Mizuki acabava de chegar à cidade com seu bando, abriu as portas do saloon, e quando não foi reconhecido se sentou no balcão pedindo uma dose de uísque para garçom. Seus capangas se espalharam entre as mesas e entre as mulheres enquanto mais uma música começava a tocar. A música estava animada e as garotas sob o palco davam um clima melhor aquela espelunca cheia de homens mal cheirosos e bêbados. Logo seu copo foi posto a sua frente, e ele tentou achar algo mais interessante do que uma mesa de poker.

— Posso ajudar senhor? — O garçom perguntou sem muito animo.

Mas ele não se parecia com o homem que agora pouco lhe serviu a bebida, tinha cabelos cinza e arrepiados usando uma mascara suspeita, além de uma cicatriz no olho esquerdo que não podia ser de uma briga no bar.

— O que tem a me oferecer? — Mizuki perguntou já virando o copo em um gole e batendo no balcão pedindo por mais.

— O melhor serviço da casa. — Mesmo sem ver seu rosto sabia que o estranho garçom estava sorrindo. — Lee!

Ele gritou e não demorou a ser respondido por outro grito vindo da cozinha, um garoto que mau-mal virará homem saia resmungando baixo sem tempo de perceber a reprovação do garçom. Apesar de Mizuki ter visto um pouco de tudo, a aparência do garoto era tudo menos normal. Cabelos loiros, olhos azuis e a pele morena pelo sol, muito comum no oeste, mas os riscos na bochechas como bigodes de um gato realmente faziam da figura um pouco difícil de esquecer.

— O que foi? — Ele gritou chamando um pouco de atenção. O garçom suspirou, tirou o pano de seu avental chicoteou o garoto.

— O senhor aqui deseja nosso serviço de classe, leve-o até o andar de cima e chame nossa cortesã. — O garoto olhou para Mizuki como se dissesse "você pode pagar por isso?", mas antes que as mãos do bandoleiro chegassem ao seu revolver o garçom chicoteou o garoto novamente, dessa vez deixando um vergão em suas bochechas.

— Faça o seu trabalho! — O garoto abaixou a cabeça resmungando mais do que antes levando a divisa do balcão e esperou que o senhor se levantasse.

As escadas eram escondidas bem próximas ao palco, com as luzes concentradas em belas dançarinas, ninguém se preocuparia em olhar as sobras ao lado. O garoto ficava tenso a cada passo que dava e Mizuki pensava que sabia o porquê. Depois que os degraus acabaram as vozes e os perfumes femininos fizeram o bandoleiro relaxar, e quando o garoto parou batendo em umas das portas, sorriu para se mesmo.

— Pode entrar. — Uma voz melodiosa retornou as batidas.

Mizuki deu dois passos podo a mão na maçaneta e quando estava próximo a girar teve sua entrada bloqueada pelo garoto.

—Não permitimos armas nos quartos, — O garoto falou como se repetisse a frase para todos que encontrasse. —sabe, para não assustar as garotas.

— E por que deveria acreditar que vão me devolver? — Mizuki descansou a mão no coldre da arma já ameaçando a sacá-la.

—Está vendo aquele armário no final do corredor. — Ele olhou na direção que o garoto apontava. — É só por a arma em uma das gavetas e trancar com a chave que está dentro.

E foi isso que ele fez retornando à passos largos para a porta onde a sua companheira desta noite o esperava. E ao abrir a porta logo se esqueceu do aborrecimento. A primeira vista o quarto parecia estar vazio, mas isso se provou contrário quando a cortesã saia das cortinas. Um vestido vermelho e negro se agarrava as curvas da mulher deixando as pernas cobertas por camadas de pano que deixava a vontade de rasgá-lo maior.

—Por que não se deita? — Ela perguntou sentando na beirada da cama dando o sinal para o garoto ir.

A porta foi fechada com um forte baque e Mizuki não se importou já que sua mente agora insistia em parar o deixando como bobo. Aos poucos foi recobrando a sanidade e com ela uma estranha sensação de perigo, que é claro, ignorou.

Os cabelos negros da cortesã desciam em cachos presos delicadamente por uma flor vermelha que contrastava em muito com os olhos verdes intensos da mulher. Uma levantada em sua saia mostrou a pele branca e suave de suas pernas. Mizuki se sentou próximo a cabeceira deixando a mulher à vontade para fazer o seu show. Está pegou um copo de sua mesa e o encheu com uma bebida que cheirava a vodka.

—Se mal lhe pergunte, o que trás alguém como você a esses lados? — Ela encheu um copo para si e entregou outro para o bandoleiro.

— O mesmo que deve ter escutado de muitos que se deitaram aqui. — Ele engoliu a bebida e colocou o copo no chão.

—E seria? — Ela sorriu graciosamente e com os antebraços apertou os peitos deixando o decote ainda mais à mostra.

—Três roubos bem sucedidos, e um quarto para ser executado. — Falou com mais ego do que deveria, mas sem nenhum arrependimento.

—E você nunca foi pego. — A mulher se aproximava sensualmente diminuindo a distancia entre eles.

—Eles nem devem saber como é o meu rosto. —Ele colocou o copo vazio na frente da cortesã para que esta enchesse o copo.

Ela sorriu se levantou e foi lentamente colocar a bebida. Mizuki já tinha relaxado na cama quando o tiroteio começou. Suas mãos foram direto para o cinto vazio, sem encontrar o que buscava. Com uma serie de palavrões tirou a bota e a palmilha pegando um pequeno revolver de três tiros.

Com os passos e gritos no corredor Mizuki não conseguia escutar quem poderia estar envolvido na troca de balas, pegou na maçaneta e girou devagar, mas quando tentou abrir a porta ela estava trancada. Com o ombro tentou arrombar o que não ajudou em nada. Perdendo a paciência afastou uns seis passos da porta e se preparou para arrombá-la.

—Por que a pressa? —Ele estranhou a calma da mulher e se virou. — Ainda não acabamos.

Mizuki já tinha ficado com um cano apontado para sua cabeça em varias ocasiões, mas nada comparado com a Peacemaker cano longo, coronha de marfim e um tambor para seis balas. E pelo sorriso da cortesã ela sabia muito bem como usá-la.

—Mizuki, você é acusado de três roubos, cinco assassinatos, e a violação da sobrinha do prefeito da Grama, e em nome da lei a mim concedida pela Xerife de Konoha, você está preso. — Ela levou a outra mão à cabeça e tirou a peruca revelando seus cabelos rosa. Mizuki arregalou os olhos e perdeu o fôlego, era uma armadilha, e se a mulher a sua frente fosse mesmo quem pensava, tinha poucas chances de escapar.

—Quem é você? — Ele falou quase engasgando.

—Para você pode ser Lótus do deserto. Agora jogue a arma na cama e não pense em nada estúpido.

O bandoleiro obedeceu tentando pensar em alguma chance de fuga, o que na visão da policial era algo estúpido, mas para suas ameaças realmente valerem de alguma coisa seus companheiros precisariam limpar a casa. Ela tirou as algemas de baixo das camadas de babados do seu vestido e bateu com a coronha na nuca de Mizuki para nocauteá-lo.

—Eles sempre dormem tão rápido. — Ela suspirou certificando de que ele estava com os pulsos bem presos atrás das costas. Mas a mulher percebeu que havia algo de errado, tudo estava silencioso de mais, há essa hora seu companheiro já deveria ter batido na porta de forma escandalosa perguntando por que a demora.

Com passos leves foi até a porta, tirou as chaves que estavam entre os peitos, e a destrancou. O corredor estava vazio e nenhuma respiração era escutada. Ela estava decidida a ver o que estava acontecendo, mas não antes de colocar o seu disfarce de volta no lugar. Com uma rápida olhada no espelho do quarto, colocou sua peruca, passou mais uma camada de pó-de-arroz e levantou o decote do vestido. Com a Peacemaker no coldre escondido na sua perna, desceu com cuidado as escadas escuras.

—Por que paramos nessa cidade? Vamos explodir tudo e ir embora, hum. — Ela escutava vozes discutirem, mas sem os outros barulhos comuns em um Saloon, algo estava errado. Muito errado.

—Não podemos sair daqui enquanto não acharmos o garoto. —Outra voz cortou a primeira. — Mas graças ao seu pequeno show ele escapou de novo.

—O que queria que eu fizesse? Eles derrubaram minha bebida?

Ela se aproximou devagar calculando a distancia pelas as vozes, e pelo que ouvia só havia dois. Mas ao dar dois passos para fora da sobra viu o mar de sangue que tinha se transformado o salão principal. Mesmo que todos recebessem os primeiros socorros seria tarde demais. O que tinham escutado do quarto não eram tiros, eram bombas.

Tirou sua revolver do coldre, fez o sinal da cruz e estava pronta para se virar quando algo, ou melhor, alguém a puxou de volta para sombras. Não conseguia ver seu rosto, mas sentia sua respiração na sua orelha. Se debater sem fazer barulho não era muito útil, ainda mais se seu captor tentava te arrastar para um corredor escuro. No final deixou ser levada.

Ele soltou um dos braços e abriu uma portinhola escondida nos levando para fora. Ele me soltou e voltou para empurrar a lixeira evitando que algo a mais nos acompanha-se. Sinceramente, a mulher tinha várias perguntas na ponta da língua, mas uma a incomodava mais do que as outras.

—Já nos encontramos antes? —Ela vasculhava na sua memória qualquer rosto familiar, só encontrando uma sensação de nostalgia.

O estranho salvador se virou, e mesmo na noite clara, ela não reconheceria seu rosto, pois estava escondido sobre um lenço vermelho, e a sombra que seu chapéu negro escondia seus olhos.

—Acho que me lembraria de alguém como você na minha cama. — Ele respondeu sem se virar.

E antes que ela desse uma resposta descente o estranho a puxou pelo pulso a prendendo com o rosto na parede e com seus punhos cruzados e segurados. Uma das desvantagens de ser mulher, um homem de mãos grandes ou medianas pode facilmente segurar os pequenos pulsos de uma mulher com uma única mão. De soslaio viu o lugar onde sua Peacemaker caiu, tentou pegá-la quando seu aperto se afrouxou e seus planos novamente foram frustrados. O homem a virou e dessa vez segurou seus punhos sobre sua cabeça. Ela escutou a voz de seus parceiros e tentou chamá-los, mas seu salvador/captor tampou-lhe a boca e prensou o seu corpo com o próprio.

— Quer morrer tanto assim? — O homem sussurrou ríspido. — Mulher irritante!

Ele não precisou de palavras para entender que ela estava insultando até sua ultima geração. Ele se afastou dela, tirou a mão de sua boca e espiou fora do beco.

—Eles são meus amigos! — Ela o acusou indignada. — Quem você pensa que é para me arrastar desse jeito?!

Caso estivesse com um leque jogaria na sua cara, mas antes que pudesse tentar ele a arrastou de volta para o saloon. As vozes tinham sumido, entretanto um barulho estranho e consistente ecoava por todo o lugar.

Tic Tac Tic Tac

— Temos que sair daqui! — Ela gritou para o homem do lenço vermelho.

Eles praticamente voaram sobre os corpos e mesas, a mulher ainda estava enojada com a cena que ficaria gravada em sua mente, assim como as cenas do seu passado. Mas diferente da mesma, esta seria apagada e se não conseguisse sair a tempo, a Lótus do Deserto seria apagada junto com os corpos.

Tudo que ela deve se lembrar agora é de pular os degraus e se jogar no chão com sua vida dependendo disso. É claro que as poucas testemunhas da explosão daquele dia não prestaram atenção quando o homem misterioso jogou seu corpo por cima da suposta cortesã afim de que estilhaços não a acertassem. Ao se levantar ela estava confusa e meio tonta, demorou para entender que os borrões prata e amarelo eram seus companheiros, e que o cheiro ruim que a deixava nauseada era o cheiro de corpos queimados.

Mas é claro que ela só teria tempo para entender toda a cena depois que acordasse.

Os encantos e desencantos da flor mais bela do deserto.

Parando para pensar, faz muito tempo desde que me dediquei a uma fic, e Konoha West é um daqueles projetos que estava guardado no meu computador há tanto tempo que nem sequer me lembrava dele. Mas agora que coloquei um pouco de ordem nos meus projetos e talvez consiga prosseguir com todos os outros projetos adequadamente. Devo demorar um pouco para postar os capítulos pois este me exigiu muita pesquisa e dedicação, então para não perder a qualidade prefiro perder em pontualidade. Mas ainda há chance do próximo capitulo ser postado no próximo domingo.

Escrevo por prazer, mas para mim prazer não é o mesmo que desleixo, por isso se achou algo ruim, errado, confuso ou não satisfatório por favor me avise.

Críticas são mais que bem vindas.

Até logo...

Ou não.