NA: Fanfic escrita para o III Mini-Challenge Harry/Ginny do fórum 6V.


Imperfeição

Imperfeição. Essa era a palavra que definia Harry para Ginny naquele momento. Estavam todos ali no enterro de Fred e ela sabia que sua família jamais seria a mesma sem um dos gêmeos. Jorge não falara uma única palavra desde o fim da batalha, parecia estar em estado de choque; sua mãe chorava o tempo todo e seu pai tentava conter as lágrimas enquanto abraçava a esposa e a consolava; Percy culpava-se por não ter sido capaz de salvar o irmão, Gui e Carlinhos tentavam manter a calma, mas a tristeza era visível em suas expressões; Ron parecia finalmente ter se entendido com Hermione e estava abraçado a ela como se ela fosse o seu porto seguro naquele momento. E ela... Bem, ela estava ali em pé, completamente devastada pela morte do irmão, chorando silenciosamente e sozinha. Isso era o pior de tudo, estar sozinha quando precisava tanto de um ombro, de um carinho e de alguém para lhe dizer que tudo ficaria bem.

Harry estava lá, afastado de todos, assistindo à cerimônia do enterro de longe, sem ter coragem de ser aproximar. Por que ele tinha que ser assim? Ficar culpando-se por todas aquelas mortes não tornaria as coisas mais fáceis, nem levaria embora a dor que sua família estava sentindo naquele momento. Por que ele não podia simplesmente entender que todos que morreram escolheram o sacrifício? Por que tinha que ficar se culpando e se condenando a viver eternamente com o peso de todas as perdas? Ele era tão irritantemente bom e sensível que se preocupava com todos, menos com ele mesmo. Esse maldito senso de herói que ele tinha a deixava furiosa; por que tinha que amar alguém assim? Seria tão mais fácil estar com qualquer outra pessoa, naquele momento. Dean com certeza estaria ali ao lado dela naquela hora tão difícil, ele não estaria observando todos de longe com medo de se aproximar da única família que o amou incondicionalmente e que se sacrificou tanto por ele. Por que Harry não podia entender que os Weasleys o amavam e estavam ao lado dele? Precisava tanto dele ali com ela, de um abraço confortador, de palavras doces para acalmá-la... Lembrou-se de Luna e de uma conversa que as duas tiveram no começo do ano, quando Ginny reclamara da ausência de Harry.

- Ele é assim mesmo, Ginny, um herói – Luna falou com uma expressão aérea.

- Eu sei, Luna, mas por que ele tem que ser assim? Por que tem sempre que pensar no bem dos outros, em como as pessoas podem estar em perigo e que ele é quem tem que se sacrificar por todo mundo?

- E não foi exatamente por isso que se apaixonou por ele? Pelo jeito dele? Pela forma como se preocupa com as pessoas e como faz de tudo para mantê-las em segurança?

- É, foi... – suspirou resignada – Às vezes acho que essa qualidade tornou-se o maior defeito dele.

- Todos temos defeitos, Ginny, somos imperfeitos, afinal. E é na imperfeição que encontramos a perfeição das coisas e das pessoas. São os defeitos que fazem com que as qualidades apareçam.

- Tem razão, Luna. Você sempre tem. – Ela abraçou a amiga. – Obrigada.

Luna tinha razão, Harry não era perfeito e justamente por isso se apaixonara por ele. Ginny sabia que ele não seria capaz de enfrentar sua família e de estar ali com eles, porque o peso daquela perda era grande demais para ele. Mas ela sabia também que ele a procuraria e que estaria ao lado dela mais cedo ou mais tarde. Suspirou profundamente enquanto deixava uma última lágrima escorrer por sua face, conjurou um lírio e o depositou sobre a lápide de Fred, despedindo-se do irmão que tanto a irritara e fizera sorrir.