A chuva calma alegrava os insetos e confortava as flores, liberando o delicioso aroma de terra molhada. Lily sempre gostou daquele cheiro, pois se sentia mais próxima de sua verdadeira realidade, algo que os trouxas nunca entenderiam, e demorariam a compreender.

Conseguia observar a magia única que somente a natureza poderia proporcionar; coisas simples que ninguém dava importância. Felizmente, aos seus dez anos, conseguiu encontrar alguém que compartilhava as mesmas sensações e esquisitices que ela, Severus Prince Snape.

Menino magro, pele pálida, que possuía incríveis e misteriosos olhos negros. Snape, sempre solitário, compenetrado na escuridão, mas Lily sempre esteve ao seu lado, o confortando com sorrisos calorosos e toques de mãos o guiando para mais um por do sol.

— Porque você está sempre sozinho, Severus? — Lily insistiu o puxando pela mão.

— Eu não sei me relacionar com as pessoas. — admitiu absorvido por uma imensa onda de timidez e infelicidade.

Snape não conseguia entender sua vulnerabilidade diante da ruiva, o simples sorriso de Lily era o suficiente para deixá-lo vivo diante de um cotidiano frio e áspero.

Crianças são capazes de amar com pureza, sentimentos translúcidos que ecoam em pensamentos e dúvidas sobre o que é o amor, o que é amar alguém. Severus não sabia o que era amor, amizade, carinho, mas sempre acreditou que possuía algo muito maior do que qualquer sentimento humano, possuía Lily. Aquela que mesmo sem um toque, afugentava o frio que lhe envolvia; mesmo não sendo flores ou perfumes, adocicava o ar com aqueles lindos cabelos de fogo.

— Sabe, sim! Afinal somos amigos. — ela sorriu apoiando a cabeça contra a imensa árvore que os protegia da chuva. — Quando entrarmos em Hogwarts faremos muitos amigos, Severus.

Snape tencionou as pálpebras e focou o perfil de Lily. — Não preciso de amigos, Lily.

Irritada, virou a face na direção do moreno, marcando os lábios com uma careta distorcida. — Por quê?

— Bom, eu já tenho você do meu lado. — ele baixou a face deixando os cabelos negros esconderem pedaços do rosto pálido. — Não preciso de outras pessoas.

As mãos pequenas de Lily desceram até as de Severus, segurando-as com firmeza. Ele queria erguer a face e encarar aqueles lindos olhos verdes, mas não conseguia, tinha medo de ser consumido pelo brilho daquele olhar. Entretanto, as mãos entrelaçavam-se protetoras e fortes em torno das de Lily, certificando que ela era real, e que sempre esteve ali. — Não fuja das pessoas, pois eu sempre estarei do seu lado, Severus.

— Até mesmo sobre caminhos diferentes?

— Sempre.