançou a cabeça negativamente, era algo ridículo para que se detivesse analisando. Decidiu, ao menos por hora, deixar de lado todos os pensamentos com que acordara nesta tão confusa manhã. Devia arrumar-se e ir ao trabalho.
No interior de seu carro, rumo ao trabalho, parou em um semáforo e olhou pela janela. O parque da cidade era um local enorme, lindo, onde as pessoas costumavam ir para conversar, namorar, correr, se relacionar umas com as outras. Sasuke, porém nunca o havia visitado, nem pretendia, mesmo com toda a beleza do lugar.
- Ei, idiota! Comprou sua carteira de motorista?
Escutou quando um carro passou ao seu lado, só ai percebeu que o sinal já marcava a cor verde e que atrás dele várias buzinas começavam a incomodá-lo. Saiu no carro rapidamente. Isso não o afastou de seus devaneios... Afinal se nem o sol, o mar e o parque interessavam a ele, então porque não podia liberar a mente de suas imagens?
- Cuidado, motorista!
Ouviu uma pessoa gritar, freando bruscamente. Olhou para frente atônito, vendo uma mulher com as mãos apoiadas em seu carro, com a cabeça curvada. Havia parado a tempo. Apressadamente abriu a porta, indo até ela. Percebeu que ela não se mexia, estaria em choque?
- "Não dá pra acreditar! Droga! Isso nunca aconteceu. Tudo por causa desses pensamentos idiotas!" Moça, você está bem?
Chegando mais perto pode ver que ela usava roupas esportivas e patins nos pés. Notou que ela levantava a cabeça fazendo menção a responder.
- Cara, quantos parafusos faltam na tua cabeça? – bravejou – Não viu que o sinal estava fechado?
- Olha, eu não sei o que me deu. Está bem?
Estava preocupado com a situação, mas não pode deixar de notar a mulher. Tinha olhos muito bonitos de cor verde jade intensos, que naquele momento viam-se irados. E por mais estranho que parecesse, não apenas as janelas de sua alma chamaram atenção dele, mas também seu cabelo rosa bebê. Deixando rapidamente de lado esses detalhes, aproximou-se dela para ajudá-la no que fosse possível.
- Quer que eu te leve pra um hospital ou pra casa de um parente?
- Hahaha – riu.
Ela riu? A coisa devia ser mais séria do que pensava, isso não se via nada bem. Ele pegou o celular informando que ligaria para algum parente dela, pedindo-a um numero de telefone; fazendo-a rir mais, deixando-o confuso. Logo pessoas juntaram-se aos dois, julgando-o, perguntando a ele se não a levaria ao hospital, já que parecia ter perdido o razão.
- Vamos, te levarei ao hospital!
- Calma ai! Eu tô bem, mas você quase me quebrou, hein? – gargalhou.
Todos ao redor estavam confusos. Ainda com as palavras dela, o moreno achou melhor levá-la a urgência.
- Você não parece bem. Eu insisto, não vamos demorar. Te levo rápido!
A rosada novamente recusou e pôs-se a falar sobre uma competição qualquer de... patins? a qual devia ir e sobre uns conhecidos que a esperavam, mas por fim rendeu-se a insistência de todos, suspirando pesadamente.
- Olha, cara, tu ta me devendo essa... – voltou a chatear-se.
- Eu sei! Eu não queria que isso acontecesse... – falou enquanto ela continuava, sentia-se culpado, ia explicar tudo aos médicos, aos policiais se preciso. Se tivesse que pagar hospital ou indenização ele faria.
- Por sua causa essas mãozinhas aqui – mostrou as palmas das mãos para ele - não vão tocar no troféu de patinação da cidade, ok?
Quis dizer algo, dizer que estava ficando louca, mas não conseguiu. Ficou olhando as mãos dela. A palma direita tinha uma cicatriz no que mesmo local em que ele tinha o ferimento. O que estava acontecendo? Porque esse dia estava tão diferente de qualquer outro que vivera?
Gente, deixem reviews. Vou gostar demais de saber o que vocês estão achando da fanfic. Que impressão inicial vocês tiveram deste primeiro capítulo? Garanto que muita coisa ainda vai acontecer. Bjos, até a próxima!
